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quinta-feira, 18 de abril de 2019

Editorial: Pessach - A LIBERDADE DE SER

A LIBERDADE de SER


Nesta sexta-feira dia 19 de abril, judeus do mundo inteiro estarão sentados ao redor de uma mesa para celebrar o início da FESTA DE PESSACH - A PASSAGEM.

Há muitas explicações para esta data, que é de fato o momento em que se inicia a jornada de um grupo de pessoas para a formação de um povo, que tem sobrevivido por mais de 3000 anos e tem vivido sempre no presente - porque conhece o seu passado e prepara o seu futuro.

Apesar dos judeus terem sido espalhados ao redor dos 5 continentes por séculos, sem as facilidades de comunicação que temos hoje, há muito em comum na forma como comemoramos Pessach. O ponto central, a refeição festiva ritual, repleta de alimentos tradicionais e de permissões e proibições, podem diferir nos detalhes, mas são idênticas nos procedimentos.

Este ano, o Rabino Jonathan Sacks, que foi o Rabino Chefe do Reino Unido, comentou em sua fala semanal que o ponto central é ler a HAGADÁ, a história da saída dos judeus do Egito, o caminho da escravidão à liberdade. 

Porque está escrito na própria Hagadá, logo no início, e duas vezes, que a grande obrigação de Pessach (Mitsvá) é contar a Hagadá às crianças - fazer com que todos, independentemente da idade, sejam depositários livres da história de seu povo. E estes jantares, ao longo de uma vida, acabam formando também as histórias da famílias. Memórias de infâncias, memórias da infância dos filhos, dos netos e dos bisnetos acabam sendo recontadas ao longo dos tempos e... de repente... escutamos uma tia de mais de 90 anos contar como era o seder em sua casa - e como seu avô falava sobre os de sua infância e... ao redor de uma mesma mesa recontamos uma história de mais de 3000 anos e ao mesmo tempo, desfilam frente à nossa imaginação como nossas famílias comemoravam Pessach nos séculos XIX e XX.  

Em anos anteriores (2017) comentei sobre os quatro filhos - sim, quando o mais novo da mesa levanta e pergunta "Por que esta noite é diferente de todas as demais noites?" os mais velhos iniciam a leitura da história - mas, logo no comecinho informam que esta história deve ser contada para todos - os inteligentes, os tolos, os maus e os que não sabem perguntar - todos estão incluídos, mas sem alterar as suas características. Esta é uma característica muito importante do contexto - TODOS e CADA UM - o povo é formado por indivíduos e é a unidade que deve ser preservada. Não há o objetivo de alcançar um modelo comum, mas sim, o objetivo de que cada um tenha lugar a uma mesa que forma o coletivo.

Este ano, como estamos muito perto do dia 17 de abril, vale lembrar que no ano de 1506 no Largo de São Domingos em Lisboa, por ordem de Dom Manuel I, foram reunidos judeus de Portugal com a promessa de poderem embarcar em navios para outras paragens - e assim não se converterem ao catolicismo como exigia o Santo Ofício. Os judeus ficaram "a ver navios" e os padres iniciaram uma conversão em massa. Os que recusaram foram assassinados - e o objetivo era acabar com a diversidade - o objetivo era transformar todos em uma massa homogênea. Cinco séculos depois, em 2006, foi colocado um pequeno monumento no mesmo lugar. Pessach - passagem - e os judeus portugueses passaram ao longo da história e agora sentam-se à mesa e celebram Pessach, celebram a vida. 

E... no dia 19 de abril de 1943 aconteceu o Levante do Gueto de Varsóvia, era a primeira noite de Pessach, era Zman Cheiruteinu - Tempo de Liberdade!!




Ao iniciar este texto, escrevi que viver no presente é conhecer o passado e preparar o futuro. Certamente, em Pessach, na passagem do tempo, é sempre bom lembrar que avançar em conhecimento é a forma da nossa geração preparar o futuro - e neste contexto está uma importante herança que recebemos do deserto: aprender com as pedras do caminho é a melhor forma de construirmos um futuro. A nave israelense que foi até a Lua e quase pousou foi uma fonte tão grande de aprendizado, de despertar nas crianças a paixão pela ciência, que o próximo projeto já está anunciado.

PESSACH - passar - ao ver uma pedra no caminho temos duas opções - removê-la ou contorná-la - para continuar em frente rumo ao FUTURO. 


CHAG PESSACH SAMEACH

Regina P. Markus









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