Marcadores

quinta-feira, 16 de maio de 2024

ACONTECE: 7 meses após 7 de outubro

 



Caminhos Longos – 7 meses após 7 de outubro

A vida é uma sequência de momentos de alegria e de tristeza, períodos em que a destruição é seguida por reconstrução e é um contínuo de aprendizado e de transmissão de conhecimentos. A educação judaica é baseada em debates e controvérsias, pemitindo aos jovens entenderem que as múltiplas opiniões devem ser respeitadas. Chinuch, Knesset, Tikun Olam –  todas as linhas do judaísmo prezam ensino/aprendizado; assembleia definida como reunião do povo ou de representantes do povo e reconstrução do mundo, a responsabilidade de cada indivíduo e cada comunidade (kehila) por cuidar que o mundo seja melhor.


Desde 7 de outubro de 2023 temos visto como nosso mundo ocidental age desprezando estes conceitos básicos. Chegamos no dia em que a Vida dos que doaram o seu bem maior para a existência e segurança do moderno Estado de Israel é honrada e lembrada (Yom ha Zikaron). E... no dia seguinte, dia 5 de Yar, são comemorados os 76 anos da Declaração da Independência de Israel. Ao longo dos anos a tristeza das lembranças era em poucos minutos convertida na alegria da conquista. Este ano, estando em um processo tão difícil, quero aqui recordar a nossa história que justifica os momentos de alegria, por mostrar que seguimos adiante, existindo, inspirando, criando e contribuindo para a humanidade!


Não menos importante é lembrar que ISRAEL enviou esta semana ajuda tecnológica e equipes treinadas para auxiliar o Estado do Rio Grande do Sul. Escutando o rádio, pude seguir o depoimento de um israelense que acabou de servir seu país na Guerra... e que estava salvando vidas em Canoas, RS. HOJE vou apresentar o que temos! O que vemos e ouvimos! Sem receita para escapar desta fase, mas com a certeza que vamos superar e VIVER – Le Chaim!


Hoje vou descrever a semana, e tentar reconhecer que dentro de toda a incongruência que encontramos há um fio de esperança presente e um enorme novelo de esperança ao longo de nossa história! Acendo os faróis de minha memória e lembro de fazer rolos com linha ou lã para que adultos tricotassem ou fizessem tapetes. Era para ser o mais longo possível, e em alguns casos tirávamos os pedaços esgarçados e dávamos um nó para emendar as duas pontas. Em outros, fazíamos uns rolinhos pequenos, de forma a nunca ter nós. Uma tia, que era grande artesã, preferia os rolos maiores. Assim somos nós, sabemos que o rolo maior, a continuidade da existência do povo tem a vantagem até de contar os nós dos pontos fracos. Hoje busco alento nos séculos de antissemitismo e de superação.


Até cinco minutos atrás ia começar mostrando fatos históricos! Eles chegam... Mas neste instante abro um e-mail da USP despachado no dia 13 de maio às 14:45 horas informando sobre aulas públicas que serão ministradas pelo jurista Luis Moreno Ocampo, primeiro titular da Cátedra Ernney Plessmann de Camargo e do Instituto de Relações Internacionais da USP. Ocampo foi promotor adjunto no Julgamento das Juntas Militares, responsável por processar comandantes do exército da ditadura militar argentina de 1976 (Jornal da USP). A cátedra foi instalada em 16 de outubro de 2023, em homenagem em homenagem ao Prof. Erney P. Camargo. Tive uma longa vivência com o Prof. Erney, com quem aprendi microbiologia nos tempos de graduação e depois participei de várias empreitadas conjuntas. Erney foi Presidente do CNPq, criador do Curso de Ciências Moleculares, USP e muitíssimo mais. Por que quero dividir com vcs a minha reação? Por que quero registrar na nossa NL  as vielas por onde passa o antissemitismo e a criação de falsas verdades sobre Israel.



Programa

 16/5, quinta-feira, 14h, Guerra con Ucrania

 23/5, quinta-feira, 14h, Genocidio Armenio en 2023

 06/6, quinta-feira, 14h, Octubre 7 y la Guerra de Israel en Gaza



Estas são as três aulas programadas! O título da terceira aula é insultante. Não tenho ideia do conteúdo da aula que acontecerá no dia 6 de junho. Mas, o título já revela o mal uso das palavras. 


O Estado de Israel está sendo atacado em todas as suas fronteiras. A bem da verdade, não por todos os seus vizinhos. Até há uma semana contava com o Egito e a Jordânia de forma explícita, e hoje apenas a Jordânia. Não existe uma Guerra de Israel em Gaza, e sim um ataque brutal de Gaza a Israel, 22 unidades populacionais (cidades, kibutzim e moshavim) foram atacadas em um dia. Mortos, feridos e raptados! E Israel revidou. A imprensa israelense, que é uma imprensa independente e inclui jornais em diferentes idiomas e linhas políticas tem apresentado críticas positivas e negativas. Mas, certamente a Guerra não é de Israel em Gaza!!

 

Israel vem sendo atacado dioturnamente. Norte, sul e oeste. Quanto ao leste, olhem o que acontece em Jerusalém! Tudo isso camuflado atrás de proxis iranianos. E a Guerra foi chamada de Israel em Gaza!!!!! Nem mais usa o termo Israel versus Hamas, que também é uma mentira!!!



Pensando em voz alta.

 

O texto acima não é necessariamente uma DENÚNCIA, mas sim uma OBSERVAÇÃO e um ALERTA para que possamos deixar de pensar que a SHOA ficou no passado.


A SHOA ainda está próxima! 


Mas vamos à história. Muitos fatos rodam minha memória, e para evitar divagações fui buscar na INTERNET datas em cada um dos períodos da história judaica. Um computador bem ensinado acaba apresentando milhares de opções e sugerindo textos que consolidam a informação. Minha surpresa foi encontrar um texto excelente na WIKEPÉDIA portuguesa que divido com vocês


Abaixo faço um resumo pessoal de um passado remoto e deixo de incluir os séculos XIX, XX e XXI.


Antiguidade

1.  410 aEC Elefantina (Ilha no Nilo) – revolta egipcia contra os persas incendiou Beit ha Knesset da comunidade judaica.

2.  Século III aEC – Alexandria (Egito) – Sacerdote historiador egípcio (Maneton) ridiculariza as leis judaicas em muitos textos – aqui é um teaser para que quiser olhar muitos textos. Ridiculariza a observância do Shabat e atribui a esta observância a queda de Jerusalém

3.  170-167 aEC – Editos anti-judaicos promulgados por Antíoco IV Epifânio na Palestina (lembrar que Palestina foi o nome dado pelos romanos ao Reino de Judá – após a sua conquista!

4.  38 EC – Alexandria – massacre dos judeus. De acordo com Fílon de Alexandria este massacre foi inspirado nos escritos de Maneton.


Idade Média

1.  Final século VI – Reino Visigótico, católico na Espanha emite decretos antijudaicos. Proíbe casamento de judeus com cristãos, circunsisão e prática dos feriados judaicos.

2.  Século VII – Foi criada as “Punições Cívicas e Eclesiásticas”, conversão forçada, exílio e morte.

3.  Século VIII – invasão mulçumana na península ibérica – judeus alinham-se aos conquistadores. – Idade dourada dos Judeus na Espanha (até o século XI).

4.  Século XI - 1011 – Córdoba, 1066 Granada – acaba a convivência – e ocorrem os pogroms, destruição de sinagogas, tanto na Espanha quanto no Egito, Síria, Iraque e Iémen. Conversão forçada ao Islã. Nesse período está Maimonides, uma dos grandes sábios judeus. Assim, como Maimonides e seus discipulos fugiram para o Egito, Haza e Safed, outros foram para o Norte, Reino Unido, Portugal. Os sefaradim (judeus da Espanha) espalham-se pelo mundo.

5.  As perseguições na Idade Média foram muitas! Cruzados que queriam declarar ao que chamavam de Terra Santa como orginalmente cristã, criaram falsas verdades que até hoje podem ser escutadas em sermões de igrejas. E também são combatidas por alguns ramos da igreja do século XXI. Em Norwich, leste da Inglaterra, ocorreu acusações do uso de sangue cristão para rituais, e que os judeus eram os “assassinos de Jesus Cristo” – ocorre a expulsão desta região, que ao longo dos anos se extende para toda a Inglaterra, Escócia e Irlanda

As cruzadas foram seguidas por expulsões, incluindo, em 1290, a expulsão de todos os judeus ingleses; em 1394, a expulsão de 100.000 judeus na França; e em 1421, a expulsão de milhares da Áustria. Muitos dos judeus expulsos fugiram para a Polônia. 

RENASCENÇA

1.  Neste período são pregadores cristãos franciscanos e dominicados que pregavam o antissemitismo. Mas o fato que me impressiona é o antissemitismo gerado pela Peste Negra (Século XIV). Chama atenção que neste período o papa Clemente VI emitiu duas bulas papais visando a proteção dos judeus (1348). Na cidade de Estrasburgo foram queimados vivos 900 judeus, mesmo antes da peste chegar a cidade. E a razão desta perseguição é muito interessante. Os hábitos de higiene prescritos na Torah e elaborados ao longo dos anos no Talmud e também por Maimonides continham várias regras que faziam com que a bactéria Yersínia pestis não fosse transmitida ou encontrasse barreira pré-imunes que impediam a sua entrada! O irônico é que os hábitos de vida judaica impediam o disseminar da doença. Os demais achavam que eles traziam as doenças.

2.  E chegamos a 1478 – a Inquisição Espanhola! Segundo o artigo da Wikipédia que é a base para esta descrição, 150 000 pessoas foram condenadas ao longo de 3 séculos (1478-1834) por tribunais da inquisição. Mas segundo vivemos aqui no Brasil e agora temos relatos dos mais diferentes recantos de cristãos novos, o número é muito maior se levarmos em conta as colônias!

3.  “Da Espanha não vem bons ventos nem bons casamentos”- um ditado que eu escutava de um feirante português que não gostava quando eu pegava frutas de um vizinho espanhol. Tinha uns 10 anos e achava aquilo divertido, porque os dois eram amigos, mas brincavam com os filhos das clientes que iam pegando frutas ou agrados”. A inquisição portuguesa e sua repercussão na formação do Brasil merece mais atenção do que apenas um parágrafo, mas foi herdada da Espanho pelo casamento de Don Manuel I com uma infante espanhola. A concessão papal para instalar a Santa Inquisição em Portugal só chegou no reinado de Dom João III e trouxe grandes consequências em Portugal e no Brasil.


Idade Moderna

1.  Século XVII – a Comunidade Polaco-Lituana (República das Duas Nações) sofre várias revoltas, perde parte importante da comunidade judaica (centenas de milhares) e há uma imigração de retorno para o Oeste Europeu, inclusive Inglaterra e a formação das comunidades na Bessarábia (Moldávia) e Ucrânia). Quantos judeus foram mortos neste período será difícil de contabilizar, mas implicou em uma migração forçada.

2.  Estados Unidos – há muitas controvérsias sobre a posição dos judeus nos Estados Unidos da América. Houve várias perseguições no Oeste que levaram a migrações para o Leste. Há muitos relatos de antissemitismo desde a criação dos Estados Unidos, a começar pelo que acontecia em Nova Amsterdã, atual Nova York. Hoje, sabemos que este caldo estava submergido e que bastou um estopim cheio de falsas verdades para que o antissemitismo aflorasse em todos os níveis, inclusive o acadêmico.

3.  1679 - Iémen –  judeus habitavam o Iémen desde a saída do Egito. Lembramos que o Har Sinai, onde foram entregues as Tábuas da Lei e a Torah ficam no Iémen. Nesta época foram destruídas as comunidades e as pequenas sinagogas. As grandes foram transformadas em Mesquitas!! Prática centenária que depois foi adotada também na Esplanada do Templo em Jerusalém.

·     século XVIII é premiado por ações na Prússia (Frederico II), Austria (Imperatriz Maria Teresa), Russia (Imperatriz Catarina II) promovem ações de segregação e prejuízo. Algumas com mais intolerância outras com menos. No caso da Russia, foram criadas as zonas de assentamento localizada na atual Polônia, Moldávia, Ucrânia e Bielorrússia. Eram os shtetls. Além dos judeus a Imperatriz Catarina II criou vilas para vários outras nacionalidades apátridas. Estas forças de trabalho foram importantes para desenvolver economias locais.

4.  Nesta época o preconceito aos judeus também pode ser avaliada por escritos de Voltaire que no Dicionário Filosófico (Dictionnaire philosophique), classificava o povo judeu como “ignorante", “bárbaro" e "cheio de superstições". Ao mesmo tempo, também criticou os que os perseguiam, dizendo: mesmo assim, não devemos queimá-los na fogueira. A Wikipédia portuguesa acrescenta que o Isaac de Pinto, um escritor judeu, escreveu uma carta aberta a Voltaire lamentando o preconceito. Este desculpou-se por ter estereotipado os judeus, mas não alterou a sua opinião geral… Qualquer semelhança com o que acontece hoje não é mera coincidência.

5.  Ainda são relatadas as ações contra os judeus no Império Otomano com o extermínio das comunidade de Tetuã, de LaracheArzilaAlcácer QuibirTazaFez e Mequinez . Há vários relatos do antissemitismo em paísed mulçumanos. A documentação apresentada é volumosa e deixo registrado que Benny Morris, historiador israelense nascido em 1949 que tinha posições pró-palestinos cita o relato de um viajante do século XIX –

"Eu vi um rapazinho de seis anos de idade, com uma tropa de crianças gordas de apenas três e quatro anos, ensinando-as a atirar pedras contra um judeu, e um pequeno menino, com a maior frieza, ir até ao homem e, literalmente, cuspir na sua gabardine. A tudo isso, o judeu é obrigado a submeter-se, seria mais do que sua vida valia atacar um maometano."[78]


Vamos nos aproximando aos nossos tempos. As descrições pormenorizadas continuam. Convido a todos para lerem os relatos. Um dos mais completos que encotrei e que de forma isenta segue relatando as discriminações a músicos e cientistas brilhantes.

 

Há muito mais a relatar – século XIX e XX foram cobertos de ações contra o Povo Judeu. Deixo uma figura que todos conhecemos e que vem sendo negada de forma vergonhosa!

 

Bergen-Belsen - 1 de abril de 1945

Quase concluindo, 

Um sabor do que os judeus faziam pelos judeus.


Contudo, pelo menos em Jerusalém, as condições para alguns judeus melhoravam. Moses Montefiore, em sua sétima visita em 1875, observou que novos e belos edifícios haviam surgido e; "certamente estamos nos aproximando do tempo de testemunhar a promessa santificada de D’us para Sion". Árabes muçulmanos e cristãos participavam da festa de Purim e da Páscoa; os árabes tratavam os judeus de "filhos dos árabes"; os ulemás e os rabinos ofereciam orações conjuntas por chuva em tempo de seca. (81)". Texto literal da Wikipédia - portuguesa


Retomando os dias de hoje. As sirenes tocam no Norte de Israel, mas a vida do dia a dia, apesar da inflação galopante e de sérios problemas na política interna, continua, continua e continua!

 

Se não há esperança em calar os que nos caluniam, certamente temos um histórico longo de superação, criatividade e de sabedoria para continuar a VIDA! Vamos chorar em 7 de outubro, como choramos em 9 de Av, Iom ha Shoa e 4 de Iar (Yom haZikaron). E vamos continuar a nos alegrar em PURIM e em 5 de Iar (Iom ha Atsmaut).

 

A Vida que esta semana foi celebrada de forma tão alegre na coluna Iachad pelo nosso colaborador André Naves.

 

AM ISRAEL CHAI

 

Regina P Markus









quarta-feira, 15 de maio de 2024

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Metalinguagem

 

Le Chaim




          Sucesso como sempre! Aplausos!

Daniel Baremboim, o encantador dos pianos, tinha feito mais uma de suas mágicas! Tocar o “Rach 3” não é pra qualquer um... Ainda mais com tanta emoção, esperança...

Sabe quando a gente ouve até a poesia do piano? Parece até que ele está conversando, falando... “Shalom”...

Relaxados, após a magistral execução do Concerto para Piano 3 de Rachmaninoff, os músicos da Filarmônica de Israel se reuniram para o tradicional coquetel festivo, lá mesmo, na sede do Hichal Hatarbot, em Tel Aviv.

          Entre cumprimentos e gargalhadas, sempre com seu charuto na mão, Daniel esbarrou no seu grande amigo, o maestro Zubin Metha! Que abraço gostoso! É o poder da música, das artes... Paz, Sorrisos e Esperança!

          “Dany´Le! Hoje você estava tocando com o sangue! Sabe como seus vizinhos falam? Com sangue nos olhos! Assim! Força! Foi lindo, arrepiante, emocionante. Me lembrou até uma historinha...”

          “Diga, por favor, Senhor Maestro Zuby´Le...”

          “Pra quem é argentino, você está muito alemãozinho... Hahahaha!”

          “Eu já saí de lá há tanto tempo, mas acho que o espírito nunca saiu de mim... Hahahaha!”

          “Sabe como dizem, né? A gente tem de morar na Itália, mas não pode amolecer demais. A gente tem de morar na Alemanha mas não pode endurecer demais... Pelo que você tocou hoje, a milonga ainda mora no seu coração!”

          “América Latina! Sabia que o maior poeta brasileiro é o Poetinha? A maior voz brasileira, um timbre dos anjos, é a do Bituca? O restinho do cigarro que a gente até joga fora! Talvez a informalidade de lá seja uma forma de carinho e respeito... Talvez um certo chutzpah que ainda não aflorou. Se somos todos iguais, qual razão para deferência? Mas qual a história, Zuby´Le?”

          “Hahaha! Contam que logo depois da estreia, com muito sucesso, diga-se, da ópera ´Axur, re d´Ormus´, Salieri e Mozart se encontraram para um brinde fraternal, como eles sempre faziam após as noites de gala.

          Eles tomavam um vinho bem parecido com esse. Um rubi líquido... Olhe bem! Mozart dizia preferir os brancos, que lembram o Sol e o Ouro. Salieri era italiano, né? Gostava dos tintos... Potentes, apaixonados, vermelhos...

          No olfato, eles sentiam desde o perfume da mulher amada até os tons terrosos das trufas negras... Sabe a beleza do vinho? Lembra da ´Dança dos sete véus´ de ´Salomé´? Cada vez que a gente olha, respira, prova, é uma descoberta nova. Um véu que cai, mostrando e escondendo um tesouro...

          Daí eles provaram... Até pareciam agulhinhas picando a língua. Uma sensação deliciosa de boca seca, em meio à abundância líquida... Imagine comer uma banana verde...

          E os sabores, então? Alcaçuz, rosas, morango... Era uma explosão! No segundo gole, um novo véu se descortinava, uma nova cortina se abria: tâmaras, framboesas, nozes...

          Vinho é isso! É exploração! É descoberta! É mistério! É delícia! Viu como quase todos os sentidos são protagonistas quando a gente vai beber? Visão, olfato, paladar e tato...

          Mas o mais nobre dos sentidos acabou ficando de fora... A audição molda o pensamento que cria a ação! Ela é a semente da emoção! Por isso que a gente é músico... O espírito canta sempre que sente o som!

          Por isso Salieri convidou Mozart a bater, com leveza e graça, os copos... Para ouvir... ´Piiiiiii....´. Sempre que a gente ouve isso a gente sabe que o brinde está completo. Nossa esperança renasce com força e vigor!

          Não é esperar! É semear, é cuidar, é trabalhar! Com isso, o futuro melhor chega... Os reféns voltarão pra casa! As águas baixarão! A destruição será reconstruída! O amanhã é a esperança! O brinde é a ESPERANÇA!”

          Le Chaim!


André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural. Conselheiro do grupo Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló. Membro do comitê de inclusão do LIDE.

 

segunda-feira, 13 de maio de 2024

VOCÊ SABIA? - Pilar Rahola

 

Pilar Rahola, grande amiga do Povo Judeu

Por Itanira Heineberg


“No soy judía, soy de izquierda. Soy periodista y no criminalizo a Israel.” 



Você sabia que a jornalista Pilar Rahola, eterna defensora dos direitos humanos e da Democracia, é uma grande admiradora do Povo Judeu e de seu legado à humanidade?

Na sequência de vozes contra o antissemitismo crescente no momento atual e contra o apoio às ações do grupo terrorista Hamas, apresentamos a escritora esclarecida, muito bem informada e formadora de opinião - atributos conquistados por seu profundo conhecimento de História, sua cultura, filosofia de vida e reconhecimento por seu trabalho profissional.

Pilar nasceu em 1958 em Barcelona, Espanha, e sua família sentiu de perto a crueza do regime franquista, sendo seu tio-avô o primeiro a ser fuzilado durante o período fascista, 1939 até 1975.

“Doutorada pela Universidade de Barcelona, em Filologia Hispânica e também em Filologia Catalã, foi de 1987 a 1990 diretora da Pòrtic, uma editora da Catalunha ( tendo publicado "A Bela do Senhor" de Albert Cohen e "A Fogueira das Vaidades" de Tom Wolfe, além de outros autores).

De 1989 a 1993 manteve uma coluna diária no Jornal Avui.

Recebeu em 1991 o Prêmio Josep Casanovas de jornalismo.

Foi Diretora da Fundação Acta até 1993.

E assim, de realização em realização, de prêmio em prêmio, em 1993 ingressou na vida política oficialmente.”

 

Uma lutadora fervorosa pelas causas justas, sempre apoiando as mulheres, independentemente de suas origens, batalhou incansavelmente contra a distorção informativa da mídia e em especial contra a criminalização mundial do Estado de Israel.

Em 2002 escreveu seu grandioso livro “A favor de Israel” onde abomina o ódio europeu aos judeus e defende a existência de um povo quase destruído pelo Holocausto e seu direito a uma terra que o possa acolher e que possa  chamar de sua.

Assistamos agora a um vídeo recente onde Pilar aponta o antissemitismo como uma degradação da civilização e afirma: “A causa judia é tua causa se defendes os princípios básicos da Bíblia: ‘Amarás ao teu próximo’  e ‘Não matarás’.”

Inquirida por seus interlocutores sobre a razão pela qual defende Israel com veemência ela se posiciona de maneira brilhante e positiva, enumerando a indústria de extermínio que a Europa criou especialmente para acabar com o povo judeu, o estigma de povo sempre perseguido pelos séculos e  finalmente enaltecendo os valores fundamentais da Democracia, os valores ocidentais ligados à liberdade das sociedades e os fundamentos da civilização moderna que nos foram trazidos pelos judeus.



 

E finaliza com um conceito significativo sobre a diferença entre as mães judias e palestinas, duas culturas opostas de amor aos filhos:

Diz a mãe judia: Quero meu filho vivo

Diz a mãe palestina: Quero que meu filho se mate.



FONTES:

https://www.rivkah.com.br/tradicoes/pilarrahola/pilarrahola.htm

http://www.eitan.com.br/A%20favor%20de%20Israel.pdf


quinta-feira, 9 de maio de 2024

Acontece: Esquecer e relembrar


Por Juliana Rehfeld


17 dias do Omer ao anoitecer.

Lembro que esta contagem dos 49 dias entre Pessach e Shavuot marca um período de transformação, de purificação. Se a saída do Egito nos levou do cativeiro à liberdade física, o recebimento da Torá em  Shavuot nos levará à "libertação espiritual". Tomara.




Falando de saída de cativeiro para a libertação, foi lançado esta semana em Bangladesh o relatório sobre a migração mundial, World Migration Report 2024, que diz que “a migração continua a ser uma solução importante num mundo que muda muito rapidamente, mas há muitos problemas ainda a corrigir”… o último retrato é que existem 117 milhões de pessoas deslocadas no mundo, entre as quais 35.3 milhões são refugiados. Acrescento eu que a definição de refugiado é aquele que é forçado a sair de seu país para escapar de guerra, perseguição ou desastre natural, o que aconteceu na proclamação da independência de Israel em 1948 a parte dos cerca de 700 mil árabes que saíram. Digo parte porque a maioria saiu por apelo dos países árabes que avisaram que deflagrariam uma guerra contra o novo país. Os árabes que ficaram são hoje cerca de 2 milhões de cidadãos com plenos direitos. Os que saíram não foram integrados pelos países que os incentivaram a sair, ficaram “represados” na chamada Cisjordânia e em Gaza e hoje somam 5 milhões de chamados “refugiados palestinos”, subvertendo as definições. Espanta que o relatório deste ano ainda liste um país como “Territórios Palestinos Ocupados” com a bandeira palestina! E continua espantando o fato de que, mesmo com este grosseiro erro de definição de quem é refugiado, se usarmos o número de 5 milhões, são 14% de todos os refugiados no planeta. Mas o orçamento da Acnur - Agência da ONU para Refugiados é (2022)  USD 1.17 bilhão x USD 880 milhões da entidade criada somente para os “refugiados palestinos”, a UNRWA. E todos lemos recentemente o escândalo da corrupção e do envolvimento antiético (para não dizer "criminoso”) dos funcionários da mesma agora na guerra contra Gaza…

Mas a maioria da população mundial pouco se aprofunda ou pesquisa, os números são reproduzidos sem questionamentos e vão propagando falsos dados mesmo em relatórios que se pretendem sérios e que fazem, de maneira geral, um bom trabalho. A humanidade esquece, a mídia e as próprias universidades esquecem…  Esta semana também foi divulgada uma carta dos estudantes judeus da Universidade de Columbia com uma longa lista de assinaturas que continua crescendo, posicionando-se, “de próprio punho” contra o preconceito e violências a que foram e são submetidos pelos manifestantes pró-Hamas. Não querem ser usados politicamente por nenhum dos partidos que estão disputando eleições e nenhuma mídia distorcida!

E sobre esquecimento….  

Aconteceu domingo 5 de maio Iom ha Shoah, Dia do Holocausto. É sempre emocionante a cerimônia anual na Polônia, a Marcha da Vida, na qual sobreviventes e famílias caminham os 3200m entre o campo de Auschwitz e as ruínas das câmaras de gás em Birkenau, contrapondo-se ao original sentido da Marcha da Morte, percorrido por tantas vítimas. Neste ano o evento foi “tingido” com as tristes cores do 7 de Outubro. Participaram da Marcha sobreviventes dos nazistas que moravam no kibutz Beeri, cuja população foi majoritariamente assassinada pelo Hamas em 7 de Outubro. É inimaginável a dor dessas pessoas é impressionante a força que conseguiram ter para manifestar-se na cerimônia! Assista aqui ao vídeo.

 


A maioria das pessoas que participam nesta cerimônia são jovens, judeus ou não, guiados por programas educativos que cumprem a missão de “lembrar para o futuro”, isto é, lembrar e aprender para que isso não se repita no futuro. Podemos nos perguntar se temos sido eficientes nestas ações, agora à sombra da recente barbárie, e sobretudo, à sombra das reações atuais a Israel pelo mundo e o crescimento do antissemitismo, mas o fato é que não podemos parar. Precisamos incorporar os fatos novos, e as reações a eles, refletir sobre tudo isso, e fazê-lo, sempre, com os jovens. Responder a perguntas cada vez mais difíceis, e seguir contínua e permanentemente…

O Iom haShoah abre um período de lembranças e homenagens que vai até Iom HaAtzmaut na próxima semana. A passagem tem um fluxo otimista pois, afinal, após o Holocausto Israel foi fundado e mantido, a duras penas, com grandes perdas que lembramos no domingo próximo, no Iom Hazicaron, Dia da Memória, pelos soldados e vítimas do terrorismo, mas culmina no dia da Independência celebrado na terça que vem. Todos esses eventos estarão marcados pelo 7 de outubro, evidentemente, e muito temos de repensar e analisar, sobretudo da perspectiva do que fizemos errado, o que precisa ser modificado, o que precisa ser acrescentado nos programas educativos, para que cada vez mais tenhamos menos mortes a lamentar, de qualquer pessoa, dentro de quaisquer fronteiras, e mais festas a celebrar.

Amém. Shabat Shalom.



quinta-feira, 2 de maio de 2024

‘Mitzvá Legal’ - Liberdade de Culto

LIBERDADE DE CULTO

Por Angelina Mariz de Oliveira 


Os hebreus saíram do Egito dos Faraós para firmar um pacto nacional com Deus, o Único Criador. Para exercerem sua opção religiosa, foi essencial garantir seu direito de ir e vir conforme sua vontade, sem restrições. Por isso, a cada nova praga, lemos que o faraó concordava aos poucos em ampliar a autorização para os hebreus saírem do Egito: apenas homens; depois homens e mulheres e crianças; e finalmente toda a população hebreia com seu gado. 

Na viagem pelo deserto as práticas de outras tradições religiosas, o que na época significava a idolatria, são fortemente reprimidas. Nos 10 Mandamentos os hebreus recebem de início a proibição de culto às divindades criadas por seres humanos. Em seguida, diversas vezes são transmitidos os comandos de destruição dos ídolos, árvores e locais de culto das religiões pagãs de Canaã (por exemplo, em Shemot 23:24 e Devarim 7:5). 

Essas mitzvot têm o objetivo declarado de proteger os hebreus e seus filhos de se tornarem idólatras, ou seja, de acreditarem que objetos ou elementos da natureza possam lhes trazer saúde, riqueza, felicidade, sucesso etc. É preciso que os filhos de Israel sempre se lembrem de que Deus, o Criador Único, é a fonte de suas bênçãos; e que tenham consciência de que Ele é um ente ‘zeloso’. 

Então, aquele embate inicial com o faraó se tratou do direito dos hebreus de servirem a Deus, mas não o direito de optar por servir às divindades dos povos que viviam na região. É emblemático o episódio no qual parte da liderança israelita decide cultuar baal, nos rituais ensinados por mulheres midianitas e moabitas, e milhares de pessoas são mortas por uma peste enviada por Deus (Bamidbar 25:1-9). 

O Tanach vai nos relatar a constante prática pelos hebreus e judeus de idolatria e do culto a divindades estrangeiras. Mesmo o Rei Salomão vai edificar altares e oferecer sacrifícios para deuses dos amonitas, moabitas e de outros povos (Reis I, 11:5 8). Sempre essas ‘opções’ são criticadas e castigadas, com consequências duríssimas. 

No entanto, não existe nenhum mandamento comandando os hebreus, e depois os judeus, a obrigarem outros povos a não serem pagãos, ou a terem cultos e relações com Deus por outros parâmetros diferentes dos instruídos na Torá. Apesar disso, em vários momentos da História judaica ocorreram conversões ativas, sejam por proselitismo, sejam mesmo forçadas. 

Ou seja, a ‘liberdade de culto’ não é um princípio que estava vigente na tradição judaica. Como ocorria também em outras culturas. No entanto, entre alguns povos religiões diferentes eram toleradas, especialmente pelos romanos. O Rabino Lawrence Epstein nos conta que no Século I da Era Comum, 10% do Império Romano era judaico, algo em torno de 8 milhões de pessoas. 

Nessa época, no início da Era comum, no Tratado de Sanhedrin do Talmude (105a) os Rabinos explicam que todas as pessoas justas, mesmo as não judias, poderão usufruir o ‘mundo vindouro’, da era messiânica de paz e convivência. Já é uma manifestação escrita do respeito e reconhecimento do valor de outras culturas e religiões. 

Com a adoção do Cristianismo como religião oficial pelo Império Romano, em 407 da Era Comum foi proibida a conversão ao Judaísmo, sob pena de morte. E a mesma punição vigora até hoje em muitos dos países muçulmanos. Com isso, são quase 1500 anos que a tradição judaica se afastou do proselitismo. 

Com a dispersão forçada dos judeus pelo Império Romano, após a expulsão da Judéia e destruição de Jerusalém, a questão da ‘liberdade de culto’ começou a se tornar uma conquista essencial para a manutenção do Judaísmo rabínico. A liberdade religiosa ganha maior importância no mundo ocidental quando ocorrem cismas e divisões dentro do Cristianismo, com os consequentes séculos de guerras, perseguições e expulsões. 

Com o Iluminismo, veremos as nações incluindo em suas legislações nacionais o direito expresso à liberdade religiosa: 

- Em 1789, na França, foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que protegia as religiões: “Art. 10.º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei”. 

- Em 1791 a Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos determinou: “O congresso não deverá fazer qualquer lei a respeito de um estabelecimento de religião, ou proibir o seu livre exercício (...)”. 

- Em 1824, a primeira Constituição do Brasil, então Império, estabelecia: “Art. 5. A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do Templo”. “Art. 179. (...) V. Ninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a Moral Pública”. 

Sabemos, no entanto, que a liberdade de culto e a liberdade religiosa não foram, nem são, plenamente praticadas. As religiões diferentes da adotada pelos governos eram, e são, toleradas, muitas vezes perseguidas sob alegações injustas e preconceituosas. 

Nesse percurso, muitas mentes judaicas de filósofos, pensadores, juristas e legisladores contribuíram para a elaboração destes textos normativos que se tornaram históricos e parâmetros para as atuais legislações ocidentais. Em Israel a questão da liberdade religiosa é inerente à Declaração de Independência de 14 de maio de 1948, como lemos: 

“(...) O Estado de Israel estará aberto à imigração de judeus de todos os países de sua dispersão; promoverá o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes; terá como base os preceitos de liberdade, justiça e paz ensinados pelos profetas hebreus; defenderá a total igualdade social e política de todos os cidadãos, sem distinção de raça, credo ou sexo; garantirá liberdade total de consciência, culto, educação e cultura; protegerá a santidade e a inviolabilidade de santuários e Lugares Sagrados de todas as religiões (...)”. 

Na atual Constituição Federal brasileira de 1988 vigora a garantia do art. 5, direito que já havia sido incorporado às normas constitucionais desde a Constituição Republicana de 1891: 

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 

Com isso, constatamos que a construção do direito à liberdade religiosa começou a cerca de 3.500 anos, quando os hebreus receberam o direito de deixar o estreito dos Faraós e ir para o deserto fazer seu pacto com Deus, o Criador Único. Foram longos séculos de vivências e sofrimentos para a Humanidade perceber a importância da diversidade religiosa, da necessidade de existência de várias tradições religiosas, e de como a convivência com o diferente pode nos fortalecer, e não ameaçar e enfraquecer. 

Mas a liberdade de escolher a conexão espiritual não é uma conquista concreta. Ela é teórica e normativa em alguns países; em outros ela oficialmente é negada; em quase todos ela não é praticada. Vivemos em um tempo histórico em que nossa tarefa é tornar reais os direitos de culto, para nós judeus e para outras religiões. É inclusive uma tarefa e um desafio intra-religioso, dentro do próprio Judaísmo, promover o encontro, diálogo e respeito entra as diversas correntes e comunidades.

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Metalinguagem

 


Metalinguagem

         Meu desejo sempre foi traduzir a sabedoria ancestral dos gigantes de outrora em fantasias, sonhos e memórias. Algo como Carlos Gomes fez quando musicou o espetáculo do nascimento de um novo dia em sua Alvorada... Como traduzir em música o levantar do Astro Rei?

         Como explicar o lirismo e o sabor do sentir em palavras? Como iluminar a ignorância do desconhecido? A racionalidade busca lógicas para justificar os desejos mais essenciais, mas as emoções acabam sendo as regentes do nosso comportamento.

         Será que Champollion teria decifrado a pedra da Rosetta sem saborear o espírito egípcio? Eu não tenho essa resposta. Pra ser sincero, prefiro nem ter... O fato é que ele decifrou a alva chave para traduzir aqueles hieróglifos e banhá-los com as Luzes da Ilustração...

         No entanto, assim como uma simples pedra marcada pode gerar tamanha iluminação, novos conhecimentos são sementes poéticas para toda a Humanidade: Razão e Emoção num abraço fraternal na jornada em busca da Verdade.

         Por vezes, somos afogados nas águas violentas da tormenta. O mundo, tão cru e bárbaro, sempre me lembra que nem sempre o sonho é uma trilha aceitável. Que covardia é essa, para que eu me esconda numa poética alienante?

         É nessas horas que eu subo nos ombros dos gigantes. É de lá que eu vejo mais longe... Mas não adianta subir até as estrelas se eu não entrar nas cavernas do meu coração...

         É lá que eu encontro as ferrugens, mas também ferramentas para a construção constante do caminho que leva às luzes da Sabedoria!

É lá que eu encontro a pedra e a chave para traduzir a alma popular!

AM ISRAEL CHAI!

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural. Conselheiro do grupo Chaverim.

 


Acontece: MARES “MUITO” DANTES NAVEGADOS


Contar e Recontar – Narrar e Informar 

283 ⚔️, 🧨, 11 dias do OMER 


Hebraico é um idioma com muito simbolismo. Uma rede de conexões que expõe uma forma de pensar milenar. Quando este tema é tratado com retoques de academia ou intelectualidade, sempre surpreende. Quando este tema é vivenciado muitas vezes ASSUSTA. Nos dias de hoje chamo a atenção da palavra SEFER (lê-se "seifer") – Livro. Esta palavra pode ser encontrada também como SEFIRÁ (lê-se "como está escrito") – Contagem. Em português a palavra “contar” também tem os dois mesmos significados. Estamos no período da contagem do OMER – 49 dias (7 x7) que separam Pessach de Shavuot, e estamos vivendo a contagem dos dias – hoje é o dia 283 – em que reféns sequestrados em Israel estão em Gaza, vivendo e morrendo em condições sub-humanas, ou melhor, desumanas. TORTURA é pouco! E são estes os dias que sofremos uma difamação inimaginável. Nas últimas semanas descobrimos que esta difamação está sendo orquestrada em todo o mundo para cumprir os objetivos do governo islâmico do Irã e os estatutos dos grupos terroristas Hamas. Vamos viajar por estes mares “muito” dantes navegados.

A partir do segundo dia de Pessach é iniciada a contagem do Omer, um período de 49 dias entre a comemoração da saída do Egito e o recebimento da Torah e dos Dez Mandamentos no Monte Sinai. Dez Mandamentos, os Dez Dizeres, os Dez Comandos que D’us também apresenta no Monte Sinai e que foram objeto de tantos filmes, quadros e ilustrações. Entregues em duas versões, a primeira quebrada em circunstâncias dramáticas quando o povo se divide e a segunda entregue com pequenas alterações. Estas 7 semanas estão relacionadas com um período para reflexão e, se possível, crescimento intelectual. As sete semanas que separam a festa de Pessach da festa de Shavuot (semanas). É interessante lembrar que Shavuot é a única festa judaica que não tem data estipulada no calendário. Começa no dia 50 da contagem de Ômer. Isto quer dizer, precisamos contar dia a dia, prestar atenção no caminho de forma que ao seu final possamos contar o que aconteceu. 

Este ano a passagem dos dias ganhou um aspecto muito especial. O 11º dia do Ômer coincide com o 283º dia após o fatídico 7 de outubro de 2024 – ou Simchat Torá de 5784. Duzentos e oitenta e três dias – e a pergunta que não cala é quando vai terminar? Muito aconteceu nestes dias e podemos dizer que eles têm sido narrados de acordo com interesses políticos e ideológicos. Escrever se torna mais penoso a cada semana. Durante muitos dias consegui que a emoção não passasse de uma sensação controlável, mas os últimos desdobramentos vêm dando a mim a impressão que o fim do túnel ainda está longe.

A brutal invasão do Hamas no dia 7 de outubro foi planejada e desenhada com muito cuidado, por líderes que tem um objetivo destilado ao longo dos anos. O objetivo é acabar com o Estado de Israel. E hoje este objetivo foi ampliado – eliminar os judeus. Trazer de volta os mitos e as mentiras que vêm acompanhando o povo judeu desde que o romanos arrasaram com o Reino de Israel e criaram a Palestina, arrasando Jerusalém e trocando seu nome. 

Hoje acompanhamos as manifestações (que nome outro poderíamos dar?) nas Universidades ao redor do mundo, com um destaque muito importante para as universidades americanas. Um movimento que vem sendo orquestrado há anos. Para formar um bando que em uníssono fala mentiras sobre Israel e os judeus sem pestanejar é preciso formar uma cultura que impeça o uso da razão. Em outras palavras, ligar um piloto automático. Esta semana foi destacado que além de grandes somas em dinheiro que os países mulçumanos aplicaram nas universidades americanas, eles direcionaram estas verbas para a formação de cátedras, com titulares escolhidos a dedo e que teriam a capacidade de formar uma cultura antissemita. Estas palavras que acabo de escrever são muito diretas, e certamente causariam suspeitas e reações tipo anticorpos. A solução encontrada foi brilhante. Introduziram a cultura mulçumana com seus aspectos positivos, e ao mesmo tempo foi introduzida uma falsa verdade da relação entre Israel e os chamados palestinos de Gaza. Povo sofrido que vem servindo há anos de escudo para o Hamas. A faixa de Gaza foi administrada pelo Egito até 1967. Posteriormente manteve a fronteira fechada e resguardada. Hoje percebemos que tinha noção do que era o Hamas. Esta liderança que não é uma unanimidade entre os cidadãos de Gaza mantém a população como um escudo humano e treina esta população para não só odiar Israel, mas ser capaz de torturar e matar seus cidadãos. Vimos tudo isso acontecer no 7 de outubro. 

Os cursos ministrados por décadas ao redor do mundo formaram pessoas que poderiam reagir assim que convocadas. Neste último mês de abril vimos o resultado deste excelente trabalho de formação de opinião. O antissemitismo aflorando de forma direta, e as manchetes sobre os eventos são em muitos de nossos jornais favoráveis ao que está acontecendo - apesar que a matéria em si possa ser um pouco menos condescendente. Nas últimas duas semanas, em muitos destes textos publicados em jornais de grande circulação no Brasil, vemos que o último parágrafo sempre dedica uma frase ao Primeiro-ministro de Israel. Portanto, começa com uma manchete antissemita ou anti-Israel e termina apontando um político que responde por Israel. Estes são mares "muito" dantes navegados. Só que agora os buques são muito mais modernos que a Caravelas de Camões e as armas da Santa Inquisição. Suas armas e armadilhas ainda têm que ser decifradas.

CONTAGEM – contar e recontar! Sabemos como contar o Ômer, mas não sabemos quando este período vai poder ser contado em números. No momento só podemos contar o que recebemos como notícias ou de conversas particulares. E é nestas que encontramos a certeza que as águas da vida encontraram uma maneira de formar novamente importantes rios que geram inovação, conhecimento e bem-viver. É na resiliência do dia a dia, cada um de sua forma. É na semelhança do discurso dos que estão servindo o Exército de Israel e também nas muitas diferenças que existem dentro de um estado verdadeiramente democrático composto por muitas etnias, religiões e culturas. A diversidade do Estado de Israel é uma fortaleza inexpugnável, porque é capaz de reagir das mais diferentes formas.

Ser um povo é o que D’us propôs aos judeus em Pessach. Ser um povo entre os povos é o que D’us propôs no Sinai. Que ao chegar ao final desta contagem de Ômer, possamos também ter os reféns de volta a Eretz Israel que seguirá sendo um país inovador e um país que amplia a sua população por abrigar gerações passadas e futuras. Um país que continuará fazendo história.


Am Israel Chai

Regina P. Markus