Mar calmo, viagem Próspera
As histórias lendárias fazem parte da cultura oral humana: não há um único povo, uma única pessoa, que nunca tenha se lambuzado naquele melaço dos contos simbólicos... e, ainda mais! Como quem conta um conto aumenta um ponto, essas alegorias são sempre produtos coletivos: as pessoas, juntas, acabam dando passos que levam à trilha.
E será que esse caminho leva a algum lugar? Sempre! Mas depende de quem anda lá... o jeitinho como anda... as flores ou demônios que encontra... ou seja, essas histórias e esses cursos são feitos pelo caminhar humano! E cada passo, dentro de uma mesma estrada, pode levar a diferentes lugares...
Oásis ou deserto... Delícia ou dor... Nunca saberemos a não ser que iniciemos, com coragem, a dar os primeiros passos! É plantar essas palavras pensando em Guimarães Rosa que ensinava que a vida exige da gente coragem.
CORAGEM!
Caos ou Cosmos? Acaso ou Destino? Desordem ou Ordem? No fim, somos só nós os responsáveis... esse pecado original, tão coletivo como individual, que traz cores e sentido à construção humana.
Podemos escolher o Paraíso, mas insistimos em caminhar até a quentura e o enxofre... o Inferno não são os outros. Não! Somos nós!
Posso te fazer um convite?
Escute a música “Forever Green” do Tom Jobim... nela, é imaginado um diálogo entre o Criador e a Humanidade, em que nos é questionado sobre o que fizemos com o Paraíso que Ele nos deu...
E nós, envergonhados, ficaríamos pelados, sem as roupas que escondem nossos verdadeiros desejos.
Pelados! Nus, com as mãos no bolso!
Nossa espinha gela quando a gente enxerga o mundo virando um deserto...
Se Ele perguntar como transformamos nossa abundância azul num oco deserto, o que vamos dizer? Será que vamos jogar o piche culposo nos outros? Será que vamos assumir as consequências? Será que vamos ter coragem para mudar o rumo da prosa?
Rola uma história por aí que quando Chaim Weizmann encontrou Oswaldo Aranha na ONU, ele teria afirmado: “Oswaldo, sua terra é abençoada e sem problemas. Lá nunca vai faltar água!”...
“Where is the Paradise I made for you? Where is the green? Where is the blue?” deveria ter ecoado a bossa como uma resposta macabra...
O legal é que o povo humano, que está transformando a opulência verde num descampado incandescente e sem água, também consegue construir Beleza da Feiura... No fim, a escolha é nossa...
Quando Felix Mendelssohn compôs “Mar calmo, viagem Próspera” ele tentou, em uma mensagem artística e sublime, responder a seu pai Abraham...
É que o cuidadoso pai, já persistindo no caminho familiar, e com medo do grave antissemitismo comum a todo Velho Mundo, renunciou ao Judaísmo, e educou Felix na educação Luterana da época.
O sonho de Abraham era de que seu filho tivesse uma vida tranquila e calma, sem sobressaltos, e sem sentir o sabor podre da exclusão, da injustiça e do preconceito...
Ele detestaria ver o pequeno e adorável Felix, o prodígio musical, sofrer acusações por crimes jamais cometidos...
No fim, o antissemitismo, além de todas as formas de preconceito, é isso, né? É a expressão da covardia em assumir os próprios desígnios... É jogar uma ilusória culpa nos outros...
Mas, voltando, a música do pequeno Mendelssohn mostrava que mares calmos e tranquilos nunca trazem prosperidade para a viagem. Aliás, é fantástico poder perceber isso com a sensibilidade musical...
Vou tomar a liberdade para fazer uma nova proposta... Vamos ouvir, com a sensibilidade da emoção e da alma, “Mar calmo, viagem Próspera”, do Mendelssohn?
Vamos, juntos, perceber os pedaços da música que soam como mar calmo... Esses, apesar de lindíssimos e etéreos, trazem uma monotonia quase insuportável. Já o trecho que retrata uma viagem próspera é intenso e cheio de contrastes...
É a Pérola que nasce do Caos! É a tâmara cultivada no deserto!
São as NOSSAS escolhas!
ANDRÉ NAVES
Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social e Economia Política.
Defensor Público Federal. Escritor e Professor.
Colunista do “Esh Tá na Mídia”, além de diversos outros órgãos de comunicação.
Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência Intelectual, além de diversas instituições voltadas à Inclusão Social.
Membro do LeCulam, da FISESP (Grupo de Inclusão das Pessoas com Deficiência da Federação Israelita de São Paulo).
Embaixador do Instituto FEFIG, para a promoção da Educação.
Membro do LIDE – Inclusão.
Comendador Cultural.
Autor do livro “Caminho – A Beleza é Enxergar”.
www.andrenaves.com
Instagram: @andrenaves.def
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