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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

ACONTECE: Um triste espetáculo

 

Por Juliana Rehfeld



Enquanto a situação da guerra não só não se resolve mas, ao contrário, piora, com declarações muito discutíveis de alguns ministros israelenses e cada vez mais sonoros protestos da própria população de Israel além de vários países e da imprensa internacional, novamente nosso coração bate em ritmo de filme de suspense… filme de muito mau gosto, enredo ruim, personagens mal encarados, mas, que nosso controle remoto não consegue desligar. Está por um fio, elétrico, a decisão de aumentar a ocupação de Gaza ou não faze-lo enquanto não são localizados e libertados os reféns ainda vivos - ou agonizantes…

Começaram desde a semana passada a sair imagens de reféns esquálidos,  famintos, na situação maluca de serem forçados a cavar suas próprias covas, aliás, uma cena que remete diretamente ao que ocorreu em tantos locais na Europa contra judeus assassinados pelos nazistas… Aquilo foi parte do que o mundo declarou que jamais aceitaria e criou leis e organizações para que não se repetisse: matança sistemática para eliminar um povo, para apagar sua existência, ou seja, um genocídio. E por incrível que possa parecer aos ouvidos de quem participou desta luta para criar estas leis, convenções e organizações, há hoje quem acha e grita que Israel é nazista e genocida! Como a humanidade, nossa humanidade, não a de outros tempos, a nossa, chegou a isso? Chegamos a esta difícil realidade na sequência de tantos fatores, tanta distorção, tantos erros de ação, e décadas de muita desinformação;  “Eikev”, na sequência, que é o nome da Parashá que lemos nesta semana: na Torá, Moisés, à porta de Canaã, onde sabe que não vai entrar, fala ao povo que sim vai, fala a todos que já estiveram no Egito como escravos, aos que atravessaram o deserto por quarenta anos e aos muitos que os sucederão, para que persigam o cumprimento das leis de Deus posto que Ele sempre esteve a seu lado e “lhes ofereceu todo tipo de milagres” mesmo que tenha sido duro nas também frequentes punições… e afirma Moisés que se mantiverem a fidelidade às leis, Deus continuará a lhes trazer vitórias e milagres … 

Então, como passamos estas últimas 7 décadas de reconstrução pós 2a Guerra e construção do conceito e universalidade de direitos humanos - apenas um lindo papel? - e do multilateralismo nas relações políticas e busca do diálogo e da paz à continua destruição exatamente de tudo isso? E assistimos (passivamente?) ao desenrolar deste que parece o pior dos enredos, com a pior trilha sonora que podemos ouvir, mas com grande bilheteria. Quer dizer que há muita gente ganhando com isso, anúncios, em muitos cantos… basicamente porque o público gosta de assistir a espetáculos impactantes, isso combate o crescente tédio que vem ocupando a sociedade contemporânea…  Das antigas arenas nas quais se jogavam pessoas a devoradores leões, aos seriados modernos como Rollerball, recentes como Round 6, há muita violência e, justamente, “a plateia aplaude e pede bis”, até mais se for real, não ficção. E, não parece que, como humanidade, estejamos dando alguma oportunidade a Deus de nos trazer milagres…

Minha linguagem de hoje é propositalmente cinematográfica para homenagear a diversidade cultural e pacífica no Brasil: nesta mesma semana temos o 28o Festival de Cinema Judaico e o 20o Festival de Cinema Árabe. Coexistem há 20 anos, tratando dos assuntos mais variados, e não evitando temas polêmicos… São espaços públicos pelos quais poderiam começar debates não agressivos, poderiam mostrar ao público brasileiro quão complexas são as questões que se compartilham no Oriente Médio, onde todos se preocupam com as condições dos israelenses e palestinos inocentes, presos dentro do inevitável tiroteio entre extremos, e, portanto, complexidade e profundidade tão diferentes das simplificações da mídia e das redes sociais.

Estes espaços públicos devem acolher a diversidade de pensamentos; onde há apenas uma opinião, como foi o caso da recente FLIP, a Feira Literária de Paraty que só convidou agressores a Israel, a verdade fica comprometida! No Festival de Cinema de Toronto não se tinha aceito filme sobre 7 de Outubro de 2023, entre outros que traziam esta informação, como um apagamento do que ocorreu… Ainda bem que hoje foi revista esta não aceitação. E mais, na própria Parada do Orgulho Gay também de Toronto, esta semana, inicialmente não aceitaram uma das mais conhecidas organizações por ser israelense... Onde houver debate haverá a possibilidade de aprendizagem, da reflexão e da escolha de uma posição…

Talvez este debate não ocorra exatamente hoje, momento de muita animosidade e sofrimento mas, um pouco adiante, em uma fase de atitude pro-diálogo que, espero eu, veremos em futuro não muito distante.. E espero que isso leve, na espiral do tempo, a uma nova reconstrução de uma melhor humanidade… 

Ingênuos, nós…

You may say I'm a dreamer Você pode dizer que sou um sonhador

But I'm not the only one Mas não sou o único

I hope someday you'll join us Espero que um dia você se junte a nós

And the world will live as one E o mundo viverá como um só


Shabat Shalom

Um comentário:

  1. Olhando o mundo por diferentes ângulos e vendo o que temos capacidade de entender cria um futuro para cada um e para o mundo. Que possamos somar em positividade !
    Excelente, JU!

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