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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

EDITORIAL: 2021 - Unindo Mundos Opostos



2021 - Dia do Holocausto e Tu biShvat na mesma semana!




Entre a vida e a morte - ou melhor - superando a morte! Talvez este deveria ser o título deste Editorial.

Neste ano de 2021, o Dia Internacional em Homenagem às Vítimas do Holocausto - estabelecido pela ONU em 27 de Janeiro, dia em que foi libertado o Campo de Concentração de Aushwitz/ Birkenau em 1945 - ocorre um dia antes do dia 15 de SHVAT (TU bi Shvat) no calendário judaico. Como no calendário judaico o escuro precede o claro, as comemorações começam no noite do dia 27 de janeiro e seguem até o entardecer do dia 28. 

No dia 15 de Shvat é comemorado o ANO NOVO DAS ÁRVORES, é o dia da NATUREZA e também serve-se uma refeição ritual, como na Páscoa, em que o centro são as frutas. Desde o pão feito do trigo, passando por vários copos de vinho e por diferentes tipos de frutas servidas ao natural ou secas. 

No judaísmo, plantar uma árvore em Tu bi Shvat é uma missão e, neste contexto, Israel foi o único país do mundo que encerrou o século XX com mais árvores do que iniciou. Plantar uma árvore é a forma de uma pessoa projetar-se para o futuro e estar viva muito além de sua vida real. 

Neste contexto existe uma tradição que une as árvores à RUPÁ (normalmente transliterado por CHUPÁ, onde ch tem som de r), a cobertura ritual para os casamentos. Ao nascer uma criança é costume plantar uma árvore e ao chegar o dia do casamento os varões da chupá são enfeitados ou mesmo construídos com galhos das árvores dos noivos. Assim, o nascimento chega ao casamento que prevê novos nascimentos. A corrente que une as gerações e que torna o povo judeu um dos - se não o mais - antigo povo vivo na terra.



Neste 2021 é simbólica a lembrança do Holocausto, da tentativa de extermínio total do povo judeu, seguida de forma imediata pela vida.

Muito podemos falar sobre o Holocausto. Os grandes números e as ações mais ignóbeis. Mas neste ano vamos olhar como foi possível ultrapassar tanto sofrimento, sobreviver, transformar um sonho milenar em realidade e contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento científico da humanidade.

Este ano vamos deitar os olhos sobre fatos individuais. A imagem que ilustra este editorial mostra uma pintura de Renoir, "Rosa e Azul", que está no Museu de Arte de São Paulo. As duas meninas retratadas eram as filhas mais novas do parisiense Louis Cahen d'Anvers e da triestina Louise de Morpugo. Elizabeth e Alice, duas lindas meninas que atravessaram os tempos e chegam até os nossos dias pela genialidade do pintor. Ninguém tem ideia da história das meninas. Aqui contamos a de Elizabeth, a irmã do meio, a vestida de azul e que gostava muito das longas sessões de pintura. Após dois casamentos infelizes e conversão voluntária para o catolicismo muito antes da Segunda Guerra Mundial, foi identificada como judia e deportada para Aushwitz. Morreu na viagem, em um trem congelante, no ano de 1944 aos 69 anos. Sua imagem ultrapassa as décadas e ultrapassará os séculos e a menina de azul foi eternizada pela arte.

Ao lado do quadro de Renoir abrindo este editorial está a imagem do pintor Isio (Itzhak) Belfer, que faleceu no dia 22 de janeiro de 2021. Ele foi um menino pobre, deixado pela mãe viúva no orfanato do Dr. Janucz Korczak para poder estudar. Lá viveu por sete anos antes de partir para o leste devido à chegada dos nazistas. Na Rússia, foi partisan e também soldado do Czar e após a guerra, ao passar por Varsóvia e descobrir que sua família não mais existia, seguiu para Israel - viagem também recheada de fatos marcantes do século XX. Partiu de Gênova e antes de desembarcar em Israel foi levado preso pelos ingleses para Chipre. Chegou em Israel apenas em 1949. Sua vida de artista foi dedicada a retratar de memória sua vida no orfanato do Dr. Korczak.

Dr. Korczak esteve à frente de seu tempo nos processos pedagógicos e educacionais e não hesitou em seguir suas crianças para Aushwitz quando os tempos de deportação chegaram ao Gueto de Varsóvia. Histórias que se entrelaçam e que mostram o lado mais escuro do Holocausto, mas como a noite segue o dia e o dia segue a noite, mostra que o tempo foi capaz de mostrar que o Povo Judeu sobreviveu.


O POVO JUDEU hoje, espalhado pelo mundo inteiro, está tão vivo quanto 100 anos atrás. Atuante em todos os campos do saber, da economia às artes, mostrou que sobreviveu aos tempos do Holocausto e também mostra que SE LEMBRA. Superar não é esquecer. Superar é honrar os que ficaram através do encadear de gerações.

Unindo o ANO NOVO DAS ÁRVORES ao LEMBRAR do HOLOCAUSTO, o ano de 2021 mostra que o futuro é sempre possível quando abençoado pela memória do ontem e a busca do amanhã.


Regina P. Markus

28 de janeiro de 2021, 15 de Shvat de 5781




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