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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

400 anos do aniversário do parentesco EUA-Israel

 

De 1620 "Mayflower" a 2020 EUA

Por Itanira Heineberg


Embarque dos peregrinos para a América - 1620



Você sabia que o livro mais lido em toda a América Colonial foi a Bíblia?


Partindo de Plymouth, Inglaterra, 16 de setembro de 1620


Você sabia que os peregrinos da famosa nau Mayflower vinda da Europa, fugindo das perseguições religiosas do terrível rei James I da Inglaterra, ao desembarcarem na costa leste dos atuais EUA em 1620 na rocha Plymouth compararam o novo território à Terra Prometida dos dias modernos?

 

Ao estabelecer um paralelo entre os peregrinos ingleses em busca de liberdade religiosa em uma nova pátria e os fugitivos escravos do Egito sob o cajado de Moisés, o embaixador israelense nos EUA, Yoram Ettinger, já aposentado, nos lega um belo texto comemorativo dos 400 anos da viagem do Mayflower em águas do Oceano Atlântico em direção ao Novo Mundo.

 

Quatrocentos anos atrás, em novembro de 1620, os 102 peregrinos do "Mayflower" desembarcaram em Plymouth Rock, que eles consideravam a Terra Prometida dos dias modernos. Eles foram inspirados pela Bíblia, em geral, e pelo legado Mosaico, em particular, que apresentam uma aliança cívica, um povo coeso, um governo de doze tribos e uma visão compartilhada.” 



Eles plantaram as sementes dos Documentos Federalistas, da Revolução Americana de 1776, da Declaração de Independência, da Constituição dos Estados Unidos, da Declaração de Direitos, da Separação de Poderes, do Controle e do Balanço e da história, cultura e sistemas políticos e judiciários gerais dos Estados Unidos. Essas sementes projetaram os EUA para a liderança do Mundo Livre, economicamente, tecnologicamente, cientificamente, educacionalmente e militarmente.”


Transcrição do Pacto do Mayflower por William Bradford.


Os 102 peregrinos do "Mayflower" se viam como "israelitas bíblicos modernos", buscando a liberdade da escravidão do "Faraó Britânico", o rei James I. Eles buscavam a liberdade orientada pela Bíblia, plantando as raízes da prosperidade única, mutuamente - parentesco benéfico entre os EUA e Israel, histórica, espiritual, cultural, tecnológica e geoestrategicamente.

 

Na verdade, essas raízes eclipsam o anel viário político de Washington, DC, transcendem o papel pertinente da comunidade judaica e vão além de considerações geoestratégicas e acordos formais. Elas precedem a Declaração de Independência dos Estados Unidos de 1776 e o ​​restabelecimento de 1948 do Estado Judeu, Israel.

 

Essas raízes produziram um fenômeno excepcional de relações internacionais de baixo para cima, pelo qual os sentimentos pró-Israel entre a maioria dos americanos desempenharam um papel fundamental na formação da mentalidade de suas legislaturas estaduais e federais, bem como nas ações da pessoa sentada atrás do Resolute Desk do Salão Oval.”

 

A Bíblia foi o livro mais lido na América colonial, inspirando os primeiros peregrinos, os fundadores, educadores, o clero, líderes políticos e o público em geral.



Os primeiros peregrinos se referiam ao rei Jaime I como o faraó dos dias modernos; sua partida da Inglaterra como o Êxodo dos dias modernos; a travessia do Oceano Atlântico como a Divisão Moderna do Mar; e o Novo Mundo como a Nova Canaã e o Novo Israel. Eles se consideravam o Povo Moderno da Aliança e o Povo Escolhido dos Dias Modernos.

 

Daí a ladainha de vilas, cidades, montanhas, desertos, rios, parques nacionais e florestas bíblicos nos Estados Unidos. Assim, nos Estados Unidos, existem 18 Jerusalém, 30 Salems (o nome original de Jerusalém), 83 Shilohs (onde ficava o primeiro tabernáculo), 34 Betéis, 27 Hebrons, 26 Goshens, 19 Jerichos, 18 Pisgahs e muitos mais.

 

William Bradford e John Winthrop, os líderes do “Mayflower” (1620) e da “Arabella” (1630) foram chamados de Josué e Moisés, respectivamente.

 

Além disso, o "Pacto do Mayflower" de 1620 e as "Ordens Fundamentais de Connecticut" de 1639 (as Constituições iniciais), que destacavam os direitos do indivíduo - e os limites do governo central - foram parcialmente inspirados pelas leis e aliança mosaica.

 

Em 2020, as raízes de 400 anos dos laços especiais entre os EUA e Israel são refletidas pelas estátuas e gravuras de Moisés e mais de 200 monumentos dos Dez Mandamentos, apresentados na Câmara dos Representantes dos EUA, na Suprema Corte dos EUA, na Biblioteca do Congresso, do Departamento de Justiça, dos Arquivos Nacionais e de edifícios e pontos de referência importantes nos Estados Unidos.”



A familiaridade com o hebraico era bastante comum entre a intelligentsia dos primeiros peregrinos e o clero mais instruído. Na verdade, as dez faculdades iniciais nas colônias ofereciam cursos de hebraico.

 

Além disso, os dois primeiros presidentes da Universidade de Harvard, Henry Dunster (1640-1654) e Charles Chauncy (1654-1672) foram hebraistas fervorosos, assim como os 6º e 11º presidentes de Harvard, Grow Mather (1692-1701) e Samuel Langdon (1774- 1780), que propôs tornar o hebraico uma língua oficial nas novas colônias. Discursos de despedida em Harvard, Yale e outras instituições de ensino superior foram oferecidos em hebraico.

 

O presidente fundador do King's College (Universidade de Columbia) (1754-1763) Samuel Johnson instalou o hebraico como um curso obrigatório e declarou que "o hebraico fazia parte da educação de um cavalheiro".

 

O 7º presidente da Universidade de Yale, Ezra Stiles (1778-1795), falou, leu e ensinou hebraico, além de astronomia, química e filosofia. Ele se correspondeu com o Rabino de Hebron, Hayyim Carregal, e observou que "Moisés reuniu 3 milhões de pessoas - o número de americanos em 1776." Ele exortou os alunos de pós-graduação a recitar Salmos em hebraico, "porque é isso que São Pedro espera de você nos Portões Perolados ...".


Sino da Liberdade, símbolo da independência americana bravamente conquistada, ícone da liberdade no país, apresenta uma inscrição retirada da Bíblia.


Apregoareis liberdade na terra a todos os seus moradores - LEV. XXV X.

por ordem da assembleia da província de Pensilvânia pela Casa do Estado em Filadélfia

 

 

FONTES:

https://www.smashwords.com/books/view/1008028

https://www.tripadvisor.com.br/Attractions-g60795-Activities-c47-t26-Philadelphia_Pennsylvania.html

https://www.plimoth.org/explore/17th-century-english-village/faith-pilgrims

https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/peregrinos-mayflower.htm

https://bit.ly/3ldeYQN

https://www.wikiwand.com/pt/Col%C3%B4nia_de_Plymouth

 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

EDITORIAL: Tikun Olam - construindo o mundo



Dezembro de 2020: um ano em que nós, humanos, em todo o planeta participamos de uma aventura inédita. O encontro com um inimigo muito pequeno, que passeia entre nós e que vai invadindo os humanos. Alguns, sem saber como, conseguem impedir que este pequeno ser que leva o nome de CORONA atravesse as barreiras naturais e inicie um ataque. Outros conseguem responder ao ataque produzindo anticorpos, que também são soldadinhos muito pequenos, e que envolvem, prendem e destroem o CORONA. Não sabemos como distinguir os dois sujeitos, mas sabemos fazer com que nossos organismos produzam os anticorpos sem precisar ser infectados pelo senhor corona; sabemos produzir vacinas. 

Há muitas formas de ativar nossas fábricas de anticorpos para gerar um específico para este vírus. O mundo inteiro se pôs a pesquisar, e agora temos varias opções: vacinas que, por meio de diferentes mecanismos, produzem soldados eficientes para impedir que o corona induza uma doença letal. Tomar ou não tomar é uma decisão que deveria ser tomada de acordo com as condições de saúde de cada pessoa mas é claro que a maior parte da população deveria se vacinar.

TIKUN OLAM - ajudar na construção do mundo. TIKUN OLAM é um dos pilares do judaísmo e é um dos pilares do Estado de Israel, que nestes momentos de pandemia não só colocou todo o seu time de cientistas e médicos para gerar vários produtos e programas que estão sendo usados pelo mundo, mas também tem recebido pacientes de países vizinhos sem qualificação ou classificação para serem tratados em seus hospitais. Neste contexto, também tem enviado equipes médicas para auxiliar outros países, como esta semana enviou para Torino, na Itália.

Seguindo no mesmo contexto, nós brasileiros temos muito a nos orgulhar da dedicação e competência de nossos profissionais de saúde e também do Sistema Único de Saúde (SUS) que teve a oportunidade de mostrar sua capacidade e eficiência. Os responsáveis pelo Consórcio de Hospitais Privados, liderado pelo Hospital Israelita Albert Einstein e pelo Hospital Sírio Libanês, não deixam de reconhecer e elogiar a eficiência do SUS. TIKUN OLAM - modificando o mundo!

Como podemos, cada um de nós, modificar o mundo? A primeira resposta seria cada um atuando dentro de suas possibilidades e capacidades. Ações individuais positivas, mesmo que caóticas, influenciam positivamente o coletivo. Tenho que concordar com este raciocínio, mas estamos em DEZEMBRO. Portanto, agora é a hora de além de realizarmos ações individuais, podemos apoiar ações coletivas e multiplicar os resultados.

Os jornais de hoje começam a trazer várias opções de doações com renúncia fiscal para dirigir o dinheiro do imposto de renda para entidades que acreditamos fazer diferença e aumentar a justiça social, a capacidade criativa, em artes, esportes, ciência e inovação; aumentar a capacidade de hospitais e de projetos diversos.

Esta é a hora em que nós brasileiros devemos pensar além das quatro paredes em que muitos estão vivendo e abrir os horizontes de futuro e assim, participar da melhoria de vida para muitas pessoas que nos rodeiam.


Shavua Tov - Boa Semana!


Regina Pekelman Markus



segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

VOCÊ SABIA? - Rembrandt

 

Por Itanira Heineberg


Isaac e Rebecca em A noiva judia - Rembrandt (1665-1669) – RijksMuseum, Amsterdã


VOCÊ SABIA que um dos mais importantes artistas de todos os tempos, o grande mestre do barroco holandês Rembrandt viveu e trabalhou durante duas décadas em sua residência no bairro judeu de Amsterdã, de onde saíram seus melhores trabalhos, como A Noiva Judia?

Os judeus refugiados da Espanha foram muito bem recebidos na Holanda, como já vimos anteriormente em outras matérias apresentadas.

Em pouco tempo, tornaram-se pessoas proeminentes na sociedade em que atuavam.

Como um passe de mágica, era melhor serem conhecidos como judeus em Amsterdã do que como comerciantes portugueses, devido ao sentimento anti-ibérico após a separação da Espanha.

Intelectuais holandeses descobriram com admiração os moradores um tanto exóticos do bairro judeu e para lá se dirigiram para com eles conversar.

 

“Em certa medida, a posição dos judeus foi regularizada em 1597, quando os direitos dos burgueses foram concedidos aos membros da “nação portuguesa” em Amsterdã.

Não foi até 1606 que se encontrou a primeira referência oficial a Joodche Gemeente (a Congregação Judaica), mas em 1609 a comunidade sefardita contava com 200 almas e sustentava duas sinagogas.”

 

No início de sua carreira, Rembrandt, jovem e desconhecido, esboçou muitos de seus vizinhos portugueses, incluindo Menasseh ben Israel [eminente rabino e estudioso; que fez uma petição a Oliver Cromwell pela readmissão dos judeus à Inglaterra em 1655-6]. 

A Noiva Judia – detalhe das mãos – terna fusão de amor físico e espiritual


Por outro lado, os judeus sefarditas colheram os benefícios da vida intelectual animada criada pelos sábios de Amsterdã, que cultivavam avidamente a teologia, a filosofia, a jurisprudência, a matemática e as línguas orientais.”


Abraão e Isaac - 1635 - Museu Hermitage


“Desde o século 19, a relação entre Rembrandt e os judeus tem sido alvo de estudo. Os historiadores são unânimes em afirmar que foi pela mão do mestre holandês que se percebeu uma visível mudança na forma como os judeus eram retratados nas artes plásticas. Há quem chegue a considerá-lo um "artista judaico", apontando o fato de ter vivido no bairro judeu e de um terço de suas obras retratarem personagens ou temas bíblicos - fato pouco comum na Holanda protestante do século 17, pois os temas religiosos não tinham apelo para os protestantes holandeses.”


   A Cegueira de Sansão – 1636


“Rembrandt Harmenszoon van Rijn nasceu em 15 de julho de 1606, na cidade holandesa de Leyden e morreu em Amsterdã, em 1669. Na época, a Holanda protestante, finalmente livre do domínio da Espanha católica, tornara-se potência econômica e oásis de tolerância e abrigo para os perseguidos. A prosperidade comercial, aliada ao respeito à individualidade, incentivara a criatividade dos artistas, desencadeando um período extraordinário: a Época de Ouro da pintura holandesa (1584-1702). A arte deixara também de ser exclusividade dos nobres e da Igreja, passando a ser artigo de consumo da burguesia comercial; e Amsterdã se torna o maior mercado de arte não-estatal da Europa.”



O Triunfo de Mordechai – 1640 – RijksMuseum - Amsterdã


“Nesse período, de extraordinária produção artística, resplandece o gênio de Rembrandt.

Pintor, desenhista e gravador, tecnicamente brilhante, foi um dos grandes mestres do barroco. Além de dominar a técnica do chiaroscuro - a arte de jogar com contrastes de luz e escuridão, o mestre atingiu uma nova percepção, a profunda compreensão da natureza humana. "Não há, na história da pintura, artista que tenha penetrado tão profundamente, com tanta dúvida e angústia, no problema das relações entre o homem e seu mundo", escreveu o historiador de arte, Pierre Cabanne.

 

Ninguém antes dele fez as coisas "comuns" da humanidade parecerem tão profundamente humanas, sérias e interessantes.”


Velho com gorro vermelho de pele – 1632 - Museu de Fine Arts, Houston, Texas


“Em 1631, o pintor radicou-se em Amsterdã, logo se tornando conhecido e próspero. Em pouco tempo se alçou à posição de principal retratista da Holanda. Em 1639, já casado, comprou uma ampla casa no número 4 da rua Breestraaat, na ilhota de Vlooienburg, entre os vários canais da cidade. Na época, o bairro era o centro do mercado de arte e da vida judaica, pois grande parte de seus habitantes, elementos cultos e de posses, pertenciam à "Nação Portuguesa".

                         

Judeus na Sinagoga – 1648 – Comunidade Asquenazi


“Todas as casas vizinhas à mansão de Rembrandt eram ocupadas ou de propriedade de ricos comerciantes sefaraditas, como Daniel Pinto, os irmãos Rodrigues, Isaac de Pinto, Baruch Osorio, entre outros. A poucas quadras da residência do artista vivia o rabino Menasseh ben Israel, a mais importante personalidade judaica da cidade e, provavelmente, uma das mais famosas na Europa da época. Rembrandt manteve, durante anos, profunda amizade com o rabino, inclusive tendo ilustrado, com quatro de suas gravuras, um de seus tratados, Piedra Gloriosa.

É famoso em todo o mundo o portrait do rabino executado por Rembrandt.


Rabino Menasseh ben Israel - 1636


“O fato de viver, durante quase duas décadas, no coração da vida judaica foi, sem sombra de dúvida, fundamental para moldar sua visão sobre os judeus. Vale lembrar que em nenhum outro país da Europa, Rembrandt teria tido permissão de viver no bairro judaico. Segundo alguns teóricos, ao conviver tão de perto com o judaísmo, o pintor, protestante que estudara a Bíblia a fundo, identificou-se com a cultura e religião judaica. Para outros, essa convivência próxima e diária mudou a percepção do artista quanto aos judeus, permitindo-lhe construir uma imagem calcada em sua experiência pessoal e não nos estereótipos carregados dos preconceitos vigentes na Europa do século 17.”


Retrato de um Velho Judeu – 1654 - Museu Hermitage - São Petersburgo


“Ele não apenas morava em Vlooienburg - interagia com os vizinhos, construindo laços de amizade e profissionais. E, graças a isso, o mundo pode vislumbrar através dos seus olhos a crônica da vida judaica na Holanda. Conta-se, por exemplo, que o comerciante de diamantes, Alphonso Lopez, costumava receber o artista em sua casa, para que ele pudesse apreciar e estudar sua coleção de obras de arte, que incluía quadros de Rafael e Tintoretto, entre outros.

Suas obras são mais do que um documento histórico do período - permitem-nos perceber, a partir da temática dos seus quadros, a cultura holandesa e as relações entre as duas comunidades. Ao retratar os Homens da Nação, Rembrandt não se presta tão somente a captá-los como em um instantâneo fotográfico; o seu olhar adiciona e soma a riqueza resultante do seu convívio entre esse povo.”

Quando retratava cenas inspiradas nos textos bíblicos, Rembrandt tinha sempre a preocupação de reproduzir de maneira correta a simbologia judaica. A inclusão do alfabeto hebraico, por exemplo, em qualquer um de seus trabalhos, era sempre acompanhada por minuciosos estudos, visando a perfeita reprodução das letras. Rembrandt não era o único artista holandês do século 17 a tratar temas judaicos, mas o que o diferenciava era o cuidado que tinha ao retratar fatos, situações e personagens ligados ao povo dos "Homens da Nação". Em sua tela "Moisés quebrando as Tábuas da Lei", diferentemente do que se costumava ver em outras reproduções artísticas, Rembrandt mostra Moisés carregando duas Tábuas e não um pedaço de rocha simulando a divisão em duas estelas.”


Moisés quebrando as Tábuas da Lei -  1659 - Galeria de Arte - Berlim


A coleção de obras com temática judaica inclui vários óleos, entre os quais os mais famosos são dois com o mesmo nome: "A noiva judia".

Outros quadros famosos são: "O médico judeu Ephraim Bueno", de 1647; "Retrato de um judeu" e "Velho com gorro vermelho de pele, em uma poltrona", ambos de 1654. O Livro de Esther inspirou obras como "O Triunfo de Mordechai", de 1641, e "Haman e o rei Achashverosh no banquete de Esther", de 1660. Entre as gravuras e desenhos podemos destacar os retratos de Menasseh ben Israel (1636) e de Ephraim Bueno (1647), "Abraham e Isaac", 1645, "Uma sílfide ou A grande noiva judia", de 1635. Este último retrata uma noiva que tem nas mãos a ketubá, contrato judaico de casamento. Vemos ainda a famosa gravura "Judeus na sinagoga", de 1648, em que retrata membros da comunidade asquenazi de Amsterdã.”


O Médico Judeu Ephraim Bueno – 1647 - Museu Hermitage - São Petersburgo



“Suas obras são mais do que um documento histórico do período - permitem-nos perceber, a partir da temática dos seus quadros, a cultura holandesa e as relações entre as duas comunidades. Ao retratar os Homens da Nação, Rembrandt não se presta tão somente a captá-los como em um instantâneo fotográfico; o seu olhar adiciona e soma a riqueza resultante do seu convívio entre esse povo.”

Ao praticar em suas obras uma sincera empatia pela condição humana, Rembrandt é considerado um dos grandes profetas da civilização.

 

 

FONTES:

https://www.myjewishlearning.com/article/jews-in-amsterdam/

https://www.todamateria.com.br/tratado-de-utrecht/

http://www.morasha.com.br/arte-e-cultura/rembrandt-e-os-judeus-de-amsterda.html

http://www.catedra-alberto-benveniste.org/_fich/15/artigo_Patricia_Correia.pdf

https://pt.wahooart.com/@@/8EWQU7-Rembrandt-Van-Rijn-busto-de-um-homem-velho-em-um-gorro-de-pele

https://dasartes.com.br/materias/rembrandt-van-rijn/

https://abrancoalmeida.com/artes/musica/a-heranca-de-atena-rembrandt/

http://www.revista.art.br/site-numero-03/trabalhos/04.htm

https://www.portaldearte.com.br/product-page/rembrandt-mois%C3%A9s-com-os-dez-mandamentos

EDITORIAL: FESTA DAS LUZES -- O DIA DA PAZ

CHANUKÁ – a Festa das Luzes – o Dia da PAZ





Chanuká, a festa das luzes, começa este ano na noite do dia 10 de dezembro e termina no dia 17 de dezembro. A festa que comemora a vitória dos Macabeus sobre o Exército Grego; forças completamente desproporcionais e vitória muito restrita, mas uma grande vitória – um grande milagre. Há muitos bons textos contando a história dos Macabeus, mas hoje quero focar na história das luzes.

 

Ao entrar no Templo de Jerusalém – o segundo templo - Judá, o Macabeu, sua família e seus seguidores encontraram uma estátua de Zeus no seu local mais sagrado. Os rolos da Torá haviam sido retirados e a Ner Tamid – a Luz Eterna - estava apagada. Esta luz era mantida com um óleo especial, obtido segundo orientação encontrada na Torá. Havia  uma pequena sobra que poderia durar apenas um dia! A produção de mais óleo demoraria oito dias. A Ner Tamid foi acesa e, ao invés de um dia, durou oito.  Este foi o milagre de Chanuká.

 

A escuridão precisa de uma luz, que pode ser pequena, e esta luz foi além de sua expectativa. Manter a luz dentro de nós, mesmo que o mundo esteja revestido de escuro, e ter uma luz que não ofusque é a grande lição desta festa tão especial, que se multiplicou ao redor do mundo trazendo luz para muitas outras culturas. 

 

Há costumes maravilhosos na história dos judeus, que ao longo dos séculos foram perseguidos e foram impedidos de acender a sua luz. A luz era colocada na janela, para que muitos que não tivessem como acender pudessem apreciar a luz que outros estivessem acendendo.

 

Neste ano de COVID, o muito especial serão as Chanukiót (plural de Chanukiá – o nome do candelabro de 8 +1 braços) acesas nos países do Golfo. Acesas de forma oficial, lembrando que o judaísmo chega a estes países no século XXI. E, no meio desta pandemia, quando as luzes se acendem ao redor do mundo, vamos todos juntos lembrar que o grande milagre é estarmos juntos, apesar de separados.


E chega a Primeira Noite da Festa das Luzes de 2020, e assinado o tratado de PAZ entre Marrocos e Israel. É anunciado o início de voos regulares unindo os dois países. Abre-se assim a possibilidade de que o número 2020 não apenas seja lembrado pelo isolamento imposto pelo vírus, mas também pela aproximação e entendimento entre o mundo judaico e o mundo árabe, entre o Estado de Israel e Estados Árabes que querem inaugurar uma nova geopolítica para a Ásia e 

África.




 


UM SONHO FEITO REALIDADE!


Chag Chanuka Sameach


Regina P. Markus

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

VOCÊ SABIA? - Harbin, a cidade que concentrou a maior comunidade judaica da China

 

Por Itanira Heineberg


Trem transiberiano durante o outono na Sibéria, Rússia.

Estrada de ferro transiberiana, de Moscou ao Oceano Pacífico: construção épica do século XIX iniciada em 1891, por onde judeus russos viajaram até o país vizinho.



VOCÊ SABIA que com a construção da estrada de ferro transiberiana em 1891, a cidade de Harbin concentrou a maior comunidade judaica da China?

 

Sim, a maior comunidade judaica da China concentrou-se ali a partir da construção deste empreendimento gigantesco, comparável em grandeza e arrojamento à Grande Muralha Chinesa e às pirâmides do Egito.

Muitos judeus russos migraram para Harbin, ali estabelecendo-se mais distantes das consequências negativas de viver na Rússia: perseguições e pogroms.




Em 1917, com a revolução comunista e a confirmação da União Soviética mais judeus russos, empresários, mudaram-se para Harbin para não perderem suas propriedades, ali instalando suas fábricas e negócios.

A comunidade manteve-se muito ativa até 1963, quando uma grande maioria optou por viver em Israel.




Ao visitar Harbin pode-se conhecer muitos edifícios, monumentos, cemitérios e sinagogas - manifestações da comunidade judaica na cidade conforme veremos no interessante vídeo abaixo:




Um pouco de história amplia nosso conhecimento sobre os primeiros judeus na China:

 

“Documentos datados de 717 atestam o estabelecimento no império chinês, de comerciantes judeus vindos do Oriente Médio. Uma carta escrita por volta do ano 718, por um mercador interessado em vender algumas ovelhas, e descoberta na região ocidental da China, há cerca de um século, é um dos inúmeros sinais que, segundo estudiosos, comprovam a centenária presença judaica no país. A carta, escrita em judeu-persa com letras hebraicas, em um tipo de papel produzido até então apenas pelos chineses, utiliza uma linguagem comercial comum na Ásia Central, no período. Posteriormente, foi encontrado nas Cavernas de Mil Budas, em Dunhuang, um outro documento em hebraico: uma das selichot.”


Harbin

“A rota principal da linha Transiberiana inicia-se em Moscou, passa por Iaroslavl no Volga, Perm no rio Kama, Ekaterinenburg nos Urais, Omsk no rio Irtysh, Novosibirsk no rio Ob, Krasnoyarsk no rio Ienissei, Irkutsk perto da extremidade sul do lago Baikal, Tchita, Blagoveshchensk, Khabarovsk e finalmente Vladivostok. Frequentemente em vez do trecho Moscou-Iaroslavl-Kirov usa-se rota ferroviária Moscou-Vladimir-Níjni Novgorod-Kirov. A sua construção durou desde 1891 até 1916 e em 2002 a eletrificação foi finalizada.

Cerca de 30% das exportações russas viajam por esta linha.”

 

Os prisioneiros foram encarregados da construção inicial da estrada de ferro.






sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

EDITORIAL: SEGUINDO RUMO AO LESTE


EDITORIAL: 2020 - O ANO!


Que ano! Não há quem não tenha tido experiências e vivências completamente inéditas em 2020. Certo, os pequenos - que nasceram nestes últimos três anos - talvez não tenham registros suficientes, e as crianças consideram o que está acontecendo a vida como deve ser. Questões ligadas ao tempo de pós-pandemia fazem parte do nosso cotidiano e ocupam muitos analistas. 

Os campos da saúde, economia e sociologia estão em ebulição. Já no campo das relações internacionais e da política, 2020 pode ser considerado um tempero forte que marca o paladar, mas que é coadjuvante de muitos outros fatores de caráter histórico e político que antecederam aos acontecimentos atuais.

Olhando o pequeno Estado de Israel, com uma população muito menor que a cidade de São Paulo e uma diversidade imensa, ficamos admirados com seus acontecimentos e rumos que deverão ultrapassar 2020. Do ponto de vista das realizações no campo da ciência, saúde e tecnologia, Israel continua sendo um gigante. Está na fronteira em novos saberes e novas formas de aplicação. No campo dos esportes, as últimas semanas revelaram novos atletas medalhistas. No finalzinho de novembro a ginasta Linoy Ashram ganhou a medalha de ouro no Campeonato Europeu em Kiev, Ucrânia. A segunda candidata era ucraniana e a diferença foi de apenas 0,5 ponto. A ginástica olímpica israelense é um grande exemplo da contribuição dos imigrantes que vieram dos países da antiga União Soviética. A técnica Ira Vigdorchik, nascida em Moscou, imigrou para Israel em 1979 e sua história, junto à de muitas outras atletas da área, é responsável pelo grande impulso na área. Integrar refugiados, respeitando e valorizando as diferenças, é sempre uma política que gera frutos a longo prazo. 

2020 - um ano a ser lembrando! Aqui vamos fazer um exercício oposto do realizado no parágrafo anterior. Destacar fatos que, na superfície parecem ser independentes de nossa situação, e que devem gerar consequências futuras. Judeus e os Países Árabes. Judeus e o Irã. Judeus e a Pérsia. Relações muito antigas, que datam dos tempos bíblicos. Muito antes do islamismo, os judeus já habitavam as terras dos atuais Iraque, Irã, Egito, etc. Durante o século XX 850.000 judeus foram expulsos de países que vão desde o Norte da África até o Irã. Estes se deslocaram para as Américas, incluindo o Brasil, para a Europa e para Israel. Esta saga só passou a ser contada muito recentemente. Nosso grupo publicou vídeos e textos sobre o tema, que ainda tem muito a ser explorado. Este foi um movimento tão intenso, que países que tinham comunidades judaicas muito maiores que a brasileira hoje registram apenas poucos indivíduos que não são cidadãos. Mas em que 2020 foi diferente?

2020 é o ano do Acordo de Avraham. O ano em que os filhos de Abraham estabelecem pontes entre nações independentes. Não são populações judaicas, que mesmo vivendo por milênios nas terras do Islam sempre foram consideradas forasteiras, descendentes de um êxodo que ocorreu há milênios. Não são populações árabes que contestam o direito do povo judeu ter um país neste planeta. São países livres, que abrem suas portas a cidadãos de um outro país e iniciam uma ponte para o diálogo, a cooperação e a discussão de divergências. Em poucos meses vimos o impossível acontecer: espaços aéreos sendo abertos, aviões levando autoridades a conversarem pessoalmente ou por encontros no ZOOM, tão comuns nestes dias, permitindo contatos, debates e o que mais nossa capacidade de interagir possa imaginar. São universidades e institutos de pesquisa interagindo e trocando conhecimentos importantes em diversas áreas do conhecimento.

Poderia seguir dando exemplos de governança e segurança, mas o que mais impressionou nesta semana foi o início do voos de turismo: aviões de companhias aéreas israelenses, da União dos Emirados Árabes e de Bahrein transportarão passageiros regularmente. Passar férias nos maravilhosos hotéis do Golfo vira uma realidade!

E assim, algo que nos finais de 2018 era considerado impensável em 2020 se torna uma realidade. E esta realidade será projetada para o futuro, como o início de uma nova era na relação entre os filhos de Abraham.

Salam Aleikum - Shalom Aleichem

שלום עליכם – لسَّلَامُ عَلَيْكُمْ 


Regina P. Markus









segunda-feira, 30 de novembro de 2020

VOCÊ SABIA? - AMSTERDAM, UM PORTO SEGURO PARA OS JUDEUS DO SÉCULO XV

O Édito dos Reis católicos e a expulsão definitiva dos judeus da Espanha em 1492

Por Itanira Heineberg



Cópia do Édito de Granada

Você sabia que em 1492, quando aos judeus foram permitidos apenas 3 meses para sair da Espanha, a Holanda mostrou-se um abrigo protegido, acolhedor, oferecendo alívio e esperança aos que procuravam uma Nova Jerusalém para aí iniciarem uma vida mais segura?

 

Em 1492 os judeus foram expulsos da Espanha pelos reis católicos Fernão e Isabel I.

Portugal e o Império Otomano ofereciam oportunidades aos fugitivos, mas a situação política em toda a Europa estava mudando. Em 1496 D. Manoel I, de Portugal, se casou com D. Isabel da Espanha, filha dos reis católicos, e decretou a ordem de expulsão dos judeus de suas terras em 1497.

 

Apenas três meses foram concedidos aos judeus espanhóis, para liquidarem suas propriedades e partirem.

 

“De acordo com esse édito, todos os súbditos hebreus deveriam converter-se ao catolicismo ou partir. Apesar da enérgica ação de Isaac Abravanel, funcionário da corte de Isabel de Castela que tentou obter a anulação do decreto, as perseguições intensificaram-se.

Alguns foram para Portugal, de onde foram expulsos em 1497. Outros atravessaram o estreito de Gibraltar para viver livremente a sua fé do outro lado do Mediterrâneo, em Marrocos. Muitos fugiram para o Oriente – para a Itália, para o leste da Europa, para o Egito ou para a Palestina. Houve os que encontraram refúgio no Império Otomano, onde o sultão Bayazid II lhes ofereceu a sua hospitalidade. Os que ficaram (cerca de 150 mil) converteram-se, mas um grande número continuou a viver secretamente de acordo com a tradição judaica.”

 

Em seu decreto, assim ordenavam os reis católicos Isabela I de Castela e Fernando de Aragão:

 

“Que todos os judeus e judias de qualquer idade que residem em nossos domínios e territórios, que saiam com os seus filhos e filhas, seus servos e parentes, grandes ou pequenos, de qualquer idade, até o fim de Julho deste ano, e que não ousem retornar às nossas terras, nem mesmo dar um passo nelas ou cruzá-las de qualquer outra maneira. Qualquer judeu que não cumprir este édito e for achado em nosso reino ou domínios, ou que retornar ao reino de qualquer modo, será punido com a morte e com a confiscação de todos os seus pertences”.


Em 1581 a Holanda tornou-se uma nação independente após uma prolongada guerra de independência com a Espanha.

Os conceitos holandeses de tolerância religiosa foram oriundos das premências da guerra e da absoluta necessidade de estabelecer a paz em sua nação religiosamente heterogênea.

Assim, novas crenças e movimentos cristãos foram incorporados de bom gosto no percurso da longa guerra com a Espanha.

 

O artigo XIII do Tratado de Utrecht, que ratificou a união das províncias do norte, declarou que ninguém deveria ser processado por suas crenças religiosas. Embora essa cláusula visasse beneficiar os protestantes e manter a paz entre os cristãos, ela forneceu a base legal sobre a qual os judeus imediatamente começaram a fixar residência e buscar reconhecimento na Holanda. Lá, os sefarditas encontrariam as condições ideais para criar uma Nova Jerusalém.”


Documento de doação emitido pelo rei Fernando e pela rainha Isabel ofertando propriedades de judeus confiscadas pela inquisição a um monastério em Córdoba

“A capital holandesa era o empório da Europa do século 17, com seu porto repleto de navios cheios de mercadorias das Américas e do Extremo Oriente. Seu povo avidamente se inventou como uma nova nação; seduzidos pelo comércio e suas possibilidades, eles eram, no entanto, caracterizados por sobriedade de comportamento e aversão tanto à superstição quanto a qualquer pretensão de nobreza. A grande riqueza da cidade baseava-se em três fatores: sua frota, seu comércio próspero e uma política de tolerância que atraiu algumas das almas mais empreendedoras e ambiciosas do continente.”


E foi neste novo clima de mercado que os marranos ou cripto-judeus (Judeus que se converteram ao Cristianismo, mas continuaram a praticar o Judaísmo em segredo) passaram a se destacar.

 

“Em 1604, um certo Manuel Rodrigues de Vega fez uma petição aos burgomestres da cidade para poderem estabelecer fábricas de seda ali junto com outros dois judeus portugueses. Em pouco tempo, os sefarditas desenvolveriam não apenas a indústria doméstica da seda, mas também o comércio da seda, grande parte do comércio de tabaco e o comércio de açúcar, corais e diamantes. Eventualmente sefarditas poetas, dramaturgos, calígrafos e gravadores de cobre também seriam encontrados ao lado dos comerciantes, banqueiros e médicos habituais.

Agora que parecia que os judeus podiam finalmente cessar suas peregrinações, eles começaram a chegar à Holanda vindos da Espanha, Itália, Portugal, Alemanha e Antuérpia. No início, os serviços religiosos eram realizados discretamente em casas particulares, bem como na residência de Samuel Pallache, um judeu sefardita que foi embaixador do Marrocos na Holanda de 1612 a 1616.

Em certa medida, a posição dos judeus foi regularizada em 1597, quando os direitos dos burgueses foram concedidos aos membros da “nação portuguesa” em Amsterdã. Não foi até 1606 que se encontrou a primeira referência oficial a Joodche Gemeente (a congregação judaica), mas em 1609 a comunidade sefardita contava com 200 almas e sustentava duas sinagogas. Uma década depois, uma terceira casa de culto seria fundada….”



Sinagoga portuguesa em Amsterdã

 

Em 1630 os holandeses procuraram estabelecer uma colônia na América, apoderando-se de uma das mais importantes regiões do Brasil - a capitania de Pernambuco - grande produtora de açúcar.

Mais uma vez, os judeus vislumbraram um porto seguro para suas vidas, religião e negócios.

E foi de Pernambuco que saiu em1654, fugindo dos portugueses que resgataram sua terra brasileira, o primeiro açougueiro kosher que se fixou em Nova Amsterdã, mais tarde a famosa cidade de Nova York, conforme vimos recentemente nesta coluna,  no diário de Asser Levy.



FONTES:

https://www.myjewishlearning.com/article/jews-in-amsterdam/

https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/2966620/jewish/A-Expulso-dos-Judeus-da-Espanha.htm

http://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/03/31-de-marco-de1492-edito-dos-reis.html

https://www.todamateria.com.br/tratado-de-utrecht/

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

EDITORIAL: Sonhos - construindo o futuro

O SONHO DE YAKOV


Mais uma semana de quarentena, mais uma semana olhando gráficos. Esta foi uma semana muito diferente - acabaram as eleições americanas e foram apresentados os principais colaboradores de Joe Biden. Estamos às vésperas do segundo turno para eleição de prefeito na maioria dos municípios de Brasil, incluindo a Cidade de São Paulo. Presenciamos cenas de violência extrema, por uma causa insignificante, que permite ver a face degradante do racismo. E, seguimos em frente equilibrando todos estes eventos de forma a não perder os nosso sonhos. Os sonhos que permitirão continuar a nossa existência neste planeta. Uma humanidade diversa e consciente de sua diversidade, uma humanidade ciente que fortes e fracos, bem ou mal dotados em certas aptidões mais valorizadas, os que acreditam e os que dão motivos para que valha a pena acreditar. Em resumo, uma humanidade que abre espaço para a participação de todos.

Nesta semana, várias notícias sobre as relações entre os países árabes e Israel foram veiculadas. Algumas até encontraram destaque na mídia brasileira, na esteira de opiniões políticas sobre dirigentes de Israel e Estados Unidos. E nesta semana, em todas as sinagogas do mundo na segunda, na quinta e no sábado é lido o trecho da Torá que fala sobre o sonho de Yakov. Não cabe aqui analisar trecho tão complexo,  mas vale lembrar que ao deitar a cabeça em uma pedra, em um local que foi chamado de Beth El (a casa de D'us), Yakov sonhou com uma escada que chegava até aos Céus e por onde anjos subiam e desciam. O fato dos anjos subirem primeiro tem muitas explicações ao longo dos milênios. Rashi (Rabi Shloo Yitzhaki, 1040-1105, França), um grande erudito que tem seus comentários inseridos em uma das "janelas" do Talmud,  em Genesis Rabah (68:12) propõe que esta escada ficava na fronteira entre a Terra de Israel e a Diáspora: "Anjos que acompanharam ele para a Terra de Israel não saíram da Terra, mas subiram para os céus, e os anjos que acompanharam Yakov para fora da Terra de Israel desceram dos Céus" (leia mais). Aliá (subida), Glitá (descida) - assim é mencionada a imigração para - e a emigração de - Eretz Israel (a terra de Israel). 


Nesta semana tão cheia de fatos coletivos tive uma experiência pessoal que cabe perfeitamente em todos os temas - diversidade de raças, de gênero, busca de um sonho e construção de um futuro idealizado. Minha irmã, Esther Pekelman Levy, compartilhou um link contendo a história de Hennya Pekelman, uma mulher que nasceu em 1903 no mesmo vilarejo que nosso pai e faleceu em 1940 em Israel. O vilarejo era muito pobre e localizava-se na Moldávia, na época parte do Império Russo. Os judeus e muitos outros povos chegaram a esta região no século 18 a convite dos governantes do Império da Lituânia para desenvolver agricultura e comércio. As pequenas propriedades foram sendo herdadas até o início do século XX. Em 1941, os que ainda estavam nestas terras foram todos mortos, e hoje apenas poucas pedras tumulares lembram um sociedade ativa tanto intelectualmente, quanto profissionalmente.

Marculesti, Moldávia, 2020


Em 1920 ela, com 17 anos, decidiu imigrar para o Mandato Britânico da Palestina junto com outros jovens para permitir que os judeus tivessem um lar nacional, um país, assim como muitos outros povos ao redor do mundo. Foi para a terra de seus ancestrais, e apesar de ser jovem estudada, com o Gymnasium completo, que equivale ao nível médio (High School), resolveu que deveria construir casas para os que chegassem e foi trabalhar como operária da construção civil. 


Fonte 

Li o que pude nos últimos dias. Henya Pekelman teve uma vida triste, com muitos obstáculos. Ela era do povo, uma trabalhadora, mas decidiu que a vida de cada um merecia ser conhecida pelas próximas gerações e escreveu um livro autobiográfico intitulado "The Life of a Woman Laborer in The Homeland". Uma história que começa com lembranças na infância, segue pela adolescência e os primeiros três anos no território do Mandato Britânico da Palestina, onde sofreu estupro, e deu à luz uma criança que não sobreviveu (1).  Os autores que hoje estudam o papel de mulheres trabalhadoras, operárias, líderes, intelectuais e cientistas mencionam que ela descreve seu livro como "Esta é a vida de uma mulher operária que viveu em uma pátria que chamar de sua era o seu sonho maior" (2).

Fiquei me perguntando como esta mulher publicou uma autobiografia em 1935. Qual a editora que aceitou bancar esta publicação? E a resposta chega... Nenhuma. Ela financiou a publicação do livro porque, em sua opinião, a história deveria ser contada não apenas pelos líderes e intelectuais, mas também pelos muitos anônimos que sonham um sonho além das fronteiras da própria existência. Sonham em deixar mais do que uma árvore, sonham em um futuro para seus filhos, do ponto de vista conceitual.

Este foi um editorial diferente, tenho ainda muito a aprender sobre esta mulher que seguiu o seu caminho até onde conseguiu. Mas apesar do triste desfecho que ocorreu em 1940, agora começa a ser lembrada.



 

Lembrada em um país que ajudou a criar e que hoje é considerado o primeiro no mundo para mulheres empreendedoras. Cidadãs israelenses judias, árabes, druzas, cristãs, sem religião e com qualquer outra denominação atuam como empreendedoras nas mais diferentes áreas.

SONHOS que se CONVERTEM em REALIDADE garantem uma história milenar que se desenrola pela sequência das gerações.

Boa Semana! 

Regina P. Markus



1. (Alyagon Darr, Orna (2015-03-30). "Sexual offences and ethnic identity(PDF). Tel Aviv University. Retrieved 2020-02-01 – via Carmel Academic Center - School of Law. ).

2. (Hess, Tamar S. (2008). "Henya Pekelman: An Injured Witness of Socialist Zionist Settlement in Mandatory Palestine" (PDF). The Feminist Press. Retrieved 2019-04-27.).