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quinta-feira, 17 de abril de 2025

ACONTECE - Amor ao próximo ou Antissemitismo?




Por Juliana Rehfeld


Estamos celebrando Pessach desde sábado passado e terminaremos junto com o final da Páscoa cristã. É aquela coincidência que acontece mais ou menos a cada 3 anos, devido aos ajustes de calendários diferentes, a lua cheia depois do equinócio da primavera no hemisfério norte, ou do outono no hemisfério sul. Ou seja, quando o dia e a noite, ou a luz e a escuridão, têm o mesmo tamanho. Próxima a este período, mas sem relação com o equinócio, está a celebração do Ramadã muçulmano, que dura um mês. São datas extremamente importantes para as respectivas religiões, ricas em rituais, carregadas de significado que define a cultura dos povos. Para nós judeus a celebração relembra a saída da escravidão no Egito e a formação do povo em torno das tábuas da lei, em 1279 antes da era comum, a caminho da Terra prometida pelo Deus único; para os cristãos o período relembra a morte de Jesus, filho de Deus como sacrifício por todos os cristãos e culmina com sua ressurreição e aparição aos apóstolos no domingo de Páscoa, em 33 da era comum; já o Islã celebra durante um mês o recebimento do Alcorão por Maomé em 610 da era comum, através de jejum diurno para criar resistência nos muçulmanos. 

As religiões abraâmicas, assim chamadas porque beberam da mesma fonte, a convocado de Deus a Abraão, representam a metade da população da terra, com cerca de 4,5 bilhões de adeptos dos quais os judeus somos apenas 15 milhões, ou 0,3%. Outras 3 grandes religiões compõem as maiores do mundo: hinduismo, budismo e sikhismo, com um total de cerca de 1,8 bilhão de adeptos, sobretudo nos maiores países do Oriente; o Google estima que haja entre 4.300 e 60 mil (!) religiões no mundo "que variam desde grandes religiões organizadas até crenças indígenas e tradicionais. Países como China, Suécia, Estônia, Japão e República Tcheca têm populações majoritariamente seculares, onde a religião exerce pouco impacto na vida pública e na política." E a Inteligência Artificial conclui que “compreender a diversidade religiosa do mundo pode ajudar a promover o respeito pela fé dos outros”

Pois é… em tese…

Voltando às abraâmicas, em 2022 os três diferentes calendários - solar cristão, lunissolar judaico e lunar muçulmano - celebraram Páscoa, Pessach e Ramadã ao mesmo tempo. Algumas das demais religiões também celebram suas origens e seu(s) deus(es) neste período do ano. Bilhões de pessoas portanto, no mesmo período de uma semana, conversaram com Deus, pediram bençãos e pregaram harmonia e amor ao próximo.

Mas toda essa poderosa energia não impediu que, um ano e meio depois, ocorresse 7 de outubro de 2023. Esse dia gerou empatia da grande maioria da população do mundo ao diminuto país dos pouco numerosos judeus, ferido de morte. Logo em seguida, ao tentar defender-se “de uma vez por todas do perigo que os terroristas representam” passamos a ser atacados, Israel e judeus, como se não fôssemos as vítimas mas sim os algozes, não só não amados por próximos, mas sim odiados por muitos como se ameaçassemos o mundo dos demais e merecêssemos desaparecer e ainda, ignorados pelos demais a ponto da maioria se calar, assistir em silêncio a distorções de fatos, reverberar, nas redes e nas ruas, informações errôneas e mantras condenatórios sem nenhuma verificação. 

E assim segue e só piora. 

Aqui estão anexos links e relatórios globais e brasileiro sobre o assustador crescimento dos incidentes e da postura antissemitas nos últimos 2 anos, após justamente o pior massacre que sofremos pós o Holocausto. 

Os incidentes antissemitas têm tido um aumento tão expressivo que a ONU lançou, em janeiro deste ano, um Plano de Ação para Monitoramento e Resposta ao Antissemitismo prefaciado pelo secretário geral Antonio Guterres que justifica: o antissemitismo tem profundas raizes e mutações; e se compromete: nenhuma forma de preconceito ou ódio deve encontrar abrigo em nenhum lugar, não descansaremos até que sejam definitivamente banidos.

Amém! 

Enquanto bilhões de seres humanos rezamos por harmonia e amor ao próximo, a intolerância é o ódio só crescem…

Apesar disso, Shabat Shalom!

 



O ano de 2024 foi um "ano de pico" para o antissemitismo, com um aumento de 340% no total de incidentes antissemitas em todo o mundo em comparação com 2022, de acordo com um novo relatório publicado pela Organização Sionista Mundial e pela Agência Judaica para Israel.

Em comparação com 2023, o número de incidentes antissemitas quase dobrou. O relatório usou 2022 como referência por ter sido um ano relativamente normal, ao contrário de 2023, quando o Hamas iniciou sua guerra contra Israel em 7 de outubro.

De acordo com o Centro Simon Wiesenthal afirma que 2024 foi um ano de antissemitismo sem precedentes em ambos os lados do Atlântico, manifestando-se em campi de elite, nos corredores da justiça internacional, da diplomacia e da sociedade civil, e nas mídias sociais. O centro listou os 10 principais incidentes antissemitas do ano - wiesenthal.com/TopTenAntisemitic2024 - afirmando que poderiam se estender a 100 ou mais devido à crescente normalização da violência contra judeus e Israel e o ataque a sinagogas e estudantes judeus em campi de elite; o duplo padrão mortal de agências da ONU, ONGs e tribunais internacionais; e a influência perniciosa de influenciadores antissemitas nas mídias sociais, de Greta Thunberg a Candace Owens.

Pesquisa da Universidade de Tel Aviv junto com a americana ADL - Anti-Defamation League - apurou que, nos EUA, os primeiros nove meses de 2023 viram um aumento drástico nos incidentes antissemitas em comparação ao mesmo período de 2022: houve cerca de 3.500 incidentes relatados entre janeiro e setembro de 2023, enquanto os últimos três meses do ano registraram quase 4 mil. Em 2022, haviam sido registrados 3.697 incidentes e, em 2021, 2.717.

Em 2023 o país registrou, em média, três ameaças de bomba por dia contra sinagogas e instituições judaicas. Foram 962 ameaças contra 94 registadas em 2022. (!)

Instagram, TikTok, Facebook e campi universitários. Estes são os campos de batalha onde jovens judeus americanos continuam a enfrentar o antissemitismo a um ritmo alarmante.

De acordo com o último Relatório Anual sobre a situação do antissemitismo na América, divulgado pelo Comitê Judaico Americano (AJC) em 12 de fevereiro de 2025, a internet e as mídias sociais continuam sendo o local onde os judeus americanos enfrentam a tendência crescente de antissemitismo, proveniente de diversas fontes, incluindo supremacistas brancos na extrema direita e extremistas anti-Israel na extrema esquerda.

Aproximadamente sete em cada 10 (69%) adultos judeus relatam ter sofrido antissemitismo online ou nas mídias sociais – incluindo aqueles que afirmam ter sido alvos pessoais e aqueles que afirmam ter visto ou ouvido incidentes antissemitas. Esse número aumenta para oito em cada 10 (83%) entre jovens adultos judeus

 

E no Brasil? Acabou de ser divulgado o Relatório de 2024 sobre antissemitismo que resume: no primeiro mês do conflito entre Israel e Hamas (outubro de 2023), registramos um aumento alarmante de mais de 1.000% no número de denúncias em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Esse salto expressivo marcou o início de uma mudança significativa no patamar das ocorrências relatadas nos meses seguintes. Após observar um aumento de 255% no número de denúncias de 2022 para 2023, em 2024 os números se tornaram ainda mais preocupantes, atingindo um aumento de 350% em comparação ao ano de 2022. Com um total de 1.788 denúncias registradas, o monitoramento alcançou seu recorde histórico no Brasil.


2 comentários:

  1. Muito muito bom, Juliana! Parabéns e obrigada, Ita

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  2. Que boa Ju!!!cheio de informações e analise de dados!!!

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