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quinta-feira, 31 de julho de 2025

ACONTECE: AV - O mês do Leão - ARIEL

 

AV - Penúltimo mês do ano - Mês do Leão

A primeira semana de Av, o mês do leão. Ariel, o Leão D'us. O medo é colocado de lado porque é necessário enfrentar o desconhecido, o perigo, e sonhar com o futuro. Usei a palavra sonhar e não a palavra planejar porque este é um mês recheado de tantas datas, de certezas e incertezas. Todos lembram do dia 9 de Av (próximo domingo), que na imagem está simbolizado pelas lágrimas. Lembranças do passado que significaram momentos de grande ruptura. Mas o mês de Av também está intimamente ligado à KABALÁ. E neste contexto ligado aos dias de hoje, física e emocionalmente. Focando no presente, foi uma semana muito difícil. O grau de antissemitismo e o descortinar das diferenças entre judeus da Galut e de Israel, entre os judeus que seguem a religião e os ateus, entre os que se dizem de esquerda ou de direita foi ampliado e atingiu a grande mídia no Brasil e no exterior. Aproveitando os problemas internos, o sistema de divulgação e criação de opinião dos grupos t3rr0r1st4s encontrou um momento fértil. Felizmente, ao chegar na quinta-feira, dia 31 de julho, muitas mentiras veículadas de forma exaustiva foram descortinadas. E vamos chegando ao momento em que podemos olhar através da pequena janela que se encontra acima da figura... Hatikva - ESPERANÇA. Não deixem de ler o que vem a seguir - e comentem!!! 

A semana foi atormentada por uma carta-denúncia de Psicanalistas Brasileiros baseada em falsas informações sobre a fome em Gaza. Foram colhidas mais de 1000 assinaturas de psicanalistas brasileiros, entre eles mais de 600 identificados por colegas como judeus. Um dos grupos de mulheres da FISESP se envolveu e buscou identificação e verdades. Esta carta denúncia foi baseada em fotos publicadas em jornais de grande circulação como New York Times, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo. Com o passar dos dias, começaram a aparecer contrapontos que se baseavam em mostrar a quantidade de alimentos que entraram em Gaza antes e depois de 7 de outubro de 2023. A forma como a distribuição destes alimentos foi interrompida ou desviada da população em geral para dirigentes. Os alimentos chegam também por via aérea para atingir bolsões que não estavam sendo privilegiadas pelos distribuidores da ONU. 

Hoje, saiu uma notícia de que a Milícia armada de Abu Shabab contrabandeou pessoas que estavam em território dominado pelo Hamas para o seu território, no sul da Faixa de Gaza, em Rafah. Rafah é o território que faz fronteira com o Egito. O anúncio feito hoje, dia 31/7, referia-se a uma operação que ocorreu anteontem, dia 29/7. Gazaenses moradores de Deir al-Balah e Nuseirat foram transferidos para Khan (Ran) Yunis. Abu Shabab é beduíno da tribo de Tirabin ( الترابين). Esta foi a mais importante tribo árabe na Península do Sinai e no Deserto do Neguev no século XIX. Hoje, residem em Israel, Jordânia, Arábia Saudita, Cairo, Ismailia, Guizé, Suez e Faixa de Gaza. Em 2004 foi construída uma cidade em Israel chamada Tirabin al-Sana especialmente para estes beduínos. Seguindo o padrão das cidades israelenses, há escolas e locais para esporte. Fui pesquisar algo sobre a vida de Abu Shabab, nascido em 19/11/1993, é descrito de forma pejorativa pelas páginas disponíveis em inglês e português. Esteve preso no sul de Gaza e saiu quando a prisão foi bombardeada pelo exército de defesa de Israel na atual guerra. Após sua libertação, dirigiu ações que permitiam encaminhar para a população civil alimentos que estavam sendo queimados ou desviados. Enfim, mais um caso de muita controvérsia. Mais um caso em que a verdade é substituída por mitos para criar uma falsa noção de que o território de Gaza tem alguma relação com o mundo árabe em tempos passados. Esta semana, foi a primeira vez que saiu a público para descrever uma ação de resgate de pessoas. Desvendando Ações.

Quantas histórias acompanhei em bastidores! E a cada semana fico mais convencida de que há necessidade de desmascarar o terrorismo. Mas o Ocidente continua a prestigiá-lo. Um outro ponto que não podemos deixar passar em branco é a reação dos israelenses. Um número cada vez maior manifesta-se a favor do encerramento da guerra! Aqui quero deixar o meu depoimento pessoal. Estou em contato com Israel diariamente, com pessoas de tendências políticas diferentes. Lendo o que sai nos grupos brasileiros, em geral. Conversando com pessoas que costumam ir a Israel com frequência, fica a impressão de que CHEGA. Está na hora de terminar esta Guerra. Tragam os reféns. Acabem a Guerra. E o que acontece com os territórios? Nem respondem... a tônica é: acabem a guerra. 

Isto valeu um papo longo. Uma brasileira que mora há 30 anos em Israel, filhos servindo, é ativista em uma sinagoga reformista e vai na Havdalá em Kikar ha Ratufim. Comentou que a minha visão da vida em Israel é muito baseada no padrão de brasileiras que emigraram há décadas, mas mantêm uma vida judaica ativa! Isto não ocorre com a parentela israelense raiz. Estes se afastaram completamente do judaísmo. Uma boa medida numérica é ver a quantidade que vai à Havdala, antes de escutarem os reféns e familiares na Praça dos Reféns em Tel Aviv. Mas, como dizemos, tem-se que olhar o futuro com alguma esperança. Uma das atividades que estão sendo desenvolvidas pelos que vão à Havdala é convidar os demais a irem no próximo sábado. Comunicação com envolvimento. 

E agora..... O mês de AV.


No dia 5 de Av de 5294 (25 de julho de 1534) nasceu em Jerusalém Rabbi Isaac Luria, o Leão. Faleceu em Safed em 5 de agosto de 1572 (15 de Av de 5332). Luria foi um grande comentarista do Zohar. Foi criado por um tio na cidade do Cairo. Estudante brilhante, morou por anos como eremita em uma caverna perto do Nilo e depois foi para a cidade de Aza (Gaza) de lá para Safed onde criou discípulos. Safed, a cidade da Kabalá. Receber, esta é a melhor tradução de Kabalá que é representada por dois pilares sustentados pelos reinos da terra e coroados pelo reino dos céus. Sempre seguindo o conceito da escada de Yakov. Os anjos sobem e descem. No Zohar, os dois lados que permitem o aqui e agora (reino da terra), comunicar-se com o eterno (reino dos céus) são formados por dois pilares. A interpretação mais conhecida é que os dois pilares representam o feminino e o masculino. Em outras interpretações mais complexas, que são encontradas tanto em comentaristas da Kabalá quanto no Talmud, os dois pilares representam opiniões divergentes que podem ter origem nos céus e na terra. Mas, lembrando Hillel e Shamai, as opiniões divergentes devem ser respeitadas e podem conviver e debater. Sem dogmas!

Olhando os números de Av.: 9 representa destruição, morte. 5 representa o nascimento e 15 a morte de um indivíduo. Isso aconteceu há séculos, mas é lembrado até os nossos dias. Por que? O legado deixado por Luria ultrapassa o presente e segue para futuros e futuros! 

Assim, para alguns indivíduos pode representar um legado intelectual, mas para que a humanidade e a terra tenham sustentabilidade, o legado tem que ser semelhante! Nunca um igual. Portanto, é neste mês também que os casais se encontram de forma especial. 

Mês do ARI -  choramos o passado e erguemos nossos sonhos para o futuro.

EIS O FUTURO - Apesar da Guerra - Alta Tecnologia Israelense continua ativa e rendendo para Israel e para o Mundo.

Palo Alto adquire israelense CyberArk do setor de segurança cibernética por US$ 25 bilhões

Em um movimento histórico no setor de segurança cibernética, a Palo Alto Networks, sediada nos EUA, anunciou a aquisição da empresa israelense de segurança cibernética CyberArk Software em uma transação em dinheiro e ações avaliada em aproximadamente US$ 25 bilhões. O acordo, o maior da Palo Alto até o momento, marca uma consolidação significativa no setor, à medida que clientes corporativos buscam plataformas de segurança unificadas em meio a um cenário crescente de ameaças impulsionadas por IA. Com esta aquisição, a Palo Alto visa fortalecer seu produto integrando a expertise da CyberArk em segurança de identidade, particularmente em gerenciamento de acesso privilegiado. A aquisição ocorre após uma série de mudanças significativas no setor de segurança cibernética, incluindo a compra da startup israelense Wiz pela Alphabet por US$ 32 bilhões, no início deste ano, e destaca a crescente importância das empresas israelenses na inovação global em segurança cibernética. Fonte: Revista Bras.il a partir de Israel National News


Am Israel Chai

Regina P Markus
 

TU apresentou-me a Benção e a Maldição, e Tu Deixou eu escolher minha vida - meu caminho


Esta é a grande mensagem deste mês e o grande ensinamento do judaísmo. Falando com D'us cada um diz que foi apresentado ao caminho da bênção e da maldição. O Livre Arbítrio é deixar a escolha para cada ser vivo individualmente.


quarta-feira, 30 de julho de 2025

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Liberdade...

 

Liberdade...




Amanhece de novo aqui. Chego dos meus exercícios e mergulho no abraço confortável do banho. Visto o terno e me sento diante dos jornais. E então, uma melodia de perfumes, sobe o cheiro do café que a Ana Rosa, com suas mãos de pianista, vai tocando.

É nessa rotina sagrada que o meu camarote ganha vida. Tenho uma varanda, sabe um espacinho de um por um? É lá que pousam os artistas: uma trupe de passarinhos, pinceladas de azul e cinza, como se gotas de céu tivessem caído no meu parapeito. Vêm para o café sagrado das minhas romãs.

Na varandinha tem um vaso. Lá plantei uma romãzeira. Vocês sabem, né? Eu sou um palpiteiro de mão cheia! Quem pôs a mão na massa foi a Ana Rosa! Ela plantou, ela rega com carinho... Eu me limito à minha insignificância de quem nem sai do sofá...

É só um frutinho apontar, uma joia vermelha se insinuando na casca, para que a festa comece. Chega essa tribo, depois os sabiás com seus lamentos doces, e os bem-te-vis, anunciando com seu grito de que a vida presta. Eu até perco o rumo das notícias, porque os mistérios dos céus e da terra chegam a caber naquele vaso.

É que fui notando, sabe? As tribos, com suas cores e cantos diferentes, tecem uma dança no ar para abrir a romã. É um balé, um concerto de bicadas, uma sinfonia de asas. Cada um entrega o seu dom, a sua força, a sua alma de pássaro. Aquilo tudo que eles têm de mais próprio: sua propriedade! É o mais puro Iachad, uma lição de comunidade. A união que supera a barreira e revela o tesouro.

Mas aí... ah, a vida... Aberta a romã, o coletivo se quebra e o arranca-rabo começa! A poesia da união vira a prosa da disputa. Onde havia um coro, agora há um turbilhão de penas e egos. A lei da selva em miniatura. Cada um por si, defendendo seu grão de paraíso com uma fúria que só a fome explica.

E eu aqui, testemunha de terno e jornal na mão... Minhas ideias nem ligam mais para o tarifaço, para a política, para o jogo de hoje à noite... Meu pensamento vai longe da Odete Roitman! Fico pensando nessa liberdade de querer, de avançar, de espantar... E, coladinha nela, a responsabilidade de bancar a briga, de aguentar a bicada, de se garantir no voo.

Quem quer ter Liberdade tem de ser Responsável!

"Você não vem?", a voz da Ana Rosa é um porto seguro que me chama de volta. Sempre!

Levanto devagar, e o encanto se desfaz numa explosão de asas. Ninguém paga pra ver. Vai que esse gigante imóvel é um predador, um ladrão de céus e de cantos? Quem garante que eu não tenho gaiolas?

Mal sabem eles que não sou caçador. Sou só plateia. Minha gaiola é o jardim, é o mundo! Minha alegria, minha oração, é essa! Saber que são livres, donos do vento e do próprio canto, me ensinando, sem uma palavra, que a beleza mais funda da vida está em voar!

André Naves

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política - PUC/SP. Cientista Político - Hillsdale College. Doutor em Economia - Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def

VOCÊ SABIA? - Foguetes em Rosas

 

Fazer do limão azedo uma limonada...

Transformando foguetes do Hamas em obras de arte, expressões de beleza e paz.

Por Itanira Heineberg










Você Sabia que os mais de 60.000 foguetes disparados contra Israel nos últimos anos - 30.000 deles desde os ataques de 7 de outubro de 2023 - inspiraram artistas israelenses que, dos seus pedaços espalhados pelo país, criaram Arte?

Sim!

Mais de 30.000 foguetes explodiram em Israel desde o fatídico 7 de outubro de 2023.

E artistas israelenses estão transformando estas armas mortíferas e assustadoras em símbolos de resiliência, beleza e esperança por um futuro de paz. “Foguetes em Rosas” é o nome deste movimento.

 

“12.000 foguetes foram disparados contra o sul de Israel nos últimos oito anos contra alvos civis israelenses, causando destruição, caos e morte. Uma geração inteira de crianças traumatizada pelo terror dos ataques com foguetes. Cidades israelenses como Sderot e Ashkelon continuam a estar em perigo real.”

 

“Art Metal SculptureHand passou a usar estilhaços desses foguetes (rockets) para esculpir rosas, castiçais e menorahs trabalhadas a partir desse material que aterrorizou o povo de Israel. Esses objetos simbolizam a perseverança e são símbolos vivos da resistência de Israel em face ao terror islâmico. Yaron Bob, um artista israelense, que entende o que significa viver na sombra do terror, encontrou sua maneira de transformar objetos de guerra em expressões de paz.”




“Foguetes em Rosas” são preciosas peças de arte criadas a partir de foguetes reais que caíram em Israel - versões modernas de "transformar espadas em arados".




Um importante detalhe que em geral passa despercebido pelos seguidores assíduos da mídia ocidental é que quase um milhão de habitantes de Israel estão dentro do alcance impressionante dos foguetes de Gaza. Eles têm apenas 15 segundos para encontrar os abrigos, são vidas que estão em perigo.




E vidas são a maior riqueza do país.

No momento há 59 vidas em jogo, espalhadas pelos túneis infindáveis do país.

Fica difícil espremer esta limonada, mas o povo está unido na busca por seus irmãos sequestrados e na luta para construir e reconstruir seu país.

OS RENDIMENTOS DESTA ARTE APOIAM SOLDADOS ISRAELENSES E VÍTIMAS DE GUERRA.




FONTES:

https://theisraelboutique.com/category/rocket-art/all-rocket-art/?a=eb072525

https://eretzisraelmv.blogspot.com/2011/10/objetos-de-guerra-transformados-em.html

https://www.enlacejudio.com/2013/07/05/de-misil-flor-yaron-bob/

https://www1.alliancefr.com/actualites/artiste-israelien-yaron-bob-transforme-les-roquettes-du-hamas-en-oeuvre-dart-6100878


sexta-feira, 25 de julho de 2025

ACONTECE: Honestidade moral

 Por Juliana Rehfeld



Hoje, mais um acordo perdido, mais uma possibilidade de cessar fogo perdida, nada muda. Mas, nesse caso, se nada muda tudo piora - a frustração em Israel e nas comunidades na diáspora aumenta, as condições dos reféns pioram, as condições dos soldados em Gaza pioram, as condições dos civis em Gaza pioram e acima de tudo isso, e de maneira explosiva, as narrativas de todos os lados e o antissemitismo pioram. 

A frustração vem porque estava-se, novamente, “quase lá”, a sensação de que “desta vez, vai sair!” É fácil e errado julgar à distância, sem ter os inúmeros detalhes da complexa negociação, mas a impressão é de que não existe vontade sair disso, de ambas as partes… terrível, não é?

E a nossa impotência e cansaço aumentam. O persistente esforço de esclarecer, informar e explicar vai dando a impressão de estarmos enxugando gelo. Senti isso, impotência e cansaço quando ouvi uma fala de Henrique Cymerman ainda na semana passada, quando comentou que seus - sempre importantes e poderosos - contatos no cenário político árabe lhe disseram que Israel “ao invés de gastar esforços e equipamentos militares deveria gastar esforços em comunicação com ‘a rua palestina’, porque nas ruas a população acha que tudo que Israel faz hoje tem o objetivo de anexar terras e se expandir, do Nilo ao Eufrates”…! As pessoas nas ruas dos territórios em conflito e em muitos países árabes, que obviamente não recebem as notícias de fontes internacionais quaisquer que sejam NÃO SABEM O QUE ACONTECEU EM 07 DE OUTUBRO  DE 2023. Pergunto-me, se fizermos uma enquete nas ruas de São Paulo, qual seria o resultado. E é lá que a informação precisa chegar. 

Mas a mídia internacional, escrita, narrada ou televisiva, além de não buscar estas informações (difíceis e complexas), muitas vezes ainda filtra (ou simplesmente repete) os dados já superficiais disponíveis… sem tocar aqui nas falas e imagens adulteradas, requentadas, produzidas mal intencionalmente. 

É claro que, com o alongamento da duração da guerra, os fatos e as imagens verdadeiros também pioram. É-me penoso acompanhar os erros que o governo comete, um ou outro ministro comete, uma facção ultra radical comete, uma imagem horrível mostra, e não são poucos, vão se empilhando, dia a dia…

E o desespero e o cansaço se agravam. Uma das consequências adicionais, “lateral mas não periférica”, que temos visto ao longo da história, de crise em crise, é a necessidade dos próprios judeus de se manifestarem publicamente contra Israel como que dizendo “olha, eu sou judeu mas apesar disso sou tão legal quanto vocês que me criticam….” Há muitos exemplos disso recentemente, no jornalismo, em ex-autoridades de Israel, em artistas, em professores (!), na psicanálise (!), muitos. 

A  Parashá desta semana, Matot - Tribos - trata das leis sobre juramentos e promessas quando se dá distribuição de terras a serem conquistadas “do outro lado do Jordão”. Duas tribos, Gad e Reuven decidem se estabelecer do “lado não designado” do rio, por ser mais interessante economicamente, e apesar de Moisés não concordar - quebra do comando de Deus - Deus mesmo permite mas deve haver um compromisso: prometem que vão ajudar as demais tribos a vencerem as batalhas para obter a Terra Prometida. E há então regras sobre  juramentos e promessas. E a linguagem é fundamental, “a linguagem que age”. Na base da visão essencial de uma sociedade com liberdade e responsabilidade do judaísmo está, segundo Jonathan Sacks, Z’L, em seu magistral texto sobre Matot, “Juramentos e Promessas”, o fato de que uma promessa cria uma realidade. Diz o rabino Sacks que, explicando a leitura que Nietzsche faz da importância da promessa para a vida moral em seu livro “Sobre a Genealogia da Moral”, Hanna Arendt: “Os assuntos humanos são repletos de imprevisibilidade. Isso porque somos livres. Não sabemos como outras pessoas se comportarão ou como reagirão a um ato nosso. Portanto, nunca podemos ter certeza das consequências de nossas próprias decisões. A liberdade parece roubar a ordem do mundo humano. Podemos prever como objetos inanimados se comportarão sob diferentes condições. Podemos ter uma certeza razoável de como os animais se comportarão. Mas não podemos prever com antecedência como os humanos reagirão. Como, então, podemos criar uma sociedade ordenada sem privar as pessoas da liberdade? “ A resposta seria fazer uma promessa.

Então, quando juro ou prometo, estou criando algo novo porque me comprometo com aquilo que ainda não é, mas que devido ao meu cumprimento, será. 

E o que tem isso a ver com nossa situação hoje? Creio que muito:

Evidentemente falar sobre cumprimento de promessas de políticos é ridículo, não vem ao caso… deveria ser sério mas não é. 

Quanto às narrativas, trata-se de realidades interpretadas ou criadas para acomodar nossas incertezas, nossos medos, e tornar possível nossa contínua convivência com o paradoxo das situações complexas. 

Na longa e penosa espera pela chegada e conquista da Terra Prometida, que leio hoje como, chegada e conquista de uma paz sustentável no Oriente Médio contemporâneo, nos posicionamos de maneiras muito diversas, em classes e intra-classes, os políticos, os jornalistas, os professores, os psicanalistas, os atores, nós todos e cada um de nós. E com certeza, vamos conviver com isso, desde o acordar até colocar a cabeça no travesseiro. 

Se somos moralmente honestos, isto é, éticos e sinceros, quando julgamos, condenamos, prometemos e juramos em nossas manifestações, estamos nos comprometendo com nossa visão de mundo, de uma maneira que crie uma realidade que queremos, e na qual nos seja possível viver bem. Ao expressar isso estamos agindo para criar um mundo melhor.

Além de nós comprometermos, agimos para esclarecer, informar, divulgar essa visão de mundo. 

Alternativamente, se desinformamos, mentimos, tornamos simplista o que é complexo, julgamos superficialmente o que é profundo, criticamos para não sermos confundidos com o que nos incomoda ser, estaremos minando a possibilidade desta visão de paz sustentável que em tese, todo mundo quer. 

A impotência e o cansaço me levam a esta triste e apenas íntima conclusão. Além de continuar teimosamente a agir para disseminar informações que não se lêem na mídia e explicar o que muitos já esqueceram ou nunca tiveram a oportunidade de aprender ou conhecer, só posso esperar que a desonestidade moral e as falsas promessas de tantos não prevaleçam…

Shabat Shalom

terça-feira, 22 de julho de 2025

VOCÊ SABIA? - O S3xo no Shabat

 

Por Itanira Heineberg



Você Sabia que o sexo não é apenas permitido no Shabat – mas também é incentivado?

Assim falou a Rabina Lara Haft Yom-Tov em Londres, onde reside.





Para surpresa de muitos, sim, o sexo é permitido e até incentivado no Shabat.

O Talmud traz abundantes referências positivas às relações sexuais entre consortes casados no Shabat.

 

“O Shabat é um dia de descanso e prazer, a noite de sexta-feira é frequentemente considerada um momento ideal para as relações conjugais. Em Bava Kamma 82a, a Guemará diz:

“Deve-se comer alho na véspera do Shabat.”

Isso se deve ao fato de que o alho aumenta a potência sexual, e a noite de sexta-feira é um momento apropriado para as relações conjugais.”

Até nossos dias o povo judeu em muitas comunidades diferentes tem a prática de reservar um tempo no Shabat para intimidade sexual. O Shabat é considerado um momento particularmente sagrado para cumprir as mitsvot de onah (relações conjugais prazerosas) e pru ur'vu (ser frutífero e multiplicar-se).

Apesar do incentivo, há porém atividades na cama que devem ser evitadas no Shabat, relativas à proibição de melacha, ou trabalho proibido. Como  exemplos temos amarrar nós ou usar um vibrador elétrico, severas violações da lei tradicional do Shabat.

Levando em conta seus mais de 3 mil anos de História, era de se esperar que o judaísmo apresentasse muitas observações, ideias, conselhos e sabedorias também sobre a vida amorosa. Não podemos esquecer que de seu povo brotaram importantes pessoas qualificadas para o estudo sobre esse tema, tais como, o rei Salomão e o psicólogo Sigmund Freud.

Em 2024 uma inusitada exposição na Alemanha explorou facetas não muito divulgadas do sexo no judaísmo.

Esta exposição no Museu Judaico de Berlim apresentou como a percepção social da sexualidade evoluiu dentro da comunidade. Apresentando mais de 100 peças expostas, o evento trazia um título apimentado: “Sexo – Posições judaicas”.

Nada de masturbação, sexo conjugal duas vezes por semana e brinquedos sexuais inusitados são alguns dos temas explorados na exposição.

Em entrevista ao jornal Berliner Zeitung, a diretora do museu, Hetty Berg, assim se expressou:

 

 “No tocante à sexualidade, como em qualquer outro tópico da tradição judaica, as leis religiosas não são rígidas, mas sim adaptadas às realidades atuais da vida e às estruturas sociais em mutação, através de interpretações, discussões e impulsos.”

 

Em oposição ao cristianismo e a outras religiões, o judaísmo condena o celibato. Ninguém está autorizado a fugir do mandamento “Crescei e multiplicai-vos”. A Torá impõe ao homem três deveres perante sua esposa: alimentá-la, vesti-la e lhe conceder intimidade marital, de preferência, duas vezes por semana: em alguns tratados talmúdicos, sexo insuficiente é considerado motivo para divórcio, com a mulher tendo direito a todos os pagamentos. Para tal, basta uma única semana sem a ação.

A Torá proíbe não só o sexo pré-marital como outras atividades “sem a intenção de procriação”. Masturbação, por exemplo, seria um “desperdício de sêmen”.

Cabe à mulher evitar intimidades durante e depois da menstruação: ela só pode – e deve – retornar ao leito conjugal sete dias após o último sangramento, tendo antes se purificado devidamente na mikvé, o banho de imersão ritual.




Imagens de banhos de imersão purificadores – mikvah – para alcançar a pureza ritual especialmente para mulheres após a menstruação ou parto ou para aqueles que estão se convertendo ao Judaísmo.

Este procedimento de higiene corporal, o ritual de lavar as mãos imposto pela Lei de Moisés e o fato de viverem isolados, em Judiarias, contribuiu para que os judeus fossem pouco afetados pela Peste Negra, uma das maiores pandemias da História, entre 1343 a 1353, a qual causou 75 a 200 milhões de mortes na Europa e Ásia. Calcula-se que tenha morrido cerca de um terço da população.

Durante a Peste Negra, hábitos de higiene, como os citados acima, eram mais comuns entre a população judaica devido a práticas religiosas, o que pode ter contribuído para uma menor incidência da doença em suas comunidades. No entanto, a falta de higiene era predominante na Europa medieval em geral, com ruas sujas e falta de saneamento básico, fatores que facilitavam a propagação da peste.

Vejamos agora hábitos de higiene judaicos e a Peste Negra:

1 - Leis e rituais religiosos enfatizavam a importância da higiene, especialmente com as mãos e o corpo.

2 - O isolamento das comunidades judaicas, embora também motivado por preconceito, pode ter contribuído para limitar a exposição à doença.

3 - Embora não tenham sido completamente poupados, os judeus tiveram uma mortalidade menor durante a Peste Negra, possivelmente devido às causas citadas acima.

Quanto ao contexto europeu em geral, a higiene pessoal na Europa medieval era geralmente precária, com ruas sujas, animais e parasitas, o que facilitava a propagação de doenças.

E a falta de conhecimento sobre a doença levou a crenças errôneas, como a ideia de que o mau cheiro causava a peste e que banhos eram perigosos.

Percebendo a diferença de mortes entre judeus e o resto da população, os judeus foram acusados injustamente de serem os responsáveis pela peste, levando-os a perseguições, massacres em muitas partes da Europa e extrema violência.

Em contrapartida, nessa época a Igreja tratava imundície como um sinal de sacrifício e dizia que banhos eram lascivos, sensuais...

E neste quadro as populações judaicas passaram a ser usadas como bode expiatório.

E aqui  fica a pergunta: Ciência e Religião se completam ou se antagonizam?

Encontramos abaixo, um vídeo explicativo sobre o assunto, um filme contundente e de raro realismo, que conta em detalhes o que se passava nos tempos da Peste Negra no Continente Europeu.




FONTES:

https://www.myjewishlearning.com/article/sex-on-shabbat/?utm_source=MJL_Iterable&utm_campaign=MJL&utm_medium=email

https://www.metropoles.com/mundo/exposicao-na-alemanha-explora-facetas-do-sexo-no-judaismo

https://super.abril.com.br/historia/medieval-mas-limpinho/#:~:text=Por%20essa%20%C3%A9poca%2C%20a%20Igreja,era%20de%20ouro%20do%20futum.

https://www.dnoticias.pt/2020/4/24/55510-os-judeus-e-a-peste-negra#:~:text=O%20ritual%20de%20lavar%20as,Judeus%2C%20causa%20da%20peste?


quinta-feira, 17 de julho de 2025

ACONTECE: Parando no Presente - Olhando a Semana


RPM - 5785-2024

Esta semana começou no dia 17 de Tamuz, um dia de jejum. 21 dias (3 semanas) depois, chega-se ao dia 9 de Av. Dia de Jejum! No dia 17 de Tamuz, Moshé desceu trazendo a primeira versão das Tábuas da Lei. A versão gravada por HaShem. Neste dia, ao rezarmos Selichot, é lembrado que esta era uma escrita especial passível de ser lida de qualquer ângulo com dizeres que poderiam ser entendidos por todos. Estes 21 dias têm sido palco de muitos acontecimentos ao longo da história. Desde 7 de outubro de 2023, o Estado de Israel e o Povo Judeu na Galut estão sob ataques constantes. Acompanhar os fatos é algo que beira o impossível. Há muitas versões de encontros e desencontros. Avaliando numericamente as 3 semanas temos: 21 (אך) - que consta do versículo "Somente o bem para Israel" "אך טוב לישראל". E o número 3 representa a perfeição, eternidade, completude (Pai, mãe e filho(a)). De geração em geração, sobrevivendo milênios. Siga e leia os acontecimentos deste início das 3 semanas em 2025 e vamos irradiar esperança.


Esta semana aconteceram três fatos relevantes:

1 - A UN WATCH saudou a renúncia dos três comissários do INQUÉRITO PERMANENTE do Conselho de Direitos HUMANOS da ONU sobre Israel.

2 - Cessar fogo na Síria - Julho de 2025

3 - E o antissemitismo ao redor do mundo ganhou cores diversas. Impressionante ver as comunidades alternativas apoiando Hamas, Hezbollah, Houtis, Irã. Todos juntos e misturados negando liberdades no trajar, no viver e no relacionar. Nestes tempos de 3x7=21 "Somente o bem para Israel" ("אך טוב לישראל") são muitos os que têm se levantado, desmentido as calúnias e apoiado Israel.

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1 - UN WATCH saudou a renúncia dos três comissários do INQUÉRITO PERMANENTE do Conselho de Direitos HUMANOS da ONU sobre Israel.

A UN Watch saúda a repentina renúncia dos três comissários do inquérito permanente do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre Israel, Comissão Pillar . Este é um momento decisivo de responsabilização para aqueles que praticam preconceito institucionalizado contra o Estado Judeu.

Diretor Executivo da UN WATCH, HILLEl NEUER, declarou:

"Primeiro, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, tomou a decisão histórica de sancionar Francesca Albanese, relatora pró-Hamas da ONU, após a campanha massiva liderada pela UN Watch que mobilizou 120.000 apoiadores. Agora, os arquitetos da inquisição anti-Israel da ONU estão abandonando o barco. A maré está mudando."

O e-mail encaminhado pela UN Watch continha as informações a seguir: 

Navi Pillay, presidente da Comissão de Inquérito, alegou que sua renúncia se deveu à "idade, a problemas médicos e ao peso de vários outros compromissos". No entanto, Pillay parece ter ficado assustada com as sanções americanas, com notícias indicando que ela temia ser impedida de visitar seus familiares que moram em Nova York.
Seus colegas, Miloon Kothari e Chris Sidoti, também apresentaram cartas de renúncia, com Kothari se referindo a um "acordo" alcançado em uma reunião privada com o presidente do conselho, sugerindo que ele foi afastado, provavelmente por ter sido condenado por 18 estados por antissemitismo.

“A renúncia dos três comissários já deveria ter ocorrido há muito tempo”, disse Neuer. “Esta foi uma comissão que nasceu do preconceito — criada para atingir Israel, ignorando o Hamas, o Hezbollah e a Autoridade Palestina. Seus membros foram selecionados precisamente por sua hostilidade ao Estado judeu.”

Quer saber mais, não deixe de consultar o site da UN WATCH e todas as informações sobre a Comissão PillarPode também recordar uma das entrevistas dadas por Hillel Neuer quando visitou o Rio de Janeiro no primeiro semestre deste ano.

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2 - Cessar fogo na Síria - Julho de 2025

Nas últimas semanas os jornais brasileiros tradicionais como o Estadão, Folha de São Paulo e O Globo trouxeram várias notícias sobre guerra na Síria - e a maioria focou numa suposta invasão das Forças de Defesa de Israel na região do Golan. 

Muitas vezes escrevemos e lemos sobre esta temática, mas nos últimos dias vem ficando evidente que realmente a situação na Síria mudou. O novo governante que assumiu após a queda de Assaf, Ahmed al Shaar, disse que "não tem medo da guerra". Em muitos noticiários, esta frase foi direcionada para Israel. Por tudo o que tem ocorrido na fronteira da Síria e Israel no Golan. Famílias drusas de cada lado da fronteira têm tido a oportunidade de conviver. Duvidávamos que os combates contra os drusos e também contra outros moradores do além-fronteira estavam sendo atacados por Israel. 

A cada dia aumenta o número de sírios que destacam ajuda israelense em diversos campos, e por outro lado os caminhos para acordos duradouros vão se ampliando. Acordos estes que passam não apenas por definição de fronteiras, mas principalmente por processos de cooperação. No que acreditamos e do que duvidamos? Vou deixar a questão em aberto, para voltar daqui a duas semanas, ainda no período de 21 dias e atestar a evolução. Que tal deixarem informações nos comentários?


E aqui vem mais uma curiosidade da NUMEROLOGIA das três semanas:

Por que devemos esperar o bem? - Se o número três é tão poderoso, por que não é tudo resolvido agora?

Os dias 17 de Tamuz e 9 de Av sempre coincidem no mesmo dia da semana - e... isto também ocorre com o primeiro dia de Pessach! A ligação entre as duas destruições e a liberdade que ocorreu séculos antes, com a saída do Egito!
A expectativa é que a cada ciclo de 3 semanas possamos aprender a buscar a ERA da PAZ!
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3 - E o antissemitismo ao redor do mundo ganhou cores diversas. Impressionante ver as comunidades alternativas apoiando Hamas, Hezbolah, Houtis, Irã. Todos juntos e misturados negando liberdades no trajar, no viver e no relacionar. Nestes tempos de 3x7=21"Somente o bem para Israel" "אך טוב לישראל") são muitos os que têm se levantado, desmentido as calúnias e apoiando Israel.
Atentados no Canadá, Austrália, França.... 

Um importante posicionamento do Presidente Macron da França que desistiu de participar da Cúpula da ONU que visava o estabelecimento de um Estado Palestino. O artigo publicado no Jerusalem Post no dia 15 de julho destaca o que motivou a decisão. Canadá e Reino Unido pontuaram que não era o momento adequado. Ações e reações. Estas acontecem de forma direta, como em uma luta de boxe, ou em movimentos em cadeia, como em processos biológicos e sociológicos.

À medida em que a insegurança e o antissemitismo aumentam, vemos que as reações visíveis se tornam mais fracas e não resolutivas.

Aqui em São Paulo ainda está presente na Av. Paulista, esquina com Rua da Consolação, um enorme painel que difama o Estado de Israel e os judeus brasileiros.

Será que vale divulgar? Será que vale ignorar? Há respostas plausíveis para as duas situações. 

Neste momento é preciso salientar que a longa história judaica, que vai além dos números e das letras, porque é traçada por indivíduos independentes que carregam um legado de leis, atitudes e ações, mostra que é sempre bom preservar a VIDA e os muitos dias dedicados às boas memórias.

Combatemos o antissemitismo com AMOR e DEDICAÇÃO

Am Israel Chai

Regina P Markus



quarta-feira, 16 de julho de 2025

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Respostas do vento

 



Dia desses eu entrei ali pelo Parque da Água Branca. Estava na feirinha de orgânicos. Céu azul, aquela paz no meio do Arraiá do Chico Bento.

De repente, bateu um vento mais forte, meio de lado, meio redemoinho, e levantou as folhas secas do chão. Foi uma coisa de segundos, aquele redemoinho marrom e silencioso.

Na hora, a cabeça viajou longe.

Voltou pra um tempo que nem sei, lá na infância, no Parque dos Eucaliptos, em Jacareí. Eu, moleque, com uma peneira de fubá na mão, correndo que nem um louco atrás daqueles mesmos redemoinhos.

Os “antigo”, contava a Dadaia, ensinavam que ali dentro morava o saci.

Claro que eu nunca peguei nada... Ou será que peguei?

O vento passava pelos buracos, as folhas caíam e eu ficava lá, com cara de tacho e a peneira vazia na mão.

Pois é. Vendo aquela cena no Água Branca, me caiu uma ficha. Era o saci me dando uma moral nova...

A gente cresce e continua correndo com a peneira na mão. Só que em vez de saci, a gente tenta caçar a opinião dos outros. A gente quer, na marra, mudar o que a pessoa pensa, arrancar um preconceito, enfiar uma ideia nova na cabeça dela.

E o que acontece? A gente fica com a peneira vazia. Assim, ó... Com cara de bundão!

Aí que tá o pulo do gato. O preconceito, a ideia antiga, não é uma folha seca boba que o vento carrega. É tipo uma pedra bonita, um mineral que a pessoa foi guardando a vida inteira, lá no fundo da alma. Lembra do Césio 137?

Foi o pai que deu, o avô que ensinou, a vida que maltratou... A pessoa cuida daquilo como se fosse um tesouro. Chegar com a peneira do "eu estou certo" pra arrancar o tesouro do outro? Não funciona. A pessoa se fecha, se arma, se defende.

É sempre assim! Lembra daquela história do Faraó no Egito? Cada vez que Moisés chegava com uma ameaça, uma praga nova, o coração do homem endurecia mais. Tá na nossa programação, no nosso DNA: quando alguém vem pra cima da gente com força, a gente cria um casco, vira tatu-bola.

Por isso que as ideias novas não podem ser um trator que passa por cima de tudo. Elas têm que ser como a chuva fininha, que vai molhando a terra aos poucos, de geração em geração. É a Educação, com "E" maiúsculo. É o respeito pela bagagem que a pessoa traz.

Como dizia o sábio Janusz Korczak, pra cuidar do futuro, a gente tem que cultivar o presente das crianças.

Inovação, no fim das contas, não é destruir o que veio antes.

É pegar a casa antiga, com seu alicerce forte, e construir um quartinho novo, com uma janela maior pra entrar mais luz. Só dá pra negociar de verdade, pra mudar o mundo um tiquinho que seja, se a gente tiver essa paciência de agricultor.

Paciência, Educação e respeito pela Tradição.

Fiquei lá parado, vendo as últimas folhas assentarem no chão.

Pensei que talvez essas reflexões, essa saudade, essa clareza que me bateu... talvez não sejam só coisa da minha cabeça. Talvez sejam as vozes do saci que eu nunca peguei, a resposta que o vento sempre me deu...

André Naves

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política - PUC/SP. Cientista Político - Hillsdale College. Doutor em Economia - Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def