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sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Dinheiro na minha mão é vendaval!

 Dinheiro na minha mão é vendaval!

          A genialidade está espalhada por toda a humanidade. Parece até uma assinatura dos quadros: desde o DNA ela está lá, em todo ser humano. Mas o interessante é que ela só se realiza na coletividade.

          Lembra de um quebra-cabeças? Cada pecinha se encaixa na outra e, juntas, montam uma imagem que faz bem mais sentido. Cada pecinha solitária, por mais bonita que seja, não se compara a todas elas juntas!

          A genialidade humana é assim! Ela só se ativa no coletivo!

          Somos gênios quando juntos!

          Juntos...

          E é sempre bom reconhecer que, quase sempre, gênio é quem cumpre seus deveres mais comuns. A genialidade é trabalhar, é comer, é sorrir, mas, acima de tudo, é compartilhar.

          Todas as nossas falhas são resolvidas nos pontos favoráveis dos outros... pra começo de conversa: será que sobrevivemos sem o outro? Sem os outros? A Individualidade só existe na Humanidade, e vice-versa.

          Igual uma vez, estávamos uns amigos, minha mulher e eu, em um sarau. Estávamos curtindo as obras de Jacob Gershowitz. Ele era um estadunidense filho de imigrantes judeus russos, de Nova York, conhecido como George Gershwin.

          A música dele, junção de música clássica, jazz e ritmos populares, abriu as cortinas dos teatros para os grandes musicais...

          Quem poderia imaginar? Um judeuzinho russo franzino juntou tudo que estava ali, ao alcance das mãos, e plantou sementes de sorriso, poesia, e muito trabalho! Um verdadeiro herói americano!

Mas o mais interessante, a genuína obra poética, é que nada se realiza sem a orquestra, os cantores e atores, os figurinistas, maquiadores, contrarregras e toda essa maravilhosa turma que cultiva alegria e colhe felicidade!

Então...

Após o sarau fomos jantar. Sabe como é, né? É sempre gostoso prolongar o prazer das artes numa mesa farta, com muito vinho. O chato é a conta...

Ela sempre chega! Na verdade, eu até gosto dela: é a artimanha da coletividade mostrando que vivemos uns nos outros.

Juntos!

Chegou a dita cuja. Eu paguei. A Ana Rosa (minha mulher) me perguntou quanto tinha sido.

Vocês acreditam que eu não sabia? Eu estava tão entretido numa conversa, que nem me atentei... Eu não falei que dinheiro na minha mão era vendaval?

Pois é!

E isso é muito frequente! Eu não sei mexer com dinheiro! No meu ritmo isolado, a sarjeta e a miséria seriam os destinos finais. Ainda bem que eu casei com a Ana Rosa! Ela é uma guardiã severíssima dos meus tesouros.

É mais fácil decifrar os enigmas da Esfinge que tirar dinheiro dela. Eu adoro a sensação de segurança sempre que quero um milho na praia: preciso pedir um PIX para ela.

Eu entendo e admiro a relação dela com a moeda, com o valor, mas, mais do que tudo, com o trabalho. A história familiar dela explica muito disso... Seu bisavô foi ativo membro da Resistência contra o tirano Franco.

Após ser fuzilado pelo fascismo, sua bisavó e seu avô fugiram para uma longínqua terra, dita com palmeiras onde canta o sabiá. Chegaram aqui sem nada... farrapos, preconceito e medo...

Mas, aos poucos, disciplinada e persistentemente, a educação e o trabalho suavizaram as barreiras do refúgio...

É até difícil acreditar! A Espanha, de tanta beleza, Sol e alegria, onde as noites são mais claras, onde há luz e energia, também foi um pântano fétido cheio de um lamaçal odioso que borbulhava iniquidade, exclusão e violência.

Ainda bem que as trevas já se dissiparam e a Luz voltou a orientar aquela terra. Não é engraçado que antes de Mariana Pineda e Garcia Lorca, que antes mesmo de Miró e Picasso, a gente pense nas touradas, no flamenco e na paella?

É o gênio popular!

O nascimento da paella foi assim... Na verdade, eu não sei se foi mesmo, mas é uma lenda bem poética, e sendo assim, deve, em alguma medida ser verdadeira...

Numa pequena comunidade de pescadores ao sul de Almería, os homens pescavam e as mulheres cantavam. Numa expedição pesqueira, entre peixes, Sol e sal, os homens resolveram homenagear as mulheres com uma bela zarzuela.

Juntariam, assim, as belezas do mar, do ar e da terra, num prato que deveria ser compartilhado com música, festa e danças...

Tudo isso para elas!

“Paella”!

 

ANDRÉ NAVES

Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social e Economia Política.

Defensor Público Federal. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência Intelectual, além de diversas instituições voltadas à Inclusão Social.

Membro do LeCulam, da FISESP (Grupo de Inclusão das Pessoas com Deficiência da Federação Israelita de São Paulo).

Colaborador do Instituto FEFIG, para a promoção da Educação.

Membro do LIDE – Inclusão.

Comendador Cultural.

Autor do livro “Caminho – A Beleza é Enxergar”.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def


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