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terça-feira, 30 de abril de 2019

EDITORIAL: IOM HASHOÁ - DIA DO HOLOCAUSTO

A História de um povo é feita ao longo do tempo. Existir há mais de 3 milênios requer que a história de cada século seja registrada e contada. Esta semana, o dia 2 de maio é reservado para a memória do holocausto - um hiato na história da humanidade tão terrível que com o passar do tempo vai deixando de ser possível acreditar que tudo ocorreu.

Contar a história é a forma básica de manter a existência, e hoje mostramos em fotos o que foi o antissemitismo da primeira metade do século XX. Cartões postais, filmes e muitos outros registros mostram que em países considerados civilizados, como França, Estados Unidos, Alemanha, etc., circulavam mensagens anti-semitas! E hoje, isto volta a acontecer. A hora que em universidades americanas, e também em universidades brasileiras, grupos de pessoas se arvoram o direito de emitir opiniões contra judeus e discriminatórias contra o Estado de Israel, a hora em que jornais de grande circulação usam de imagens e de textos que agridem judeus, é a hora de levantar a bandeira de alerta.




Imagens revelam antissemitismo nas décadas de 1920 e 1930 ... E TAMBÉM EM 2019



Esta semana enveredamos por esta difícil viela para mostrar aos nossos leitores que o problema é real, e que cabe a cada um de nós saber que o conhecimento dos fatos e a reação racional é a forma primeira de impedir que tais fatos voltem a acontecer.

Cada um dos que convivemos na infância com sobreviventes do holocausto sempre nos perguntávamos como foi possível abandonar tudo. Uma ação coletiva que incluía formação de opinião por décadas e décadas e um silêncio da maioria que via o seu vizinho de anos ser perseguido e humilhado. O silêncio da maioria. Este só pode ser rompido com a educação e com a circulação de argumentos que mostrem os vários lados.

Quero colocar aqui uma outra possibilidade - é urgente que passemos a aceitar a HUMANO-DIVERSIDADE - assim como gostamos da BIODIVERSIDADE. É importante que passemos a ser O OUTRO - e que deixemos de lado a idéia que O OUTRO deva ser um igual.  A identidade não é um rótulo. Rótulos reduzem a complexidade a fatos que queremos dominar. Rotular um outro ser humano é acabar com a possibilidade de sobreviver - de VIVER!

Para respeitar é preciso conhecer - para SER é preciso conhecer. Nesta semana em que lembramos fatos que na HISTÓRIA são tão recentes, e que ocorreram porque um povo sobrevive, apesar de disperso, há mais de 3 mil anos, gostaria de compartilhar com todos uma história sobre Ben Gurion  - artífice da criação do Estado de Israel.

Quando era Primeiro Ministro de Israel, Gurion fez uma visita ao então Presidente dos Estados Unidos Dwight D. Eisenhower (1954). O holocausto era na época um fato, mas o Ministro do Exterior, John Foster Dulles, tinha dúvidas sobre quem era o Povo Judeu, e fez a seguinte questão:

"Diga-me senhor Primeiro Ministro, quem o senhor ou seu Estado representam? São os judeus da Polônia, ou Iémen, Romania, Marrocos, Iraque, Rússia ou talvez Brasil? Após 2000 anos de exílio pode o senhor, honestamente falar em uma única nação, uma única cultura? Pode o senhor imaginar que há uma herança judaica, ou mesmo uma tradição?

Ben Gurion propôs uma experiência. Pediu ao Ministro do Exterior americano que perguntasse a 10 crianças americanas e a 10 crianças judias de países diferentes, incluindo todos os que ele nominou:

Crianças americanas: Há 300 anos atrás o May Flower zarpou da Inglaterra e chegou na América: 


1 - Qual o nome do Capitão do May Flower?

2 - Quanto tempo demorou a viagem?
3 - O que os marinheiros comiam?
4 - Quais foram os acontecimentos importantes na viagem?

Crianças judias: Há 3000 anos, e não há 300 anos, os judeus saíram do Egito:


1 - Qual o nome do líder que tirou os judeus do Egito?

2 - Quanto tempo demorou para eles chegarem à Terra de Israel?
3 - O que comeram durante a viagem no deserto?
4 - E o que aconteceu com o mar, quando eles o encontraram? 


Esta é uma história contada no SEDER de PESSACH - e esta deve ser uma história relembrada no DIA DO HOLOCAUSTO - porque sabemos hoje que é PRECISO CONHECER. É PRECISO LEMBRAR!

SER EM FORMA INTEGRAL inclui o bom e o mal - inclui toda a HISTÓRIA.


Vamos hoje lembrar dos que conhecíamos e, principalmente lembrar dos que não deixaram rastro. Vamos ser o FUTURO, a próxima geração dos que pereceram. Ser a próxima geração é olhar para a frente, sabendo de onde viemos.


VOCÊ PODE ACENDER UMA VELA EM NOME DOS QUE SE FORAM - 
UMA VELA VIRTUAL.
Entre no site: https://www.illuminatethepast.org - e escreva nas nossas mídias o nome que você escolheu! Estamos construindo a história para a humanidade - esta é uma ação feita por todos!




Esta foi a vela que acendi em memória de uma rapaz que viveu 17 anos - E QUE SEGUIRÁ VIVENDO NA MEMÓRIA dos que lerem estes textos.



Regina P Markus









VOCÊ SABIA? - Anjo da Morte






Você sabia que o símbolo das atrocidades nazistas, chamado de Anjo da Morte e responsável pela morte de mais de 3 mil gêmeos durante a Segunda Guerra, viveu impune por mais de trinta anos na América do Sul, protegido por muitas pessoas?

Josef Mengele, médico alemão, dedicou-se a pesquisas de purificação de raças durante a Segunda Guerra vindo a ser o chefe do corpo médico do Campo de concentração Birkinau.

Cientista frio e desumano, não economizava sofrimentos às suas cobaias infantis em sua busca obsessiva pela raça pura.

Devido ao tratamento insensível que dispensava aos prisioneiros e à maneira gélida e indiferente como os selecionava para a vida ou para a morte, ficou conhecido como o Anjo da Morte.

Morreu em Bertioga, no dia 7 de fevereiro de 1979, com a falsa identidade de Wolfgang Gerhard. Até hoje, todos se perguntam como este hediondo criminoso nazista conseguiu sobreviver por mais de 3 décadas levando uma vida razoavelmente tranquila entre as fugas e mudanças de países, acabando no litoral do Brasil, sem ser descoberto, julgado ou punido por seus crimes horrendos.




Assista agora ao vídeo de Thomas Pappon, um verdadeiro detetive tentando desvendar o mistério do cadáver encontrado na praia de Bertioga até a confirmação, através de constatações científicas, DNA e prótese dentária, de que era de fato o corpo do Anjo da Morte.







Este texto é  uma colaboração especial de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.



FONTES:




sexta-feira, 26 de abril de 2019

EDITORIAL: Contar - uma Estória / um Período


Quem estuda hebraico sempre fica impressionado com as relações entre as palavras. Isto é verdadeiro para todos os idiomas, inclusive o português.

Um bom exemplo é o verbo CONTAR - que serve tanto para contar um caso, uma estória, um fato - enfim decodificar em palavras alguma situação, como serve para transformar dados em escalas numéricas, ou mesmo marcar a passagem do tempo.


Esta é a semana do ano em que entendemos perfeitamente por que estas duas ações que podem parecer diametralmente opostas, estão unidas! Estão correndo os 8 dias de Pessach e após lautos jantares onde escutamos a História de Pessach, esperamos o dia da Pizzada - Muitos não sabem que atualmente é muito comum terminar os dias em que não se come pão regular com uma deliciosa Pizzada! No Marrocos, era hábito ter uma refeição chamada MIMUNA - quando são servidas iguarias deliciosas arrumadas em mesas muito caprichadas.

Desde o primeiro dia de Pessach inicia-se a contagem do Ômer: 49 dias que separam a celebração da saída do Egito para o recebimento da Torah no Monte Sinai (que fica do outro lado do Mar Vermelho - na Península da Arábia). Contar uma história, contar um período para iniciar uma nova vida, um novo período, que se extende até hoje, por mais de 3.000 anos.

CONTAR & CONTAR - nosso idioma talvez resuma neste duplo significado os fatos mais importantes da VIDA - preencher o tempo com histórias (atos e fatos) significativos que possam ser lembrados ao longo dos tempos.

É neste sentido que o "Você Sabia?" desta semana trouxe o conceito do Lashon ha Rá - A lingua má - pois esta não deve nem ser ouvida - de forma a não ser repetida (contada como estória) e nem considerada (computada como fato).

Dentro desta contagem dos dias entre Pessach e Shavuot, está a volta do Povo Judeu à Terra Prometida a Abraham. Almejada por Moisés e Conquistada por Josué - ERETZ ISRAEL.

CONTAR & CONTAR - contar a história de um povo é uma forma excelente de contar o tempo - de geração em geração.

BOA SEMANA - que venham as Pizzadas e a Mimuna!

Regina P. Markus

segunda-feira, 22 de abril de 2019

VOCÊ SABIA? - Falar mal dos outros




Você sabia que falar mal dos outros, difamar alguém, é como a pasta de dente que sai de um tubo de dentifrício?


Assim como o creme dental, uma afirmação depreciativa, difamatória, nunca volta à embalagem original.





Nestes tempos de Pessach, Páscoa, Quaresma e introspecção, encontrei uma leitura interessante sobre o valor e força da palavra e do cuidado que devemos ter ao usá-la.

Da mesma forma como não gostaríamos que alguém nos acusasse de algo que não cometemos, precisamos pensar bem antes de ofender alguém.

Em uma aula de Kabbalah, comentávamos a expressão “lashon hará” (linguagem maldosa) e para minha surpresa, nosso professor acrescentou que o melhor seria nem falarmos as boas coisas sobre alguém. Segundo ele, sempre vai surgir um “mas ... ele, ela ...”; então, falemos de ideias em vez de pessoas.

Em sua página do My Jewish Learning, a rabina Alissa Thomas-Newborn conta seu primeiro contato com esta lição:

“Eu lembro da primeira vez que ouvi a expressão lashon hara (fala depreciativa sobre outras pessoas, proibida pela lei Judaica). Eu era uma menininha sentada nos bancos da sinagoga que eu frequentava e meu rabino explicou que uma vez que você aperta toda a pasta dental para fora do tubo, você nunca consegue colocá-la de volta. Ele explicou que, assim como o dentifrício, as palavras que proferimos nunca poderão ser desditas, nunca poderão ser apagadas nem voltar atrás. Então eu aprendi a lição que toda criança aprende, direta ou indiretamente. O que dizemos é muito importante.”
Controlar nossas opiniões, críticas e comentários desairosos é um dever humano.
Com certeza não conseguiremos colocar a pasta de dentes de volta ao tubo, mas D’us presenteou-nos com uma forma diferente de cura e reparação. Este caminho não é externo, porém profundamente interno.
Pedir desculpas apenas não é suficiente.
A pessoa deve praticar o exercício de diminuir seu ego com o objetivo de cultivar a humildade.

Humildade perante humanos e D’us.



Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.


FONTES:


quinta-feira, 18 de abril de 2019

Editorial: Pessach - A LIBERDADE DE SER

A LIBERDADE de SER


Nesta sexta-feira dia 19 de abril, judeus do mundo inteiro estarão sentados ao redor de uma mesa para celebrar o início da FESTA DE PESSACH - A PASSAGEM.

Há muitas explicações para esta data, que é de fato o momento em que se inicia a jornada de um grupo de pessoas para a formação de um povo, que tem sobrevivido por mais de 3000 anos e tem vivido sempre no presente - porque conhece o seu passado e prepara o seu futuro.

Apesar dos judeus terem sido espalhados ao redor dos 5 continentes por séculos, sem as facilidades de comunicação que temos hoje, há muito em comum na forma como comemoramos Pessach. O ponto central, a refeição festiva ritual, repleta de alimentos tradicionais e de permissões e proibições, podem diferir nos detalhes, mas são idênticas nos procedimentos.

Este ano, o Rabino Jonathan Sacks, que foi o Rabino Chefe do Reino Unido, comentou em sua fala semanal que o ponto central é ler a HAGADÁ, a história da saída dos judeus do Egito, o caminho da escravidão à liberdade. 

Porque está escrito na própria Hagadá, logo no início, e duas vezes, que a grande obrigação de Pessach (Mitsvá) é contar a Hagadá às crianças - fazer com que todos, independentemente da idade, sejam depositários livres da história de seu povo. E estes jantares, ao longo de uma vida, acabam formando também as histórias da famílias. Memórias de infâncias, memórias da infância dos filhos, dos netos e dos bisnetos acabam sendo recontadas ao longo dos tempos e... de repente... escutamos uma tia de mais de 90 anos contar como era o seder em sua casa - e como seu avô falava sobre os de sua infância e... ao redor de uma mesma mesa recontamos uma história de mais de 3000 anos e ao mesmo tempo, desfilam frente à nossa imaginação como nossas famílias comemoravam Pessach nos séculos XIX e XX.  

Em anos anteriores (2017) comentei sobre os quatro filhos - sim, quando o mais novo da mesa levanta e pergunta "Por que esta noite é diferente de todas as demais noites?" os mais velhos iniciam a leitura da história - mas, logo no comecinho informam que esta história deve ser contada para todos - os inteligentes, os tolos, os maus e os que não sabem perguntar - todos estão incluídos, mas sem alterar as suas características. Esta é uma característica muito importante do contexto - TODOS e CADA UM - o povo é formado por indivíduos e é a unidade que deve ser preservada. Não há o objetivo de alcançar um modelo comum, mas sim, o objetivo de que cada um tenha lugar a uma mesa que forma o coletivo.

Este ano, como estamos muito perto do dia 17 de abril, vale lembrar que no ano de 1506 no Largo de São Domingos em Lisboa, por ordem de Dom Manuel I, foram reunidos judeus de Portugal com a promessa de poderem embarcar em navios para outras paragens - e assim não se converterem ao catolicismo como exigia o Santo Ofício. Os judeus ficaram "a ver navios" e os padres iniciaram uma conversão em massa. Os que recusaram foram assassinados - e o objetivo era acabar com a diversidade - o objetivo era transformar todos em uma massa homogênea. Cinco séculos depois, em 2006, foi colocado um pequeno monumento no mesmo lugar. Pessach - passagem - e os judeus portugueses passaram ao longo da história e agora sentam-se à mesa e celebram Pessach, celebram a vida. 

E... no dia 19 de abril de 1943 aconteceu o Levante do Gueto de Varsóvia, era a primeira noite de Pessach, era Zman Cheiruteinu - Tempo de Liberdade!!




Ao iniciar este texto, escrevi que viver no presente é conhecer o passado e preparar o futuro. Certamente, em Pessach, na passagem do tempo, é sempre bom lembrar que avançar em conhecimento é a forma da nossa geração preparar o futuro - e neste contexto está uma importante herança que recebemos do deserto: aprender com as pedras do caminho é a melhor forma de construirmos um futuro. A nave israelense que foi até a Lua e quase pousou foi uma fonte tão grande de aprendizado, de despertar nas crianças a paixão pela ciência, que o próximo projeto já está anunciado.

PESSACH - passar - ao ver uma pedra no caminho temos duas opções - removê-la ou contorná-la - para continuar em frente rumo ao FUTURO. 


CHAG PESSACH SAMEACH

Regina P. Markus









domingo, 14 de abril de 2019

VOCÊ SABIA? - Gefilte Fish





Você sabia que o gefilte fish, jóia da culinária judaica e um dos pratos preferidos nos feriados de Pessach, a Páscoa Judaica, e Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico, é um bolinho de carne de carpa moída com tempero, cozido no caldo do peixe?

Em geral é servido frio, na geleia do peixe, decorado com rodelas de cenoura cozida e temperinhos verdes.





O peixe carpa, é considerado um dos reis da água-doce devido à sua longevidade (até 60 anos) e ao fato de não haver duas carpas iguais. É um animal de águas frias e pouco profundas e limpas, porém, sendo onívoro, alimenta-se de tudo: pequenos vermes, animais, plantas e matéria orgânica das areias ou lama do fundo dos lagos e rios, sobrevivendo em lugares pouco limpos e águas impuras também.

Existem dois tipos de carpas: comuns e coloridas. A carpa comum, Cyprinus carpio, é usada na alimentação. Ela apresenta um torso curvo coberto por escamas pequenas e sua cor varia do amarelo ao bege dourado.


Já as carpas ornamentais, de cores fortes, também conhecidas como estampadas, foram criadas por mutação genética espontânea das carpas comuns no Japão, na região de Niigata, e possuem as cores vermelha, azul e vermelha e branca e preta. Elas decoram ambientes públicos e privados em todo o mundo pois suas cores embelezam as águas em que são apresentadas.






Hoje vou contar uma história linda de Pessach, uma história que sempre contei aos meus filhos quando pequenos e que até hoje me entristece e emociona.
“Era uma vez, em um pequeno povoado europeu, uma família judia que apesar de poucas posses sempre se preparava com cuidado para a comemoração de Pessach com uma bem planejada e apetitosa mesa para o primeiro jantar ou Seder.

A mãe, carinhosa como as dedicadas mamães do mundo, cozinhava com esmero, transformando ingredientes simples e econômicos em pratos saborosos, temperando-os com amor e às vezes lágrimas também.
Uma semana antes dos festejos esta extremosa mamãe percorria os mercados em busca do melhor peixe da freguesia para os tradicionais bolinhos, os gefilte fish. Trazia então para a casa a mais saudável carpa e a colocava na banheira da casa onde a mesma viveria em paz até o dia de se tornar a maior atração da mesa de jantar.

Para as crianças da família aquilo significava dupla alegria: uma semana sem tomar banho e um animalzinho de estimação para alimentarem e se divertirem.
A carpa, muito boazinha, não fugia das pequenas mãos que a alimentavam nem dos carinhos que recebia. Quando os pequenos entravam no banheiro na volta da escola, a carpa aproximava-se da beirada da banheira e esperava os bocados que lhe eram oferecidos entre gritos de alegria e satisfação. Sendo um animal onívoro, tudo engolia com o maior prazer. Qualquer petisco saído de um papel de bala ou restinho oriundo de um bolso engordurado era devorado com sofreguidão.




Mas os dias passavam com rapidez e uma bela tarde, ao chegarem em casa, as crianças, ao correrem ao banheiro para cumprimentar sua amiguinha, já paravam nos degraus da escada ... os aromas vindos da cozinha já os informavam que aquela noite a banheira estaria livre. E eles, limpos e asseados como toda a casa naquele feriado.


É chegada a noite do Seder, toda a família reúne-se ao redor da mesa para contar a história do povo judeu em sua fuga para a liberdade, todos felizes por comemorar esta grande conquista bíblica, e a promessa de preservar a liberdade para todos neste mundo.

Todos felizes?

Os rostinhos infantis demonstram uma grande tristeza, seus olhos recusam-se a contemplar os lindos bolinhos na elegante travessa da mamãe, travessa esta, reservada aos grandes momentos da família.”





Espero que tenham gostado desta história singela e que a compartilhem com seus filhos e amigos durante os feriados que se aproximam.



FONTES:


quinta-feira, 11 de abril de 2019

EDITORIAL: The Day After - O Dia Seguinte


Conversar com leitores e contar um pouco de impressões pessoais: algo que vale para o hoje. Uma foto de uma sociedade que estamos acostumados a seguir à distância e que, apesar de termos uma grande identificação, pouco conhecemos.

Ontem foi o dia de eleição aqui em Israel. Sou brasileira e notei várias diferenças interessantes. Na terra da inovação tecnológica, a eleição é feita com votos não identificados. Explicando: o cidadão chega à sala de votação e os mesários dão um envelope. O eleitor deve colocar dentro do envelope uma cédula onde estão escritas as letras que identificam os partidos, e em seguida colocar o voto em uma urna. 


Mãe e filha exercendo o dever civil

Muitos brasileiros falam das fraudes que podem ocorrer com nossas urnas eletrônicas, mas o sistema israelense é um convite a problemas. Imagine que o rádio passou o dia todo alertando as pessoas para olhar a parte de trás das cédulas para que não tivessem nada escrito, pois neste caso, não seriam contadas. Eu estava muito espantada - sim, esta é a palavra - e, comentando com uma amiga argentina, esta afirmou que o mesmo ocorria no país do tango!

Bem, seguindo com as diferenças... crianças e avós entram juntos para votar - não há o conceito de cabine indevassável e, para terminar a cena, a boca de urna é intensa e vai até a entrada da sessão eleitoral. Não há a quantidade de papeis que costumava ter em São Paulo, mas todos reclamavam da invasão nos celulares. Havia um pipocar de bipes nos celulares em volta - e quando entramos na escola onde estavam ocorrendo as eleições, milhares de mensagens começavam a chegar.

Uma outra curiosidade foi o voto dos que não estavam em seus domicílios eleitorais. Votam os que estão de serviço no exército, hospitais e presidiários, condenados e reclusos em presídios gerais ou aqueles que estão em delegacias. Nestes casos é preciso apresentar a carteira de identidade civil, militar ou de presidiário. Os que trabalham em hospitais ou prisões também podem votar no serviço. O interessante é como contam estes votos: é feita uma primeira contagem e depois os envelopes são encaminhados para as sessões eleitorais para certificar que não houve duplo voto.

Conversando com pessoas que trabalham em cyber security, peguntei por que o voto em Israel não é eletrônico. A resposta foi muito ilustrativa: "somos uma nação pequena e podemos contar os 6 milhões de votos esperados rapidamente - mas, o sistema eletrônico é muito mais seguro!"

Foi neste momento que confirmei o que todos falam: Israel é um país de alta tecnologia porque só pode contar com a mente de seus cidadãos, e porque tem uma diversidade racial tão grande que aborda problemas de vários ângulos, o que facilita chegar a soluções generalistas.



Todos os cidadãos votam 



O resultado? Meio a Meio - o partido de oposição (Beny Gantz) ficou com 35 cadeiras no parlamento e o partido de Benjamin Netanyahu ficou com 35 cadeiras. Contar com parcerias será a chave do sucesso. Temos que esperar até o final das apurações (sexta-feira) para saber o resultado final - agora, todos estão declarando vitória.


Boa Semana!

Regina P Markus

segunda-feira, 8 de abril de 2019

VOCÊ SABIA? - Tikkun Olam



TIKKUN OLAM 

... qualquer ato de bondade humana reverbera por todos os cantos do mundo ...






Você sabia que a familiar expressão judaica TIKKUN OLAM, ou “consertar o mundo”, é um convite a todos nós, humanos, para completar e aperfeiçoar a obra da criação divina?

Tikkun Olam: “Um conceito judaico definido por atos de bondade realizados para aperfeiçoar ou reparar o mundo. A frase é encontrada na Mishná, um corpo de ensinamentos rabínicos clássicos. É frequentemente usada quando se discutem questões de política social, garantindo uma proteção àqueles que podem estar em desvantagem.”

Nestes últimos séculos esta frase tornou-se muito conhecida e mundialmente proferida, dando origem a uma deliciosa piada: Como se diz Tikkun Olam em hebraico?

Mas esta frase cheia de força e significado não se resume a isto apenas.

- Consertar o mundo pede além de proteger pobres e desabrigados, escravos e injustiçados.  

- Clama pelos valores morais que devem ser observados em nossas relações com o próximo e a sociedade em que vivemos.

- A caridade desempenha um papel fundamental: ajudar a todos, tanto os nossos conhecidos e iguais como aqueles de diferentes crenças e outras vizinhanças. As comunidades carentes devem ser atendidas e auxiliadas, independentemente de suas práticas religiosas e população.

- O trabalho voluntário também faz parte deste princípio Tikkun Olam: doar nosso tempo (talvez a mais difícil de todas as doações) pode ser a melhor maneira de ajudar aqueles necessitados e aliviar a dor do mundo.

- Outro item importante é o cuidado que devemos ter ao julgar o outro. Sejamos justos.





Em 1950, a frase Tikkun Olam foi usada por Louis Dembitz Brandeis, o primeiro juiz judeu da Suprema Corte americana, homenageado ao ter seu nome escolhido para a universidade que havia sido recentemente fundada -  Brandeis Camp Institute, Universidade  Brandeis, Massachusetts.

Esta instituição foi criada pela comunidade judaica americana numa época em que os judeus, outras etnias e mulheres sofriam discriminação para serem aceitos em universidades de alto padrão no país.


Para Louis Brandeis, estas palavras abrangiam a essência dos valores judaicos, significando “quando o mundo for perfeito sob o reino do Todo Poderoso.” Conquistar um mundo melhor era, para ele, obrigação de todos os judeus e seu ensinamento.


EMET - Verdade



Voltemos agora ao século XVI com Ari, o rabino Isaac Luria:
Mas afinal, a que viemos neste mundo?

“O judaísmo responde esta questão com um conceito fundamental elaborado pelo rabino cabalista Isaac Luria no século 16, o Tikun Olam. Tikun vem do verbo letaken, que significa reparar ou consertar. Olam quer dizer mundo. Juntas criam um conceito maior que reparar o mundo, juntas significam melhorar o mundo preparando-o para entrar no estado supremo para o qual foi criado.

Esse conceito de mundo incompleto ou imperfeito é derivado do livro de Gênesis 2:3 “E abençoou Deus ao dia sétimo, e santificou-o, porque nele cessou toda sua obra, que criou Deus para fazer”. Aqui vale uma observação; em muitas traduções do antigo testamento essa passagem é descrita como “Abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera”. O correto é a versão com o final “… que criou Deus para fazer”, pois demonstra a obra do Criador como inacabada, o que justifica todas as imperfeições deste mundo terreno e a missão da humanidade de melhorá-lo.  Mas como os homens que são seres imperfeitos, poderão aperfeiçoar a obra do Criador, que é perfeito em sua definição? Uma missão gigantesca para uma criatura tão aparentemente pequena se comparada com toda criação.
Olhemos então para o tripé do judaísmo:

 Tzedaká (Justiça Social)

 Chessed (Compaixão)

 Shalom (Paz)

De posse destas ferramentas, o ser humano estará apto a aperfeiçoar o nosso mundo.

Cada gesto humanitário tem o poder de atingir o universo em sua totalidade.

E de acordo com a Mishná (transcrição da tradição oral judaica), cada pessoa é um mundo inteiro. E no Talmud lemos que quem salva uma vida, salva o mundo. 


Rabino Isaac Luria, o Ari.


E nós? Fazemos parte da injustiça social, dos sofrimentos do mundo?

Como podemos consertar os erros?




É difícil irmos longe para corrigir o que está mal feito ou incompleto.
Assim pratiquemos esta oração Tikkun Olam junto à nossa família, em nosso ambiente de trabalho, em nossas relações sociais, com nossos vizinhos e empregados, em nossos julgamentos, em nossa alimentação e no cuidado com nosso corpo e alma.

Com tolerância, atos religiosos, paz e muito amor estaremos colaborando nesta divina tarefa de melhorar o mundo.






“Tikkun Olam é uma convocação a ação, uma provocação constante para tirar o ser humano da espera inerte por uma solução divina. Quer um mundo melhor? Uma família melhor? Uma Irmandade melhor? Um trabalho melhor?

Não reclame e não espere, faça! A energia positiva de cada pessoa poderá inspirar outras de modo que uma corrente de boas ações torne a nossa vida e de nossos semelhantes cada vez melhor.

O Tikkun Olam deve ser um movimento constante, incessante, sempre renovado e retroalimentando. Mãos à obra, não há tempo a perder.”





Há poucos anos, em São Paulo, três líderes religiosos seguidores do monoteísmo do Patriarca Abraão reuniram-se no intuito de se conhecerem, de se relacionar mais de perto e provar que as crenças religiosas não afastam as pessoas. Como afirmou  o cônego Bizon, de praticar juntos o “tikkun olam”, “a expressão judaica que significa trabalhar para melhorar o mundo e torná-lo mais harmonioso. Esta é a lição mais importante do nosso trabalho”.





“O riso corre solto entre o cônego José Bizon, o judeu Raul Meyer, o muçulmano Atilla Kus e Ruth Junginger de Andrade, membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida como Igreja Mórmon. É hora da foto que ilustra esta reportagem da Revista Isto É.
Eles estavam na sala de estar da Casa da Reconciliação, em São Paulo, um lugar pertencente à Igreja Católica aberto ao diálogo inter-religioso. Quem os vê juntos, brincando uns com os outros, descobre o que é na prática o significado do respeito à crença alheia e, principalmente, que é possível conviver com o diferente.”

E assim surgiu a Família Abraâmica, em que famílias cristãs, muçulmanas e judias encontram-se uma vez por mês convivendo com suas diferenças, culturas e crenças.

Os encontros são felizes e ao longo dos anos amizades foram sendo construídas, lições de vida foram trocadas e muita informação foi repassada. A culinária tem um papel importante: pratos típicos de cada grupo são preparados e receitas são degustadas num ritmo alegre e descontraído em que as horas correm livres e a conversa rola espontaneamente, seja em almoços ou cafés da tarde.


Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg especialmente para os nossos canais.



FONTES:

https://www.google.com/search?newwindow=1&rlz=1C1GCEA_enBR754BR754&ei=1nKfXPLTF8-d5OUPzYSr0AY&q=University+Brandeis+Massachussets+history&oq=U