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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

VOCÊ SABIA? - Sugihara


"Visas for life"




Você sabia que um diplomata japonês, Chiune Sugihara, salvou 6.000 judeus na Lituânia com o trabalho de sua caligrafia e seu heroísmo?


“Até mesmo um caçador não pode matar um pássaro que voa em sua direção em busca de refúgio”.

Foi essa máxima Samurai que levou uma pessoa corajosa a salvar milhares de vidas, desafiando seu próprio governo e pondo em risco sua carreira.
O psicólogo Philip Zimbardo explica que em momentos históricos trágicos e inexplicáveis “as mesmas situações que inflamam a imaginação hostil em algumas pessoas, tornando-as vilões, também podem incutir a imaginação heróica em outras pessoas, levando-as a executar feitos heróicos”.
“Enquanto o mundo ao seu redor desconsiderava o sofrimento dos judeus, Sugihara era incapaz de ignorar seu desespero”.

Sugihara, determinado e guiado por princípios adquiridos em sua infância/juventude, desde cedo sabia o que queria e rebelou-se contra o pai que exigia que ele estudasse medicina.
Sempre um excelente aluno, Sugihara desejava estudar línguas, literatura e conhecer o mundo.
Ao entrar para o corpo diplomático recusou um posto de vice-ministro do Departamento de Relações Exteriores do Japão na Manchúria, em 1934, em protesto ao tratamento japonês aos chineses.


Em 1939, Sugihara foi enviado para a Lituânia, onde dirigiu o consulado. Lá ele foi logo confrontado com judeus que fugiam da Polônia ocupada pelos alemães.
Três vezes Sugihara telegrafou a sua embaixada pedindo permissão para emitir vistos para os refugiados. O telegrama de K. Tanaka no ministério das Relações Exteriores dizia: "Em relação aos vistos de trânsito solicitados previamente, stop (pare), aconselho não emitir nenhum visto, absolutamente, a nenhum viajante que não tenha saída garantida ex-Japão, stop (pare) sem exceções stop (pare) não mais perguntas esperadas."
Sugihara falou sobre a recusa com sua esposa, Yukiko, e seus filhos e decidiu que apesar do inevitável dano à sua carreira, ele desafiaria seu governo.”

Que fez ele então?
Sugihara passou a escrever vistos sem parar. Ele emitia tantos vistos em um dia quantos seriam emitidos normalmente em um mês.
À noite sua esposa Yukiko fazia massagens em suas mãos doloridas.

Em setembro de 1940, o Japão fechou a embaixada e Sugihara transportou a papelaria para sua casa e de lá continuou a emitir vistos, vistos estes já ilegítimos, mas que para a alegria e salvação de muitos, funcionaram devido ao selo do governo e sua assinatura. E foi assim que 6.000 judeus receberam estes papéis e se salvaram. Estima-se que hoje em dia mais de 40.000 pessoas estejam vivas graças a Sugihara.

Após a guerra nosso herói foi demitido do Ministério das Relações Exteriores e passou a trabalhar em insignificantes empregos secundários.

“Não foi até 1968, quando um sobrevivente, Yehoshua Nishri, encontrou-o, que sua contribuição foi reconhecida. Nishri era um adolescente na Polônia salvo por um visto de Sugihara e agora estava na embaixada israelense em Tóquio.”

Até então ele não tinha revelado a ninguém suas atividades de guerra. Até as pessoas mais próximas desconheciam seus feitos heróicos na Lituânia.
Em uma entrevista antes de sua morte ocorrida em 1986, ele foi interrogado pelo repórter sobre o porquê de sua ação, ao que ele respondeu: 

“Eu disse ao Ministério das Relações Exteriores que era uma questão de humanidade. Eu não me importaria de perder meu emprego. Qualquer outra pessoa teria feito o mesmo se estivesse no meu lugar.”

Imagem
Chiune Sugihara, em uma fotografia sem data. Crédito Asahi Shimbun, via Getty Images



Finalmente Sugihara teve seu heroísmo e caridade reconhecidos internacionalmente. Em Israel recebeu o prêmio “Justos entre as Nações.”
Homenagens e estátuas foram espalhadas pelos continentes.



Em outubro de 2018, Nobuki, único filho vivo de Sugihara, viajou da Bélgica para Nagoya, cidade onde o pai passou 10 anos de sua infância, para homenagear a memória de seu progenitor, em uma cerimônia especial onde foi inaugurada uma estátua de bronze de Sugihara entregando vistos a uma família de refugiados. 

Nobuki falou sobre o pai: “um homem muito simples, gentil, que adorava ler, jardinagem, e acima de tudo, crianças. Ele nunca pensou que o que ele fez foi algo de notável ou incomum. Muito disso era trabalho de caligrafia.”



FONTES:

http://mundo-oriente.blogspot.com/2010/11/sugihara-chiune.html

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

EDITORIAL - Ciência: a linguagem universal


A irrigação por sistema de gotejamento: uma das inúmeras inovações israelenses


Nós, que nascemos no século XX, estudamos e criamos filhos desde os 19xx, sempre nos maravilhamos com as novas tecnologias e com os avanços científicos que revolucionaram nossas vidas. Do celular e dos mais diversos aplicativos aos novos conhecimentos de biologia que permitem avanços significativos nas áreas da saúde e agricultura. Muitas vezes também vemos grupos de pessoas que têm dificuldade ou mesmo desconfiança com o novo. 

A EshTá Na Mídia tem mostrado a participação do moderno Estado de Israel nos processos de inovação e de mudança do nosso dia a dia. Desde o pendrive até programas como Waze, passando por vários medicamentos e técnicas novas na área de agricultura. E por que não falar do país desértico que é agora imune a variações sazonais nos regimes de chuva. Tecnologia e inovação aplicadas para a melhoria da vida de seus habitantes e de muitos outros países.

Hoje, quero brindar o nosso público com algo diferente. Em um encontro que aconteceu em São Paulo, no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), foram reunidos pesquisadores do Instituto Weizmann de Israel e brasileiros que trabalham no próprio Hospital, na Universidade de São Paulo e na Universidade Federal de Minas Gerais. De acordo com a Dra. Anna Carla Goldberg, o objetivo era permitir expor temas complexos como câncer, novos alvos terapêuticos, progressos em neuroimunologia, e expor como estes avanços podem voltar para a beira do leito do paciente e se transformar em melhoria da qualidade de vida. 

Foram quatro pesquisadores de Israel e seis do Brasil. Sem apontar detalhes, ficou confirmado que a ciência brasileira segue ombro a ombro com a melhor ciência internacional. Com muitos percalços e dificuldades que esbarram principalmente na falta de nossa percepção sobre o que é a busca da fronteira, do novo, daquilo que foi achado porque pessoas que estavam estudando fatos interessantes esbarraram no inusitado. Ao perguntar a mim mesma qual a grande diferença, ficou evidente que o cientista tem que ter imbuída em seu modo de viver a possibilidade de lidar com falhas e frustrações. Tem que saber transformar limões em limonadas. Tem que saber contornar grandes obstáculos e andar por novas vielas.

Desta constatação fica a grande diferença: em Israel premia-se as tentativas, ampliando-se a possibilidade de sucesso na busca do novo, enquanto no Brasil ainda é avaliado o sucesso, dificultando que “mares nunca dantes navegados” sejam explorados!

Hoje, lembrando Camões, que soube em prosa e verso conduzir nossas imaginações através do Cabo da Boa Esperança, desejamos a todos uma excelente semana.

Regina P. Markus

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Muçulmanos preservam as últimas sinagogas de Kolkata, na Índia



"Eu trabalho como cuidador da sinagoga de Magen David em Kolkata. Meu pai trabalhou aqui por 50 a 60 anos, e eu trabalho aqui desde 2008. Meu nome é Rabul Kahn, e sou muçulmano."

Conheça a história da sinagoga na Índia em que, como em uma fresta isolada do mundo, muçulmanos tomam conta do legado da comunidade judaica enquanto aguardam que os amigos judeus retornem.

(Vídeo exclusivo legendado pela equipe EshTá na Mídia)



segunda-feira, 22 de outubro de 2018

MISS HOLOCAUST SURVIVOR 2018 - HAIFA





Você sabia que no dia 14 de outubro, uma simpática e risonha bisavó de 93 anos foi coroada “Miss Sobrevivente do Holocausto” num concurso anual de beleza criado em Israel com o objetivo de animar (ou compensar, o que vocês acham?) e alegrar as mulheres que padeceram as atrocidades do genocídio nazista?
Tova Ringer, a escolhida entre 12 participantes e vencedora da sexta edição do concurso de beleza, nasceu na Polônia e agora vive em Haifa.
Esta competição é organizada por Yad Ezer L’Haver, ou “Helping Hand” (Mão que Ajuda), uma instituição dedicada a assistir e amparar os sobreviventes carentes do Holocausto.
Antes das vencedoras serem anunciadas, houve shows dos veteranos artistas israelenses Hana Laszlo e Sassi Keshet e uma performance pelo coro dos sobreviventes do Holocausto cuja idade média é de 90 anos e cuja temática das canções fala sobre a sobrevivência dos guetos na Europa durante o Holocausto.
O genocídio de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial desempenha um papel singular na sociedade israelense.
Em 1948, no despertar do Holocausto, foi criado o Estado de Israel, tornando o país um refúgio para centenas de milhares de judeus sobreviventes dos campos de extermínio nazistas.
Hoje vivem em Israel menos que 200 mil idosos sobreviventes.
“Uma dúzia de concorrentes percorreu a passarela com cautela - às vezes assistida - na cidade de Haifa, com cabelos penteados, maquiagem e faixas adornando seus vestidos.
Várias gerações de parentes, junto com simpatizantes, aplaudiram e tiraram fotos, ressaltando a mensagem dos organizadores de que o concurso concede glamour e honra ao número cada vez menor daqueles cuja juventude foi roubada na Europa durante a guerra, mas que construíram novas vidas em Israel.
"Estou muito feliz. É algo especial", disse a nova Miss Sobrevivente do Holocausto, Tova Ringer, nascida na Polônia, que perdeu seus pais, quatro irmãs e uma avó no campo de extermínio de Auschwitz.
"Eu não tenho palavras para as pessoas que trabalham aqui. Eles deram tanto ... coração para nós", disse ela à Reuters.
"Eu não acreditaria que na minha idade eu seria uma beleza", brincou a ex-joalheira, com uma tiara sobre o cabelo branco.
Outras concorrentes incluíam uma ginecologista aposentada e técnica de gás, ambas com 81 anos de idade, e duas autoras de memórias do Holocausto. A mais jovem, 74 anos, ainda trabalha como professora apesar das complicações da pneumonia que sofreu quando criança na Romênia.”





Alguns comentaristas e sobreviventes temem que o evento ofusque a memória dos 6 milhões de judeus mortos pelos nazistas. Há quem considere este concurso de beleza muito controvertido.
Mas um alemão presente considerou “uma celebração maravilhosa”.
"É muito importante para minha geração conhecer a história do Holocausto, da Shoah, e é importante para mim apoiar essas pessoas", disse Jan Fischer, gerente de cartão de crédito, de 52 anos de idade de Munique.
"Eu desejo que isso (o genocídio) não aconteça novamente - nunca".




Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para o EshTá na Mídia.

FONTES:








quinta-feira, 18 de outubro de 2018

REINVENTAR: a chave do futuro?





Estamos vivendo no que parece ser a fronteira dos tempos. Os avanços tecnológicos são de tal ordem, que muitos têm dificuldade de saber o que virá. Rompemos conceitos básicos na Física, Química e Biologia. Muitos não percebemos o que vem acontecendo na fronteira do saber, mas todos aproveitamos as vantagens e desvantagens destes imensos avanços.

Para a maioria dos nossos leitores falar de números irreais é algo que não faz o menor sentido. Para matemáticos foi um problema por séculos, visto que era impossível transformar estas entidades em uma figura geométrica. Mas há muitos séculos, foi como visualizar e tornar concretos estes números. É só sair do papel e passar a escrever também no ar. É sair do mundo plano e entrar no mundo em que vivemos, um mundo que tem volumes, corpos e que se projeta no espaço. Naquela época, muito do saber foi revisitado e reinventado.

Poderia dar exemplos mais fáceis, como usar o famoso WAZE, ou o Google Maps. A maioria de nós não entende como isto é feito, mas quando olhamos para o celular e identificamos rotas e trajetos que sugerem o melhor caminho para ir à pé, de transporte coletivo ou de carro, e que ainda identifica as ondas de trânsito e sugere um bom trajeto, nem pensamos como era há 20 anos. Todos já alcançamos o mundo tecnológico do século XXI, e na maioria das vezes estamos muito confortáveis com o momento.

MAS - e sempre tem um MAS - ao olharmos as sociedades, os países e todas as disputas e incongruências temos que parar e repensar. Atualmente, neste país percebemos algo estranho: o mundo parece estar dividido em dois grupos. Os que exaltam a igualdade de todos os indivíduos, retirando o mais precioso tesouro da humanidade, a diversidade. E aqueles que querem rotular grupos de pessoas, e com isto criar uma diversidade artificial, porque acham que pessoas de um mesmo grupo são consideradas iguais e incompatíveis com as pessoas dos outros grupos. Percebemos que estas atitudes estão nos levando a um ponto de conflito sem volta, alardeado por pensadores e cientistas. Alardeado por líderes e pelas redes sociais.

É neste ponto que devemos olhar para o Passado e ver como isto foi enfrentado, se é que já foi.
A História do Povo Judeu é muito longa, uma história que se inicia com Abrão saindo da casa de seu pai e abrindo novos caminhos. A História do Estado de Israel moderno é muito mais curta - está na casa dos 70 anos. Não tem nem um século! E foi criada a partir de um sonho de um judeu assimilado, Theodor Herzl, que escreveu um Livro: Der Judenstaat - O Estado Judeu - no final do século XIX, em resposta ao crescente antissemitismo que se tornava público na Europa. Aqui, a proposta era: saiam do conforto europeu e voltem à Terra Prometida.

Nos dois casos a idéia de REINVENTAR está inclusa - e deixando algo para falar nas próximas semanas, é muito importante que cada um de nós brasileiros lembremos que indepentemente de nossas opiniões, temos que respeitar o outro e com isto REIVENTAR o nosso futuro conscientes de que todos moramos no mesmo Brasil.

Sabendo REINVENTAR a cada um de nós, saberemos seguir em frente juntos.

Shabat Shalom

Regina P. Markus

terça-feira, 16 de outubro de 2018

VOCÊ SABIA? - O massacre dos cristãos novos em Lisboa



Você sabia que em 1506, durante o reinado de D. Manoel I, o Venturoso, aconteceu em Portugal um massacre de mais de dois mil judeus, culpados pela falta de alimentos e consequente fome em Lisboa, pela seca que castigava a cidade e pela própria peste que assolava a capital nos últimos 6 meses?

“A 19 de Abril de 1506, um Domingo de Pascoela, a minoria cristã-nova sentiu, pela primeira vez em Portugal, uma inaudita violência sobre pessoas e bens.
Damião de Góis escreveu que naquele dia a igreja do convento de São Domingos estava repleta de cristãos-velhos, pois surgira um rumor de que a 15 do mesmo mês, acontecera um milagre naquele templo dominicano. Os crentes aguardavam uma repetição. E ele aconteceu, aos olhos dos cristãos: uma luz brilhou no crucifixo da igreja e a multidão rejubilou. Menos uma pessoa. Que chamou a atenção para o facto de se tratar de um reflexo de uma das muitas candeias que estavam acesas. Esta pessoa era um cristão-novo, mas para os cristãos-velhos era um judeu e, por isso, alvo de ódio.”

Este cristão-novo (ex judeu ou judeu secreto) foi enxotado para a rua e morto em poucos minutos. Logo então queimaram-no no Rossio. O irmão do morto tentou acudir e foi igualmente assassinado e queimado na fogueira. Foi então que, aproveitando-se do tumulto reinante, um frade dominicano iniciou uma prédica contra os judeus. A multidão revoltava-se contra a comunidade judaica, clamava blasfêmias insultando os judeus, e quando dois outros frades aproximaram-se do orador empunhando um crucifixo e gritando palavras de ordem, “heresia, destruamos este povo execrável”, o massacre iniciou.

“Os crentes espalharam-se pelas ruas de Lisboa; a esta multidão juntou-se, segundo o historiador António Borges Coelho, a chusma das naus da Índia, que, atiçada pela pregação dos frades, violou, matou e queimou milhares de pessoas. Arrombavam as portas das casas, em busca de cristãos-novos, perseguiam quem tentava fugir, carregavam mortos e vivos para as fogueiras que iam sendo ateadas em vários locais da cidade, como o Rossio e a zona ribeirinha.”

Esta carnificina, os saques e destruição das casas e negócios dos cristãos-novos duraram 3 dias e segundo os historiadores foram registradas mais de duas mil mortes.
D. Manoel encontrava-se a salvo, fora da cidade, seguindo o covarde costume dos nobres fidalgos durante os tempos de peste, e ao saber do ocorrido ficou extremamente aborrecido e indignado, tratando de imediato de punir os culpados.

“Para castigar os habitantes de Lisboa, D. Manuel retirou uma série de privilégios à cidade: aqueles que se provara terem participado no morticínio perderam todos os seus bens; os que não estavam envolvidos, mas nada fizeram para deter a multidão, perderam um quinto dos seus bens; foi suspensa a eleição dos representantes da Casa dos Vinte Quatro e dos seus quatro representantes na vereação municipal da cidade.”

Homenagem aos judeus assassinados no massacre de Lisboa, em 1506, no Largo São Domingos.
"EM MEMÓRIA DOS MILHARES DE JUDEUS VÍTIMAS DA INTOLERÂNCIA E DO FANATISMO RELIGIOSO ASSASSINADOS NO MASSACRE INICIADO A 19 DE ABRIL DE 1506, NESTE LARGO."

O pogrom de Lisboa de 1506 é magistralmente relatado no livro O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler.
Baseado em cronistas da época, livros de Berequias Zarco recentemente descobertos e historiadores contemporâneos, o autor do romance relata em detalhes assustadores as atrocidades cometidas nestes dias de pogrom em uma Lisboa desvairada, abandonada à sua sorte, desprotegida pelas autoridades, enfraquecida pela falta de alimentos, água e tratamentos médicos adequados à peçonhenta peste.

Durante o sagrado feriado religioso da Páscoa, os cristãos-novos são brutalmente atacados, mortos e simplesmente queimados em ruas e praças, a fumaça e o odor forte da carne queimada espalhando-se por toda a região, alertando a população sobre o triste ocorrido.

Os judeus secretos de Lisboa sofrem também as consequências deste desvario da população carente da cidade e neste reboliço acontece o roubo ininteligível de um documento em execução: uma Haggada, guardada por Abraão Zarco (um grande e poderoso cabalista da época) e sua morte junto a uma moça desconhecida.

Surge aí um mistério a ser desvendado, quem matou Abraão, quem levou a Haggada, qual o significado desta obra?  Como entraram os assassinos em uma cave secreta, subterrânea, muito bem guardada e escondida e do conhecimento de pouquíssimas pessoas?

Cheio de dor e indignação, incrédulo e transtornado pela inverossimilhança do ocorrido, Berequias Zarco, discípulo e sobrinho do morto, sente que tem agora a missão de descobrir o assassino.

Esta obra foi escrita em 1966 e recusada por editoras de língua inglesa, mas após ter-se tornado um best seller em português, foi reconhecida internacionalmente como um grande livro histórico vindo a ser traduzido para mais de 20 idiomas.


Zimler escreve com maestria ao relatar com esmero os hábitos dos judeus secretos no início do século XVI, cuja sinagoga fora eliminada em 1947, vivendo a partir desta data num clima de não mais existir judeus em Lisboa.

Somos apresentados à vida destes cripto-judeus em seu cotidiano conturbado, sempre alerta a fim de não levantar suspeitas e não serem denunciados pelos vizinhos e até pelos próprios cristãos-novos. Conhecemos suas artimanhas para enganar os vizinhos, desconfiando mesmo dos que se dizendo amigos, preferiam muitas vezes receber um privilégio dos cristãos-velhos a esconder ou proteger alguém do próprio sangue. O clima de desconfiança nesta época aumentava o sofrimento de todos na comunidade e a incapacidade de se levar uma vida tranquila.

Um excelente romance histórico assim comentado pelo The Jerusalem Post “O dom que Zimler possui de por a descoberto o horror das injustiças humanas e ainda assim encontrar verdades universais e poesia na existência do dia a dia (...) faz dos seus livros uma leitura indispensável.”
Lamento não contar a solução do mistério da morte de Abraão, e do destino dos livros saídos de Portugal numa tentativa de serem preservados para o futuro do povo judeu, mas infelizmente ainda me encontro na página 120, capítulo VI, deste emocionante livro.


Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.

FONTES:

O Último Cabalista de Lisboa – Richard Zimler – Porto Editora







sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A VERDADE em NOSSO TEMPO



MUSEU DA BÍBLIA EM JERUSALEM      MAQUETE DE JERUSALÉM - época romana


O passado, a antiguidade, aparentemente tão distantes, muitas vezes são os testemunhos necessários para validar o presente. 

Nós que nascemos na metade do século passado e que convivemos com o século XX já adultos, muitas vezes nos perguntamos: como vivíamos? Ter apenas rádio e televisão como meios de comunicação rápido. Pagar somas altíssimas para estabelecer uma ligação internacional. A lista é longa e a diferença é o uso da INTERNET. Poder rapidamente saber o que muitos pensam e dar nossa opinião, sem mesmo conhecermos o nosso interlocutor, é uma nova forma de comunicação de massa.

Esta velocidade e abrangência vem cobrando um preço muito alto. O preço das distorções da verdade. Mas, será isto novo? Certamente não. Hoje o Estado de Israel e o Povo Judeu têm sido alvo de dúvidas quanto à sua existência e ao seu direito sobre a História da Terra de Judá, a Terra de Israel. 

Esta semana foi dado grande destaque ao achado arqueológico de uma pedra onde estava inscrita a palavra Ierushalaim (Jerusalém em hebraico) que data de aproximadamente 2000 anos. Uma pedra da era romana e que chamava a Capital do Estado de Israel pelo seu nome moderno e também pelo nome como é referida no Tanach (ch tem som de r), Livro dos Reis. Publicamos o fato no início da semana.

Para muitos, esta é uma prova essencial! Para os que têm dificuldade em acreditar nas falas, rezas e milhares ou bilhares de textos que falam sobre Jerusalém. O que estará por trás desta enorme desconfiança, que não é estendida para outras cidades da antiguidade na China, Índia ou Grécia? Ao procurar a resposta para esta questão podemos levantar duas hipóteses. A primeira é que isto faz parte da herança romana, que teve por objetivo apagar a Jerusalém judia do mapa, trocando o seu nome e a sua identidade e levando o povo como escravo para Roma. A segunda é que faz parte dos movimentos atuais, orquestrados por grupos islâmicos nas Nações Unidas e em todo o planeta, e que visam o mesmo objetivo.

Falando em Nações Unidas, esta semana estão sendo indicados países para compor a Comissão de Direitos Humanos e... continua o processo de serem indicados países onde as mulheres não têm direitos iguais aos homens, onde torturas e outras barbáries são aceitas de forma legal. Podemos vislumbrar que continuará o assédio ao Estado de Israel e a escamoteação dos atos terroristas realizados pelos habitantes de Gaza.

Falando em Roma, a Grande Sinagoga de Roma, localizada muito próxima da Cidade do Vaticano, hoje é uma representação viva que os judeus italianos são únicos. Suas famílias vieram de Israel há mais de 2000 anos. 

Mas histórias de famílias ou de pessoas podem ser apagadas no roldão das falsas notícias que dominam a mídia e as mentes. Desta forma, achados arqueológicos, com datação confirmada, agregam um tom de verdade ao tão conhecido e declamado fato que Jerusalém é a Capital do Estado de Israel. 

Regina P. Markus



segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Você Sabia? - JACOB, o JUDEU do BANDOLIM


 Jacob Pick Bittencourt  1918 – 1969



Você sabia que o triste e saudoso samba “Naquela mesa” foi composto em homenagem póstuma ao famoso músico brasileiro Jacob - o Judeu do Bandolim - filho de uma Polaca, operária do sexo, proprietária de bordel no Rio de Janeiro, e do respeitável farmacêutico capixaba Dr. Francisco Bittencourt?



Dona Sara Rachel e o menino Jacob


Sua mãe, Sara Rachel Pick, oriunda de Lodz, Polônia, praticava a profissão mais antiga do mundo. Era uma das Polacas, escravas brancas judias, enganadas em suas aldeias de origem e levadas ao Rio de Janeiro por cafetões europeus no final do século XIX.
Uma vez na nova terra, em meio a muita tristeza, trabalho, opressões e maus tratos, tentavam sobreviver. Assim, elas criaram um grupo de apoio coletivo, uma sinagoga e um cemitério, nunca se afastando de sua religião e tradições, sempre sob o estigma de viverem da vergonhosa e indesejável prostituição.

Sara Rachel Pick foi prostituta, meretriz, mulher da vida, e apesar de ser dona de bordel, nunca teve o comportamento de uma pessoa vulgar. Seguia com cuidado os preceitos de sua religião e respeitava os Shabbats e os sagrados dias de Rosh Hashaná e Yom Kipur - Ano Novo Judaico e Dia do Perdão, respectivamente.
Nunca aprendeu a ler ou escrever mas sabia fazer os cálculos mentalmente, exercendo o importante cargo de Primeira Secretária da ABFRJ na chapa de 1932.
A Associação Beneficente Funerária e Religiosa Israelita (Judaica), fundada no início do século pelas polacas cariocas, funcionou durante 62 anos em vários locais sempre cerca da Zona de Boemia da capital, sendo responsável pelo cemitério judaico de Inhaúma, por uma casa para acolher os idosos e inclusive um programa social para amparar as sócias enfermas ou aposentadas.

Jacob foi criado com muito carinho, sempre protegido pela mãe, ficando sozinho por horas em seu quarto observando a vida pela janela envidraçada que mostrava a rua.
Lá havia um senhor de idade, um francês cego que tocava violino e recebia moedas dos passantes que dele se compadeciam.
Jacob encantava-se com o instrumento e os sons que dele provinham e, ao completar 13 anos, pediu à mãe um violino - um presente bem acima das possibilidades de Dona Sara Rachel. O que fazer? Era o seu bar-mitzvá, idade em que o menino judeu atinge a maioridade religiosa e passa a ter a obrigação de cumprir os preceitos religiosos. Foi com sacrifício que conseguiu dar ao menino seu violino. Já para contratar um professor, não havia recursos financeiros.

Jacob encantou-se com o presente, mas apesar de muito tentar, não conseguia manejar o arco com sucesso e afinação. Foi aí que lançou mão de grampos de cabelo da mãe e obteve sons mais ao seu agrado.
Uma das amigas de Sara percebeu que o violino não era exatamente o que ele precisava e comprou-lhe um bandolim. A partir de então a vida de Jacob mudou e de composição em composição, de acorde em acorde, e de criação em criação, ele virou o maior compositor de chorinhos do Brasil, o “Mestre do Bandolim”, um verdadeiro autodidata da música.
Como todo menino e jovem de sua geração, Jacob estudou, viveu o dia a dia dos adolescentes, cresceu e conviveu com a sociedade em que estava inserido, mas sempre sob um duplo estigma: ser judeu e filho natural.
Em 1940 casou-se com Adylia Freitas e o casal construiu uma amorosa família junto aos seus dois filhos - Sergio Freitas Bittencourt, que se tornou um importante jornalista e compositor, e Elena Freitas Bittencourt, que cursou odontologia e mais tarde se tornou presidente do Instituto Jacob do Bandolim.






Sergio e Elena sempre foram fãs e grandes amigos de Jacob. Sergio, aos 29 anos de idade, profundamente acabrunhado com a morte de seu pai, compôs o saudoso samba “Naquela mesa”, que ficou famoso em todo o país e também no exterior.

Abaixo, segue a letra: 

        Eu não sabia que doía tanto/uma mesa no canto, uma casa e um jardim./Se eu soubesse quanto dói a vida,/essa dor tão doída, não doía assim./Agora resta uma mesa na sala/e hoje ninguém mais fala no seu bandolim./Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele/tá doendo em mim. (...)

       
Assistamos agora este choro de saudades de um filho que lamenta a morte de seu pai querido, na voz do autor Sergio Bittencourt e da cantora Elizeth Cardoso:




“Jacob do Bandolim é um dos responsáveis pela presença mais constante do bandolim no cenário musical brasileiro. Por suas mãos o instrumento passa da posição de mero acompanhamento para a categoria de solista. Ele cria uma maneira própria de tocar o bandolim, desde o manuseio da palheta, depois usada pela maioria dos bandolinistas que o seguem, até o estilo de composição e interpretação.”


Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.

FONTES: