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quinta-feira, 29 de abril de 2021

Editorial - O passar do tempo e seus retratos



Nesta semana celebra-se o Lag Ba Omer (dia 33 da contagem do Omer) em meio ao período entre Pessach e Shavuot. As comemorações e os lutos, expressões vivas e dinâmicas que são das comunidades, vêm evoluindo desde o início dos tempos rabínicos: o período de 49 dias da contagem do Omer veio sendo lembrado com tristeza pela peste que matou milhares de alunos de Rabi Akiva. Mas no dia 33 faz-se uma pausa alegre, comemorada tradicionalmente com fogueiras, para marcar o final do período de peste e a morte de vários “tzadikim” (“justos”) o mais famoso deles Shimon Bar Yochai. E particularmente este ano há uma folia de fogueiras preparada para rimar com a alegria de saírem da pandemia! 

Este período de contagem que inicialmente marcava uma antecipação e preparação para a colheita dos grãos, culminando com o agradecimento a Deus no dia seguinte a sete semanas (Shavuot - semanas), incorporou a rabínica leitura de que se trata da contagem entre a saída dos judeus do Egito e o recebimento da Torá, o que representa o processo de evolução de um grupo fugitivo com a mentalidade de escravos para um povo que cultua a liberdade com responsabilidade. 

É fundamental na Torá, e na história humana, o papel da contagem dos dias e das pessoas, do tempo e das gerações como forma de organizar as experiências e para marcar e delinear os processos de evolução. 

Pensando na contagem de pessoas e gerações vamos diretamente ao censo que se repete de tempos em tempos para que saibamos quantos seres humanos somos e com quais características estatisticamente retratadas. Quando os hebreus foram para o Egito a Torá em Êxodo menciona 70 membros da família de Iaacov, já na saída contavam 600 mil. 

Outro censo conduzido por David mencionado em Samuel II, Profetas, contou 800,000 pessoas de Israel e 500,000 de Judá. 

Os antigos censos tinham o objetivo de controlar, dispor militarmente e cobrar impostos, e não incluíam escravos ou crianças. Hoje os censos buscam a representatividade e universalidade - cada indivíduo e todos devem estar incluídos -, a simultaneidade e a periodicidade das coletas. Entre um retrato e o próximo podemos lembrar, analisar e explicar os processos pelos quais passamos, e pela análise de vários desses intervalos, quais as tendências, para onde estamos indo. 

Várias contagens da população no território que hoje é o estado de Israel e Jordânia ocorreram em 1905, 1916 a 1919, de 1922 a 1931 pelo Império Otomano e no mandato britânico da Palestina, em mais de dez cidades judaicas com metódicas pesquisas verificando idades, sexo, situação marital e religião, posteriormente incluindo cidadania, ocupação profissional, alfabetização e deficiência física... apenas estimando o número de beduínos. 

De lá até 1948 os conflitos que cresceram na região impediram novos censos mas a partir daí, em Israel, a cada mês há uma atualização dos dados. A última rodada completa refere-se a 31/12/2020 e mostrou: 9,291,000 residentes, dos quais 6,870,000 judeus  (73.9%), 1,956,000 árabes (21.1%) e 456,000 outros (5.0%). 

Durante o ano de 2020 a população cresceu em 1.7%, dos quais 84% devem-se ao crescimento natural e 16% por saldo de entradas e saídas. Cerca de 176,000 bebês nasceram (73.8% judeus, 23.4% árabes e 2.8% outros). Novos imigrantes foram 20 mil. Os residentes de origem brasileira são da ordem de 25 mil.

Em próximos textos podemos trazer maior detalhamento com análise mais profunda desta evolução e das tendências. 

E no Brasil? A preocupação de não termos censo há mais de dez anos veio forte este ano mas tudo indica que ele vai ser feito por ordem judicial. O último censo em 2010 mostrava 107 mil judeus; estamos curiosos sobre um resultado atualizado.  


Quanto à contagem do tempo, a Torá não nos facilita a tarefa, os períodos parecem diferentes dos nossos, as idades mencionadas não são viáveis com o nosso tempo... mas o ano se divide e se repete em ciclos organizados pelos sábios previamente à destruição do segundo templo no ano 70 da era comum. Antes disso, os judeus já emprestaram dos gregos um sistema de contagem em "eras", períodos associando o tempo a fatos históricos e não à duração da vida de pessoas. Isso foi na era Selêucida  (nome de um rei Seleuco, usada pelos estudiosos seculares ou nos círculos tradicionais, "minyan shtarot"–"contagem de contratos"). Uma era é associada à chegada de Alexandre a Israel, outra diferente foi adotada para registros privados e templos e se inicia na saída do Egito - data por exemplo a construção do primeiro templo em 480 AEC (antes da era comum). Complicado, não é?  Mas progressivamente alinhou-se a era Selêucida à era "Secular". O próprio Maimônides usou às vezes a contagem do início dos relatos da Torá, ora a era Selêucida, ora a era Secular, o que indica que até seu tempo - século XIII - não havia aceitação geral de nenhum dos sistemas.  

No século XVI o uso do sistema Selêucida foi interrompido no mundo judaico por Rabbi Abi Zimra, embora no mundo árabe ele tenha seguido em uso paralelo ao Secular até o século XIX. 

Voltando aos ciclos, o ritmo do tempo judaico é influenciado tanto pelo sol como pela lua. O sol determina o dia, que era definido por meio visual, como em Gênesis 1 "e fez-se o dia e fez-se a noite". Isto ainda corre em paralelo com o padronizado e universal período de 24 horas. Mas quando começa o dia e quando começa a noite? Os rabinos decidiram que o dia começa quando o sol se põe e segue até o próximo, e mantemos isso em todos os momentos sendo apenas a frequência deste uso dependente da comunidade, de quais e quantas rezas faz. 

E a lua? É ela que desde sempre rege nosso calendário, suas fases determinam nossas datas importantes e sua celebração, nosso ciclo anual. Para alinhar nosso calendário com o solar, que é maior, e evitar o desencontro das estações de ano a ano, fundamental a um povo eminentemente ligado à natureza, o judaísmo montou uma solução criativa, atenção: um sistema de ciclos de 19 anos dentro do qual pula-se 7 anos. Diferentemente do ano bissexto ao qual se adiciona um dia a cada 4 anos, adiciona-se um mês inteiro no respectivo ano, de forma que em relação ao calendário gregoriano padrão, os feriados flutuam no máximo um mês mas sempre ocorrem na mesma época do ano. Parece óbvio mas, vejam, o calendário islâmico não fez essa adaptação e aí datas importantes flutuam ao longo do ano, Ramadã está sendo agora, em 2010 foi em agosto e em 2030 haverá 2.


Hoje em dia temos calendários e relógios automáticos  de todo tipo, nunca ficamos sem saber “quando” estamos. Mas raramente temos a noção, a percepção deste período que passou entre a última vez que consultamos o relógio e agora. Como chegamos ao agora? E como aproveitamos o precioso tesouro do tempo que foi nosso, mas já passou? Aproveitemos ao maximo cada unidade de tempo, qualquer que seja a forma em que é medida.



Juliana Rehfeld

segunda-feira, 26 de abril de 2021

VOCÊ SABIA? - The Beauty Queen of Jerusalem

 

Uma história de amor e guerra durante o período pré-Estado de Israel

Por Itanira Heineberg



Você sabia que durante o verão de 2020, em plena pandemia e obedecendo com seriedade os protocolos de segurança, a Yes Productions viajou por todos os cantos de Israel visitando locais históricos em Jerusalém e Safed enquanto trabalhava na filmagem de mais uma grande série israelense?

 

“The Beauty Queen of Jerusalem”, ou “A Rainha da Beleza de Jerusalém” é uma série complexa com drama, fantasia, história e sequência de gerações distribuída pelo mesmo estúdio de Tel Aviv responsável pelo sucesso dos seriados anteriores “Fauda”, “Shtisel” e “Your Honor”.

Ela será lançada em Israel antes do verão e seu trailer já está disponível:



A história começa em 1917 e conta sobre a vida de uma família na Palestina no período anterior ao Estado de Israel. Traz fatos do Império Otomano, do Mandato Britânico e da Guerra da Independência.

O seriado foi adaptado do romance de mesmo nome, best-seller de Sarit Yishai-Levy, jornalista e escritora de origem sefardita nascida em Jerusalém em 1947 cuja família tem vivido em Israel há 7 gerações.



Sarit Yishai-Levi (Thomas Dunn Books/St. Martin’s Press)


“Há uma primeira vez para tudo e 'A Rainha da Beleza de Jerusalém' é a nossa primeira incursão no drama de fantasias: exuberante, colorido, romântico e histórico - é uma ótima combinação, pois todos nós estamos procurando por uma pequena fuga para outra época- lugar”, disse Danna Stern do Yes Studios, produtor da série.


Esta história irresistível que entrelaça clãs de várias gerações, em que as mulheres da família Ermosa sofrem a maldição de nunca serem amadas por seus maridos, foi filmada em hebraico, inglês, ladino, turco e árabe, vindo a ser o maior investimento financeiro da emissora e até hoje uma das produções mais caras já realizadas em Israel.

O romance oferece um ambiente rico em imprecações, pragas irreversíveis, personagens estranhos, costumes desconhecidos e amores proibidos. A narrativa vem temperada de expressões ladinas que nos mostram a proximidade da língua dos sefarditas ao nosso português:

- Invocações aos céus: “Dio mio, Dio Santo, Dio que me mate”

- Palavras carinhosas: “Mi vida, querido mio, mi alma, corazo”

- Chamadas de ordem: “Paciencia”, “Basta”, “Sera la boca (cala a boca)”



Luna Ermosa, a “rainha da beleza” do título, é a mulher mais procurada de Jerusalém. Mas ela não tem sorte no amor. Assim como os homens Ermosa, que estão condenados a se casar com mulheres que não amam e nunca se esquecem daquelas que amam. Mas esta é Jerusalém antes da independência de Israel, quando o casamento entre os sefarditas Ermosas, imigrantes de Toledo, com Ashkenazim é inaceitável e vergonhoso - esqueça sobre namorar um turco desprezado ou "inglês ... tfu sobre eles". É uma época em que a palavra de um pai é sacrossanta e espera-se que os filhos se casem com quem seus pais escolherem para eles. Assim como Gabriel, o querido pai de Luna e avô da rebelde Gabriela, que não consegue abrir o coração para a mãe, Luna, mesmo quando ela está em seu leito de morte.” 



 

“Décadas passam despercebidas e muitas vezes é deixado para o leitor conectar datas com detalhes históricos tecidos na história da família Ermosa. Neste seu romance, Yishai-Levi habilmente descreve as angustiantes dificuldades da vida durante o Mandato Britânico - os bombardeios, tiroteios, toques de recolher, lutas entre árabes e judeus. E as lutas intermináveis ​​de diferentes facções clandestinas, a Haganah, Lehi e Etzel, para expulsar os britânicos da Palestina e criar um estado judeu.

 

No processo, Gabriela, ajudada por sua avó Rosa e tias Rachelika e Becky, tenta juntar peças do quebra-cabeça de sua família na tentativa de descobrir por que seu lindo avô foi forçado a se casar com uma órfã nada atraente que ele não amava.

 

O mais significativo, talvez, seja a necessidade de Gabriela de descobrir o segredo de sua mãe. Que pecado Luna cometeu em sua vida que até Rachelika, a santa da família, se recusa a compartilhar com sua querida sobrinha, Gabriela? E a descoberta irá libertar Gabriela do relacionamento abusivo em que está envolvida e permitir que ela abra seu coração para o amor?”

 

Em setembro teremos as respostas para esta e outras perguntas sobre a intricada história da família Ermosa e de todos aqueles que com ela conviveram e se relacionaram. Mas para quem quiser saber mais ou se antecipar aos fatos, fica impossível largar o livro intrigante de Sharit, um prato cheio para os amantes de histórias de amor e desamor, de maldição, superstições, preceitos religiosos, guerras, bombardeios, receitas judaicas, preconceitos e todas aquelas características do ser humano que tão bem nós conhecemos.

Boa leitura!




FONTES:

https://us.macmillan.com/author/sarityishailevi/

https://www.timesofisrael.com/epic-tv-series-beauty-queen-of-jerusalem-to-feature-shtisel-star-aloni/

https://www.timesofisrael.com/colorful-romantic-drama-of-pre-state-israel-to-air-this-summer/

https://www.ithl.org.il/page_15446

https://www.huffpost.com/entry/the-beauty-queen-of-jerus_b_9853712

quinta-feira, 22 de abril de 2021

EDITORIAL: Continuidade - de geração em geração

De geração Em geração

          Le dór va dór


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Vida longa sempre remete à continuidade. Para uma pessoa é um continuo que se inicia com o nascimento e segue seu curso até a morte. Uma caminhada que pode ser longa ou curta, que pode ser glamurosa ou privada, que guarda os momentos de felicidade e aqueles em que é preciso deixar o tempo passar.

Para um povo, um país, uma comunidade, vida longa refere-se à passagem das gerações. À capacidade de entender que no correr das gerações encontramos aquelas dos grandes feitos ou que vivem vidas que se tornam registros históricos e aquelas que parecem passar em brancas nuvens sem poucos registros efetivos. A posição judaica para esta longa estrada é conhecida como Le Dór va Dór - de geração em geração. E para as gerações que parecem preencher o tempo, sem muitos destaques, de Dór Emshech. E a tradução destas palavras merece muita reflexão.

Pode ser considerada a geração do meio; aquela que fica entre um avô e um neto de destaque. Talvez uma geração da qual não se teria muito a falar. Mas a sabedoria de um povo que sobrevive há mais de 3000 anos destaca esta como a geração da continuidade.

As gerações de continuidade, ao longo da história, são as que silenciosa e diligentemente preparam para os próximos saltos. São as gerações que preparam as grandes mudanças e que devem ser admiradas como tal. 

Neste último ano vivemos um período de continuidade. A pandemia tornou o mundo menor, criando um problema comum e mostrando que as soluções podem ser diferentes, mas têm que guardar uma linguagem monotônica. O mundo se apresenta com suas diferenças e suas semelhanças e buscamos o que seria a geração da continuidade e a geração das mudanças.

Fico atônita, e garanto que todos os leitores também, quando percebo que vivemos tempos em que tudo acontece simultaneamente. Enquanto alguns buscam a sobrevivência atrás das bancadas e dos computadores, trabalhando no silêncio da noite, ou na animação das muitas lives que ocorrem nos nossos dias, outros mostram que o mundo pode ....

MUDAR - todos acompanhamos com prazer, curiosidade e encanto a importante abertura de relações diplomáticas e de interação entre os países do Golfo, a Arábia Saudita, o Sudão, Marrocos, Croácia e Israel. Sem falar das novidades com Grécia e Chipre e muito mais.

Nesta geração testemunhamos mudanças importantes que abrirão novas perspectivas para o Oriente Médio e também para todo o Globo Terrestre. Unir avanços científicos e tecnológicos com culturas e história com certeza gera energia suficiente e muito bem controlada para vislumbrar um futuro melhor.

Ou, vemos o mundo estancado, empacado:

MAIS do MESMO - virando um pouco a nossa luneta, podemos também ver, como publicado esta semana pela ETNM, a manutenção da cultura do ódio, da inveja e da desqualificação. Racismo e preconceitos continuam alimentando o mundo. Talvez a diferença que caracterize o momento e esta geração de continuidade, é que há grupos realizando denúncias ativas e mostrando a semelhança que há entre todos os  que propagam a linguagem e as ações de discriminação e ofensas. 


DE GERAÇÃO em GERAÇÃO - seguimos nossa rota por este planeta azul, seguimos o caminho, e com isto mantemos uma chama que nos leva a tempos melhores.


Boa Semana!

Regina P. Markus

segunda-feira, 19 de abril de 2021

VOCÊ SABIA? - RUMMIKUB


Você sabia que o Rummikub, um jogo com raízes judaicas existente desde os anos 50 é uma linda e enriquecedora atividade para estes dias de reclusão e contato diário, quase exclusivo com nossos familiares?

Por Itanira Heineberg



Este incrível jogo de peças gravadas com números foi criado em Israel por Ephraim Hertzano, um romeno fã de jogos de tabuleiro.        

          

Hertzano - 1912 – 1978


Ephraim Hertzano, um judeu israelense, começou a planejar o jogo de peças ainda na Romênia, nos anos 1940, devido ao fato de jogos de cartas terem sido proibidos durante o regime comunista.

Após a Segunda Guerra ele mudou-se para Israel, lá continuando a desenvolver o Rummikub no jardim de sua própria residência em Bat Yam. Com o tempo, passou a criar e desenvolver jogos profissionais.


Rummikub foi lançado no mercado e virou o jogo mais vendido nos Estados Unidos em 1977 após ter sido licenciado para outros países. Tornou-se também o melhor produto de exportação de Israel em matéria de jogos.

 

Este apaixonado por jogos fundou a empresa Lemada Light Industries Ltd em 1978, que fabricou o jogo e publicou o Livro Oficial do Rummikub com três versões diferentes do jogo: americana, sabra/israelense e internacional.

Hoje o Rummikub é um dos mais populares jogos de família de todos os tempos.

 

Rummikub é um jogo de sequência numérica. Cada participante começa o jogo com 14 pedras e o objetivo é se livrar de todas elas, baixando jogos sobre a mesa. Os jogos podem ser sequências numéricas de mesma cor ou de números iguais e cores diferentes.


Hertzano e sua família em Bat Yam.

No início ele vendia cosméticos, escovas de dentes e afins.

Sua paixão por jogos de cartas e persistência no trabalho o levaram a criar este incrível e divertido jogo, Rummikub.


 


FONTES:

https://forward.com/culture/366013/how-a-funny-jewish-game-called-rummikub-became-an-international-sensation/

https://humansofjudaism.com/category/humansofjudaism

https://peoplepill.com/people/ephraim-hertzano

 

sábado, 17 de abril de 2021

Editorial: A Corrente da Vida: Sionismo, Recordação, Independência





As imagens que ilustram o editorial desta semana mostram duas formas de compreender a força da vida: uma formação rochosa em que cada camada representa décadas ou séculos de existência do nosso planeta e uma árvore que se recusou a morrer. Esta era uma árvore frondosa que, após ser praticamente destruída, renasceu como um exemplar jovem que ganha envergadura. A corrente da vida, cujos elos são as gerações, cresce com o passar do tempo. Mas este crescimento nem sempre é garantido: se olharmos para a maioria dos povos, sua continuação é interrompida. No caso de alguns ainda restam monumentos importantes para contar a história; no caso de outros, esta deve ser seguida por meio de achados arqueológicos.


Muitas das regiões geográficas que mantém seus nomes desde a antiguidade estão povoadas por civilizações muito diferentes das que construíram os monumentos que as caracterizam. Saber contar a história através de gerações e saber renascer das cinzas são condições necessárias mas não suficientes para a longa sobrevivência do Povo Judeu. Saber projetar o futuro e aceitar a mudança dos tempos, sem esquecer ou omitir o passado, é parte essencial desta receita. 


Nos dias de hoje, muitos ligam o nascimento do moderno Estado de Israel ao Holocausto. Muitos querem fazer o mundo acreditar que esta foi uma solução momentânea para limpar as horríveis manchas deixadas pelo genocídio de um povo que vivia como cidadão de muitas nações. Até hoje quando é citada a biografia de Albert Einstein e muitos outros judeus europeus que contribuíram de forma marcante para a humanidade, é dito que era um cidadão alemão. Pode até ter sido verdade que Einstein nasceu na Alemanha, mas o nazismo não poupou cidadãos como Einstein e muitos cidadãos comuns que eram leais ao seu país e tinham lutado pela Alemanha na primeira guerra mundial. Milhões de deslocados e mortos em nome de uma política que nem pode ser adjetivada.


Apesar de tudo, os ingleses que lutaram bravamente contra os nazistas empenharam-se em impedir que os judeus tivessem um Lar Nacional Judaico. Esta história fica encoberta pela bruma do tempo. Na semana passada o “Você Sabia?” escrito por Itanira Heineberg foi baseado no livro de Murray Greenfeld, marinheiro americano. Ao voltar da segunda guerra mundial, Greenfeld foi abordado por pessoas que o convidaram a fazer parte da tripulação de um navio que levaria judeus sobreviventes do holocausto para as terras do Mandato Britânico da Palestina. Esta imigração era ilegal porque os ingleses, ao editarem o Livro Branco, fecharam as portas de Israel para os judeus. Aqui precisa ser relatado que muitos ingleses, incluindo o Príncipe Consorte Philip e o primeiro ministro Winston Churchill, eram favoráveis à criação de um Lar Nacional Judaico - mas voltemos a Murray. Ele e outros jovens marinheiros americanos aceitaram o desafio e embarcaram para a Europa, ajudando o navio Hatikva (esperança) a chegar às terras do Mandato Britânico. Foram presos e encaminhados para a Ilha de Chipre. Já não havia mais nazistas, mas os judeus continuavam em campos de prisioneiros. É preciso registrar que todo o trabalho que estes jovens fizeram foi voluntário; isto mesmo, em troca eles receberiam apenas cama e comida. Mas, para eles, que haviam visto os campos de concentração nazistas e os milhares de deslocados na Europa, a grande recompensa era A VIDA. Nossa colaboradora, Marcela Fejes, ao ler a história de Murray Greenfeld, contou que sua mãe não conseguiu embarcar em um destes navios pois os ingleses do campo de refugiados em que ela estava não autorizaram que pegasse o navio - e ela acabou imigrando, mais tarde, para a Argentina.

Sim, o mundo estava horrorizado e a Assembleia Geral da ONU de 1947, presidida pelo brasileiro Oswaldo Euclides de Sousa Aranha, votou pela partilha das terras do Mandato Britânico da Palestina separando as terras da Jordânia e do Estado de Israel. Importante lembrar que foi no século XX que apareceu pela primeira vez um país chamado Jordânia, mas Israel tem suas raízes nos tempos bíblicos. Este ato abre o caminho para a declaração da Independência do Estado de Israel em 1948. O dia da Independência de Israel é comemorado há 73 anos no dia 5 de Yiar, que este ano corresponde ao dia 14 de abril. 

Contado desta forma, deixamos de entender a corrente da vida. O título deste texto inicia-se com a palavra sionismo porque este movimento, que tem suas raízes na Torah e na busca de um Lar Nacional para os que saíram do Egito, renasce no século XIX nas terras dos Czares. Um movimento que inclui o estabelecimento de um país sem perseguições e com a pluralidade que os judeus já viviam naqueles tempos. As migrações para as Américas, incluindo o Brasil, no final do século XIX e início do século XX também foi acompanhada da ida de jovens para Israel, que era parte do Império Otomano. É nesses tempos que se inicia a revitalização do hebraico, a formação de colônias agrícolas, o estabelecimento de um sistema educacional e de proteção aos trabalhadores e a criação de um sistema universitário e de investigação científica. Muitas décadas antes do Holocausto, o Lar Nacional Judaico dos nossos tempos começa a ser gestado.

A visibilidade política internacional foca em Theodor Herzl (1860-1904), um jornalista austríaco, judeu laico, que abraça e lidera o movimento sionista após assistir à degradação do Capitão Alfred Dreyfus na França. Seu livro, “O Estado Judeu”, adentra nos “por quês?” e “como” criar um lar nacional judaico. Uma das receitas é criar um “Congresso Sionista Mundial” para reunir e formar lideranças, criar estratégias e implementar ações políticas. O Primeiro Congresso Sionista Mundial ocorre em Agosto de 1897 na Basiléia, Suíça. Herzl é eleito presidente, e é neste congresso que são escolhidas a Bandeira e o Hino Nacional (Hatikva) do Estado a ser criado nas terras que eram do Império Otomano. É neste Congresso que é formulada uma plataforma de atuação, a Organização Sionista, o Banco do Povo (hoje um dos importantes bancos de Israel) e a decisão de ampliar a compra de terras para o estabelecimento dos kibutzim. SIONISMO – um desejo que começa a ser trabalhado com muito afinco no século XIX. Sempre fico impressionada ao ver que as bases do atual Estado de Israel foram estabelecidas por muitos que nunca chegaram a viver para ver o dia da Independência.

Após o por do sol do dia 13 de abril de 2021 começa o Dia da Recordação (Iom há Zikaron) – lembrar e contar. Todos os que deram suas vidas para a criação do Estado de Israel são lembrados de forma conjunta. Ao tocar de uma sirene, o país inteiro para. Os carros, os trens, as fábricas, os pedestres. Todos ficam de pé em respeito aos que permitiram chegar ao que vai ser comemorado com uma explosão de alegria a partir da noite desta quinta-feira.

A corrente da vida – vontade, ideias, ações e conquistas. Estas são as lições que a história moderna nos ensina. Apesar de todos os ataques que Israel vem sofrendo e todas as difamações, vemos algo espantoso. O parlamento recém eleito é formado por representantes de todas as etnias que moram naquele pequeno país. Problemas... muitos. Soluções? Estas vão aparecendo e sendo substituídas, constituindo as camadas que criam as possibilidades de uma vida contínua e registrada na pedra. Mas, em tempos de grande conturbação, há sempre a possibilidade de aparecer um novo broto, do âmago da velha árvore, renovando as formas de gerar e utilizar as energias disponíveis. Le Chaim – À VIDA – Am Israel Chai.


Boa semana!

Regina P. Markus

segunda-feira, 12 de abril de 2021

VOCÊ SABIA? - Audrey Hepburn

 

A Segunda Grande Guerra, que aconteceu entre 1939 e 1945, foi a maior catástrofe do século XX: desestabilizou o planeta, devastou a população mundial, não provou a supremacia de raças, e deixou a marca de sofrimento na alma de todos que a experimentaram.

Por Itanira Heineberg


Audrey Hepburn presenciou os trens que levavam judeus para os campos de extermínio e assim escreveu em seu diário: “Em minha adolescência conheci a garra fria do terror humano. Eu o vi, o ouvi e o senti. É algo que não desaparece. Não foi um pesadelo. Eu estive lá, e tudo isso aconteceu”.



Você sabia que os traumas de Audrey Hepburn decorrentes de suas experiências e privações durante a Segunda Guerra a impediram de viver Anne Frank no cinema?

Quando convidada a encarnar a jovem judia num filme biográfico, Audrey sentiu-se incapaz de viver o papel de Anne Frank devido à semelhança com suas próprias experiências durante a ocupação nazista na Holanda.

Audrey e Anne tiveram muito em comum: tinham a mesma idade, moravam no mesmo país, viveram a mesma guerra e sofreram muitas carências.


Anne Frank à esquerda e Audrey Hepburn à direita.



Ambas viveram a invasão de Hitler e encararam muitos perigos, sofrimento e fome.

Neste período da dominação nazista na Holanda uma menina escreveu: "Nós nos mantínhamos com uma fatia de pão feito com qualquer cereal e um prato de sopa aguada elaborada com uma só batata (...). Os que suportavam isso continuavam com vida, e se continuávamos com vida então não estávamos mortos".

Mas esta menina foi... Audrey Hepburn.

Como judia, Anne sofreu muito mais do que Audrey - perseguição, medo, fome, e a morte em Bergen-Belsen.

Audrey sobreviveu e se tornou uma atriz famosa, mesmo chegando ao ponto de quase morrer de inanição (foram 20 mil mortos na Holanda por escassez de alimentos) e de carregar pelo resto de sua vida as sequelas da guerra, nunca mais podendo dedicar-se ao balé, sua grande paixão de menina.  

 

“As vidas de Anne Frank e Audrey Hepburn estão entrelaçadas, não só por terem compartilhado — até certo ponto — todo aquele horror do nazismo e da guerra, mas também por notáveis coincidências. Quando Hepburn leu O Diário de Anne Frank, deparou-se com uma passagem em que a jovem judia escrevia: "Cinco reféns executados hoje". Sentiu um calafrio: a data da entrada era a mesma de 1942 em que os nazistas haviam fuzilado seu querido tio Otto van Limburg. A atriz, conta Donald Spoto em sua biografia de referência (Audrey Hepburn, Penguin, 2006), foi uma das primeiras leitoras desse livro que viria a comover as consciências de tantos milhões de pessoas no mundo todo: "Li O Diário de Anne Frank quando saiu e fiquei destroçada. Eu me senti muito identificada com aquela pobre menina que tinha escrito o que eu tinha experimentado e sentido, e que tinha a minha idade”. Hepburn nasceu em 4 de maio de 1929, e Anne Frank em 12 de junho do mesmo ano.”



“Se em algo se diferenciam muito as vidas da atriz e de Anne Frank é na qualidade do pai. O de Hepburn foi um antissemita seguidor de Oswald Mosley que tinha chegado a almoçar em Munique com o líder dos fascistas britânicos, Valkyrie Mitford, e com o próprio Hitler. A Hepburn mocinha, muito diferente de seu progenitor, fez durante a ocupação algumas atividades em prol da resistência que poderiam tê-la conduzido no mínimo à deportação. Participava dançando em reuniões artísticas clandestinas nas quais se coletavam recursos para os resistentes. Spoto conta que levava mensagens à resistência e inclusive que se envolveu no salvamento de um paraquedista britânico escondido.”

 

Depois da batalha que devastou a cidade e do fracasso da operação Market Garden para acelerar o final da guerra, seguiu-se um inverno muito duro de fome que provocou mortes e doenças em toda a Holanda perante a indiferença dos alemães. Hepburn esteve a ponto de ser um dos quase 20.000 civis holandeses que morreram de fome.

Quando chegou a liberação, a garota sofria um caso extremo de desnutrição e um soldado norte-americano quase a matou ao lhe dar cinco tabletes de chocolate, que ela devorou imediatamente. As sequelas físicas daquela época contribuíram para que Audrey Hepburn nunca cumprisse seu sonho de chegar a ser uma estrela do balé, e provavelmente estiveram na raiz de que sofresse tantos abortos. Mas ela, diferentemente de Anne Frank, tinha um futuro à sua espera — e transbordante de tudo aquilo que a vida pode oferecer.”


Em 2019 Robert Matzen escreveu uma nova biografia sobre Hepburn - Dutch Girl: Audrey Hepburn and World War II.

(“Menina holandesa :Audrey Hepburn e a Segunda Guerra Mundial”)



Em seu relato aprendemos que as vidas de Anne e Audrey novamente se cruzaram quando o diário de Anne virou filme em 1959 sob direção de George Stevens e Otto Frank, único sobrevivente da família, sugeriu que Audrey fizesse o papel de sua filha na tela.

Mas Audrey não se sentiu confortável; ficara tão traumatizada com o livro de Anne e com sua própria experiência de guerra, que não se considerou capaz de interpretar o papel que lhe fora oferecido. A estreante Millie Perkins a substituiu.

Hepburn afirmou que sentia o drama de Anne como se fosse de uma irmã sua, porque “em certo sentido ela foi minha irmã de alma”.

Matzen fala ainda da extraordinária coragem da atriz:

“Ao ser testada das maneiras mais difíceis e inimagináveis ​​em uma idade muito jovem, Hepburn demonstrou incrível porte, bravura e abnegação. Não é de admirar que, tendo sofrido tanto quando criança, depois de se aposentar como atriz, ela devotou sua vida a melhorar a vida de crianças que viviam em circunstâncias terrivelmente difíceis.” 



Audrey Hepburn demonstrou afeto por seus semelhantes, praticando amor, caridade e ações para melhorar o mundo em que viveu.

Este é um conceito do Judaísmo, Tikun Olam, fazer do mundo um lugar melhor, olhar para fora de si e agir, perceber o sofrimento do outro e consertar.

 

Consertando o mundo.


FONTES:

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/audrey-hepburn-protagonista-de-bonequinha-de-luxo-vivenciou-os-horrores-do-nazismo.phtml

https://www.csmonitor.com/Books/Book-Reviews/2019/0516/Dutch-Girl-shows-Audrey-Hepburn-s-wartime-courage

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/10/cultura/1554907062_772631.html

segunda-feira, 5 de abril de 2021

VOCÊ SABIA? - Murray Greenfield e a operação Aliyat Bet

 

Liberdade, um sonhar constante do ser humano;

1947, uma odisseia secreta para resgatar sobreviventes do Holocausto e restituir-lhes a liberdade;

1789, Capitania de Minas Gerais, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, também sonhou com a liberdade;

No século XV AC Moisés libertou os hebreus dos grilhões da escravidão egípcia!

Por Itanira Heineberg


Você sabia que, após os pavores da 2ª guerra mundial e do desumano Holocausto, quando muitos sobreviventes judeus encontravam-se ainda sofrendo na decadente Europa do pós-guerra sem esperança de uma vida segura, foi preciso uma missão secreta e a valentia de muitos para resgatá-los e, após muitas lutas e bravura, levá-los à tão sonhada liberdade?



Esta tarefa perigosa e dramática de alguns em favor de muitos encontra-se no livro de Murray Greenfield, um dos combatentes na operação Aliyat Bet - Imigração Ilegal, peripécia realizada por voluntários judeus e não judeus norte-americanos que esmagaram o bloqueio britânico e levaram milhares de refugiados para um porto seguro na Palestina.

O autor do livro “A Frota Secreta dos Judeus” é o último dos voluntários do grupo ainda com vida e foi um dos marinheiros voluntários nas operações da Alyiah Bet.


O jovem Murray na fileira da frente, de sunga preta.


O livro, com abundância de fotos, ficou ainda mais enriquecido com a introdução de Sir Martin Gilbert, um eminente historiador. O relato detalhado da operação vitoriosa, primorosamente pesquisado e apresentado, traz luz a este fato pouco conhecido da história judaica.

Numa entrevista emocionante gravada em vídeo, Murray, de um tradicional lar Kosher, nascido no Bronx em 1926, conta sobre sua família oriunda da Polônia antes da Primeira Guerra, seus cinco irmãos homens destinados a cursar a universidade, sua decisão de postergar a vida acadêmica em prol do serviço secreto na Europa, sua relação com os outros jovens voluntários e do desprendimento de todos eles, sabendo quem iam ajudar sem saber exatamente o que os esperava.

O choque do encontro com os sobreviventes foi enorme, deixando-o inconsolável. As más condições de saúde, suas aparências desumanas, suas histórias de dor e privações assustaram os jovens voluntários.

A cada dia eles vinham a conhecer uma nova e triste passagem do Holocausto, relatos inimagináveis contados entre lágrimas e soluços.

Murray sabia iídiche, tinha facilidade em se comunicar com os refugiados e se condoía com a sorte deles.

Ao chegarem à Palestina foram desembarcados do Hatikvah, navio responsável pelo resgate de 40% dos refugiados da Europa, mas os portões da Terra Prometida encontravam-se fechados para os sobreviventes. Foram então todos colocados em outra embarcação e levados para um campo de refugiados já repleto de sobreviventes no Chipre.

Os britânicos logo os pulverizaram com desinfetantes, DDT, como se fossem vermes, o que indignou furiosamente o jovem Murray. Outro fato que muito o irritou e revoltou foi passarem meses no campo circundados por cercas de arame farpado.

Mas se por um lado nosso autor se apavorava com a situação precária do campo, por outro lado ele se encantava com a alegria, a fé e o entusiasmo dos seus habitantes, na maioria muito jovens.

Eles acreditavam que iam conseguir a liberdade, cedo ou tarde, eles cantavam, casavam e tinham filhos apesar da indignidade dos arames farpados. 


Rompendo o bloqueio britânico – Hatikvah - barco antigo, recuperado e transformado supostamente em cargueiro de bananas, onde as inúmeras prateleiras a intervalos de aproximadamente 50 cm entre uma e outra serviram de camas para os mais de 1500 passageiros.


“A ideia de contrabandear judeus para a Palestina já existia no início dos anos 1930, principalmente tentativas de pequenos grupos de cruzar a fronteira norte com a Síria e o Líbano. Em julho de 1934, Haganah tentou contrabandear judeus para a terra por mar. Para isso, eles compraram um velho navio no qual poderiam levar 350 imigrantes. Em 31 de julho de 1934, o navio completou a viagem do Pireu até a costa da Palestina e, por quatro noites, pequenos grupos foram transportados do navio para as praias de Kfar Vitkin e Tel Aviv. O Haganah tentou fazer outra corrida com o navio, mas, nessa fase, os ingleses estavam atrás deles e conseguiram impedir que o navio chegasse à costa.”

 

A partir de então ficou difícil a entrada de judeus da Europa na então Palestina.

O Mandato Britânico, ali instalado de 1934 a 1948, fiscalizou com mão de ferro a entrada daqueles que assim o tentaram.

Em 1939 foi criado o Livro Branco com o objetivo de acabar por completo com a imigração ilegal.

Nem por isso um grupo de judeus e não judeus deixou de se organizar na Bélgica em 1946 para mais uma investida: levar os sobreviventes para Eretz Israel.

Este grupo teve sucesso em seu desafiante empreendimento.

Os passageiros do Hatikvah sofreram o ataque dos britânicos quando se recusaram a dar a meia volta com o barco já perto da chegada, então aqueles invadiram o barco dos refugiados, lutaram e os espancaram com seus cassetetes.

Os judeus, ao ser-lhes oferecida a oportunidade de lutar, atiraram-se ao combate com grande energia e ao final sofreram vários ferimentos.

Depois do combate, Murray perguntou-lhes por que haviam lutado tão desenfreadamente, sabendo que estavam em desvantagem, frente aos bastões e às bombas de gás dos invasores, ao que eles responderam cheios de determinação: nunca antes tínhamos tido a oportunidade de lutar!

Após vários meses em Chipre, os voluntários foram liberados e os sobreviventes esperaram pacientemente até que fossem conduzidos à sua abençoada terra, o que aconteceu com a declaração do Estado de Israel em maio de 1948.

Murray e colegas da odisseia naval adotaram Israel como sua pátria, lá criando família, negócios e mais histórias louváveis de vida dedicada ao seu povo.



David Ben-Gurion discursa no jantar da AACI no Sheraton Hotel em 1961 ao lado de Murray Greenfield.

Murray simboliza o amor de um ser humano pela sua pátria.

Além de sua devoção sem limites pelo Estado de Israel e do resgate por mar dos sobreviventes do Holocausto, empenhou-se em ajudar imigrantes da América do Norte a se instalar em sua nova terra, atuando como diretor executivo da Associação de Americanos e Canadenses em Israel (AACI) e como diretor voluntário da American Association for Ethiopian Jewry (AAEJ), desempenhando um importante papel na aliá dos judeus etíopes.

 


Murray tornou-se um grande contador de histórias, escrevendo livros seus e outros em colaboração com sua esposa e criando a Gefen Publisher, editora hoje dirigida por seus filhos.

Seu talento de comunicador, sua alegria contagiante e sorriso cativador podem ser conferidos no vídeo abaixo onde podemos conhecê-lo melhor como um Homem íntegro de nosso tempo e permear seu coração desprendido e generoso.




E finalizando esta bela história de amor, valentia e determinação, celebremos com Murray:

“E nós temos um país!”


FONTES:

https://www.eretz.com/wordpress/blog/2018/08/06/aliyah-bet-breaching-the-blockade/

http://www.morasha.com.br/historia-de-israel/o-livro-branco-de-10.html

https://www.jpost.com/israel-news/murray-greenfield-a-humble-israeli-hero-398656

https://books.google.com.br/books/about/The_Jews_Secret_Fleet.html?id=psggYctbdlQC&redir_esc=y

sábado, 3 de abril de 2021

EDITORIAL: Pessach e o Mundo em 2021

Estamos na semana de Pessach, chegando na Páscoa e no Ramadan. Com pequeno esforço encontramos em todas as culturas festejos ligados à liberdade e à transição entre o inverno e o verão. No geral, temos mais facilidade de descrever as diferenças do que as semelhanças. Assim como a natureza nos mostra imagens de deslumbrante beleza e momentos aterrorizantes, as relações humanas também apresentam uma diversidade incrível. Estes meses de pandemia que têm trazido medo, luto e preocupação também nos ensinaram a colaborar e admirar pequenas gentilezas. 

Nesta semana em que comemoramos a liberdade olhando para 3300 anos atrás,  vale lembrar do que aconteceu no dia 31 de março de 1492. Naquela data, foi assinado pelos Reis de Espanha Fernando e Isabel o decreto de Alhambra: decreto que deu início à Inquisição Espanhola e que anos mais tarde chegaria a Portugal. Foi uma época trágica para os judeus sefaraditas, que como sabem foram determinantes na formação do Brasil.

Já em 31 de março de 1821, as Cortes Constituintes de Portugal aprovaram um projeto de lei apresentado em 24 de março do mesmo ano pelo Deputado Francisco Simões Margiochi descrevendo os crimes e horrores da Inquisição. O projeto foi aprovado por unanimidade e aos que quiserem conhecer com mais detalhes este episódio vale acessar o sítio do Parlamento Português clicando aqui.

O Tribunal da Inquisição foi oficial por 285 anos. Atualmente, no século XXI, há muitos descendentes de cristãos novos retornando ao judaísmo ou revelando suas heranças. Certamente o antissemitismo continuou imperando e criando novas roupagens. Novos algozes e novas formas para sobreviver, porque o objetivo sempre é a passagem da Escravidão para a Liberdade.

Dando um salto para o século XXI, esta semana o Jerusalem Post anunciou que as últimas três famílias de judeus iemenitas ainda no Iémen foram expulsas por um grupo apoiado pelo governo Iraniano. A maior parte da comunidade iemenita já havia imigrado para Israel. Um fim que é acompanhado por um começo.

Os jornais árabes e israelenses dão destaque à aproximação entre Israel e países do Golfo e Marroco. Esta semana o Seder de Pessach foi comemorado em Abu-Dabi, Bahrein e outras cidades. Nestes últimos meses foram abertos restaurantes e supermercados com comida kasher, realizadas competições de esportes e feiras de ciência com jovens expondo novas idéias e empreendedores criando oportunidades de negócios. 

E chega o momento de abrir consulados em embaixadas para regularizar e formalizar as relações entre os países: uma condição que há alguns anos pareceria impossível. São milhares de pessoas que vão se beneficiar de ambos os lados e que tendem a unir capital, conhecimento e vontade de trabalho, sem querer influenciar na cultura, hábitos e religiões de cada um dos parceiros.


Voltando aos Eventos Presenciais 


Admitir a diversidade, a HUMANODIVERSIDADE, que hoje é tão importante quanto a bioversidade, é a melhor forma de garantirmos que apesar de todas as mazelas do século XXI e deste 2021, a passagem da discórdia para a liberdade está sendo buscada e em alguns casos até encontrada.


FELIZ PÁSCOA - e FELIZ PESSACH


Regina P. Markus