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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Editorial: O Dia do Julgamento




Esta semana foi celebrado o Iom Kipur, por muitos considerado o dia mais importante no calendário judaico. Iom Kipur, também conhecido como Iom haDIN - o dia do julgamento. Diz a liturgia que em Rosh Hashana, cada pessoa é inscrita e em Iom Kipur, confirmada, no Livro da Vida. Este é um dia voltado para pedidos de desculpas e para perdão. Na liturgia judaica, uma pessoa deve pedir desculpas à outra e também o perdão deve ser concedido entre as pessoas. 

Há, no entanto, desvios ou quebras de promessas necessários que são feitas de forma involuntária. Para estes casos, existe uma fórmula muito bizarra de solução. Ao iniciar os serviços de Iom Kipur, ao por do sol,  quando o número de judeus em sinagogas é recorde, é lida e cantada a principal reza - o Kol Nidrei- Todos os Votos. Este lindo poema pede que todos os pecados cometidos daquele momento até o ano seguinte de forma involuntária ou quando for impossível não cometê-los sejam perdoados previamente. Esta "conversa" entre cada um, a comunidade e D'us estabelece a responsabilidade de nossos atos no campo do possível e dá a dimensão que a vida está acima de qualquer preceito ou regra que possam ter sido criadas em nome da religião e da vida em sociedade.


Então, neste dia do Julgamento, todos entram sabendo que o livre arbítrio é o foco de cada vida. A responsabilidade pessoal é de suma importância, mas quando não puder ser exercida existe um crédito: o crédito da boa vontade. O crédito de que o julgamento de cada pessoa sobre o certo e o errado são uma base muito importante para o convívio e a possibilidade de fazer com que a eternidade possa ser alcançada pela corrente que une as gerações.


Neste mesmo dia, a vida continua a fluir de forma normal no resto do mundo. Mas todos sabemos que os mundos estão interligados e que neste momento o Povo Judeu e o Estado de Israel estão sob ameaça contínua e constante. Assim, foi muito interessante quando, ao sair das sinagogas chegou a notícia que em um Tribunal de Porto Alegre, a juíza Cristiane Busatto Zard condenou os três skinheads pertencentes a um grupo neonazista gaúcho que atacaram com facas judeus. A notícia dada nos jornais de grande circulação, alguns em primeira página no Iom ha Din, Dia do Julgamento, foi uma coincidência interessante e mostra uma dimensão do Brasil que orgulha a todos. Um país que sabe viver além de seus erros.


Regina P Markus

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