O feitiço do tempo
Por Juliana Rehfeld
Eu venho escrevendo sobre a passagem do tempo, ou sobre, alternativamente, figurativamente, a parada do tempo. E sobre o que acontece tanto em uma como a outra. Há períodos efervescentes nos quais quase não conseguimos respirar entre uma notícia e outra, mas há aqueles dias que lembram um filme do qual gosto muito: o Feitiço do Tempo” - Cada dia que amanhece é o mesmo que o anterior, tudo acontece igualzinho, de novo. Dependendo do que olharmos, todos os fenômenos poder ser experimentadas - a passagem, a parada, e a volta do tempo…
Acontecer significa vir a ser, vem do latim contingescere, que, por sua vez, evoluiu de contingere, (de cum, "junto", e tangere, "tocar"), ou seja, atingir ao mesmo tempo.
Enquanto, dia após dia, continuam as batalhas na Ucrânia, em Gaza, na Síria, no Iêmen, no Paquistão, Mianmar e na África… Burkina Faso, Camarões, República Centro Africana, República Democrática do Congo, Etiópia, Mali, Moçambique, Nigéria, Senegal, Somália, Sudão e Sudão do Sul. Todas, ao mesmo tempo… e quantas pessoas no planeta, sobretudo os que saem em passeatas contra Israel, sabem que elas existem e quantas pessoas são mortas nestes conflitos, ou se importam…? A efervescência inclui ainda as inúmeras reuniões para encerrar essas batalhas e prevenir novas, envolvendo viagens de diplomatas e também de manifestantes contrários, as inúmeras reuniões de representantes de nações de todos os tamanhos e patrimônios, sob regimes presidencialistas, parlamentaristas, monárquicos, ditaduras rigorosas, e, é claro, todas as matizes da imprensa que reverbera, de maneira geral, o que o público espera ler, o que é “trend” (tendência), ou o que será trend..
Ao mesmo tempo, nada acontece concretamente, fora a espuma, e temos a sensação de acordar e ouvir as mesmas notícias de ontem, tomar o mesmo café de ontem à mesma hora, encontrar as mesmas pessoas e falar sobre os mesmos assuntos (trends) e ainda ler e ouvir a mesma crítica de ontem a Israel, os mesmos argumentos puídos, a citação dos mesmos jornalistas de ontem…
É raro sair-se desse padrão. Mas muitas vezes é refrescante… a mesma conversa repetida inúmeras vezes leva à impressão de que é verdade…
E
“Deu no Wall Street Journal e no New York Times”
Uma proposta recente de cinco xeques proeminentes de Hebron sugere a criação de um "Emirado de Hebron" autônomo, alinhado aos Acordos de Abraão, potencialmente incluindo uma parceria com Israel e foco em segurança. Essa proposta, que também incluía o reconhecimento de Israel como um estado judeu, despertou interesse entre aqueles que buscam uma paz que ultrapasse a solução tradicional de dois Estados. No entanto, especialistas não acreditaram que esse plano resultaria em Hebron se tornar um piloto da Emirates ou fazer parte da companhia aérea. Os pilotos da Emirates geralmente vêm de diversas origens e nacionalidades, com preferência por aqueles com licenças de países ocidentais e experiência em ambientes voltados para a segurança. O emirado proposto teria "tolerância zero" ao terrorismo.
Esta foi a notícia mais alvissareira da semana, pelo menos para mim, e acho que para aqueles de nós que ainda acredita em um futuro de coexistência com paz.
Mas, não. Jogaram uma ducha de água fria em todos nós dois dias depois. Desmentiram o fato classificando-o como arroubo do próprio xeque, absolutamente não subscrito por outros líderes… e mais, ontem houve noticias de que puseram fogo no carro de Wadee al-Jaabari, este visionário e arriscado xeque. A alegria e a esperança duraram pouco …
Ontem também se falou na esperança atrelada ao novo encontro entre Trump e Netanyahu, ao qual adicionou-se uma delegação do Catar. Não há avanços ainda… a última rodada que parecia promissora, “afogou-se na praia” - esbarrou na condição que o Hamas colocou para assinar o cessar fogo - que a passagem de Rafah fosse aberta. Bibi surpreendeu em uma entrevista: disse que a proposta de evacuar palestinos de Gaza estava de pé, que seria no formato de convite caso haja interesse em saírem, que há uma série de países já aceitando a proposta para recebê-los…
E ainda, Netanyahu está propondo para Trump o prêmio Nobel da paz de 2025!
Promissor, decepcionante, mais do mesmo… qual será o próximo impacto a nós atingir? O que acontecerá na próxima?
Shabat Shalom