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sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Editorial - SIONISMO & ACORDO DE ABRAÃO


Dubai               Jerusalém                   Manama


A história que teima em ser reescrita a cada presente tem que ser revisitada com base em achados arqueológicos, mas também é possível confirmar a história apenas passeando por cidades antigas e vendo seus monumentos. Passeando em Roma, encontramos o Arco de Tito - que comemora as Vitórias do Imperador Romano no Século I. E lá estão os prisioneiros judeus carregando a Menorah retirada do Templo de Jerusalém. Lá está em pedra, sem necessidade de qualquer escavação, o testemunho da conquista de Jerusalém no ano 70. 


Jerusalém, que mudou de nome para Aedia Capitolae, que já não era mais capital do país até então conhecido como Israel. A partir desta data os romanos deram a este país o nome de Palestina. O motivo da troca da nome é o mesmo que seria buscado ao longo de milênios: a extinção do Povo de Israel. Lembrando que a tradução de "IsraEl" é aquele que lutou com D'us, nome dado a Jacob após ter lutado com um anjo. Certamente não há comprovação arqueológica desta parte da história, apenas a sobrevivência de seus descendentes que teimam em contá-la todos os anos para seus filhos e netos. 

A sobrevivência do Povo de Israel é um fato bastante conhecido e dispensa buscas arqueológicas. O que os romanos conseguiram naquela oportunidade foi criar condições para que Jerusalém fosse eternizada como a capital do Povo de Israel, e que a Terrra de Israel passasse do mundo real para o mundo dos sonhos, e neste contexto o olhar para Tsion foi sendo consolidado ao longo de milênios. Continuar com a história implica em lembrar que poucos anos após a conquista dos romanos, os judeus voltaram a habitar Jerusalém e a Terra de Israel e construir sua história baixo aos diferentes domínios. Esta volta foi acelerada pelos tempos da Inquisição e ao longo dos milênios como decorrência de serem perseguidos ou de perseguirem um sonho. Saltando para o século XXI, podemos ainda olhar como história a criação do moderno Estado de Israel e de sua busca pelo conhecimento. Os milênios de estudos sistemáticos acabam desembarcando em um país que fez da preservação da pesquisa básica e da criação de um sistema próprio de transferência de conhecimento uma nação que vive do novo, que permite avanços nas diferentes áreas do saber. Da informática à saúde, da inteligência artificial à agricultura, chegando agora a podermos fazer imagens internas do nosso corpo apenas engolindo uma camera, rastrear bombas em movimento e saber exatamente a hora que o ônibus passa no ponto mais perto aqui na cidade de São Paulo. 

No outro lado da equação do moderno Estado de Israel, há a guerra com os chamados refugiados de longo termo. Arafat, o egípcio que cunhou o termo palestino, expulso da Jordânia, entrou na ONU com uma arma acima da cabeça falando tranquilamente sobre a paz. Ele e seus descendentes lideram uma guerra contínua contra o Estado de Israel. Ontem mesmo foi descoberto um novo túnel cavado pelo Hamas - descoberto pela alta tecnologia de sensores colocada em muros de proteção. Sensores que evitam morte de humanos e impedem ataques a populações do sul de Israel. 

Olhando as linhas escritas acima, e o título deste texto, vejo que estamos vivendo um momento histórico: o momento em que países árabes que se desenvolveram na base da modernidade e da tecnologia, sem deixar de lado os seus hábitos, costumes e religião, juntam-se a Israel em busca de um futuro de cooperação e diálogo. Lembrando que o diálogo implica no debate de pontos de vista diferentes. No caso do judaísmo nem significa a busca de pontos comuns ou de vitórias, mas sim o exercício de determinar as diferenças. Registrar as diferenças, como foi feito no tempo de Hillel e Shamai no início de nossa era, é o relevante. 

ACORDO DE ABRAÃO - encontro entre descendentes de irmãos por parte de pai, que receberam tratamentos diferentes do pai biológico, mas que sobreviveram ao longo de milênios e que agora encontraram o momento e as razões para mostrar ao mundo a possibilidade de um entendimento baseado em interesses comuns. Em muito pouco tempo vimos pequenos países árabes assinarem tratados e grandes países árabes abrirem os céus permitindo que aviões transportassem seres humanos para contatos pessoais. 

ACORDO DE ABRAÃO - um momento baseado na relação entre pessoas em todos os níveis. Ontem, em entrevista com o Rabino Marc S. Golub da JBS (Jewish Broadcasting System), o Rabino Elie Abadie, que assume a posição de Rabino Senior da União dos Emirados Árabes, expôs a situação dos judeus naquele canto do Golfo Pérsico. Saltamos da relação formal entre Estados politicamente estabelecidos e de cidadãos de diferentes matizes que habitam aqueles países. Rabino Abadie, nascido no Líbano, de pais e irmãos nascidos em Alepo (Síria). Descendente de judeus que fugiram da Espanha durante a Inquisição, passaram por Provence, Itália e Grécia até chegarem no Império Otomano e se estabelecerem em Alepo. Na sequência foram para o México, e o Rabino Elie Abadie que é médico e judeu praticante precisou emigrar para os Estados Unidos porque não teria como assistir aulas aos sábados. Assim como seu pai e avô, também continuou seus estudos judaicos. Entrevista saborosa, que mostra a espiral da história em evolução. 

Os que estão lendo este texto devem estar pensando, como vai terminar? Hoje vou deixar aberto, apenas vou esperar, do verbo esperançar, que o futuro lembre destes dias como o início de um novo despertar para o Oriente Médio e o Mundo.

Boa Semana a todos!

Regina P. Markus

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