Marcadores

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

VOCÊ SABIA? - Marc Chagall

Marc Chagall
1887 Pestkovatik, Rússia
1985 França

Eu e a Aldeia - 1911           
(tela surrealista antes do surgimento oficial do Surrealismo)



VOCÊ SABIA que Marc Chagall chegou a Nova York em 1941 fugindo da perseguição nazista com uma notória fama de artista mas com pouca bagagem, uma vez que a alfândega espanhola apreendera suas telas - a única riqueza que possuía?

Autorretrato Marc Chagall

Ele e sua esposa Bella saíram às pressas da Europa ao receber um convite do diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York para uma exposição individual - fato este que lhes habilitaria um visto de entrada aos Estados Unidos.

Organizações judaicas americanas e colecionadores de arte pagaram a passagem no intuito de salvar a vida do artista judeu perseguido pelo nazismo rotulado de pintor degenerado.
Por dois anos o casal fugira do cerco aos judeus, saindo de Paris em 1939 em direção ao sul, sempre carregando em sua bagagem as obras do pintor.



E qual não foi sua surpresa em Nova York ao descobrirem que os caixotes com as telas, vindos em outro navio, ainda estavam em solo europeu!

Devido à pressa na saída eles não tiveram tempo de preparar uma alternativa de escape para sua filha única Ida e seu esposo Michel Gordrey, que não puderam ser incluídos no visto americano.
Tinham agora grandes preocupações de recuperar dois tesouros: a filha querida e as obras de arte.



Ida Chagall e seu pai em 1945


E assim as telas coloridas com vacas voadoras, violinistas e camponeses russos não chegaram para a prometida exposição do artista no famoso MoMA.



Chagall escreveu para Ida no sul da França e ela deu início ao heroico esforço de recuperar o trabalho de seu pai perdido pela guerra. Dirigiu-se à Espanha na tentativa de liberar os caixotes apreendidos. Alguns dias depois, Michel a seguiu e foi preso na fronteira espanhola, tendo Ida agora uma dupla função de resgate: liberar o esposo e as obras de seu pai.

Com argúcia e dedicação, a jovem de 25 anos obteve sucesso nas duas questões. Ida insistiu contra a burocracia com sabedoria e insistência, recorrendo a todas as fontes existentes.
Porém mais uma vez surgiram impedimentos; havia escassez de navios saindo da Europa.

Em meados de 1941 navios de refugiados, como o Mouzinho que levara Chagall à América, eram raros.
Michel teve sorte e com dinheiro doado por seus pais adquiriu dois caríssimos tickets (US$ 11,000 cada em nossos dias) em um navio de refugiados onde conseguiram embarcar vivos e com um considerável caixote contendo as telas de Chagall.





Mesmo com dinheiro não era fácil contrabandear obras de arte da Europa durante a Segunda Guerra.
A colecionadora de arte Peggy Guggenheim comprou obras de artistas contemporâneos em Paris naquela época e as levou para os Estados Unidos enrolando as telas e escondendo-as em embarques de cobertas e lençóis.
Mas não foi tão confortavelmente assim que Ida e Michel conseguiram acomodar as pinturas de Chagall em 1941.
O navio a vapor espanhol Navemar era uma embarcação de carga construída para 15 pessoas e que acabou transportando 1.180 e 4 bois vivos para alimentar a população nos 40 dias de travessia. Não havia refrigeração e as condições de higiene e acomodação eram péssimas porém a última solução para os refugiados. Febre de 40 graus Celsius, falta de remédios, pouca água e alimentos. Muitos adoeceram e os que morriam eram jogados ao mar.


Navemar - 1941


Ao ser inspecionado por Dr. Joseph Schwartz antes da partida, este o declarou um campo de concentração flutuante.
Os tripulantes viviam como animais, entre animais.
Ida e Michel optaram por viajar no convés, junto aos bois, para proteger as pinturas do mofo dos compartimentos inferiores. Esta decisão salvou as telas pois tudo o mais apodreceu no navio e foi jogado fora ao chegarem ao porto de Nova York.


“They Came on the Navemar” Eles vieram no Navemar


“Navio espanhol, Navemar, ajuda milhares de judeus europeus a fugirem do nazismo”: assim relata o jornalista americano.


Ida e Michel sobreviveram e venceram o desafio de trazer as obras de arte em uma embarcação reservada a salvar vidas humanas.
Em 1946 Chagall finalmente teve sua exposição individual no MoMA, conforme planejado no início da guerra.
O evento foi uma volta à normalidade na vida do artista após tantos anos de preocupações, fugas e sofrimentos.




Após a carnificina e o caos do Holocausto a obra de Chagall iluminou os salões do museu com suas figuras inigualáveis: casais de enamorados flutuando nas nuvens, rabinos pensativos, violinos nas florestas, personagens estes que com certeza teriam perecidos não fossem os esforços e a determinação de Ida e Michel.








FONTES:



Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.




Nenhum comentário:

Postar um comentário