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quinta-feira, 14 de novembro de 2019

EDITORIAL: Direto de Israel

Comemorando o 70º Aniversário do Instituto Weizmann de Pesquisa


Mário Fleck, brasileiro homenageado em 2019


Israel, a terra milenar do Povo Judeu, hoje também é conhecida como a Nação Startup. Um pequeno país que se defende diariamente de vizinhos que têm por objetivo "jogar os judeus no mar" e é uma nação de destaque no desenvolvimento científico da humanidade.

Esta semana tivemos uma boa experiência do que é conviver com alarmes de mísseis cruzando fronteiras e ao mesmo tempo mantendo a vida normal. Transferir grandes eventos de regiões mais vulneráveis para outras menos, tudo isto em distâncias de menos de 100 km e ao mesmo tempo o visitante ser informado de maneira precisa e objetiva, mostra como é possível levar uma vida normal sob condições que os jornais à distância fazem duvidar.

Esta capacidade de conseguir se defender ao mesmo tempo em que consegue progredir a passos largos faz parte de sua história. Esta semana estive junto com uma expressiva delegação brasileira na comemoração dos 70 anos do Instituto Weizmann de Ciência (Weizmann Institute of Science) localizado em Rehovot, ao sul de Tel Aviv. "Promover Ciência Básica de Excelência, dirigida pela curiosidade do pesquisador" era o sonho de Chaim Weizmann, químico de alta relevância, sionista, pioneiro e primeiro presidente do Estado de Israel.

A grande ênfase sobre a Ciência Básica e de alta qualidade foi mantida ao longo dos anos, e esta ênfase propiciou ao Instituto Weizmann a produção de conhecimento que levou não só a ter cientistas laureados, como também converter conhecimento em produto e com isto ter uma parte substancial de seu orçamento originado dos "royalties" gerados.


Os 70 anos do Instituto Weizmann
71st Annual General Meeting que aconteceu esta semana



Abrir as portas do Instituto e reunir pessoas interessadas no avanço da ciência é algo que fortalece a alimenta a relação entre o hoje e o amanhã. Traduzir ciência para todos e ao mesmo tempo mostrar perguntas em áreas complexas - como a regência do Universo por meio da Física e as maravilhas da Vida por meio do estudo dos seres vivos - foi um interessante momento de aprendizado.

Durante esta semana de festividades são destacadas personalidades que contribuíram de forma substancial para o desenvolvimento da ciência, de Israel e da humanidade. Desde 1964 é conferido o título de Doutor Honoris Causa. Entre os laureados desde ano estava Mario Fleck, empreendedor brasileiro de destaque que vem ao longo da vida desenvolvendo atividades filantrópicas. Personalidade vibrante, com grande interesse no desenvolvimento científico e educacional, tem colaborado de forma intensa e continuada para estreitar as relações entre a ciência brasileira e o Instituto Weizmann de Pesquisa. Em discurso proferido em jantar para a comunidade latino-americana presente no evento, Fleck leu uma carta que escreveria a Chaim Weizmann destacando a importância que a ciência básica tem hoje para o desenvolvimento do Estado de Israel.

O principal componente da economia israelense no século XXI é a colocação de inovações no mundo. Israel possui um ecossistema de inovação de grande porte, e este é baseado em Instituições que desenvolvem Ciência Curiosidade! Ciência Pergunta! Ciência para que? Para saber algo que ainda não sei, portanto não tem sentido saber para que!

E neste mesmo espírito poderíamos descrever os demais honrados pelo Doutorado Honoris Causa de 2019. A filantropa francesa Rebecca Bourkins, o Professor de Física Jonathan Dorfan, o fotógrafo que capta a diversidade entre os homens e as mil e uma faces do mundo judaico e de Israel Alex Levac. O Prof. Raphael Mechoulam, mestre do mundo dos canabinóides e que tantas vezes esteve no Brasil, A Prof. Martha Nussbaum, filósofa americana, que distingue-se pela prosa fácil que dispensa termos "herméticos" que afugentam a todos. Em paralelo Prof. Nussbaum, ou melhor, Martha, que desenvolve um trabalho com educação de crianças abrindo a estas as portas do saber. Os dois últimos a serem citados são personalidades muito marcantes: o Presidente do Estado de Israel Reuben Rivlin e o Rabino Adir Steinsaltz.

Presidentes de Israel são figuras presentes e frequentes na ciência israelense. Num dia tão complexo quanto o dia 12 de novembro, quando mais de 200 bombas já haviam sido enviadas para o país, a população das cidades perto de Gaza em alerta, incluindo Rehovot, onde está localizado o Instituto Weizmann de Pesquisa, sirenes tocando a cada tanto, a cerimônia transferida da zona de alerta para cerca de 100 km de distância, e o Presidente de Israel chega à cerimônia - porque este é o Futuro do Estado. Conta que não só ele nasceu em Jerusalém como seu pai, avô e ascendente de 7 gerações. 

E finalmente algumas palavras sobre o Rabino Adir Steinsaltz - como apresentar este homem de incrível importância para o judaísmo dos séculos XX e XXI? Rabino ortodoxo que teve sempre a preocupação de propiciar a todos os judeus e a todo o mundo as bases do conhecimento judaico. A base está na Torah (conhecida como o Velho Testamento) e para os judeus a mais preciosa herança, mas esta base foi estudada e questionada ao longo de séculos. Vamos ter que voltar ao significado do Talmud, mas hoje comentamos apenas que contém leis e comentários, bem como um conjunto imenso de perguntas respondidas ao longo de onze séculos. Rabino Steinsaltz traduziu o Talmud do aramaico para o hebraico moderno, inglês e russo e hoje encontramos o Talmud inclusive em português.


Perguntas .... Curiosidade .... a base da ciência a forma como o Talmud estuda judaísmo ao longo dos séculos e assim como Chaim Weizmann que venho de uma escola ortodoxa da Russia do século XIX, Rabi Steinsaltz introduziu aulas de ciência, com excelentes laboratórios na escola religiosa que participava em Jerusalém. Questionar e buscar o novo, faz com que possamos aprender do passado, sonhar com o futuro, mas viver intensamente o momento presente.


Esta foi uma semana que ensinou como os israelenses vivem de forma normal e criativa em uma zona que o mundo considera de conflito.

Boa semana!
Regina P. Markus



A delegação brasileira



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