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quinta-feira, 30 de julho de 2020

EDITORIAL: HUMANODIVERSIDADE: De 17 de Tamuz a 9 de Av


O POVO JUDEU - 1950 anos após a expulsão de Jerusalém


Em um período de poucas semanas é possível traçar as bases e o futuro da História do Povo Judeu, contando a partir da quebra das Tábuas da Lei no dia 17 de Tamuz (este ano dia 9 de julho) e a destruição do Segundo Templo de Jerusalém em 9 de Av (30 de julho). O primeiro evento ocorre quando os filhos de Israel (Jacob) e mais muitos que com eles saíram do Egito quiseram voltar atrás e continuar vivendo algo conhecido em vez de se aventurar em um futuro que demandaria paciência. Neste evento, o líder Moisés também assume uma postura reativa e quebra as leis. No segundo evento, ocorrido há exatamente 1950 anos (ano 70 EC), as Leis já haviam sido implementadas, o Reino de David tinha dado lugar ao Exílio Babilônico e o Segundo Reino de Israel estava sendo conquistado pelos romanos - que transformaram Jerusalém em Aelia Capitolae e Israel e todas as terras vizinhas em Palestina. E os judeus iniciaram um longo exílio. 

Um povo que não pode ser distinguido por sua característica étnica e nem pela história de cada família, por pratos típicos ou até muito recentemente por uma pátria. Um "povo entre os povos", como diz a reza atribuída a Josué quando assume a direção do povo que deveria cruzar o Rio Jordão e chegar à Margem Ocidental para o estabelecimento do primeiro Estado de Israel. 

A diversidade étnica é uma característica básica do Povo Judeu, e a diversidade de cidadãos é uma característica básica do moderno Estado de Israel. Em nenhum país do oriente médio encontramos um parlamento democraticamente eleito composto por todos os seus cidadãos. Voto não é obrigatório, mas todos os cidadãos israelenses podem votar.

"Ah... então será este um país que preza a concórdia, a harmonia, a convivência repeitosa, e..." - na minha opinião, estas não são palavras aplicáveis ao moderno Estado de Israel. Meus leitores devem imediatamente estar imaginando que considero o oposto. Certamente não. Levanto a polêmica para pontuar o que une o Povo Judeu em todo o mundo e em todos os tempos e que é considerado o seu grande diferencial, o estudo. Talmud Torah - estudar a Torah - é uma obrigação. Estudar com base em perguntas, de forma a poder acrescentar ao texto original vários pensamentos ao longo dos séculos. Estudar e com isto abrir novos horizontes. Estudar e manter as fontes. Ler livros e textos rabínicos é se apropriar de nomes e citações feitas ao longo de séculos sobre um assunto que entrou em pauta muitas vezes. Rastrear a informação - fato tão importante nos dias de hoje - é a base do estudo judaico, quer ao estudar textos históricos, quer ao estudar outras matérias.

Ah... então o segredo é saber lidar com divergências e avaliá-las sob diferentes aspectos. Não com o objetivo de achar um denominador comum mas com a certeza de que, conhecendo a diversidade das opiniões, haverá mais possibilidade de manter a riqueza do pensamento e com isto manter a corrente da vida entre as gerações.

Entre 17 de Tamuz e 9 de Av são descritos temas bíblicos, entre 9 de Av de 70 e 9 de Av de 2020 temos uma longa história que mostra que os locais são muito importantes se a humanodiversidade for natural e desejável.

Em tempos de pandemia, aprendemos que o isolamento aproxima e facilita o contato entre os muitos grupos sociais.

Boa Semana!

Regina P. Markus

 
    

segunda-feira, 27 de julho de 2020

VOCÊ SABIA? - Adolescentes ajudam adultos na pandemia

Iniciativa de adolescentes judeus durante a pandemia liderada por Ivri Hershkowitz:

“Todo mundo está fazendo sacrifícios, os jovens também podem ajudar.”

Por Itanira Heineberg



VOCÊ SABIA que um jovem israelense de apenas 13 anos decidiu ajudar os pais de seu país a usufruírem mais tempo de trabalho durante a crise e está obtendo sucesso?

Ivri Hershkowitz, na foto acima, decidiu ajudar pais a compensarem o tempo perdido no trabalho e ele está conseguindo: “Nós estamos cuidando das crianças para que os pais possam trabalhar”.

 

Ivri Hershkowitz iniciou o projeto "Juventude Fique Sob a Maca" e afirma:

"O que estamos fazendo, basicamente, é cuidar das crianças para que os pais possam fazer o trabalho que foi perdido durante a crise econômica. Ficaremos com as crianças, e os pais poderão trabalhar ainda mais do que o normal."

 

Esta ideia nasceu durante o lockdown.

Hershkowitz conta: "Eu iniciei este trabalho durante a primeira onda, quando todas as crianças ficaram em casa. Minha mãe, uma fonoaudióloga, precisava trabalhar. Então eu lhe disse: Você vai trabalhar e eu cuidarei de minhas 4 irmãs. De qualquer maneira não havia vida social durante o coronavírus e isto era algo bom que eu podia fazer."

Colocamos a ideia no Twitter e as pessoas realmente apreciaram. É nosso trabalho voluntário.

Os médicos fazem o que podem, os pais trabalham, todo mundo está fazendo sacrifícios e chegou a hora dos jovens ajudarem a carregar o fardo.”

E em relação a recrutar voluntários, o jovem explica:

“No início eu chamei meus amigos e eles disseram que não estavam fazendo nada importante.

Então argumentei que numa situação onde muita gente estava ficando histérica, talvez eles devessem contribuir e ajudar. E eles concordaram. Isto não é facilmente compreendido. Jovens da nossa idade querem a companhia de seus amigos mas este período difícil nos ensinou que também devemos ajudar e viver fazendo parte do momento.”

 

E a ajuda dos jovens nestes tempos cruciantes continua:


Jovens adolescentes lideram esforços para produzir centenas de máscaras de proteção a partir de kippot (solidéus para cabeça) recicladas e doadas por judeus locais.



Com o surto do coronavírus, de repente todos os cinco membros da família Jason viram-se confinados em casa, em Houston, Texas. E sentados no jantar de Shabat, já no final de março, o caçula Matthew, de 15 anos, percebeu a semelhança entre as kippot e as máscaras de proteção ao vírus.

 

"Observamos as kippot que estávamos usando para a refeição e percebemos que elas eram basicamente o formato de uma máscara facial", ele falou ao The Times of Israel sobre as kippot rituais usadas na cabeça por homens judeus e algumas mulheres.

E assim surgiu o projeto de caridade levando máscaras para moradores de ruas.

Elas são produzidas de maneira simples, costurando laços de 15 cm de elástico nos dois lados de cada kippá, para serem presos nas orelhas da pessoa.

 

“Até agora, maio de 2020, o projeto Kippas to the Rescue da família Jason forneceu 330 dessas máscaras para pessoas necessitadas. Aproximadamente 370 máscaras adicionais estão em vários estágios de produção, e espera-se que elas também cheguem em breve àqueles sem outros meios de obter esse item de equipamento de proteção individual agora necessário.”

E o projeto continuou, solicitando aos amigos, familiares e membros da congregação, a doação de kippot para serem transformadas. 




Matthew coletando as kippot para doação.

Quando os três jovens irmãos não estão estudando online, eles usam seu tempo dedicando-se a produzir mais máscaras, utilizando apenas as boinas feitas de duas camadas, uma de algodão, na face interna, e outra de tecidos sedosos ou brilhantes no exterior.


Sem teto em Houston, Texas, usa máscara feita pela família Jason.




Matthew descobriu uma maneira de salvar vidas. Ele afirma:

“As kippot são grandes o suficiente e proporcionam boa cobertura para a boca e o nariz de seu usuário.”
 
Jeremy, o filho do meio, relata que seu irmão mais velho, Daniel, fez um “flame test” (teste de chama) soprando e tentando apagar a chama de um isqueiro enquanto usava uma máscara de kippá e depois outra comprada pela Amazon. Ele conseguiu apagar a chama usando a máscara da Amazon porém não obteve o mesmo resultado ao usar a máscara de kippá. E os irmãos chegaram à feliz conclusão de que suas máscaras oferecem maior proteção aos seus portadores.

A família Jason faz máscaras de kippot, Houston, abril de 2020. Posteriormente elas são levadas a centros de alimentação que fornecem refeições aos sem teto da cidade.



quinta-feira, 23 de julho de 2020

Editorial: SOMOS TODOS DIFERENTES - HUMANODIVERSIDADE





A história judaica está repleta de episódios que destacam a diferença entre os judeus e a população majoritária de cada país. Em geral, quando estas diferenças ganham destaque os resultados são o aparecimento de ondas de antissemitismo e de perseguições. O fato de terem mantido por milênios uma identidade cultural e principalmente educacional faz com que, apesar das muitas tendências de se igualarem à população majoritária, tenham seguido sua história.

O princípio da diversidade é básico para que isto possa ocorrer. De tempos em tempos, surgem grupos que focam em alguns aspectos específicos e gostam de ditar regras gerais. Mas a sobrevivência ao longo dos anos mostra que há uma mudança ao longo dos séculos, sem que haja a perda de um processo básico: a capacidade de seguir em frente considerando princípios básicos que incluem não apenas regras sociais e regras de conduta. O D'us único, acompanhado da responsabilidade social e da capacidade de criar e transformar são características que não podem ser afastadas.

Esta semana, lemos um texto do Rabbi Jonathan Sacks que toca a todos que respeitam as diferenças humanas. Usando sua voz e meios de comunicação, ele coloca foco sobre vítimas coletivas do século XXI que são perseguidas, aterrorizadas, vitimizadas, exploradas e assassinadas por terem uma maneira especial de reverenciar D'us. A população Uighur muçulmana na China é um foco no momento, assim como os Tutsis em Ruanda são perseguidos pelos Hutus.

Essas barbáries são parte da dificuldade de se aceitar a diversidade humana. Se por um lado o proselitismo de muitas seitas religiosas ou ideológicas é inaceitável, por outro o combate sistemático é outro lado da mesma moeda.

Humanodiversidade seria uma forma de admitir as diferenças. Mas, para isto é preciso admitir que o conflito e a divergência são fatores com os quais devemos conviver e saber lidar. O oposto da diversidade é a igualdade. Muitos creem que se todos forem considerados iguais, haverá paz. Uma paz silenciosa, na qual as expectativas pessoais e grupais são abandonadas em nome da não existência de conflitos.

No judaísmo encontramos vários momentos que mostram ser este um caminho idealizado, que leva a uma ideologia e não a uma forma de conviver. A humanodiversidade é tão importante quanto a biodiversidade, e portanto tem que haver formas de lidar e crescer com as opiniões diferentes.

Neste ponto, o saber perguntar talvez seja mais importante que o saber responder. Perguntar mostra interesse no esclarecimento, no entender da lógica e no encontro de pontos de contato e de exclusão. Perguntar é a forma que temos para contrapor idéias gerais com exemplos individuais e com isto criar vias de comunicação.

Criar painéis de discussão que permitam o convívio e o aprendizado de quem é o outro é a forma que o judaísmo encontra para sobreviver por tantos anos - e é perguntando que as gerações se encontram e é perguntando que se abre a possibilidade de conviver na diversidade.

Regina P. Markus





segunda-feira, 20 de julho de 2020

VOCÊ SABIA? - TURQUIA

TURQUIA, um governo ditatorial e cruel ...

...a beleza de um país que sofre em seus direitos humanos e com a separação de famílias.

Por Itanira Heineberg





VOCÊ SABIA que os membros da Família Abraâmica - judeus, cristãos e muçulmanos - sofrem com a situação de seus amigos turcos refugiados no Brasil, seguidores do Hizmet e perseguidos em seu país de origem, obedientes aos princípios democráticos e antirracistas, incapazes de se comunicarem livremente com seus irmãos?

Os turcos que não compactuam com a autocracia de Erdogan, seu governante atual,  refugiam-se como podem e quando podem escapar, por todos os cantos do mundo, muitos aqui no Brasil e em São Paulo.

Mustafá Goektepe, Fatih Ozorpak e mais tarde Atilla Kus, junto com  Raul Meyer e o Cônego Bizon, criaram a associação Família Abraâmica, onde os membros das três religiões oriundas de Abraão convivem em harmonia, se encontrando regularmente, se conhecendo e aprendendo sobre suas diferenças, crenças e tradições.

Em pé: Cônego Bizon, diretor da Casa de Reconciliação, e Ruth Junginger de Andrade, da Igreja Mórmon 

Sentados: Raul Meyer e Atilla Kus


Os turcos exilados sofrem com as notícias do país e de seus familiares presos, banidos de suas funções habituais, sendo taxados de terroristas por não concordarem com a falta de democracia em sua nação.

E assim, em nossas reuniões mensais, entre refeições típicas preparadas pelos membros dos grupos, conversando sobre os problemas dos refugiados, entrevistei a professora de física Melek Ozorpak  que nos oferece abaixo um relato apaixonado da situação atual da Turquia e de seu povo.


Professora Melek, última à direita


“O Hizmet, um movimento por um mundo melhor, com milhares de participantes no mundo atuando em atividades humanitárias como educação, saúde e desigualdade, teve seu início na década de 70.  O movimento  chamou atenção de pequenos grupos de empresários e alunos universitários com seus discursos valorizando a educação e o investimento  na nova geração.

 Gulen é um erudito turco, pregador, pensador, autor, líder de opinião e inspirador do Movimento Hizmet (significa “serviço”) que surgiu para solucionar problemas comuns na sociedade turca onde era tão dificil estudar, conseguir terminar faculdade e avançar ao futuro junto com os seus objetivos como qualquer jovem gostaria.

Só que os anos eram difíceis na Turquia com as brigas de esquerda e direita dentro das ideologias extremistas via polarização. E no meio desse ambiente tumultuoso, Gulen apareceu com seus discursos, orientando  e estimulando o povo para se dedicar à preparação dessa nova geração pela profundidade de conhecimento, sensibilidade e eloquência.

A partir daí ele conseguiu mobilizar as  pessoas através de sermões nas mesquitas e  discursos ao povo em diversos lugares da cidde de Izmir.” 

Mesquita Azul  -  ISTAMBUL


“Gulen encorajou as pessoas a abrirem escolas e estabelecimentos privados para a promoção de uma melhor educação aos jovens. Aqueles que seguiram os pensamentos do Gulen, passaram a oferecer bolsas de estudo a estudantes carentes. Logo depois, esses jovens apareceram nas primeiras colocações nas provas nacionais e internacionais e também nas provas de vestibular da Turquia. A maiorias destes alunos  tornou-se médicos, engenheiros, professores, arquitetos, cientistas. Durante esse periodo, décadas de 80 e 90,  participantes do Movimento Gulen fundaram várias universidades, hospitais, associações  empresariais, centros de estudo, orgãos de mídia, etc... com o passar do tempo, o movimento se espalhou pelo mundo. Até hoje o Movimento Hizmet abriu mais de 1500 escolas internacionais em cerca de 160 países
.”

 

E a professora Melek continua seu relato, instruindo-nos a respeito de seu distante país:


Da esquerda para a direita:

Fatih Ozorpak, Raul Meyer, Cônego Bizon, Atilla Kus, Alessandra e Anderson Figueiredo


“O movimento Hizmet tem como suas principais ideias o diálogo interreligioso e intercultural, compartilhando as convivências sem diferenciar raça, cultura e religião. Ele sempre atua em prol da democracia, de liberdades, buscando  integrar a tradição com a modernidade através do olhar humanístico.

A Turquia, depois de um período instável economicamente e em termos de direitos simples de estudar, trabalhar e conviver num ambiente de tensões políticas nos anos  90  sofreu uma série de intervenções militares de forma mais pós-moderna. Quase diariamente surgiam tensões enormes entre segmentos diferentes da sociedade turca. Os partidos que dominavam o país estavam numa discussão grande de polêmicos religiosos e políticos, chegando ao ponto de proibirem a entrada de jovens universitárias nas salas de aula ou em campus com seus hijabs, os lenços religiosos que cobrem a cabeça e os cabelos. Essa discussão começou há algumas décadas mas nenhum dos lados politicos queria resolver.

Chegando ao final dos anos 90, no início dos anos 2000, Erdogan surguiu com seu novo partido oferecendo uma solução para os três problemas cruciantes da Turquia: pobreza, proibições e corrupções, problemas estes sempre presentes nas nações do mundo.

Como político de um paÍs emergente que sofrera na década de 90 com muitas notícias de corrupção, Erdogan queria oferecer e ganhar a confiança de milhões usando sua boa performance de anos de governo na prefeitura de Istanbul.      

Entre muitas confusões e sua determinada conduta, com seus recentes apoiadores mal informados, ele ganhou a eleição. Porém durante os três mandatos seguidos em que Erdogan permanceu, vieram as mudanças e as tendências autocratas.

 Em  2010, recebeu muito apoio e começou a mudar seu estilo mostrando-se um personagem mais forte ao interferir na mídia e ao fechar as instituições educacionais.

         Em 2012 surgiram novos problemas no país.  Em meados de 2016, cerca de 150 mil servidores públicos e soldados perderam seus cargos sendo demitidos e mais de 96 mil pessoas ainda estão presas, à espera de julgamento. A oposição afirma que pelo menos 6 mil acadêmicos foram atingidos, mais de 3 mil escolas foram confiscadas e fechadas, e mais de  33 mil professores perderam seus empregos. E, segundo a Plataforma para o Jornalismo Independente, uma organização local, mais de 319 jornalistas estão detidos desde a tentativa de golpe, em 2016.

Nos anos de 2012, 2013 teve início uma luta política contra o movimento Hizmet, querendo fechar as instituições educacionais como cursos de vestibular e fichar as pessoas simpatizantes  pelas organizações Hizmet.

 Em 2014 foram abertas duas operações grandes de corrupção contra o governo de Erdogan, em centenas de bilhões de dólares e a polícia chegou a prender alguns filhos de ministros do governo. A partir desse momento então, o Movimento Hizmet foi acusado de não ter apoiado o presidente. Erdogan começou a culpar o Movimento por tudo e iniciou uma grande perseguição, uma “caça às Bruxas”.

A Turquia passou por uma nova época de tirania, confiscando empresas, preendendo jornalistas, policiais que fizeram parte da investigação da corrupção,  empresários, professores, juizes, promotores e procuradores, acadêmicos, médicos.

Até o golpe frustrado de 2016, ainda havia um pouco de esperança no país, mas a partir de então, Erdogan passou a culpar ainda mais o Movimento Hizmet e a polícia prendeu em massa milhares das pessoas fichadas anteriormente. Sem acusação concreta, muitas pessoas passaram anos esperando um julgamento justo, os familiares dos que foram perseguidos tinham de sair fugidos do país por meios ilegais.  Morreram mais de 200 pessoas em meio a fugas do país, tendo seus barcos afundados nas águas do mar Egeu. Isto não fez parar o governo de Erdogan, preendeu ainda milhares de mulheres com suas crianças, idosos, mulhares grávidas, incluindo muitas pessoas deficientes.“


Da esquerda para a direita :

Atilla Kuss, Raul Meyer, Cônego Bizon, Mustafá Goektepe, Padre Fernando


Uma história muita parecida com o Holocausto repetiu-se, sendo considerada um grande crime pois ambos os lados pertencem à mesma raça, à mesma religião, porém com opinões diferentes, sendo um dos grupos realmente pacífico, totalmente diferenciado do grupo oponente.

 


“Quase 50 mil pessoas foram obrigadas a pedir refúgio a outros países, e milhares de pessoas ficaram na Turquia em condição de aniquilamento. Não é permitido trabalhar, abrir uma empresa, ou mesmo viajar para outro país, enfim, começar a uma nova vida.

 


Em poucas pinceladas, vemos que um país emergente em busca de melhoria pelo futuro, de repente viu-se atacado por parte de sua própria população, num movimento anti democrático e cruel que tratou os simpatizantes do Hizmet e da igualdade racial como se não fossem humanos.”

Melek relata mais injustiças e sofrimentos de seus irmãos turcos. E lembra com tristeza as agruras do povo judeu:

“Assim, somos irmãos judeus, cristãos e muçulmanos; somos seres humanos, todos nós temos nossas opções de escolha entre o bem e o mal. Podemos conviver juntos sem a preocupação da invasão dos direitos dos outros. Os cruéis devem saber que os verdadeiros crentes de um único Deus são amigos, e devem contar com um mundo melhor, sempre consagrando a vida dada por Deus, a coisa mais importante de tudo.

Igual a Moisés que com muita perseverança salvou seus seguidores do Faraó mais cruel da história da humanidade.

 Sentimos a mensagem de Jesus como um salvador que mostrou o caminho da fé e do amor em sua trajetória terrena.

O Profeta do Islam, o Profeta Muhammad, a paz de Deus esteja sobre todos Eles, mostrou o caminho de perdoar as pessoas e lembrou sempre a misericórdia de Deus.

Todos eles pronunciaram a mesma mensagem em uma boca diferente. Vimos nitidamente na história que todos os crentes sofreram perseguições e crueldade. Acabaram tornando-se refugiados em alguma parte do mundo, isso foi um destino comum, e todos nós somos simplesmente filhos de Adão.”

 

E a professora finaliza magistralmente, com a beleza e a luz de seu coração:

Estamos testemunhando mais uma vez que desenvolver estratégias e capacidades para uma coexistência pacífica, em meio às diferenças radicais e recursos naturais extinguíveis, é o principal desafio da nossa era. O mundo tem mais graça com aqueles que não são iguais a você. Ele é mais belo com aquilo que você aprende dos outros. Tenha a visão dos outros ao lado da sua própria visão...  para sua própria existência, você precisa dos outros também.

Talvez precisemos ver o mundo com um olhar diferente do outro. Nossas diferenças revelam nossa existência e nos enriquecem. Eu sou mais eu, com a presença daquilo que não é igual a mim. Se não houver outro, eu também não existirei.

Assim não sobrará nada, nem cor, nem amor e nenhuma harmonia na vida!”



Que o poder milenar do olho turco traga de volta a esperança para um mundo melhor!

 

 

FONTES:

O site oficial do Fethullah Gulen:

https://fgulen.com/pt/

Expurgo do Governo Turco depois do golpe 2016

https://turkeypurge.com/

Portal da voz da Turquia

http://vozdaturquia.com/

Stockholm center for freedom

https://stockholmcf.org/

 


quinta-feira, 16 de julho de 2020

EDITORIAL - ENTRE MUNDOS/ INTRA MUNDO ------ AMIA versus KFAR BARA

Amia x Kfar Bara


Nossos textos dos últimos 4 meses, escritos em regime de quarentena em um espaço reduzido, em um apartamento que cada dia se torna mais aconchegante do qual aprendemos a apreciar os detalhes de uma vista sobre a Cidade de São Paulo, ganham a dimensão do tempo. Tempo - Zman - Crono - este é o meu objeto de estudo - a Biologia do Tempo - a Farmacologia do Tempo. Esta dimensão que ganha a realidade entre os humanos quando pode aprisionada através de processos que marcam a sua passagem, ou que destacam sua regularidade.

Em tempos de pandemia, temos mais tempo para ampliar os nossos dias e trazer para perto de nós muitas dimensões. 

ESTA SEMANA - quando no judaísmo é destacado um período de 3 semanas entre o dia 17 de Tamuz (romanos derrubam as muralhas do Segundo Templo de Jerusalém) e 9 de Av (o Templo é destruído e inicia-se uma diáspora de quase 2000 anos) - é uma semana também marcante se usarmos o calendário comum. 

Na terça-feira foi dia 14 de julho - a "Queda da Bastilha" - a data em que a França e o mundo lembram uma revolução que é lembrada como um grito de liberdade, e no sábado, dia 18 de julho, é lembrado o "Ataque à Amia", um ato de terror que ocorreu em 1994 em Buenos Aires, na vizinha Argentina. Neste ataque à Associação Mutual Israelita Argentina foram mortas 85 pessoas e feridas 300. Entre estas, muitas crianças porque lá funcionava um jardim de infância. 

14 Juillet - é um exemplo de ENTRE MUNDOS - poucas pessoas precisam de explicação sobre o que é a Queda da Bastilha - e, independente do grau de escolaridade há uma identificação pessoal com a história contada - a narrativa universal faz com que este dia ultrapasse as fronteiras de Paris, e atinja os desejos de liberdade, igualdade e fraternidade. 

18 Julio - data que é lembrada por muito poucos - menos ainda fazem a conexão com Alberto Nisman (1963-2015) o promotor de justiça argentino assassinado em seu apartamento. "Em 25 de outubro de 2006, Nisman acusou formalmente o governo do Irã de dirigir o ataque a AMIA e a milícia Hezbollah de executá-la. De acordo com a acusação, a Argentina tinha sido alvo de Irã após a decisão de Buenos Aires de suspender um contrato de transferência de tecnologia nuclear para Teerã. Em novembro de 2007, na sequência da acusação, a Interpol publicou os nomes de seis indivíduos oficialmente acusados no atentado terrorista e entraram na lista de procurados da Interpol: Imad Fayez Moughnieh, Ali Fallahijan, Mohsen Rabbani, Ahmad Reza Asghari, Ahmad Vahidi e Mohsen Rezaee (https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Nisman)." Este é o exemplo de INTRA MUNDO - fato conhecido por poucos porque é uma forma de perseguição de longa data, mas que as muitas narrativas que sustentam o antissemitismo são divisoras de águas, portanto, não são assimiladas por todos.

Considero que a maioria dos leitores da EshtáNaMídia acompanha muito fácil a narrativa do tempo - e compartilha da mesma opinião. Mas agora, vamos romper a barreira do tempo e entrar no tempo do espaço - o espaço físico.

E vamos preparar uma viagem mental para o Estado de Israel. Esta semana, na sessão "Você Sabia?", Itanira nos brindou com uma viagem à cidade de Kfar Bara - localizada em Israel e que foi crescendo ao redor de uma Instituição para crianças autistas de 7 a 13 anos. Uma pequena cidade organizada que tem a característica de ser habitada por árabes-israelenses. Porque vem merecendo destaque? Para romper a narrativas e entender porque os árabes elegem representantes no Parlamento - porque são cidadãos. Para romper os rótulos.

Nestes dias entre 17 de Tamuz e 9 de Av muito é conversado a respeito de como lidar com memórias - narrativas - justiça impiedosa e verdades únicas. E, virando o olhar para o tempo longíquo de Moisés no deserto, que no primeiro dia 9 de Av quebrou a Tábuas da Lei escritas por D'us, encontramos uma narrativa que acomoda a justiça impiedosa e a convivência permissiva. Dois irmãos que têm grande relevância na história bíblica Moisés e Arão reagem a um mesmo episódio de formas opostas - e as duas formas vão ao longo dos milênios sendo alternadas para que o bem maior seja preservado. Enquanto Moisés, possuído da verdade quebra a lei, Arão com o intuito de apaziguar o povo inquieto permite a construção de um bezerro de ouro. 

O balanço ENTRE MUNDOS - justificando o INTRA MUNDO - é a forma que temos para manter a VIDA.

Bastilha e Amia terem acontecido com uma diferença de apenas 4 dias, nas três semanas que separam 17 de Tamuz de 9 de Av é uma forma de lembrarmos que dando espaço ao tempo ampliaremos os que compartilham de nossa jornada e da jornada das próximas gerações.

Lembrando aqui os que nos deixaram neste COVID-time e os muitos que estão trabalhando de forma insana para que possamos viver, desejo a todos uma BOA SEMANA. 
Fiquem Seguros.

Regina P. Markus


segunda-feira, 13 de julho de 2020

VOCÊ SABIA? - KFAR BARA


KFAR BARA: uma cidade em Israel com fachada organizada, planejada e estética lidera o caminho entre as localidades árabe-israelenses!

Por Itanira Heineberg


Vista aérea de Kfar Bara, uma próspera comunidade árabe muçulmana com cerca de 3.000 habitantes.



VOCÊ SABIA que esta comunidade árabe-israelense magnificamente situada no centro de Israel destaca-se em educação, saúde e planejamento com soberania entre suas vizinhas graças aos esforços e dedicação de seu prefeito Mahmoud Assi, eleito democraticamente pela terceira vez para governá-la?

 

Ruth Wasserman Lande conta, em seu artigo no JPost, a história deste pedaço de céu azul em um firmamento enevoado de traições e ódios palestinos em relação aos israelenses.

A população, 100% formada por árabes muçulmanos, vive uma relativa estabilidade política e vigorosa liderança local pelos últimos 15 anos.

 

“Kfar Bara (ou Kafr Bara em árabe) não é um dos lugares mais bonitos de Israel, nem é o mais interessante historicamente. Não é uma localidade muito grande, nem culturalmente diversificada ou multifacetada. Kfar Bara desenvolve-se em meio a uma miríade de cidades principalmente judias, incluindo Rosh Ha'ayin e Kfar Saba.

Historicamente, com o estabelecimento do Estado de Israel, a Linha Verde dividiu o Kfar Bara israelense de seu equivalente na Jordânia na época, criando uma situação em que muitas das famílias que permanecem em Israel têm parentes no que hoje é território controlado pelos palestinos.”



Liderado por seu prefeito Assi e suas iniciativas estratégicas, político bem aceito e admirado por árabes e israelenses, este local é considerado por todos um similar árabe de Savyon, cidade israelense elegante e opulenta situada nas cercanias do aeroporto internacional do país.


Mesquita de Kfar Bara


Seus habitantes, graduados universitários com alto nível de educação, são a alta sociedade dos árabes-israelenses muçulmanos no centro de Israel e a vila é bem delineada, arquitetada, um lugar bonito de se contemplar.

 


Casa árabe – Kfar Bara


A maioria da população é jovem, com idade abaixo de 50 anos, como acontece geralmente com os árabes em Israel. A comunidade de 3.000 pessoas vive em um clima de “direito e austeridade".

“Essa realidade afeta os resultados das eleições municipais em localidades árabes, apesar do sistema Hamullah ainda arraigado, com base no voto de familiares. Cada vez mais é possível ver a jovem maioria lutando por mudanças, educação, um padrão de vida mais alto e inovação.

Um dos frutos da busca por inovação e modernidade acima mencionada, evidente em Kfar Bara, é uma mudança muito interessante de uma antiga percepção de vergonha relativa a qualquer coisa relacionada a crianças com deficiência para um conceito muito mais maduro e moderno, permitindo que as famílias sejam abertas e até orgulhosas de seus filhos autistas. 



Esse despertar floresceu em uma escola regional bastante surpreendente e única para crianças autistas, que permite que crianças de 7 a 13 anos de todos os governos locais da região sejam educadas e preparadas em Kfar Bara.


Escola para autistas – Kfar Bara


A maneira como este estabelecimento, apoiado pelo Ministério da Educação e pela liderança local, está sendo conduzido de fato é uma prova do nível pessoal e educacional relativamente alto dos habitantes de Kfar Bara. Sua capacidade de abraçar uma instituição e exibi-la orgulhosamente como um ativo é a chave para seu sucesso.” 



Financiados pelo governo israelense, a comunidade arrojada e criativa de uma localidade tão pequena e o Ministério de Educação planejam conjuntamente o complexo “Inovador” em cidades /vilas árabes em todo o país, para o ensino médio, num método singular e admirável de arte e música que incentive a aprendizagem e a qualidade da educação.

A liderança de Kfar Bara vai além das propostas educacionais e culturais. Aprimorando este trajeto estratégico de liderança, ficou estabelecido que o município também promoverá o estabelecimento de um motor de crescimento sustentável na forma de um centro comercial. Esse empreendimento não deve apenas ser parte integrante do setor privado, proporcionando emprego a um número significativo de habitantes locais, mas também servindo para promover o empreendedorismo social, na medida em que este centro comercial deve prestar serviços aos idosos e oferecer oportunidades de emprego para os habitantes deficientes de toda a região.

O município e o Ministério da Economia estão promovendo outra fonte de renda sustentável:

“- um parque industrial, que diversificará as oportunidades de emprego para os habitantes locais e vizinhos e também fortalecerá a renda do município por meio de impostos comerciais. Adjacente a este parque, foi estabelecida pelo município uma usina de disposição e reciclagem de resíduos de construção, apesar dos inúmeros conflitos políticos e adversidades dos habitantes locais.

Com o tempo, a visão do prefeito de fornecer soluções ambientais sustentáveis, que também podem gerar renda para o governo local, finalmente conquistou seus adversários no assunto”.

O imbatível prefeito Mahmoud Assi, um homem que despreza palavras vazias, firme defensor de seus valores, presidindo a associação ambiental regional das cidades Kfar Kassem, Kfar Bara, Tira e Kalansawa, desponta no revolto cenário político de sua região e apresenta-se como “uma figura a ser reconhecida na arena árabe-israelense”.


“O autismo é parte deste mundo, não um mundo à parte.” - Educando en la vida.



FONTES:

https://www.jpost.com/jerusalem-report/kfar-bara-leads-the-way-among-israeli-arab-localities-632652

https://m.facebook.com/%D9%83%D9%81%D8%B1%D8%A8%D8%B1%D8%A7-Kafr-Bara-49150325249/photos/?ref=page_internal&mt_nav=0

https://www.inspiradospeloautismo.com.br/como-escolher-uma-escola-para-sua-crianca-com-autismo/

https://escoladainteligencia.com.br/autismo-e-educacao-autistas-devem-estudar-em-escola-regular/

https://mapio.net/a/102166498/?lang=en

https://meucerebro.com/19-frases-inspiradoras-sobre-o-autismo-retiradas-das-redes-sociais/


quinta-feira, 9 de julho de 2020

EDITORIAL: Anarquia x Ordem - 17 de Tamuz - Organizando o Tempo


17 Tamuz de 5780 ---- 9 de julho de 2020



O dia sucede a noite em um caminhar eterno em que o sol e a lua alternam-se nos céus. Esta afirmação que parece uma verdade imutável tem conotações diferentes no equador, nos trópicos e nos polos, mas todos tomamos este fato como uma verdade inquestionável, assim como sabemos que a duração do dia e da noite muda ao longo do ano. Neste olhar a primavera chega iluminando o inverno, e o verão aquece a todos os recém nascidos, que vão se alimentar com os frutos do outono, que é seguido pelo inverno. Inverno lembra o tempo de espera e de recolhimento para se proteger dos tempos difíceis. E nesta toada encontramos a eternidade, visto que tudo se repete. Mesmo nos dias de hoje, quando estamos unidos a pessoas ao redor de todo o globo terrestre, e muitos presos dentro de suas casas, não deixamos de perceber as mudanças da natureza.

Este ordenamento do tempo torna a vida quase atemporal. O que marca o passar do tempo, o evoluir, é a possibilidade de nos libertarmos de uma rotina que impede a real marcação do tempo.

O judaísmo, como uma concepção de vida, traz em seus costumes uma forma de viver o tempo presente sem esquecer os marcos do passado. A vida plena inclui muitos momentos de rotina e também muitos momentos excepcionais, bons e maus, alegres e tristes, e o judaísmo tem por objetivo abrir espaço a todos. Como está escrito na Torah - ESCOLHA A VIDA - e a vida contém todos os momentos, os tristes e os alegres.

No dia 17 de Tamuz - um dia de jejum - inicia-se um período de três semanas em que são lembrados muitos eventos ao longo da história que poderiam ter acabado com o Povo Judeu e que foram superados - O primeiro evento marcante foi Moisés quebrando as primeiras Tábuas da Lei ao se deparar com o povo adorando um bezerro de ouro. Neste dia, no ano 70, os romanos romperam a muralha que protegia Jerusalém e três semanas depois, no dia 9 de Av, destruíram o 2º Templo. E a história continua unindo motivos para prantear: em 1239, Gregório IX ordenou o confisco e a queima do Talmud; em 1391, na cidade de Toledo, foram queimados mais de 4 mil judeus em praça pública; em 1559, o bairro judeu de Praga foi queimado e saqueado; e em 1944, a população judaica de Kovno foi enviada 
pelos nazistas para campos de concentração.

Três semanas, em que a alegria e a música ficam um pouco à parte. Mas - e sempre tem um mas - é do regramento deste período de três semanas que podemos entender o que é dar importância à vida. Porque as regras devem ser rompidas quando a alegria for de tal magnitude, que nenhuma das tragédias que aconteceram por milênios podem apagá-las. Se é proibido dar festas, a comemoração da chegada de uma nova vida deve seguir todas as regras normais, com festas, danças e muita alegria. Se é proibido fazer rezas que agradecem pela felicidade de um momento especial, esta deve ser rompida ao chegar novos frutos ou conquistar algo que se buscava por longo tempo. A vida, o presente, tem prioridade sobre a história, e neste contexto fica claro que a vida oscila entre regras rígidas e anarquia total.

E entrando nestes 21 dias que lembram que a vida precisa de ORDEM e ANARQUIA - das pedras e da água - é que continuamos vivendo nestes tempos de pandemia - aqui e alhures - sabendo que viver o dia a dia baseado apenas no passado é morrer um pouco a cada dia, e viver o dia a dia almejando apenas um futuro, é perder a possibilidade de ancorar em portos seguros.

Boa Semana!
Regina P. Markus

segunda-feira, 6 de julho de 2020

VOCÊ SABIA ? - Leonard Cohen



Leonard Cohen - 1934-2016


Erudição, religião e libido como alimento para L. Cohen
Por Itanira Heineberg


Você sabia que a Lituânia erigiu recentemente, no bairro judaico da capital Vilnius, uma estátua em homenagem a Leonard Cohen - o famoso cantor, compositor, poeta e novelista canadense cuja mãe nasceu na Lituânia?




“Ele foi cantor, compositor e, sobretudo, um poeta cujas palavras eram destinadas a atrair a atenção dos Céus. Neto de um rabino, Leonard era um contador de histórias que conseguiu capturar em seus poemas e músicas a essência, a beleza e a dor que nos rodeiam.”

 

Leonard Cohen nasceu em Montreal, no Canadá, filho de família judia com origem polaca.

Muito cedo, aos 9 anos, perdeu seu pai - acontecimento responsável por uma depressão que o atormentaria por boa parte de sua vida.

 Aos 17 anos, ingressou na Universidade Mc Gill onde criou um trio de música country.

Inspirado por Garcia Lorca e outros autores, escreveu seus primeiros poemas.

Em 1965 lançou seu primeiro livro de poesias, “Let Us Compare Mythologies” (Vamos Comparar Mitologias) e cinco anos mais tarde o livro que obteve fama internacional “The Spice Box of Earth”.

Após este grande sucesso decidiu viajar pela Europa instalando-se na ilha de Hidra, na Grécia, onde viveu por muito tempo com Marianne Jensen e seu filho Alex.

Em 1963 é a vez de sua primeira novela, “The Favorite Game”, e a partir desta data inicia-se uma sucessão de livros e novelas que o consagraram como escritor.

Decidiu então tornar-se compositor, mudando-se para os Estados Unidos,  lá conhecendo a cantora Judy Collins que gravou suas primeiras composições “Suzanne” e “Dress Rehearsal Rag”. A partir de então o sucesso sempre o acompanhou.


Estas são cinco das mais de 160 que Cohen compôs durante a vida:

Hallelujah - 1984

You Want It Darker

Famous Blue Raincoat

Dance Me To The End Of Love

Suzanne


Em meio a tantas canções, ouçamos agora “Dance Me To The End of Love” na voz rouquenha e inspiradora de Leonard Cohen:




Cohen dedicou 50 de seus 82 anos à carreira artística, legando-nos obras maravilhosas como a que mostraremos mais abaixo em um belo vídeo: Hallelujah.

Assim como o rei David em seu Salmo 51, Cohen cria um louvor a Deus, num lamento de dor e arrependimento mas nunca de abandono à sua fé.

Halleluyah é uma palavra hebraica que significa “Louvai a Deus”, palavra sempre repetida por David ao iniciar e finalizar seus salmos.

“No que diz respeito à etimologia, podemos fatiar a palavra em duas partes: “hallelu” ["louvai"] e “jah”, uma forma abreviada de “Yahweh” – um dos nomes de deus.”





Não há maior elogio a uma biografia de um artista do que dizer que ela nos ajuda a compreender de forma mais completa a sua obra.

Cohen ampliou esta possibilidade de o conhecermos melhor ainda por meio de sua colaboração junto à autora de sua biografia, Sylvie Simmons.



FONTES:

http://www.morasha.com.br/personalidades/leonard-cohen-compositor-e-poeta.html

https://www.lrt.lt/en/news-in-english/19/1093621/capital-of-rock-n-roll-sculpture-of-leonard-cohen-unveiled-in-vilnius

https://www.cifraclubnews.com.br/noticias/145596-significado-da-musica-hallelujah.html

https://observador.pt/2019/10/19/leonard-cohen-o-homem-de-ninguem/

https://www.pensador.com/frase/OTQ1NDE5/

https://www.google.com/search?q=leonard+cohen+est%C3%A1tua+na+lituania&rlz

https://observador.pt/2019/10/19/leonard-cohen-o-homem-de-ninguem/

https://www.letras.com.br/leonard-cohen/biografia


quinta-feira, 2 de julho de 2020

EDITORIAL: AMOR = Razão & Emoção




Chegamos ao segundo semestre de 2020, o pôr do sol foi maravilhoso, e os dias vão se sucedendo. Isolamento social, incerteza econômica e muitas histórias de solidariedade. Buscar o melhor para os que julgamos menos privilegiados. É impressionante como esta é uma via de duas mãos. Muitos imaginam que seria do rico em relação ao pobre, do jovem em relação ao idoso, enfim, dos que etiquetamos como privilegiados em relação aos que etiquetamos como desfavorecidos. Na realidade, durante esta pandemia cada um de nós pode parar e pensar e ver que é uma via de duas mãos. Porque todos são privilegiados em alguma coisa e, é nesta troca de energias que ultrapassamos o primeiro semestre de 2020.

Nesta semana, EshTá na Mídia publicou algumas matérias que mostram a importância do AMOR flutuando entre a razão e a emoção. Dois escritores que marcaram o século XX estão em nossos posts da semana: J. D. Salinger (1919 - 2010) e Franz Kafka (1883-1924). O autor americano celebrizado pelo "Apanhador no Campo de Centeio", que conta a história de um jovem inquieto, rebelde e, muiiito mais. O autor checo, que dispensa apresentações no mundo do pensamento fantástico, mas que aqui foi apresentado por usar toda a sua habilidade de criador, de sonhador, para mostrar seu lado mais humano. A emoção que temos ao ler sobre a boneca viajante e a mensagem de amor... a vida muda, muitos são os lugares, costumes e tempos, mas o sentimento e a emoção independe do exterior! Independe de ideologias, de revoltas e do momento, é sempre algo que vence o tempo e une muitas realidades.

Mas - e sempre tem um mas... onde fica a razão? O pensar, o estudar, o conhecer, o transformar.... tantas ações que muito prezamos e que sabemos ser um motor importantíssimo para que esta nossa nave Terra siga em frente e possa ser habitada pelas próximas gerações? 

Esta pergunta nos faz chegar a um outro post importantíssimo que colocamos esta semana e que certamente projeta o futuro. Uma prática muito comum ao estudar Torah, Talmud e tantos textos e livros judaicos é questionar - perguntar. Desde os tempos dos judeus que chegaram à Pérsia, durante o exílio babilônico até os dias de hoje, passando pela África, Europa e América, existe o costume de se estudar em duplas, de forma a poder questionar o texto em análise, e levar as questões mais interessantes para o grupo maior. O Talmud foi composto desta maneira. Agora, em pleno século XXI, o Rabino Jonathan Sacks, que foi Rabino Chefe do Reino Unido e que há muitos anos mantém uma intensa atividade na REDE em diferentes formas de divulgação apresenta um projeto em que serão recolhidas questões do mundo inteiro sobre judaísmo. Vale ver o post para entender a amplitude do projeto. Eu penso... elaborando o Talmud no Mundo Ocidental (há dois Talmudim - um conhecido como Talmud da Babilônia e o outro como Talmud de Jerusalém. Não deixem de olhar o post. 

AMOR - este não é pura aceitação e admiração - este é cuidar e ser cuidado - este é poder ser forte e fraco - este é saber indagar e também não ter vergonha ou medo de indagar. 

AMOR - que inclui razão e sentimento é capaz de seguir as ondas do tempo e não apenas buscar locais seguros - é capaz de ir ao encontro do desconhecido e mudar. É não ter medo de expor a sua verdade e confrontá-la com a verdade do outro, podendo chegar a um entendimento, ou mais, relevante, sabendo pontuar uma lista de diferenças.

Estes são os tempos do SUBMUNDO  BIOLÓGICO - o mundo dos muito pequenos - o mundo dos que nem consideramos vida... e é neste mundo que presenciamos e vivemos lindas histórias de AMOR.

AMOR é o respeito pelo diferente usando a RAZÃO e a EMOÇÃO.


Boa Semana!

Regina P. Markus