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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

ACONTECE: Judaísmo Acontece

 

Por Juliana Rehfeld


No mês do Leão, Av, agora tivemos o pior dos dias, o de número 9. Muitas tragédias para o judaísmo ocorreram, segundo a tradição, exatamente nesta data, sendo talvez as mais conhecidas, as  destruições do primeiro e do segundo Templos de Jerusalém: o primeiro - templo de Salomão - em 586 A.E.C (antes da era comum) pelos babilônios comandados pelo rei Nabucodonosor II, e o segundo em 70 E.C, pelo fogo, na invasão do exército romano por ordem do general Tito.   

A primeira destruição levou à terceira e última onda de nobres cativos judeus à Babilônia, exílio forçado que marcou profundamente a religião judaica: houve o desenvolvimento das sinagogas como centros de estudo da Torá e de oração, a prática religiosa deixou de ser centralizada no templo e passou a ser mais comunitária e acessível a todos, o estudo e a interpretação da Torá ganharam destaque, com a formação de escribas e sábios que se tornaram líderes religiosos, o judaísmo passou a ser mais do que uma identidade nacional, tornando-se também étnico-religiosa e com o desenvolvimento da literatura rabínica, houve a compilação do Tanach e a discussão da Torá oral, que mais tarde se tornaria o Talmud.

A segunda, a destruição do Segundo Templo, levou à diáspora judaica, a grande dispersão dos judeus para todos os cantos, que permanece no presente. A compilação da discussão sobre a Torá, oral ou escrita, continuou até 600 EC quando o Talmud Babilônico foi concluído. Mas a discussão e interpretação sobre todos esses textos continua até hoje, nós a fazemos a cada estudo de parasha, também a cada Shabat. 

O judaísmo, com as mais diversas interpretações, as mais diversas críticas, os mais acirrados debates e mesmo as tentativas de negação, em qualquer canto do mundo, ACONTECE a cada momento. 

Baixando para o que acontece de concreto em Jerusalém e entorno esta semana, há uma importante divergência na mesa: o primeiro ministro, autoridade máxima na Knesset avisa que dado ao fracasso das últimas negociações, isto é, face a não aceitação, pelo Hamas, da proposta de 22 países para o cessar-fogo, o plano já pedido pelos extremos ministros é reocupar Gaza de onde Israel saiu totalmente em 2005, há exatos 20 anos. Mas, neste momento há uma crescente recusa de soldados a irem pro front - preferem a prisão por desobediência - há uma crescente manifestação de ex líderes de exército e do Mossad clamando pelo fim da guerra, e principalmente, há uma posição firme da maior autoridade das Forças de Defesa, chefe do Estado Maior, Eyal Zamir, empossado em março deste ano: ele é contra a retomada total do território de Gaza pelo risco que representa aos reféns e aos soldados em si. Ele vem autorizando o retorno para casa de muitos para restabelecimento. Números da imprensa israelense impressionam: 1983 mortes de israelenses, a maioria soldados, mais de 18500 soldados feridos, cerca de 10 mil com problemas de saúde mental, e, não escrito na imprensa mas ouvido dentro do exército, 30 suicídios de soldados que voltaram para casa. 

Desde pouco depois de 9 de Av em 2023, em 7 de outubro (22 Tishrei 5784) até 9 de Av desta semana parece que a tragédia se renovou, parece querer permanecer… e há muito debate sobre as consequências desta estendida guerra no judaísmo contemporâneo… podemos acompanhar da diáspora, gritar opiniões nas ruas de Israel, rezar pelo melhor dentro das circunstâncias… 

Fecho com dois diferentes anexos: o primeiro, pessoal mas de valor público, uma homenagem em 9 de Av a meu sogro, Professor Doutor livre Docente Walter Rehfeld feita pelo teólogo e hebraísta Luiz Sayão em sua rede social, e o segundo, a linda e triste música de Yardena Arazi , que tem sido cantada no país inteiro, nas manifestações e eventos, para casa, Habaita, Bring Them Home.





Mais um ano se passou,

Mais um ano desperdiçado,

Ervas daninhas cresceram no caminho e no jardim.

Um vento suspirante

Abriu a veneziana

E bateu na velha parede,

Como se chamasse:


Para casa, para casa

É hora de retornar,

Das montanhas

De campos estrangeiros.

O dia se esvai e não há sinal.


Para casa, para casa

Antes que a luz se apague.

Noites frias,

Noites amargas,

Estamos nos aproximando daqui.


Até o amanhecer

Rezando pelo seu bem-estar,

Presos nas algemas do medo

Ouço passos.


Para casa, para casa

Porque ainda não nos foi dado

Tudo o que nos foi prometido há muito tempo.

Um comentário:

  1. Excelente Acontece mostrando-nos a realidade da semana, mensagem transparente, sem alterações.
    Foi muito bom conhecer a homenagem ao Doutor Professor Walter Rehefeld e sentir a emoção do Concerto Bring them Home. Ita

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