Por Juliana Rehfeld
Estamos celebrando Pessach desde sábado passado e
terminaremos junto com o final da Páscoa cristã. É aquela coincidência que
acontece mais ou menos a cada 3 anos, devido aos ajustes de calendários
diferentes, a lua cheia depois do equinócio da primavera no hemisfério norte,
ou do outono no hemisfério sul. Ou seja, quando o dia e a noite, ou a luz e a
escuridão, têm o mesmo tamanho. Próxima a este período, mas sem relação com o
equinócio, está a celebração do Ramadã muçulmano, que dura um mês. São datas extremamente
importantes para as respectivas religiões, ricas em rituais, carregadas de
significado que define a cultura dos povos. Para nós judeus a celebração
relembra a saída da escravidão no Egito e a formação do povo em torno das
tábuas da lei, em 1279 antes da era comum, a caminho da Terra prometida pelo
Deus único; para os cristãos o período relembra a morte de Jesus, filho de Deus
como sacrifício por todos os cristãos e culmina com sua ressurreição e aparição
aos apóstolos no domingo de Páscoa, em 33 da era comum; já o Islã celebra
durante um mês o recebimento do Alcorão por Maomé em 610 da era comum, através
de jejum diurno para criar resistência nos muçulmanos.
As religiões abraâmicas, assim chamadas porque beberam da
mesma fonte, a convocado de Deus a Abraão, representam a metade da população da
terra, com cerca de 4,5 bilhões de adeptos dos quais os judeus somos apenas 15
milhões, ou 0,3%. Outras 3 grandes religiões compõem as maiores do mundo:
hinduismo, budismo e sikhismo, com um total de cerca de 1,8 bilhão de adeptos,
sobretudo nos maiores países do Oriente; o Google estima que haja entre 4.300 e
60 mil (!) religiões no mundo "que variam desde grandes religiões
organizadas até crenças indígenas e tradicionais. Países como China, Suécia,
Estônia, Japão e República Tcheca têm populações majoritariamente seculares,
onde a religião exerce pouco impacto na vida pública e na política." E a
Inteligência Artificial conclui que “compreender a diversidade religiosa do
mundo pode ajudar a promover o respeito pela fé dos outros”
Pois é… em tese…
Voltando às abraâmicas, em 2022 os três diferentes
calendários - solar cristão, lunissolar judaico e lunar muçulmano - celebraram
Páscoa, Pessach e Ramadã ao mesmo tempo. Algumas das demais religiões também
celebram suas origens e seu(s) deus(es) neste período do ano. Bilhões de
pessoas portanto, no mesmo período de uma semana, conversaram com Deus, pediram
bençãos e pregaram harmonia e amor ao próximo.
Mas toda essa poderosa energia não impediu que, um ano e
meio depois, ocorresse 7 de outubro de 2023. Esse dia gerou empatia da grande
maioria da população do mundo ao diminuto país dos pouco numerosos judeus,
ferido de morte. Logo em seguida, ao tentar defender-se “de uma vez por todas
do perigo que os terroristas representam” passamos a ser atacados, Israel e
judeus, como se não fôssemos as vítimas mas sim os algozes, não só não amados
por próximos, mas sim odiados por muitos como se ameaçassemos o mundo dos
demais e merecêssemos desaparecer e ainda, ignorados pelos demais a ponto da
maioria se calar, assistir em silêncio a distorções de fatos, reverberar, nas
redes e nas ruas, informações errôneas e mantras condenatórios sem nenhuma
verificação.
E assim segue e só piora.
Aqui estão anexos links e relatórios globais e brasileiro
sobre o assustador crescimento dos incidentes e da postura antissemitas nos
últimos 2 anos, após justamente o pior massacre que sofremos pós o
Holocausto.
Os incidentes antissemitas têm tido um aumento tão
expressivo que a ONU lançou, em janeiro deste ano, um Plano de Ação para
Monitoramento e Resposta ao Antissemitismo prefaciado pelo secretário geral
Antonio Guterres que justifica: o antissemitismo tem profundas raizes e
mutações; e se compromete: nenhuma forma de preconceito ou ódio deve encontrar
abrigo em nenhum lugar, não descansaremos até que sejam definitivamente
banidos.
Amém!
Enquanto bilhões de seres humanos rezamos por harmonia e
amor ao próximo, a intolerância é o ódio só crescem…
Apesar disso, Shabat Shalom!
O ano de 2024 foi um "ano de pico" para o
antissemitismo, com um aumento de 340% no total de incidentes
antissemitas em todo o mundo em comparação com 2022, de acordo
com um novo relatório publicado pela Organização Sionista Mundial e pela
Agência Judaica para Israel.
Em comparação com 2023, o número de incidentes
antissemitas quase dobrou. O relatório usou 2022 como referência
por ter sido um ano relativamente normal, ao contrário de 2023, quando o Hamas
iniciou sua guerra contra Israel em 7 de outubro.
De acordo com o Centro Simon Wiesenthal afirma que 2024
foi um ano de antissemitismo sem precedentes em ambos os lados do Atlântico,
manifestando-se em campi de elite, nos corredores da justiça internacional, da
diplomacia e da sociedade civil, e nas mídias sociais. O centro listou os 10
principais incidentes antissemitas do ano - wiesenthal.com/TopTenAntisemitic2024 -
afirmando que poderiam se estender a 100 ou mais devido à crescente
normalização da violência contra judeus e Israel e o ataque a sinagogas e
estudantes judeus em campi de elite; o duplo padrão mortal de agências da ONU,
ONGs e tribunais internacionais; e a influência perniciosa de influenciadores
antissemitas nas mídias sociais, de Greta Thunberg a Candace Owens.
Pesquisa da Universidade de Tel Aviv junto com a
americana ADL - Anti-Defamation League - apurou que, nos EUA, os primeiros nove
meses de 2023 viram um aumento drástico nos incidentes antissemitas em
comparação ao mesmo período de 2022: houve cerca de 3.500 incidentes relatados
entre janeiro e setembro de 2023, enquanto os últimos três meses do ano
registraram quase 4 mil. Em 2022, haviam sido registrados 3.697 incidentes e,
em 2021, 2.717.
Em 2023 o país registrou, em média, três ameaças de bomba
por dia contra sinagogas e instituições judaicas. Foram 962 ameaças contra 94
registadas em 2022. (!)
Instagram, TikTok, Facebook e campi universitários. Estes
são os campos de batalha onde jovens judeus americanos continuam a enfrentar o
antissemitismo a um ritmo alarmante.
De acordo com o último Relatório Anual sobre a situação
do antissemitismo na América, divulgado pelo Comitê Judaico Americano (AJC) em
12 de fevereiro de 2025, a internet e as mídias sociais continuam sendo o local
onde os judeus americanos enfrentam a tendência crescente de antissemitismo,
proveniente de diversas fontes, incluindo supremacistas brancos na extrema
direita e extremistas anti-Israel na extrema esquerda.
Aproximadamente sete em cada 10 (69%) adultos judeus
relatam ter sofrido antissemitismo online ou nas mídias sociais – incluindo
aqueles que afirmam ter sido alvos pessoais e aqueles que afirmam ter visto ou
ouvido incidentes antissemitas. Esse número aumenta para oito
em cada 10 (83%) entre jovens adultos judeus.
E no Brasil? Acabou de ser divulgado o Relatório de 2024
sobre antissemitismo que resume: no primeiro mês do conflito entre Israel e
Hamas (outubro de 2023), registramos um aumento alarmante de mais de 1.000% no
número de denúncias em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Esse salto expressivo marcou o início de uma mudança
significativa no patamar das ocorrências relatadas nos meses seguintes. Após
observar um aumento de 255% no número de denúncias de 2022 para 2023, em 2024
os números se tornaram ainda mais preocupantes, atingindo um aumento de 350% em
comparação ao ano de 2022. Com um total de 1.788 denúncias registradas, o
monitoramento alcançou seu recorde histórico no Brasil.
Muito muito bom, Juliana! Parabéns e obrigada, Ita
ResponderExcluirQue boa Ju!!!cheio de informações e analise de dados!!!
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