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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Um Galo?

 


Um Galo?

Já contei, né? É tem a turma que vai chegando depois...É sempre assim: cada um chega na sua hora certa! Por isso eu acho legal repetir... Aliás, ninguém morre de mesma história de novo...

Então vambora! Cêis já sabem que eu faço exercícios todos os dias bem cedinho... Antes do Sol raiar, eu já tô de pé.

Tomo café. Sabia que só o perfume dele já desperta a minha esperança no novo dia? É tipo um portal aberto no meio daquele aroma. Café e madrugada... Tudo escuro! Sinto o cheirinho, e já me abre o sorriso do Sol chegando. A luz e o novo dia.

Depois do café, musculação... Depois da musculação, caminhada... Flanando na Paulicéia! É cada uma! Cês acreditam que eu tava ali na Apinajés, quase na esquina com a João Ramalho, quando eu vi um galo atravessando a rua na faixa?

É nessas horas que a humildade vem galopando... Eu lá, todo pimpão, me achando só porque acordo antes do Sol, sinto a esperança do café, vejo a vida nos exercícios... Daí, tá lá o galo na faixa. De manhã bem cedinho... Galo... Faixa...

Se eu fosse gaúcho, eu ia até falar que era de cair os butiá!

Parei, olhei. Será que fugiu do Parque d´Água Branca? De onde saiu? Lá na frente falaram que era da dona Zefa... Ali, vizinha da Santa Rosa de Lima... Uma santa do Peru vizinha do galo da dona Zefa? Dá até samba...

Quando eu era pequenininho, lá em Jacareí, eu sempre ouvia a história do João Jiló. A Dadaia ralhava comigo: meus pais era de outra religião, e eu não podia ouvir essas coisas... Eu era criança!

E eu teimava, arengava, até ela contar. Vou resumir (mas é uma historinha cheia de simbolismo lírico, que vale a pena contar um dia): O João Jiló comeu um galo na sexta santa! Justo na sexta santa! Tanto dia pra comer canja, e ele escolheu bem a sexta santa! Não deu outra! Quando o relógio da igreja bateu a terceira badalava, o galo voou, Livre!

Eu ficava com pena do João Jiló (até dia desses, eu ainda achava que era Janjiló), mas adorava ouvir do galo que se livrou do cativeiro.

João Jiló não morre na história! Ela era tipo desenho animado pra criançada: o galo estourava a barriga dele, mas no fim tudo dava certo e todo mundo ficava amigo! Sabe quando a gente aprende uma lição?

João Jiló achava que o sacrifício pessoal, por menor que fosse, era bobagem. Nunca sentiu que um sacrifício é, no fim, uma doação que a gente faz em busca de uma dádiva... É aquilo que é mais próprio da gente, nossa propriedade, o mais especial, que é doado.

         Essa doação é nossa caminhada que atravessa os desertos. Ela leva a gente a rezar com os pés. Cada passo é uma nova ligação para o Altíssimo. E cê sabia que ele atende? Claro que ele nunca fala “Alô”! Se a gente liga com pé, ele também atende com surpresinha...

         Sabe o galo na faixa?

André Naves

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política - PUC/SP. Cientista Político - Hillsdale College. Doutor em Economia - Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def

 


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