Um
Galo?
Já
contei, né? É tem a turma que vai chegando depois...É sempre assim: cada um
chega na sua hora certa! Por isso eu acho legal repetir... Aliás, ninguém morre
de mesma história de novo...
Então
vambora! Cêis já sabem que eu faço exercícios todos os dias bem cedinho...
Antes do Sol raiar, eu já tô de pé.
Tomo
café. Sabia que só o perfume dele já desperta a minha esperança no novo dia? É
tipo um portal aberto no meio daquele aroma. Café e madrugada... Tudo escuro!
Sinto o cheirinho, e já me abre o sorriso do Sol chegando. A luz e o novo dia.
Depois
do café, musculação... Depois da musculação, caminhada... Flanando na
Paulicéia! É cada uma! Cês acreditam que eu tava ali na Apinajés, quase na
esquina com a João Ramalho, quando eu vi um galo atravessando a rua na faixa?
É
nessas horas que a humildade vem galopando... Eu lá, todo pimpão, me achando só
porque acordo antes do Sol, sinto a esperança do café, vejo a vida nos
exercícios... Daí, tá lá o galo na faixa. De manhã bem cedinho... Galo...
Faixa...
Se
eu fosse gaúcho, eu ia até falar que era de cair os butiá!
Parei,
olhei. Será que fugiu do Parque d´Água Branca? De onde saiu? Lá na frente
falaram que era da dona Zefa... Ali, vizinha da Santa Rosa de Lima... Uma santa
do Peru vizinha do galo da dona Zefa? Dá até samba...
Quando
eu era pequenininho, lá em Jacareí, eu sempre ouvia a história do João Jiló. A
Dadaia ralhava comigo: meus pais era de outra religião, e eu não podia ouvir
essas coisas... Eu era criança!
E
eu teimava, arengava, até ela contar. Vou resumir (mas é uma historinha cheia
de simbolismo lírico, que vale a pena contar um dia): O João Jiló comeu um galo
na sexta santa! Justo na sexta santa! Tanto dia pra comer canja, e ele escolheu
bem a sexta santa! Não deu outra! Quando o relógio da igreja bateu a terceira
badalava, o galo voou, Livre!
Eu
ficava com pena do João Jiló (até dia desses, eu ainda achava que era Janjiló),
mas adorava ouvir do galo que se livrou do cativeiro.
João
Jiló não morre na história! Ela era tipo desenho animado pra criançada: o galo
estourava a barriga dele, mas no fim tudo dava certo e todo mundo ficava amigo!
Sabe quando a gente aprende uma lição?
João
Jiló achava que o sacrifício pessoal, por menor que fosse, era bobagem. Nunca
sentiu que um sacrifício é, no fim, uma doação que a gente faz em busca de uma
dádiva... É aquilo que é mais próprio da gente, nossa propriedade, o mais
especial, que é doado.
Essa doação é nossa caminhada que
atravessa os desertos. Ela leva a gente a rezar com os pés. Cada passo é uma
nova ligação para o Altíssimo. E cê sabia que ele atende? Claro que ele nunca
fala “Alô”! Se a gente liga com pé, ele também atende com surpresinha...
Sabe o galo na faixa?
André
Naves
Defensor
Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social –
FDUSP. Mestre em Economia Política - PUC/SP. Cientista Político - Hillsdale
College. Doutor em Economia - Princeton University. Comendador Cultural.
Escritor e Professor.
Conselheiro
do Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló.
www.andrenaves.com
Instagram:
@andrenaves.def
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