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sexta-feira, 9 de março de 2018

EDITORIAL: Dia Internacional das Mulheres - 8 de março





No Dia Internacional da Mulher, nós mulheres recebemos muitas mensagens de saudações e muitas piadas interessantes. No final do século XIX, no bojo da revolução industrial e na mudança dos paradigmas de trabalho, surge a luta das mulheres pelo direito ao voto e o direito ao trabalho remunerado. Na segunda metade do século XX, a ONU estabelece 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. Muito é falado a respeito dos direitos das mulheres e de suas desvantagens dentro de uma sociedade regida pelo masculino. E muito é comentado a respeito das mulheres que se tornam modelos para gerações. Além dos modelos de beleza, estão mulheres que se destacaram na política, na governança e nas artes. Modelos menos comuns são as que realizaram avanços disruptivos do conhecimento nas ciências e na tecnologia.

Entre as bases da fundação do moderno Estado de Israel está a igualdade de direitos e possibilidades para homens e mulheres, o que implica na mulher servir ao exército, assim como o homem, e também estar presente na vida política, nas artes e na ciência. Mulheres como Golda Meir (1898–1978), importante líder no estabelecimento do Estado de Israel e Primeira Ministra, e Ada Yonath (1939), Prêmio Nobel em Química (2009), refletem o sucesso das mulheres no topo das atividades de governança e geração do conhecimento. Ao mesmo tempo, como ocorre em todo o mundo ocidental, há um retorno à marcação de diferenças baseadas em preconceitos culturais e sociais. A mais importante imagem destas diferenças são as colhidas no Muro Ocidental do Tempo de Jerusalém (Kotel ha Maaravi), conhecido erroneamente como Muro das Lamentações. Local que atrai judeus do mundo inteiro, e foco das orações dos judeus em qualquer parte do mundo, que sempre rezam voltados para o Monte do Templo em Jerusalém. As fotografias do século XIX mostram homens e mulheres rezando lado a lado, enquanto as fotografias do final do século XX mostram uma parede separando o local dos homens do local das mulheres. E o século XXI – este, já encontra de novo mulheres buscando o seu espaço, visto que consideram ser um local especial para todos e que deve receber a todos de forma igualitária.

Se voltamos na história 1 século já encontramos um respingo de retrocesso, o que acontecerá se retornarmos muitos séculos? Poderíamos correr os olhos no Tanach (Bíblia Judaica) e ver vários modelos de mulheres, como as matriarcas, a juíza, a rainha, as pobres e as ricas. Todas exercendo atividades à frente de seu tempo, mas queremos olhar tempos mais recentes, e com mais registros. Em 1890 foi descoberto um tesouro de informações ao ser localizada a Guenizá do Cairo, na Sinagoga de Ben Ezra em Fustat (há muitos artigos e livros sobre o tema, entre eles “Lixo Sagrado, O Mundo achado e Perdido da Guenizá do Cairo”, escrito por Adina Hoffman e Peter Cole). Guenizá é um espaço no subsolo das sinagogas onde são enterrados livros sagrados e outros escritos das comunidades. Esta Guenizá continha 331.351 documentos que cobriam 1 milênio de história a partir do ano 870 da era comum. Entre estes, registro de negócios mostravam que mulheres lideravam caravanas e mantinham negócios importantes para o sustento, não apenas de suas famílias, mas também da comunidade. Anos mais tarde, há registro da história de Doña Grácia Mendez Nasi (1510-1569), que saída das prisões da inquisição em Portugal e dona de uma das grandes fortunas da época, soube mantê-la, correr o mundo, salvar a vida de muitos e iniciar um dos primeiros movimentos concretos de reestabelecimento da identidade judaica nas Terras de Israel.

Se o espaço não fosse finito, poderíamos andar por muitos séculos nestes 3 milênios de história judaica, que se inicia com a saída de Abrão da casa de seus pais na Mesopotâmia. Um história que revela que mulheres de destaque existiram e existem. Mas, nos anos que correm, o retrocesso precisa ser avaliado de forma a impedir que todos os avanços que foram conseguidos pela sociedade ocidental não sejam perdidos por falsas imagens e modelos tão comuns nos nossos tempos, que impedem a mulher de ser independente e um ser completo.

Celebrar o Dia Internacional da Mulher é marcar de forma universal o vai e vem da História e é tentar acelerar o passo da espiral que garante que apesar dos retrocessos, é possível avançar para que exemplos unitários sejam transformados em conquistas coletivas.



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