Por Itanira Heineberg
Você Sabia que há mais de 500 anos, no dia 29 de março de
1516, a Sereníssima República de Veneza determinou que os judeus fossem
obrigados a viver numa área delimitada, que passou a se chamar “Ghetto Nuovo”?
Os judeus de Veneza lá viveram durante quase 300 anos,
até 1797, quando os muros foram derrubados por Napoleão.
E pensar que nas vezes que lá estive percorrendo seus canais
icônicos e fascinantes, atravessando suas românticas pontes, nunca tenha sabido
da existência desta vida fértil e abençoada na cidade?
E agora José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou ...
Carlos Drummond de Andrade
E agora Itanira?
O tempo passou,
Tua energia minguou,
O corpo mais lento,
Os aeroportos atopetados,
Espaços aéreos arriscados,
E surge a questão:
Ver ou não ver
O gueto de Veneza?
Vejamos:
Como consequência da Guerra de Cambrai, início do século XVI,
quando uma vasta coalizão dos principais estados europeus se revoltou contra a
República de Veneza, uma enorme quantidade de judeus ali se refugiou. Isto
levantou as preocupações dos cristãos.
A Liga de Cambrai formada em 1508 por
iniciativa do rei Luís XII da França, o imperador Maximiliano I e o rei
Fernando II de Aragão tinha como objetivo
desmembrar e enfraquecer a República de Veneza.
E assim em 1516, o Senado da República decretou que todos
os Hebreus presentes na ilha tivessem que residir na região chamada de Ghetto
Nuovo. Nascia, desta forma, o primeiro gueto do mundo.
O Ghetto Nuovo, bairro judaico de Veneza no século 16. Consistia
em um quarteirão pequeno e ilhado, que chegou
a ter 5 mil habitantes. Cinco mil judeus que vinham de outros países, fugindo
da inquisição, e não podiam morar em nenhuma outra área da cidade, somente ali.
Este gueto traz consigo muita História.
Nasceu numa zona marginalizada da cidade, local das
antigas fundições de metais. Daí deriva seu nome, geto, ou seja, fundição de metal fundido, fundição.
E esta palavra foi usada em todas as línguas do mundo
para designar um lugar de grande segregação.
Devemos atentar que na realidade, a República da
Sereníssima naquelas alturas não considerava com desprezo esta zona da cidade,
muito ao contrário, não apresentava uma
conotação negativa como foi então recebida ao longo dos séculos.
“Judeus para a República de Veneza eram
"preciosos". De importância para o comércio e a economia, como
recordou uma exposição organizada no Palazzo Ducale para o 500º aniversário da
fundação do Gueto de Veneza em 2016.”
O Ghetto Nuovo, a nossa pauta de hoje, era e é ainda hoje
uma ilha à qual somente se acede por duas pontes. Na entrada destas pontes
havia dois portões de ferro, que eram fechados e vigiados durante a noite: os
Judeus podiam sair de lá somente durante o dia, desde que tivessem um sinal de
identificação.
Gueto (ghetto) Ebraico. Foto: Oleg Znamenskiy / 123RF.
Ainda focando na História do Gueto de Veneza, afirmamos com
certeza ser ele um dos lugares mais característicos e fascinantes da cidade.
“Um lugar pequeno, em que se respira uma
atmosfera tranquila, e onde é possível descobrir a passagem de sua comunidade
judaica através dos prédios altos, das sinagogas, dos restaurantes, das lojas
de artesanato.”
Vista do gueto de Veneza. Edifícios com muitos andares e
tetos baixos. Foto: irisphoto3 / Bigstock
“Durante o Renascimento esse pequeno bairro
era uma cidade dentro da cidade. Além das casas e sinagogas, existia um teatro,
um pequeno hospital, uma academia de música e salões literários, ao lado de
pequenas lojas: do alfaiate à taberna, do armazém de madeira à padaria.”
Banco Rosso – um dos mais antigos do mundo no gueto mais
antigo do mundo.
A discreta entrada para o Museu Hebraico
E as sinagogas?
O elemento dileto mais prezado, mais estimado e honrado pelos
Judeus em suas comunidades?
Ao contrário das lojas e mercadinhos, as sinagogas não
eram identificadas pelo seu exterior. Elas ficavam e ainda ficam nos últimos
andares dos prédios normais.
Mas, surpresa! Por dentro são completamente adornadas.
Foi uma grande descoberta encontrar imagens internas das
sinagogas do gueto.
Schola Tedesca: a sinagoga alemã – Foto: WMF
Sinagoga Espanhola – Foto: Angel Lion Venice
Não podemos esquecer que, apesar das semelhanças
arquitetônicas da cidade havia e há na entrada do gueto uma placa em mármore
que lista as punições para aqueles judeus que, apesar de convertidos ao
cristianismo, continuassem a praticar rituais judaicos.
Uma dica para os viajantes que apreciam sair do buxixo
dos grandes centros e gozar momentos de calma e silêncio:
“Longe da multidão dos turistas que em todos
os períodos do ano invadem Veneza, o Ghetto é um lugar mágico, que cativa pelo
seu misterioso silêncio. Não deixe de visitá-lo!”
Finalizando:
Os judeus só foram reconhecidos como cidadãos plenos
depois que Napoleão derrubou a República Sereníssima, em 1797. Mas quando acreditamos
que a história não pode regredir, a Itália se une à Alemanha na Segunda Guerra
Mundial, levando quase toda a população do Ghetto Nuovo para os campos de
concentração. A devastação foi tanta que, dos sobreviventes de guerra, apenas 8
voltaram.
Memorial no Bairro Judaico
E agora, após a galeria de fotos aqui presentes, um lindo e cativante vídeo tentando dar vida e
movimento ao primeiro gueto do mundo:
https://www.instagram.com/reel/DLhji4Qtll5/?igsh=MWdnYnRvdGc5YzFncw%3D%3D
FONTES:
https://cenciturismo.com.br/o-gueto-de-veneza/
https://www.morasha.com.br/historia-judaica-moderna/os-500-anos-do-gueto-de-veneza.html
https://cenciturismo.com.br/o-gueto-de-veneza/
https://vontadedeviajar.com/gueto-de-veneza/
https://www.culturagenial.com/poema-e-agora-jose-carlos-drummond-de-andrade/