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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

VOCÊ SABIA? - Do Deserto para a Lua: agricultura extraplanetária?


Israel, depois de tornar o deserto humano e habitável, parte em direção à Lua tentando alimentar nosso planeta.

 Por Itanira Heineberg


Uma representação artística de como as plantas podem parecer crescendo no espaço. (NiseriN via iStock by Getty Images)


Você sabia que Israel, a nação que fez o deserto florescer, agora pretende cultivar plantas na Lua, preparando um porto seguro para quando já não pudermos mais contar com a Terra e afastando do mundo o fantasma da fome?

Sim, uma miniestufa de sementes e plantas é um passo para estabelecer bases lunares autossustentáveis - um projeto audaz do instituto que se especializou em transformar o deserto de Negev e outras áreas áridas em terrenos férteis e úteis.

O Instituto Jacob Blaustein de Pesquisa do Deserto opera pesquisando como cultivar plantas alimentícias nas áreas mais inóspitas da terra — e no momento se dispõe a uma jornada espacial testando suas descobertas na Lua.

Esta será mais uma tentativa de cientistas que, de experimento em experimento, procuram outras searas para esparramar suas sementes com o objetivo de obter alimentos para a população crescente de nosso planeta.

Em 2016, durante o projeto da Nasa na Estação Espacial Internacional, cresceu a primeira flor extraterrestre, a zínia.


Zínias estão florescendo na estação (Foto: NASA/Scott Kelly)


Em 2019 a nave chinesa Chang’e4 pousou na face oculta da Lua e obteve sua primeira experiência com sucesso em solo lunar. Entre as sementes levadas, havia de algodão, de colza (planta para fabrico de óleos), de batatas e de arabidopsis (flor usada em experiências genéticas). A única que germinou até agora foi a do algodão.


Uma semente de algodão brota na lua, dentro da sonda chinesa Chang'e 4.


Os pesquisadores da Universidade Ben Gurion em conjunto com universidades na Austrália e África do Sul preparam uma pequena estufa de dois quilos com uma variedade de sementes e plantas que irão para a lua em 2025. A estufa irá a bordo da nave Beresheet 2, em mais uma tentativa de  alunissagem não tripulada pela organização israelense sem fins lucrativos SpaceIL.

 

“A primeira nave espacial Beresheet caiu na superfície da Lua em abril de 2019 durante sua tentativa de pousar no satélite da Terra, frustrando as esperanças de centenas de engenheiros que trabalharam no projeto por anos.

A mini-estufa que está sendo preparada para a Beresheet 2 será selada, mantendo a atmosfera da Terra, mas estará sujeita à microgravidade da Lua, que não existe na Estação Espacial Internacional.

Bases na Lua ou colônias em Marte podem se tornar realidade, e estamos explorando se conseguimos cultivar plantas lá", disse o Prof. Simon Barak, do Instituto Blaustein, ao The Times of Israel, acrescentando que a abordagem de câmaras seladas despachadas da Terra seria uma solução provável.

As plantas seriam importantes para a alimentação, para o oxigênio, para a medicação, para remover o CO² do ar, e também para o bem-estar geral, como se sabe que ter plantas ao nosso redor promove o bem-estar."



Cientistas da Universidade Ben Gurion (da esquerda para a direita): Dr. Tarin Paz-Kagan, Prof. Aaron Fait e Prof. Simon Barak em seu laboratório (cortesia da Universidade Ben Gurion)

Professor Barak prepara uma câmara junto com os colegas Prof. Aaron Fait e Dr. Tarin Paz-Kagan e colaboradores internacionais, cuja função será automaticamente regar, aquecer e fotografar as sementes e plantas, e conter gases atmosféricos suficientes durante a duração do experimento.

 

“A câmara entrará automaticamente em ação quando a Beresheet 2 pousar, mas só terá vida útil da bateria por 72 horas, por isso incluirá espécies de rápido crescimento da família conhecidas como plantas de ressurreição, e encerrará os experimentos rapidamente. Outro desafio é sua robustez. ‘Ela precisará sobreviver a uma viagem de quatro meses e meio até a Lua, com extremos de temperatura’, disse Barak.”


O último tiro que Beresheet 1 enviou antes de cair na superfície da Lua, em 11 de abril de 2019. (Captura de tela do YouTube)


Professor Barak orgulha-se deste projeto envolvendo ciência cidadã, com especialistas fora e dentro de Israel, assim como alunos do ensino médio, estimulados a cultivar as mesmas sementes e plantas que as despachadas para a Lua. O florescimento de suas sementes constituirá uma experiência de controle para comparação com o florescimento das plantas da Lua.

Ao ser indagado sobre seu trabalho, Prof. Barak nos esclarece:

“As pessoas me perguntam por que gastamos dinheiro no espaço se temos problemas que precisam ser resolvidos aqui na Terra.

Eu respondo que a Terra é finita, seus recursos são finitos, e se nos preocuparmos com o futuro, podemos precisar dos meios para deixar o planeta e alcançar as estrelas."

 

FONTES:

https://www.timesofisrael.com/israel-nation-that-made-desert-bloom-now-aims-to-grow-plants-on-the-moon/?utm_source=The+Daily+Edition&utm_campaign=daily-edition-2022-10-20&utm_medium=email

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/15/ciencia/1547542171_994570.html

https://brasil.elpais.com/noticias/iss-estacion-espacial-internacional/

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/primeira-flor-crescer-no-espaco-e-comestivel.html


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Editorial – A arca de Noah X Torre de Babel

 

Por Simon Benabou

 



Com a eleição presidencial que chega nos próximos dias, tanto Bolsonaristas quanto Lulistas estão diariamente bombardeando o país com anúncios na televisão, mídia social e mídia impressa. Surpreendentemente, finalmente é possível perceber um ponto em que ambos os lados concordam: cada um acredita que o mundo chegará ao fim se o outro partido ganhar a presidência.

 

Comparações à parte, na parashá desta semana descobrimos que, na verdade, a Terra já foi REALMENTE ameaçada de destruição no passado da história humana. A porção da Torá começa com a decepção de Deus com o estado do mundo, a humanidade havia se tornado completamente corrupta e o mundo estava cheio de crimes. Deus informa a Noah que Ele está planejando trazer um dilúvio que destruirá todas as criaturas vivas na terra. Em resposta, a geração da época não faz teshuvá, não retorna de seus maus caminhos, e Deus traz um dilúvio por 40 dias que aniquila toda a vida fora da arca construída por Noah.

 

Os espécimes preservados por Noah novamente voltam a povoar o mundo após 365 dias à deriva, e prosperam. No final, há o relato da história de Migdal Bavel – a Torre de Babel, que acontece algumas centenas de anos depois. Em suma, as diferentes nações do mundo que se estabeleceram após o dilúvio se uniram com uma única linguagem e propósito: construir uma torre para entrar nos céus para lançar um ataque ao Todo-Poderoso.

 

A Torá relata que o Todo-Poderoso, depois de descer para examinar a situação, decidiu “confundir suas línguas e espalhá-las pela face da terra” (Gênesis 11:9). De acordo com nossos sábios, é desse evento que surgiram as diferentes nações do mundo, cada uma com uma língua e cultura distintas.

 

Analisando as punições dadas às gerações de Noah e da Torre de Babel, parece haver desproporção entre a severidade da punição e os pecados cometidos. A primeira geração foi exterminada, mas a segunda não. Teve apenas sua dispersão decretada, mesmo tendo cometido um pecado aparentemente muito mais hediondo – escolher travar uma guerra contra o Todo-Poderoso. Por que a disparidade?

 

As pessoas da geração do dilúvio eram hostis umas às outras, enquanto durante o período da Torre de Babel foi um tempo de unidade e fraternidade (embora eles estivessem unidos por uma guerra contra Deus).

 

Rashi, um dos maiores comentaristas bíblicos do milênio passado, explica que O Todo-Poderoso não tolera um mundo corrupto que tem aberta hostilidade e crime entre seus habitantes, portanto, a geração do dilúvio mereceu total aniquilação. O povo da Torre de Babel podia estar travando uma guerra contra Deus, mas todos estavam unidos em fraternidade, então Ele não os destruiu. Rashi conclui; “pode-se aprender a partir daqui que o conflito é odioso e a paz é primordial.”

 

A Torá, que é a base da identidade Judaica, nos mostra que a busca diária por Shalom entre os indivíduos é mais importante que a própria relação com o Criador.

 

Apesar de ainda vivermos em tempos de guerra, agressões gratuitas e ódio infundado entre as nações do mundo nos dias de hoje, vemos exemplos de busca contínua de Shalom pelo Estado de Israel.

 

Há 2 semanas, Israel e Líbano concordaram com uma nova demarcação nas fronteiras marinhas entre os dois países. As negociações estavam travadas por conta do grupo armado Hezbollah, do Líbano, que considera os israelenses seus inimigos. Esse grupo deu sinal verde para o acordo que deve ser mediado pelos EUA. Esta é uma conquista histórica que fortalecerá a segurança dos dois povos, injetará bilhões na economia de Israel e garantirá a estabilidade das fronteiras ao norte de Israel.

 

O acordo deve criar novas fontes de energia e renda para ambos os países, dando ao Líbano maior margem de manobra no futuro para resolver suas crises energéticas e financeiras. A acerto deve ainda fornecer à Europa uma nova fonte potencial de gás em meio à escassez de energia causada pela Rússia com a invasão da Ucrânia.

 

Que possamos lembrar que a paz não é um presente de Deus para Suas criaturas e sim, que a paz deve ser ativamente buscada no nosso dia-a-dia, sendo o nosso presente uns para os outros!

 

Shabbat Shalom!

 

Simon Benabou

 

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

VIDA JUDAICA - Dias, Semanas, Meses, Anos, Séculos, Milênios




Rosh Hashaná, Iamim Noraim, Iom Kipur, Sucot, Shmini Atzeret, Simchat Torá - Ano Novo, Dias de Reflexão, Dia do Julgamento, Festa do Tabernáculo, Oitavo Dia, "Alegria da Torá".

Uma sequência ⏳ de 25 dias especiais no calendário judaico. Em Israel este é o período de festas e redução da atividade. Uma parada para refletir, pedir desculpas e receber o perdão de outros seres humanos, rezar ou esperar que o ano vindouro seja pleno de vida. Voltar aos dias de alegria, fazendo refeições alegres com muitos convidados em uma cabana, fazendo muitos passeios e se preparando para começar a estudar novamente, isto é, terminar e reiniciar a leitura da Torá (rolo que contém os cinco livros de Moisés). O dia de Simchat Torá está ligado à despedida de Moisés, que não entrou na Terra de Israel. Para a vida ter continuidade, o fim de um período precisa ser conectado com o início de outro.

Muitos rituais vêm descritos na Torá, muitos foram adicionados ao longo dos milênios e refletem os muitos lugares onde viveram e vivem judeus. 

Há uma outra sequência importante de festas que inclui Pessach e Shavuot, quando comemora-se a saída do Egito e o recebimento da Torá aos pés do Monte Sinai. Esta sequência de festas lembra o início do Povo Judeu. Lembra a importância da organização da sociedade, dirigentes, profissionais de construção, da saúde, professore(a)s, o relacionamento com outros povos. É um conhecer das Leis, Rituais e Obrigações.

A cada ano estas duas ações são lembradas em momentos específicos para que possamos entender que viver com alegria e dignidade implica não apenas no cumprimento das leis, mas também no cuidar da família, do próximo e dos diferentes. Neste contexto, a mishná dá muitos exemplos não apenas do cuidar do pobre, do que não sabe perguntar, mas também do cuidar do sábio, do rico e do empreendedor. Cuidar do próximo de forma ampla e diária é como a sociedade judaica ao longo dos milênios se organiza em cada comunidade. Nos locais mais ligados com a nossa cultura e nos mais distantes. 

Como esta organização pode singrar o tempo e ultrapassar milênios, chegamos então no dia a dia, no semana a semana. E aí temos uma das principais contribuições do judaísmo: o dia de descanso semanal, que deve ser seguido por todos. Para nós judeus, o SHABAT.

E neste contexto, a nossa Chavurá - Esh Tamid - celebra semanalmente a chegada do Shabat, nas sextas-feiras à noite. 

Um encontro semanal que permite um respiro nas nossas vidas corridas, e uma forma de estar junto, quando o dia a dia é mais solitário, ou de acolher e sorrir. Um espaço em que cada um pode se encontrar e encontrar o outro.

É nesta prática rotineira que encontramos a razão de termos uma corrente que une gerações. Uma corrente capaz de se fortalecer mesmo quando muitos querem rompê-la. 


Uma boa semana!

Regina P. Markus

terça-feira, 18 de outubro de 2022

VOCÊ SABIA? - COLOMBO

 

12 de outubro de 1492: Descoberta da América por Cristoforo Colombo - em latim, Christophorus Columbus e em espanhol, Cristóbal Colón.

Por Itanira Heineberg


Estátua em Barcelona “Monumento a Colombo”

A grande paixão de Colombo: libertar Jerusalém dos muçulmanos




A missão secreta de Colombo era uma busca desesperada por terras novas para os judeus.



Você sabia que Colombo era um marrano que secretamente escondeu sua identidade judaica para ficar vivo, sair em busca da liberdade e assim liberar Jerusalém dos muçulmanos?

Aprendemos na escola que o famoso navegador era um explorador genovês que ofereceu seus serviços aos monarcas reais com o objetivo de enriquecê-los com o ouro e especiarias do oriente.

Porém, de acordo com o excelente texto de Davis Benzecry*, a história não é bem assim.

 

Durante a vida de Colombo, os judeus tornaram-se alvo de perseguições religiosas fanáticas. Em 31 de março de 1492 o rei Fernando e a rainha Isabel proclamaram que todos os judeus deveriam ser expulsos da Espanha. O edito visava os 800.000 judeus que não haviam se convertido, e deu-lhes quatro meses para fazerem as malas e saírem.

Os judeus que foram forçados a renunciar ao judaísmo e abraçarem o catolicismo eram conhecidos como "conversos", ou convertidos. Havia também aqueles que fingiram se converter, praticando o catolicismo na aparência, porém secretamente praticavam o judaísmo, os chamados "marranos", ou suínos (porcos).

Colombo era um marrano, cuja sobrevivência dependia de esconder todas as evidências da sua origem judaica diante da brutal e sistemática limpeza étnica.

O navegador que era conhecido na Espanha como Cristóbal Colón e não falava o italiano, assinou o seu testamento no dia 19 de maio de 1506, e fez cinco curiosas - e reveladoras – disposições:

Dois dos seus desejos - o dízimo, um décimo da sua renda para os pobres, e pagar um dote anônimo para as noivas pobres - fazem parte dos costumes judaicos.

Ele também determinou que fundos fossem dados a um judeu que vivia junto ao portão de entrada do Bairro Judaico de Lisboa.

Neste documento, Colombo usou uma assinatura triangular de pontos e letras que se pareciam com inscrições encontradas em túmulos nos cemitérios judeus na Espanha. Ele ordenou a seus herdeiros para usarem a assinatura, em perpetuidade.

Finalmente, Colombo deixou dinheiro para o apoio às cruzadas que esperava que seus sucessores empreendessem para libertar a Terra Santa.”

 

Pedro Laranjeira, jornalista e escritor, também tem razões para desconfiar de nossos livros escolares; segundo ele, a história continua coxa e precisa ser contada com detalhes e verdade.

Após o exame de DNA ficou comprovado que Colombo era português, apesar das muitas ideias e teorias vigentes nos livros e documentos (genovês, espanhol, italiano...). Há mais de oito nomes para este personagem, um deles sendo Zarco, o grande conhecedor das navegações e frequentador da renomada Escola de Sagres.

Surpreendente foi descobrir que Cuba é uma cidadezinha portuguesa, a vila alentejana onde Colombo nasceu. Aí explica-se o nome por ele dado a uma ilha tão bonita, que lembrava sua cidade natal, Cuba. 



“Para quem escondia as suas origens sem as negar, ainda um outro monograma, que Colon colocou no início das últimas doze cartas ao filho Diogo (na imagem, por cima de 'muy caro filo') - trata-se de um monograma judaico, formado pelas letras hei e beth. Lido da direita para a esquerda, 'beth hei' corresponde à saudação judaica 'Baruch haschem': 'Louvado seja o Senhor' e pode também ser lido como uma bênção 'Deus te abençoe'.

Estelle Irizarry, professora de linguística da Universidade de Georgetown, analisou a linguagem e a sintaxe de centenas de cartas manuscritas, diários e documentos de Colombo e concluiu que a linguagem primária escrita e falada do explorador era o espanhol castelhano. Irizarry explica que no século 15 o espanhol castelhano era o 'iídiche' dos judeus espanhóis, conhecido como 'ladino'. No canto superior esquerdo de 12 das 13 cartas escritas por Colombo para o seu filho legítimo Diego, aparecem as letras manuscritas em hebraico beth-hei.  Há séculos judeus observantes habitualmente adicionavam esta bênção nas suas cartas. Nenhuma carta para outras pessoas tinha estas letras, e na carta para Diego em que foram omitidas eram para serem entregues ao rei Fernando.

No livro de Simon Weisenthal do 'Sails of Hope', ele argumenta que a viagem de Colombo foi motivada por um desejo de encontrar um refúgio seguro para os judeus por causa da expulsão deles da Espanha. Da mesma forma, Carol Delaney, antropólogo cultural na Universidade de Stanford, concluiu que Colombo era um homem profundamente religioso cujo objetivo era navegar para a Ásia para obter ouro, a fim de financiar uma cruzada para retomar Jerusalém e reconstruir o Templo Santo para os Judeus.

Estudiosos apontam para a data em que Colombo partiu como mais uma evidência dos seus verdadeiros motivos. Ele inicialmente estava programado para partir no dia 2 de agosto de 1492, que coincidia com o feriado judaico de TishB'Av, que marca a destruição dos Primeiro e Segundo Templos Sagrados de Jerusalém. Colombo adiou esta data por um dia, para evitar embarcar no feriado, o que teria sido considerado pelos judeus como um dia de azar para zarpar. (Coincidentemente ou significativamente, foi a mesma data que foi estabelecida para que os judeus, por lei, se convertessem, saíssem da Espanha ou serem mortos).

A viagem de Colombo não era como comumente se acredita, financiada pela rainha Isabella, mas sim por dois conversos judeus e um proeminente judeu. Louis de Santangel e Gabriel Sanchez adiantaram um empréstimo sem juros de 17.000 ducados dos seus próprios bolsos para ajudarem pagar a viagem, assim como Don Isaac Abravanel, rabino e estadista judeu.

Na verdade, as duas primeiras cartas que Colombo enviou na sua viagem não eram para Fernando e Isabella, mas para Santangel e Sanchez, agradecendo-lhes pelo seu apoio e dizer-lhes o que ele havia descoberto.

Enquanto testemunhamos o derramamento de sangue em todo o mundo em nome da liberdade religiosa, é importante se ter outro olhar para o homem que navegou os mares em busca de tais liberdades –desembarcando em um lugar que iria se realizar esse ideal, nos seus fundamentos mais importantes.”

Por Davis Benzecry*

 

O texto revelador de Benzecry nos leva a mais perguntas, mais dúvidas, mais leituras.

E aí fica a questão: quando a História será contada sem falhas, mistérios, lacunas?

 

 

*Reproduzimos aqui trechos atribuídos a Davis Benzecry recebidos de amigos por canais de comunicação digital.

 

FONTES:

 

https://www.bbc.com/portuguese/geral-50028627

https://www.cm-cuba.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=89&Itemid=884

https://www.cm-cuba.pt/ficheiros/CristovaoColon/Desdobrav_Colon.pdf

https://pt.wikipedia.org/wiki/Teorias_sobre_a_origem_de_Crist%C3%B3v%C3%A3o_Colombo

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50464995

 https://laranjeira.com/artigos/colon/index.html#.Y0syC3bMJ1s


quinta-feira, 13 de outubro de 2022

EDITORIAL – OS VISITANTES – האושפיזין – SUCOT

 

Por Regina P. Markus

 


Estou de volta a São Paulo, após 40 dias em Israel. Muito a partilhar. Um país incrível, diverso, que vibra a cada dia. Apesar de estar em contato diário com pessoas que lá moram, as ruas e as pessoas nos ensinam muito. Os olhares dos que sentavam ao meu lado no trem, ou pessoas com quem conversava na rua. Há uma diversidade humana incrível. Judeus provenientes dos quatro cantos da Terra. Árabes, cristãos e ateus em nichos especiais ou convivendo abertamente. O trânsito caótico e a forma como aguardam nos supermercados. Há de tudo um pouco. Em relação aos árabes, tive duas experiências muito especiais. Uma profissional, com cientistas que vivem a leste e que trabalham e estudam em Israel. Há uma facilidade e aceitação profissional de ambos os lados. O padrão de contribuição é o mais importante e assim fiquei com a sensação que apesar dos artigos de jornais, mostrando problemas mil, no dia a dia, no olho no olho, temos a impressão que o convívio não só é possível como é facilitado por ser esta uma região com tanta diversidade.

 

Aqui, os meus amigos que acompanharam estes textos semanais nos últimos três anos, devem estar pensando: “isto ocorre em um ambiente profissional que é regido por um objetivo comum”. Era exatamente isto que eu pensava, até ir passar um dia na cidade de Akko (Acre) ao norte de Haifa. Sim, a cidade dos cruzados cuja fundação se perde nos milênios. Tem um enorme shuk, chamado Mercado Turco. Logo na entrada encontramos uma simpática banca de doces e seguimos por horas e 2 km de caminhada, segundo o relógio de pulso, conversando com muitos. Sentia-me em casa e muito bem vinda. No final, sentada em um restaurante à beira-mar, ficou evidente o quanto aquela população evoluiu após os últimos confrontos entre terroristas e o Exército de Defesa de Israel. O quanto muitos que eram filhos dos que ali moravam na primeira metade do século XX eram israelenses. E percebi algo nas ruas que me encheu de esperança. Volto a este assunto no futuro, inclusive com fotos.

 

Hoje, quero que reparem na foto e no título deste texto. VISITANTES – USHPIZINs – este é um termo que vem do Zohar, o livro fundamental do cabalismo. Durante a festa de SUCOT, a cada dia chega à mesa um visitante especial. Da esquerda para a direita – Avraham, Isaac, Jacob, José, Moisés, Aaron e David. Cada um representa uma etapa na formação do Povo Judeu.

 

Avraham - O jovem inicia sua vida buscando novos horizontes,

Isaac – O ser humano tem o livre arbítrio e a decisões que toma serão importantes para sua descendência,

Jacob – 12 filhos homens constituindo a base tribal de Israel e 1 filha mulher que inspira a a herança matriarcal, 

José – Sonhar é preciso, o futuro não é baseado apenas no acaso, mas também nos nossos grandes sonhos,

Moisés – Leis são o óbvio – e tempo para adaptações, 40 anos vivendo no deserto em cabanas (sucot) é uma das grandes lições,

Aaron – Liderança espiritual,

David – Liderança civil. E desde o começo claramente são separadas as funções dos sacerdotes e dos reis.

 

De forma mística e onírica, a festa de Sucot nos lembra que a vida é formada por muitos ingredientes e que todos são importantes. Somando com o que vi e senti nesta viagem, vamos usar este começo de ano e todos os nossos visitantes para continuar com esperança e com amor.

 

No tempo judaico seguimos para Simchat Torá – o início da leitura da Torá.

 

Chag Sameach e um excelente recomeço!

 

Regina P. Markus


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

VOCÊ SABIA? - Titanic

 

TITANIC - uma tragédia em sua primeira e única viagem em 14 de abril de 1912:

1512 passageiros e tripulantes pereceram

713 sobreviveram

Museus contam sua história e seu papel na imigração judaica da Europa Oriental.

Por Itanira Heineberg



Você sabia que, entre os passageiros do Titanic que pereceram, havia 69 judeus - e entre eles o famoso Benjamin Guggenheim, magnata americano da mineração?

 

De acordo com relatos, Guggenheim recusou um cinto salva-vidas em favor das mulheres, mulheres e crianças que deviam ser prioridade.

 


Sua filha Peggy tornou-se uma das colecionadoras de arte mais famosas do mundo e sua família mais tarde fundaria uma série de museus de arte mundialmente famosos.



Os Museus Titanic em Pigeon Forge, Tennessee, e em Branson, Missouri, “a Titanic Jewish Experience”, ou “uma Experiência Judaica”, oferecem um tributo aos estimados 67 passageiros judeus do navio e aos dois tripulantes judeus.

Na entrada do Museu Titanic em Pigeon Forge um cartaz anuncia:


"Você sabia que o Titanic tinha uma cozinha kosher e um chef kosher a bordo?"


Em 2012, Marshall Weiss relembrou o acidente centenário do transatlântico e descobriu as conexões judaicas com o Titanic.


“Eu fiz. Eu trouxe isso à atenção do mundo em abril de 2012, o centenário do naufrágio do transatlântico. As pistas estavam escondidas à vista de todos. Eu conectei os pontos, escrevi, e distribuí uma série de artigos sobre conexões judaicas com o Titanic. Serviço de comida Kosher na terceira classe no Titanic lançou luz sobre a imigração judaica da Europa Oriental naquele período.”


Em 2014 o israelense Eli Moskowitz, após uma longa e exaustiva pesquisa, contactou Weiss pedindo permissão para revelar seu trabalho sobre o Titanic em sua obra e após resposta afirmativa de Weiss, Eli concluiu seu livro “Os Judeus do Titanic”, um tratado definitivo, completo e único sobre este tema.



Um prato kosher usado para carne, e garfos e facas usados para laticínios na White Star Line datando de 1919-20 estão em exibição no Museu Titanic em Pigeon Forge. Utensílios de cozinha Kosher do Titanic, que afundou em 1912, não foram encontrados até hoje. (Marshall Weiss/ Dayton Jewish Observer)


“No meio da grande onda de imigração judaica do leste europeu para a América, as principais linhas de passageiros que cruzam o Atlântico instituíram o serviço de comida kosher para seus passageiros judeus em cabines de terceira classe. E alguns judeus do Leste Europeu tinham fugido para a Inglaterra primeiro porque não podiam pagar a passagem completa do oceano; alguns tentaram fazer vidas para si mesmos lá. A maioria era obrigada por lei a continuar se movendo.”


No Titanic a maioria dos judeus estava na terceira classe, eles eram imigrantes em busca de um futuro melhor, e como consequência da localização de suas cabines, tiveram pouca chance de sobreviver.

Os museus apresentam 400 artefatos do navio, incluindo um Violino da Esperança.

Estes objetos trafegam de um museu para o outro sempre homenageando algum grupo que viajava no navio.

Uma estrela de David é colocada ao lado de cada objeto judaico exposto.

Os museus funcionam também como recurso educacional para os distritos escolares das regiões. São também mais uma maneira dos visitantes aprenderem sobre os judeus.

 

Detalhe do relógio de bolso da vítima do Titanic Sinai Kantor (Marshall Weiss)

Kantor, 34 anos, e sua esposa Miriam viajavam de Vitebsk, na Rússia, para a América.

Seu relógio foi entregue a Miriam.

 

Muito há ainda a relatar sobre o assunto... e talvez muito ainda venha a ser descoberto.

Fica a pergunta: Quem afirmou “Nem Deus pode afundar o Titanic”?

Vejamos abaixo, no vídeo de mais de 6 minutos, algo sobre esta frase:

 



FONTES:

 

https://www.timesofisrael.com/titanic-jewish-experience-offers-a-moving-tribute-to-the-liners-jewish-history/?fbclid=IwAR2y8sAUBMBVWkTV8HQ5nmg2dGpwvxao-6bevJd0LP2imKK4FZubN_iGtwU

https://www.timesofisrael.com/titanic-jewish-experience-offers-a-moving-tribute-to-the-liners-jewish-history/?fbclid=IwAR2y8sAUBMBVWkTV8HQ5nmg2dGpwvxao-6bevJd0LP2imKK4FZubN_iGtwU

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61102031

https://www.anumuseum.org.il/blog-items/titanic-jewish-story/

https://www.anumuseum.org.il/blog/

 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Editorial - Um momento, duas visões

 

Esta semana publicamos 2 mensagens complementares, que ofereceram aos que acompanharam o serviço com a Esh Tamid uma complexa visão do judaísmo: o ser, o sentir individual e o viver e representar, como membro do povo.

O primeiro texto é de Raul Meyer; o segundo, de Nelson Rozenchan.

GMAR CHATIMÁ TOVÁ
Comitê Editorial.




NELSON ROZENCHAN


CORRIGIR E DECIDIR

Hoje completamos efetivamente nossa despedida de 5782. É, eu sei, a leitura da Torá ainda não acabou. Isso só ocorrerá daqui a duas semanas. Assim, estamos vendo como Moisés se despede de seu povo após a caminhada de 40 anos.

Nenhuma despedida é fácil. Moisés não estava feliz por não poder entrar em Israel. Escolheu seu sucessor, Josué, e desejou sorte e sucesso. Hazak veematz - seja forte e corajoso. Como se despedir: APOSENTADORIA ou MORTE? Quem se aposenta morre mais cedo, quem vai até o fim pode também deixar tudo para os outros resolverem.

Moisés ainda tem vigor físico, mas não recebe mais orientações de Deus para passar ao povo. Agora Deus fala com Josué. E Moisés pergunta: Josué, o que Deus te disse? E Josué responde: 40 anos estive ao teu lado. Alguma vez te perguntei o que Deus disse?

Moisés teve inveja. Diz o ditado: a inveja mata. E Moisés entendeu então que era hora de se afastar. 
 
Eu estou ciente de que muitas das escolhas que fazemos não têm a ver com os fatos, mas com as atitudes que trazemos para eles. A forma como interpretamos algo muda completamente nossa experiência, o que também muda nossas reações a ela.

Estive em uma festa e ouvi uma amiga falando sobre o quanto ela odiava que seus filhos estivessem no acampamento, colônia de férias, campo de estudos, porque sentia muita falta deles – era apenas um desabafo. Eu então disse algo tolo, chamando a sua declaração de egoísta. Ela não via que o valor da experiência do acampamento, das crianças longe dos pais, de crescimento para vida, a independência era mais importante do que a sua própria necessidade de estar com eles?

Ela disse - sim. Ela só sentia terrivelmente a falta deles. O egoísta teria sido não mandá-los para o acampamento.
Eu estava errado e pedi desculpas – bem na hora.

Sim, naquela noite eu mandei uma mensagem para ela, admitindo que o que eu disse era - pelo menos em parte - sobre minha própria culpa por não sentir o mesmo, por estar um pouco aliviado em ter meus filhos dormindo fora de casa por duas semanas.

Esta é a época das desculpas, da confissão. Durante os dez dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur - os dias do Temor – devemos nos acertar com as pessoas com as quais convivemos, nos preparar para este intenso dia de jejum e oração em que nos harmonizamos com Deus ou, pelo menos, com nós mesmos.

Pedimos desculpas, perdoamos, depois jejuamos e rezamos e iniciamos outro ciclo no qual, inevitavelmente, ficaremos aquém do desejável.
Lembrem-se: há quatro coisas que não podemos recuperar: a pedra atirada, a palavra falada, a ocasião perdida e o tempo passado.

Minha tradição no Yom Kipur é delinear maneiras específicas pelas quais errei o alvo e vou usar o formato do vidui, a confissão de nossa liturgia tradicional. Peço, então, a vocês, que compartilhem do que estão se arrependendo. Aqui está uma seleção:

PELO PECADO QUE COMETI...
- reagindo em vez de responder
- falando muito sobre o que não é, em vez de me regozijar com mais frequência sobre o que é
- ao começar frases com NÃO: em hebraico, SHELO ASSANI, SHELO SAM, ou, - por que você não?

Seja assertivo

- ao não levar a vida e meu tempo a sério quando eu era mais jovem
- em deitar no sofá assistindo programas de TV o dia todo em vez de sair e admirar o céu azul com nuvens brancas suaves e galhos de árvores majestosas e o doce canto dos pássaros
- guardando rancor da família por muito tempo
- desconfiando de não-judeus devido às experiências de meus pais ou avós no Holocausto
- dando conselhos quando eu queria ser útil, em vez de apenas ouvir
- ao ser impaciente com crianças, idosos e desvalidos
- lamentando erros financeiros do passado e atualmente me preocupando com eles
- ao criar/imaginar mágoas de pessoas com quem me importo
- falando quando deveria estar ouvindo... sempre pensando no pior... não deixando de lado algo que não posso controlar.

Este último, “Falar, quando você deveria estar ouvindo”, parece ficar no topo de minha lista ano após ano. Eu me intrometo em primeiro lugar, no meio de uma conversa, sem considerar todo o contexto. E projeto a minha própria experiência em vez de lidar com empatia – trabalhando para ouvir e entender o que a pessoa estava realmente dizendo, em vez de como isso me fazia sentir.

Eu não sou o outro!

Falo, quando deveria estar ouvindo nas reuniões de trabalho e nas mesas de jantar. Sou muito rápido em entrar no modo solucionador de problemas, quando, às vezes, as pessoas só precisam se apresentar e serem ouvidas.

Aqui estão mais algumas coisas das quais estarei me arrependendo neste Yom Kipur:

- exercitando-me menos e comendo mais
- deixando passar muito tempo para responder telefonemas ou e-mails
- me distrair com muita facilidade
- trabalhando em um pequeno problema hoje ao invés de resolver um problema maior que será mais importante amanhã
- não guardar as coisas logo depois de usá-las
- falando para vocês muito mais do que o necessário
- por não dizer exatamente o que penso enquanto penso ou falando quando deveria estar ouvindo
- comprar coisas que não preciso, só por estarem em promoção
- ser impaciente com mudanças

Este último é realmente um embate, uma luta. Estamos em um momento transformador, pois estamos em tantos cantos de nossas comunidades judaicas e do mundo em geral – ansiosos para inovar para enfrentar os desafios e oportunidades – que haja paciência – não podemos perder a essência de quem somos e o que nós fazemos.

RESUMINDO

Pelo pecado que cometemos guardando rancor na família... reagindo ao invés de responder... sendo impacientes... fazendo um excesso de coisas ao mesmo tempo... desconfiando...

A inovação – mudança – leva a uma certa impaciência, uma urgência de agir rapidamente para atender melhor a todos, abraçar a tecnologia e aproveitar o dia. Equilibrar essa urgência com calma, despreocupação e pragmatismo sobre o que é possível hoje e amanhã versus o que é necessário para abrir caminho para o próximo mês e ano – esta é a parte mais difícil.

Nesses dias de penitência, é quando a necessidade desse equilíbrio é mais clara. Equilíbrio entre a natureza cíclica da vida e a própria mudança. Todos os anos refletimos sobre como erramos o alvo, pedimos desculpas, perdoamos, nos comprometemos a fazer melhor.

Quando Adão cometeu o erro de comer o fruto proibido, ele se escondeu, e Deus perguntou: Onde você está? Mas Deus sabe tudo. Sim, Deus sabe tudo mas Adão não sabia.

Mais importante do que saber onde estamos, é saber onde queremos ir e chegar e fazendo o bem.

“Fazer o bem é estar onde necessitam de você.”
Sabemos que dentro de um ano estaremos aqui de novo – pacientemente fazendo um balanço que nos empurre para progredir.
Segundo um provérbio do Talmud: o primeiro a se desculpar é o mais sábio, o primeiro a perdoar é o mais forte, o primeiro a esquecer é o mais feliz. E que continuemos todos sábios, fortes e felizes.

GMAR CHATIMÁ TOVÁ

Nelson Rozenchan


RAUL MEYER


 Neilá... estamos no final de mais uma cerimônia do Yamim Noraim.

Em alguns minutos nos separaremos novamente; cada um, cada uma irá para a sua vida cotidiana, e as Grandes festas de 5783 serão uma lembrança na mente de cada um de nós.

Mas no término destes 10 dias de reflexão eu gostaria de falar à mente, à consciência de cada um de vocês.

Em Neilá, diz a tradição judaica que as Portas dos Céus estão para se fechar... para que nos apressemos a entrar antes do fechamento... mas fica sempre a pergunta: o que é dentro e o que é fora...?

Há incontáveis explicações, e uma delas é a TUA, a MINHA identificação com nossas raízes judaicas, e com Deus.

Ser judeu ou ser judia não é apenas uma ação de origem sanguínea, ou de identificação...

Vou usar parte de uma prédica do rabino Jonathan Sacks de abençoada memória. Aliás, Sacks é um dos mentores atuais de incontáveis rabinos liberais e ortodoxos.

Para aqueles que se dizem judeus e QUE VIVEM JUDAICAMENTE, Yom Kippur é uma experiência transformadora de vida.

Diz-nos que Deus, que criou o universo, nos alcança em amor e perdão, pedindo-nos que amemos e perdoemos os outros.

Deus nunca nos pediu para não cometermos erros. Tudo o que Ele pede é que reconheçamos nossos erros, aprendamos com eles, cresçamos com eles e façamos as pazes onde pudermos.

Sacks continua: nenhuma religião manteve uma visão tão elevada da possibilidade humana como a judaica.

O Deus que nos criou à Sua imagem, nos deu também a liberdade.
No Judaísmo não somos maculados pelo pecado original, destinados ao fracasso, presos nas garras de um mal que só a graça divina pode derrotar.
Ao contrário, temos dentro de nós o poder de escolher a vida. Juntos temos o poder de mudar o mundo para melhor: Tikun Olam.

Nem somos, como afirmam alguns materialistas científicos, meras concatenações de produtos químicos, um feixe de genes egoístas que se replicam cegamente no futuro.

Nossas almas são mais do que nossas mentes, nossas mentes são mais do que nossos cérebros e nossos cérebros são mais do que meros impulsos químicos respondendo a estímulos.

A liberdade humana – a liberdade de escolher ser melhor do que fomos – permanece um mistério, mas não é um mero dado.
A liberdade é como um músculo e quanto mais a exercitamos, mais forte e saudável ela se torna.

O judaísmo pede constantemente que exerçamos nossa liberdade. Ser judeu não é seguir o fluxo, ser como todo mundo, seguir o caminho de menor resistência, adorar a sabedoria convencional da época.

Ao contrário, ser judeu é ter a coragem de viver de uma forma que não é a de todos. Cada vez que comemos e bebemos, agradecemos por termos alimentos; quando vamos trabalhar, estamos conscientes das exigências que nossa fé nos faz, para viver a vontade de Deus e ser um de Seus embaixadores no mundo.

O judaísmo sempre foi, talvez sempre será, contracultural.

Em épocas de coletivismo, os judeus enfatizavam o valor do indivíduo. Em épocas de individualismo, os judeus construíram comunidades fortes. Quando a maior parte da humanidade foi entregue à ignorância, os judeus eram altamente alfabetizados.
Enquanto outros construíam monumentos e anfiteatros, os judeus construíam escolas. Em tempos materialistas os judeus mantinham a fé com o espiritual. Em épocas de pobreza eles praticavam tzedakah para que ninguém perdesse o essencial de uma vida digna.
Os Sábios disseram que Abraão era chamado ha-ivri, “o hebreu”, porque todo o mundo estava de um lado (sempre echad) e Abraão do outro.

Ser judeu é nadar contra a corrente, desafiando os ídolos da época, seja qual for o ídolo, seja qual for a época.

Então, como nossos ancestrais costumavam dizer: “Zis schver zu zein a Yid”, não é fácil ser judeu. Mas se os judeus contribuíram para a herança humana de forma desproporcional aos nossos números, a explicação está aqui.

Aqueles a quem grandes coisas são pedidas tornam-se grandes – não porque são inerentemente melhores ou mais dotados do que os outros, mas porque se sentem desafiados, convocados à grandeza.

Poucas religiões pediram mais de seus seguidores. Existem 613 mandamentos na Torá. A lei judaica se aplica a todos os aspectos de nosso ser, desde as mais altas aspirações até os detalhes mais prosaicos da vida cotidiana.
Nossa biblioteca de textos sagrados – Tanach, Mishnah, Gemara, Midrash, códigos e comentários – é tão vasta que nenhuma vida é longa o suficiente para dominá-la.

Teofrasto, discípulo de Aristóteles, procurou uma descrição que explicasse aos seus colegas gregos o que são os judeus. A resposta que ele deu foi: “uma nação de filósofos”.

Tão alto o judaísmo colocou nossos desafios que é inevitável que caiamos uma e outra vez. O que significa que o perdão foi escrito no roteiro desde o início.
Deus, disseram os Sábios, procurou criar o mundo sob o atributo da justiça estrita, mas Ele viu que isso não poderia subsistir. O que ele fez? Ele acrescentou misericórdia à justiça, compaixão à retribuição, tolerância ao estrito estado de direito.

Deus perdoa. O judaísmo é uma religião, a primeira do mundo, de perdão.

Nem toda civilização é tão indulgente quanto o judaísmo. Houve religiões que nunca perdoaram os judeus por se recusarem a se converter. Jonathan Saks comenta que muitos dos maiores intelectuais europeus – entre eles Voltaire, Fichte, Kant, Hegel, Schopenhauer, Nietzsche, Frege e Heidegger – nunca perdoaram os judeus por permanecerem judeus, diferentes, angulares, contraculturais, iconoclastas.

No entanto, apesar das tragédias de mais de vinte séculos, os judeus e o judaísmo ainda florescem, recusando-se a conceder a vitória às culturas do desprezo ou ao anjo da morte.

A majestade e o mistério do judaísmo é que, embora na melhor das hipóteses os judeus - um povo pequeno em uma terra pequena, não páreo para os impérios circunvizinhos que periodicamente os atacam - não deram lugar ao desespero, revidando com força mas sempre sugerindo a paz como aconteceu meses atrás quando primeiro-ministro de Israel dirigiu-se aos moradores da Gaza conclamando a paz e mostrando não querer a morte de seus cidadãos mas o combate aos líderes do Jihad Islâmica.

O primeiro-ministro de Israel Yair Lapid acaba de convidar os palestinos para o estudo da concretização de dois países lado a lado em paz e prosperidade.....será que isto não é uma postura corajosa pela paz?
Sob a admiração e a solenidade de Yom Kippur, um fato brilha radiante por toda parte: que Deus nos ama mais do que nós amamos a nós mesmos. Ele acredita em nós mais do que nós mesmos.

Ele nunca desiste de nós, por mais que escorreguemos e caiamos. A história do judaísmo do começo ao fim é a história de um amor de Deus por um povo que raramente retribuiu totalmente esse amor, mas nunca deixou de ser movido por ele.

Rabi Akiva expressou melhor em apenas duas palavras: Avinu malkeinu. Sim, você é nosso soberano, Deus todo-poderoso, criador do cosmos, rei dos reis. Mas você também é nosso pai. Você disse a Moisés para dizer ao Faraó em Seu nome: “Meu filho, meu primogênito, Israel”.

Esse amor continua a fazer dos judeus um símbolo de esperança para a humanidade, testemunhando que uma nação não precisa ser grande para ser grande, nem poderosa para ter influência.
Cada um de nós pode, por um único ato de bondade ou generosidade de espírito, fazer com que um raio da luz divina brilhe na escuridão humana, permitindo que a Shechiná, pelo menos por um momento, esteja em casa em nosso mundo.

Mais do que Yom Kippur expressa nossa fé em Deus, é a expressão da fé de Deus em nós.

Assim terminando Neilá, vamos para nossas casas, nossos lares abençoados pela Shechiná, pela Glória Divina, cientes de nossas raízes judaicas e prontos a mantê-las vivas e vivenciando um vivo judaísmo em nossas vidas ao nos reencontrarmos periodicamente nos Kabalat Shabat.

Que tenhamos uma boa assinatura para uma vida cheia de liberdade e nesta realidade vivenciarmos mais intensamente nossas raízes judaicas... e com esta vivência, os portões sempre estarão abertos a nós, que temos as chaves... pois nossos pilares sempre foram e serão:

Torah – o estudo;
Avodá – o trabalho;
e Guimilut Chassadim – Justiça social.

Estas três atitudes farão que as portas sempre estejam abertas para um mundo melhor – para Tikun Olam.
Chatima tova!!!

Raul Meyer

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

VOCÊ SABIA? - Nora Tausz Ronai

 

Campeã aos 98 anos?

Sobrevivente do Holocausto?

“Quando estou na piscina, sinto que estou descansando – não fisicamente, mas moralmente. A piscina me salva de muitas situações opressivas”, disse Tausz Ronai. “Algumas situações são enlouquecedoras. Se você nadar, você não chora. É como sofrer uma lavagem cerebral por dentro.”

Por Itanira Heineberg



Você sabia que Nora Tausz Ronai começou a nadar competitivamente aos 69 anos, ganhou 13 medalhas de ouro, quebrou 12 recordes mundiais no Campeonato Mundial de Masters – e ainda continua a nadar?



Em agosto último, nos Jogos Pan-Americanos de Medellín, Colômbia, espectadores, jornalistas e organizadores do evento postaram-se em fila ao longo de uma piscina para assistir a um medley de 400 metros. Eles estavam lá para ver Nora Tausz Ronai, que terminaria a corrida — que envolve nado peito, nado costas, borboleta e estilo livre — apesar de ter 98 anos.

Ao sair da água, sob aplausos entusiasmados de todos os presentes, ela não aceitou a oferta de uma cadeira de rodas, assim como sempre recusa a oferta da filha que a acompanha nas competições, para percorrer as longas distâncias dos aeroportos transportada nestas cadeiras.

Segundo ela, sente-se como uma impostora, já que tem condições de caminhar.

Com estas atitudes e sua história de perseverança durante o Holocausto, Nora tem inspirado os atletas brasileiros de todas as idades. E a mim também! Ao nadar toda a praia de Copacabana, recebeu o título de “Rainha do Mar.”

Nora nasceu em 1924 em Fiume, Itália, que mais tarde viraria Rjeka, no território Croata.

Seu avô era um judeu tradicional e observante mas seu pai, aos 12 anos, se desgostou com o judaísmo. Enquanto se preparava para o bar mitzvá, o rabino reclamou à sua mãe que ele não estava se esforçando - o que a levou a acabar com sua coleção de salamandras como castigo. Resultado: mais tarde, o jovem sem grandes convicções religiosas converteu-se ao catolicismo, deixando Nora “tecnicamente católica”.

O antissemitismo europeu atingia todos os judeus, fazendo os jovens tristes e desgostosos com a situação em que viviam, atingindo o ápice em 1938 quando a Itália aplicou as Leis Raciais e Nora e o irmão Giorgio foram expulsos da escola. 

Nora com seu irmão Giorgio em Fiume, Itália, 1939. (Cortesia da família Ronai/ via JTA)


A família viveu, então, momentos difíceis e perigosos em sequências desagradáveis e assustadoras, como quando levaram o pai de Nora, Edoard Tausz, às 4 horas da manhã para o campo de detenção Torretta - e mais tarde encontraram o irmão fugitivo numa estação de trem e o encarceraram junto com o pai por dois longos meses.

Todos foram enviados para Trieste e lá executados, mas graças à ajuda do ministro católico Nino Host Venturi, Edoard e seu filho foram poupados.

Sem emprego, sem recursos e sem nacionalidade, Edoard começou uma procura desesperada por vistos para fora da Europa. Em 1941 o Vaticano disponibilizou 3 mil vistos para o Brasil - e foi assim que a família reunida chegou ao Rio de Janeiro em busca de outra vida.

O início de imigrantes em geral é sempre difícil e no caso dos Tausz não foi diferente: nova língua, novo clima, novos alimentos, muita adaptação!

Mas em pouco tempo os dois jovens já estavam na universidade e livres das perseguições dos nazistas.

Em uma viagem de estudos com os colegas, o jovem Giorgio sofreu um acidente na estrada e faleceu. Uma grande dor para a família, uma perda irreparável. Depois dos horrores do Holocausto, uma morte inesperada e inconsolável para todos, familiares, colegas, professores.

Nora estudou Arquitetura, gostava da piscina e de saltos ornamentais aquáticos.

A mãe viveu com câncer durante 10 anos e Nora e o pai conseguiram esconder dela a verdadeira doença até o final. A família, agora reduzida, mudou com o feliz casamento de Nora em 1952 com Paulo Ronai, um judeu da Hungria, tradutor, revisor, crítico e professor naturalizado brasileiro. Paulo era professor de latim e francês no Colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro. O casal teve duas filhas: Cora e Laura.

Nora, jovem, estudante, filha consolando o pai viúvo, esposa, mãe, profissional: já é muito para uma pessoa que teve de abandonar sua vida e conquistar uma nova.

E agora, pasme! Além de suas atribuições, lutas, medalhas, vitórias, Nora também escreveu um livro com a sua história, um legado para as filhas - nas palavras de Nora, “a razão de sua existência neste mundo”.



Um livro emocionante, muito bem escrito, idealizado, pensado, deixando para todos nós um pouco de sua vivência, seus pensamentos, um pouco de sua alma. Nora escreve com simplicidade em um relato suave, eufônico,  que nos leva naturalmente a lugares e tempos diferentes, momentos de angústia e incertezas: uma leitura que flui e nos envolve.

Assim sendo, vou deixar que Nora fale sobre ela mesma, uma vez que domina o esporte da caneta com louvor!

 

“Vou parar neste ponto minhas reminiscências. Essa minha autobiografia é a mais detalhada e a mais precisa que a minha memória, já um tanto fraquejante, permite me lembrar. Acho que não esqueci nada de importante, tanto mais que me servi amplamente de minhas anotações e diários da época a qual me refiro, portanto, posso assinar tranquilamente em baixo: Nora... Hum... Nora?

Mas qual delas? A de quarenta anos, onde paramos, ou a de 96 anos que vos fala agora? Quantas Noras eu já não fui no entretempo? Mas é claro que a que vos fala agora é a Nora de 96 anos! Só que vocês podem estranhar o intervalo de 56 anos separando as duas Noras e, por isso, cabem algumas explicações.

Sendo esta uma autobiografia, logicamente não poderia ser completa! Mas, sendo assim, por que não acabar antes ou depois do ponto final estabelecido aqui? Explico: prestes a deixar minha cidade natal, Fiume, em 1941, fugindo das perseguições nazistas, saí para a varanda de nosso apartamento, que íamos deixar para sempre, e olhei bem para toda a serra que contornava a baía do Carnaro, especialmente para o Monte Nevoso, onde havia esquiado feliz da vida tantas e tantas vezes. Queria guardar comigo essa imagem para não perder completamente todas as boas

memórias de infância. Nessa ocasião, invadiu-me uma raiva, uma fúria que chegou até a me assustar: “Por que eles fazem isto comigo? Por que me proibiram de frequentar a escola? Por que tivemos que vender o meu piano e os meus livros? Por que arrancaram a minha terra natal de mim? Que mal foi que eu lhes fiz? Maldito Schicklgruber (eu me recusava a pensar nele com o nome fantasia que adotou, Hitler) monstro, palhaço, safado! Pois, saiba que eu vou para longe daqui, para um país desconhecido por mim, mas vou estudar, vou trabalhar duro e vou vencer! E você, seu nojento, você será morto e comido pelos vermes, enquanto eu e os meus estaremos vivinhos, realizados e felizes. Isto eu te juro por Deus. Crepa! (isso quer dizer “morre”, em fiumano, mas só se aplica aos animais). Crepa você e todos os seus asseclas!

Então, de volta da nossa viagem pela Europa, que eu ousaria chamar de triunfal, assaltou-me uma sensação igualmente intensa e pujante como a fúria que eu sentira ao sair da minha cidade natal — só que, desta vez, a sensação foi de triunfo. Eu vencera minha guerra particular contra o tinhoso. Eu havia cumprido o meu juramento.”


Nora, ao centro, em uma foto da família em 2016.


FONTES:

https://www.timesofisrael.com/this-holocaust-survivor-and-brazilian-swimming-champion-is-still-competing-at-98/

https://www.jta.org/2022/09/07/global/this-holocaust-survivor-and-brazilian-swimming-champion-is-still-competing-at-98

https://visionvox.net/biblioteca/n/Nora_R%C3%B3nai_O_desenho_do_tempo.pdf