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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Editorial - Ser uma Luz para as Nações: Benção ou Maldição?

 Ser uma Luz para as Nações: Benção ou Maldição?



Cisjordânia, Posto de Controle de Jalamah, 13 de setembro de 2022: dois primos palestinos, de 22 e 23 anos, atacam soldados israelenses. Matam um oficial israelense, e são mortos.

Cisjordânia, Kafr Dan, 15 de setembro de 2022: o Tzahal vai à vila onde moravam os primos palestinos para demolir a casa onde viviam. Outro adolescente palestino atira um coquetel molotov contra a tropa israelense e morre com um tiro na cabeça.

Chile, Santiago, 15 de setembro de 2022: o Presidente chileno Gabriel Boric adia o recebimento das credenciais do embaixador israelense depois de saber da morte do menor palestino.

Portal Deutsche Welle, espanhol, 16 de setembro de 2022: a atitude do Presidente Boric é noticiada, fazendo referência a Israel como “o Estado judeu” .

Uma sequência de fatos que pode ter uma análise fácil, quase óbvia: fomos atacados, nos defendemos, e as críticas têm origem antissemita.

Mas será tão simples assim?

Jovens negros desarmados são mortos no Brasil, todos os dias. Quando esses fatos são noticiados, nunca nosso País é citado como “o Estado cristão”. Por quê? Será que a resposta cômoda de antissemitismo é suficiente?

Fato é que o Mundo acompanha intimamente as ações dos judeus e exige que tenham elevadíssimos padrões éticos e de Justiça. O mesmo não é exigido com a mesma intensidade de outras pessoas, culturas e países.

Queiramos ou não, gostemos ou não, somos uma luz para as nações. O que se espera de nós é que cumpramos os comandos divinos. Cabe a nós escolher entre as mitzvot - e as bênçãos e a vida; ou rejeitá-las, e ter de lidar com as maldições e a morte.

A morte que Moisés cita na parashá Nitzavim, lida esta semana, não é a inevitável morte física, destino certo de todo ser vivo. É a ‘morte’ de uma vida digna e honrável, que é obtida quando a sociedade cuida, protege, educa, e investe em todos os vulneráveis, sem nenhuma exceção. Incluindo estrangeiros e inimigos.

Essa ‘morte’, nos ensina Moisés, pode se estender a nossos filhos, que se dedicarão às idolatrias, antigas e modernas. Serão pessoas que acreditarão que seu sustento, sua saúde, sua paz, sua fortuna... tudo que desejam será obtido apenas por suas próprias mãos – essa idolatria ancestral -, explorando gananciosamente outros seres humanos, outros seres vivos, o Planeta.

Pessoas que viverão acreditando que sua satisfação virá do dinheiro, do patrimônio, das ‘redes de contato’, das vestes de grifes. Será uma sociedade que seguirá líderes sem questionamento, sem limites, para a tirania, para a destruição. Se tentará obter a segurança com armamentos, muros, grades...

Quando vemos jovens israelenses e palestinos morrendo prematuramente, incessantemente, sendo louvados por todos como heróis, um sentimento de incômodo se instala em meu coração. Algo está errado, não estamos alcançando bênçãos e vida, mas maldições e morte; e talvez a responsabilidade não seja apenas do ‘inimigo’.

Sobre os fatos que ocorreram na semana passada em Jalamah e Kafr Dan, não consigo criticar, mas também não posso louvar. Afinal, todos morreram em meio à violência de cercas, armas de fogo, destruição de residências, bombas.

Talvez aqueles quatro rapazes tenham sido envolvidos por contextos sociais que levam à idolatria de um discurso de poder. Com certeza também não é tão simples assim, essa não é a única explicação.

E em meio a esse conturbado cenário, muito difícil de lidar, que a lembrança dos nomes desses seres humanos nos inspire a achar meios para outro caminho, no qual seja possível mostrar para a humanidade que é possível trocar as espadas por arados: Bar Falah (‘filho do progresso’), Ahmed (‘o mais elogiado’), Abdul Rahman (‘servo do misericordioso’) e Udai (aumentar): Progresso compartilhado, elogio das qualidades comuns, solidariedade, aumento das bênçãos.

Nesse domingo, 25 de setembro de 2022, inicia o período que nossos Sábios chamam de “Dias Temíveis”. São momentos em que o Judaísmo nos sugere que pensemos sobre nossas ações coletivas; que em comunidade estudemos textos de nossa liturgia. São dias em que, juntos, nos arrependemos de todos os desvios que nos afastaram como sociedade da vida e das bênçãos.

Quem sabe há esperança de retornarmos às bênçãos se for possível o contato com o outro com respeito, se for feita uma busca conjunta de soluções para o convívio, se as crianças de todas as etnias forem colocadas para brincar e estudar juntas, se as mães e os pais de todos os povos não precisem chorar suas perdas....


Shabat Shalom!


Angelina Mariz de Oliveira



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