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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

O Leão e o cordeiro - parashá Noé.

Noé. Noach.

Conto a história e deixo perguntas. A Parashá tem praticamente 2 partes. 

Na primeira conta que Deus, desaprovando a corrupção da humanidade que criou, decide destruí-lá ou, mais acuradamente, trocá-la. Procura Noé que, aos olhos de Deus, é o único homem justo e íntegro e lhe comanda que construa uma arca, dá as medidas e tudo, e nela embarca sua família inteira e lhe diz que virão até ele pares de todos os animais da terra e do céu, todos os seres “que têm sangue vivo”.  E então faz chover por sete meses ininterruptos até que toda a superfície fica submersa e tudo que habitava a terra, e todos e tudo “em cujas narinas tem sopro de vida”, morre. 

Então, diz a Torá, que num certo dia Ele "Se lembrou de Noé e das espécies que estavam na arca e faz as águas baixarem. Noé manda um corvo e depois uma pomba, que vai e vem várias vezes, e quando ela traz no bico uma folha seca, ele se certifica de que é seguro desembarcar. Deus então comanda que desembarquem todas as espécies, inclusive a humana, para repovoar a terra. 

Logo, para celebrar a vida preservada, Noé constrói um altar e oferece em sacrifício um filhote de cada espécie, consumido pelo fogo. Mas Deus se arrepende desta destruição e faz uma aliança com Noé, prometendo que nunca mais a água alagará a terra e matará. Aí segue um extenso relato da genealogia a partir de Noé e seus três filhos, e netos nascidos pós dilúvio. Desta parte da Parashá há muitos comentários, inclusive do magnífico Jonathan Sacks, z’l, de que há uma mensagem importante aí, de que o leão pode conviver em paz com o cordeiro como também consta de uma visão do profeta Isaías. 

E, para a pergunta que vem - mas, como isso seria possível? - vem a resposta: “porque se não, ambos morrerão afogados”. Isso me soa tão atual, me remete à situação da extrema divisão da sociedade israelense, nas ruas há quase um ano e que infelizmente se uniu pela horrível ação do Hamas em 7 de abril, hoje lutarão lado a lado dentro de Gaza todos os jovens soldados independentemente de em quem votaram, se protestaram na rua ou não, mas todos jovens saudáveis e motivados. 

E ainda na Aliança que faz com Noé Deus profere: 

Quem quer que derrame sangue humano, por mãos humanas terá seu sangue derramado, porque a humanidade foi feita à imagem de Deus. Estamos literalmente reencenando as palavras de Deus?

E para mim ainda fica a perniciosa pergunta: se Deus se lembrou de Noé após 150 dias, antes disso com o que estava ocupado? Onde está Deus e o que faz quando não se ocupa de nós, não se lembra de nós? E nós, onde estamos quando não nos lembramos dele? Chaguim ou crises como a de agora nos tiram deste tipo de distração e nos fazem lembrar de Deus? 

A segunda parte desta Parashá conta que todos na Terra falavam a mesma língua e as mesmas palavras. Conta que se estabeleceram na região de Shinar, lá decidiram fazer tijolos e construir uma cidade e uma torre para “se fazerem um nome” e desta forma se protegerem de ser espalhados pela terra. E quando, aparentemente em nova lembrança, Deus desceu para checar como a humanidade estava indo, deparou-se com esta cidade e a torre já alta. Diante disso exclamou: “se este povo falando uma só língua e as mesmas palavras conseguiu fazer isso, então nada a que se proponham fazer lhes será impossível!” E então decidiu confundi-los para que não mais entendessem um ao outro. Entendo que ele se surpreendeu. Mas teria ficado com medo ou com ciúmes? Será que Deus, ameaçado, quis mesmo punir os homens com a confusão de Babel? Podemos antropomorfizá-ló a este ponto? 

Evidentemente há muitos comentários e análises sobre isso. 

J. Sacks explica que Babel era um templo em forma de pirâmide em degraus e que de fato existiram 31 cidades com estes templos na Babilônia e a maioria tinha na porta a inscrição: “Porta para o Ceu” ou “O topo alcança o céu”…; o que Sacks diz é que se há algo que faz Deus rir é perceber os homens levando-se a sério, dando-se importância… e completa constatando que justamente na Mesopotâmia começaram os impérios da história…

Vimos na nossa discussão semanal no Grupo da Parashá que Yeshayahu Leibowitz, cientista e filósofo israelense, ortodoxo, parece "que não foi punição, mas ao contrário, uma ação em benefício da humanidade” porque ao impedir a intenção daquela geração de garantir uma só língua e uma só fala para não serem espalhados ou divididos, Deus impede ou dificulta "a tendência à centralização ou totalitarismo" - embora pareça a muitos que a concordância, a unanimidade ou a ausência de conflitos seja ideal, na verdade está é uma situação estéril, não há diferença de opinião e portanto, não há luta pelos diferentes pontos de vista, não há propósito. Só em uma sociedade plural, resumindo nas minhas palavras, é possível insurgir-se e criar algo novo, evoluir… diz Leibowitz: o propósito que podemos discernir na existência consiste justamente na diferenciação em pontos de vista contrastantes e diferenças sobre as quais as pessoas lutam e é por isso que a sua existência adquire valor moral”

Ainda, similar, uma importante contribuição sobre este pedacinho da Torá, a do filósofo franco argelino judeu Jacques Derrida que escreveu o livro Torres de Babel. Lá ele também se pergunta se Deus, ao estabelecer a confusão, ou confundir criando diferentes línguas e impedindo os homens de entenderem, o fez para os punir, talvez por ciúme? E também conclui que não; o nome de Babel dado após este episódio, vimos que foi comum, e significaria Bavel, Ba é pai e El é Deus, Deus fez prevalecer seu nome como o primeiro, o principal, acima de qualquer nome dado pelos homens, acima de qualquer nação. Ao constatar que a humanidade faria qualquer coisa confundiu-os, deu-lhes a incompletude, o impossível e a necessidade de batalhar por ele. Tornou imperiosa a necessidade de tradução, mas também a tornou impossível… Como assim?  Construir sem tradução é impossível. Babel quer dizer confusão mas é intraduzível, o nome do pai Deus é intraduzível, e é impronunciável…ele, e também Sacks, ressaltam a poesia deste pequeno trecho, rico em termos literários. Derrida finalmente propõe que “o sagrado não seria nada sem uma tradução, e a tradução não aconteceria sem o sagrado.” 

Eu reproduziria, em meus termos, e com o amor que tenho pela tradução, que além de criar e recriar uma mensagem ao traduzi-la, a tornamos mais sagrada e o que há de sagrado nela, nos permite torná-la compreensível pela tradução. A repetida leitura e tradução coletiva da Torá a torna cada vez mais sagrada e a nós também….

E que o leão e o cordeiro possam algum dia ler juntos…

Shabat Shalom.

Juliana Rehfeld

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Acontece: Caminhando Rumo ao Desconhecido - Olhando estes dias através da Torá

 Caminhando Rumo ao Desconhecido - 

                                                          Olhando estes dias através da Torá

ISRAEL em GUERRA - Am Israel Chai



Agora são duas semanas. Saí fisicamente de Israel no dia 15 de outubro, como estava programado originalmente. Fiquei alguns dias em Parma, Itália, e, esta última semana estou em São Paulo. Neste “Acontece” retomo ao texto do Prof. Yuval Noah Harari publicado no Estado de São Paulo de 22 de outubro de 2023 e embarco em uma viagem pelos textos de Torah lidos nas últimas 3 semanas. Vale conferir como o presente pode refletir o passado e tentar com isso manter a esperança do futuro deste planeta.

 

 

Prof. Yuval Noah Harari publicou no Estado de São Paulo (domingo 22/10 https://digital.estadao.com.br/article/281500755929077) uma análise política destacando os objetivos do Hamas – e de todas as facções islâmicas. Neste texto destaca “Mudança da Postura” da organização t3rr0ista Hamas. O nível de agressividade que ocorreu no dia 7 de outubro, sábado, foi algo ainda não observado. A palavra “MUDANÇA” foi usada pelo Prof. Yuval Harari para frisar que o grau de violência foi provavelmente proporcional ao objetivo de gerar uma resposta agressiva de Israel. A agressão aconteceu exatamente na semana em que o governo de Netanyahu estava participando de um esforço importante para trazer a paz para a região.

 

Quero agora viajar com vocês por outros mares!!!! Não são MARES NUNCA DANTE NAVEGADOS, ao contrário... São MARES pelos quais o povo judeu navega há bem mais de 3000 anos e que conta a HISTÓRIA DO MUNDO sob uma ótica UNIVERSAL . Sou uma navegante menor, mas, como adoro conectividades e “Knots, Dots and Vectors uniting the impossible or unthinkable” vou me aventurar nas leituras da Torá desde o primeiro Shabat em que cheguei em Israel, dia 7 de outubro, passando pelo dia 14 e ontem, dia 21 de outubro, já no Brasil. Chamarei a isso a trinca – 7/14/21!

 

7 de outubro 2023 SIMCHAT TORÁ – A Alegria da Torá – É quando são lidos trechos de 3 porções da Torá. Inicia com o último trecho de Dvarim  (Dt 14:22 - 16:17), seguido de Shemot (Num 29:35 – 30:1) e Bereishit (Gn 1:1 – 2:3). O último livro da Torá e o discurso de Moshé fez antes de Am Israel cruzar a fronteira e entrar na Terra Prometida. Moshé ficará, e partirá para outra dimensão com a idade de 120 anos. O livro termina com a passagem da liderança de Moshé, um gago, para Josué, um bravo lutador que lidera o povo na conquista. Em seguida, são lidos capítulos que comentarei num futuro. Pulamos direto para o Primeiro Livro da Torá.

A primeira parashat – Bereishit é lida de forma integral. Todos conhecemos o início da história, os 6 dias da criação seguidos de 1 dia de descanso. Na continuidade são apresentadas histórias das gerações entre  ADAM (terra) + Chava (alegria) e Noah. Muitas discórdias. Lembram de Sodomo e Gomorra? Chegando ao final da leitura (Maftir) Adonai literalmente declara SEU desencanto:

 

זוַיֹּ֣אמֶר יְהֹוָ֗ה אֶמְחֶ֨ה אֶת־הָֽאָדָ֤ם אֲשֶׁר־בָּרָ֨אתִי֙ מֵעַל֨ פְּנֵ֣י הָֽאֲדָמָ֔ה מֵֽאָדָם֙ עַד־בְּהֵמָ֔ה עַד־רֶ֖מֶשׂ וְעַד־ע֣וֹף הַשָּׁמָ֑יִם כִּ֥י נִחַ֖מְתִּי כִּ֥י עֲשִׂיתִֽם:

 

חוְנֹ֕חַ מָ֥צָא חֵ֖ן בְּעֵינֵ֥י יְהֹוָֽה:

TRADUÇÃO:

E disse o Eterno: “Farei desaparecer o homem que criei de sobre a face da terra; desde o homem até o quadrúpede; até o réptil e até as aves que voam nos céus; porque Me arrependi de os haver feito”. E Noah encontrou graça (חֵ֖ן) dentro dos olhos do Eterno. Deixei a palavra “Chen, Ren” em hebraico porque é muito difícil traduzir esta forma de sentimento positivo. No meio de tantos sentimentos negativos, foi encontrado um ponto positivo, e foi Noah que encontrou em Adonai um ponto positivo – e... início de uma aliança.

 

14/10/2023 A parasha Breishit é lida na íntegra. A aliança entre Noah e D’us é contada no capítulo seguinte . Ainda assisti esta leitura em Israel, após a primeira semana de Guerra, quando muitos levantaram e contaram o que estava se passando com seus familiares no front. Quando o Kadish foi dirigido a conhecidos, filhos e parentes e também a todos os que estavam no conflito. Quando o Rabino Eli ... leu uma prece que escreveu pensando no filho e também em todos que estavam servindo. Corria uma energia entre as paredes. Deby e eu subimos para uma aliá juntas e também carregamos o Sefer Torá enfeitado com suas esculturas.

 

21/10/2023 Parashat Noah – Esta parashat começa rememorando as crueldades que aconteciam na Terra e logo no primeiro versículo é lida uma palavra que resume o inominável – RAMAZ (hamas).

 

Sim, esta palavra está na Torá representando as ações que levaram D’us a querer destruir a Sua criação. Como encontrar a Aliança neste momento? Importante, a Aliança foi antes do surgimento do Povo de Israel, a Aliança foi entre um SER HUMANO que viu pontos positivos no horror, ou melhor, que soube estar pronto para passar em frente após todos serem destruídos por uma intervenção CLIMÁTICA que dura um longo tempo (40 dias) e que demora (150 dias) para que a vegetação retorne e a Arca de Noé possa aportar.

Também nesta parashat são contadas as gerações entre Adam e Noah e entre Noah e Avraham e entre Avrham e Moshé. Entre o Início do Mundo e o Início do Povo Judeu, o Povo de Israel.

 

Hoje termino sabendo que estamos em um momento nunca dantes experimentado pelos povos da Terra. Dia 25 de outubro – 18 dias de guerra – o mundo e o Brasil já mostra o antissemitismo de forma explícita e os apoios a Israel também de forma explícita. Muitos trabalham pela paz, e ainda poucos encontram caminhos para entendimentos.Deixo para outros momentos comentários mais assertivos, e neste momento fico com este fio de esperança para que possamos encontrar os caminhos que nos levam a uma nova realidade. Uma realidade que possa superar as mentiras criadas pelo Hamas e encontrar aqueles que possam criar um futuro. Será este melhor ou pior?

Eu acredito que ter um futuro é o que estamos perseguindo com muita tenacidade.

Regina P. Markus

22/10/2023 - revisto em 25/10/2023




terça-feira, 24 de outubro de 2023

Você Sabia? - Tribo perdida das estepes

 

Tribo perdida das estepes, uma comunidade de 2000 anos à beira de desaparecer.

Por Itanira Heineberg


Multidão de judeus de Bukhara, 1890.

Desde a década de 1990, milhares partiram para Israel.



Você sabia que os judeus bucaranos do Uzbequistão, em número de 20.000 meio século atrás, estão desaparecendo?

Em setembro 2023 a revista The Economist relatou a história desta tribo de judeus orientais do Uzbequistão:

 

“Ao por do sol de uma sexta-feira recente, o canto de oração ecoou em torno dos azulejos azul-turquesa de Bukhara, a antiga cidade uzbeque que os muçulmanos consideram a mais sagrada da Ásia Central. No entanto, não veio de uma mesquita ou madrassa, mas de uma sinagoga.”

 

Há mais de 2.000 anos os judeus vivem naquela cidade, um oásis localizado na antiga e conhecida Rota da Seda (mapa abaixo).



Fato relevante e recorrente entre os judeus da diáspora, eles têm cultura e língua distintas, o Bukhori, ou seja, um dialeto do persa. Infelizmente a comunidade está diminuindo rapidamente em números e pode desaparecer em pouco tempo.

Durante o governo da União Soviética, estes 20.000 judeus de Bukhara e outros mais 20.000 viviam espalhados pela Ásia Central – porém, atualmente, não há mais do que uma centena na cidade e outras centenas em todo o Uzbequistão.

Abraham Iskhakov, 73 anos de idade e cantor da sinagoga quatrocentona da cidade, lastima o fato de serem muito poucos os judeus ali residentes. Desde a morte do rabino há cinco anos ele tem conduzido os serviços religiosos da comunidade, na falta de um substituto.

Conta a tradição local que os judeus vieram para Bukhara em 538 BC, após serem libertados do jugo na Babilônia.

Mais judeus artesãos se dirigiram a Bukhara no século XIV ao serem convidados pelo imperador Tamerlane a viverem em suas terras e a comunidade floresceu com a chegada de artistas e comerciantes.

Ishkakov relata os ensinamentos de seu pai ao dizer que judeus e muçulmanos são irmãos pois o pai de ambos é Abraão. Mas, segundo ele, pairava sempre no ar a sensação de que judeus eram pessoas de segunda classe no reino muçulmano pois as portas de entrada de suas casas eram todas rebaixadas do nível da rua para mostrar que judeus deviam se curvar antes de entrar em casa.

Após a revolução russa, os comunistas donos do poder trataram todas as religiões com desdém. A maioria das sinagogas foi fechada e somente os velhos ainda podiam orar nas que sobraram.


Sinagoga de Bukhara


O Rabino Babayev, nascido em 1955 numa comunidade judaica, conta que seu avô foi preso e morreu na prisão, acusado de secretamente ensinar Judaísmo para crianças.

Em 1970 os comunistas permitiram a emigração para Israel e assim o êxodo teve início, acelerado com a queda da União Soviética em 1991.

Rabino Babayev abençoou muitas famílias que partiram para fazer a Aliyah (imigração de um judeu para Israel). Em 1997 também ele se foi.

A diáspora contabiliza aproximadamente 200.000 judeus de Bukhara entre Israel e Estados Unidos.

O rabino voltou algumas vezes ao país para alguns serviços religiosos, mas a septuagenária Marusya Malkyieva que havia imigrado para Israel voltou para sempre à sua terra natal. Ela conta que reservou sua cova ao lado da de sua mãe, no cemitério judaico que agora é muito bem cuidado por um muçulmano.

Mas seu filho, em Israel, telefona, reclamando que não encontra maridos aceitáveis para suas 3 filhas em Bukhara. 


Judeus bucaranos em NYC.



FONTES:

http://www.anussimbrasil.com.br/news-detalhes/475/os-judeus-bukharim-

https://herancajudaica.com/2017/11/05/judeus-de-bukharan/

 

https://www.economist.com/asia/2023/09/07/uzbekistans-bukharan-jews-are-disappearing

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Acontece - Uma dor que não precisa de justificativa

 

Por Guilherme Susteras


Meu editorial para a EshTá na Mídia, naturalmente, não poderia tratar de outro assunto neste momento que não fosse o desenrolar dos terríveis ataques terroristas contra Israel ocorridos há quase 2 semanas, no fatídico sábado, 7 de outubro de 2023 - 22 de tishrei de 5784.

Claro que a reação natural às notícias que chegavam de Israel naquelas primeiras horas da manhã do shabat seguia o processo natural de luto: choque, negação e raiva. Mas os sentimentos de muitos de nós estavam envoltos em ambiguidade: se o objetivo dos terroristas era causar repulsa, sentir repulsa os faria vencedores da batalha?

Se, por outro lado, os terroristas queriam criar um ambiente caótico de guerra, então a reação do exército de Israel significaria a assinatura de um certificado de vitória para eles? Mas como ficar passivo diante de tamanha brutalidade, de tamanha covardia, de tamanha violência contra nossos irmãos de sangue?

Para agravar ainda mais o cenário, nesta época de hiperconectividade e abundância de opiniões em redes sociais, evidentemente surgiu uma batalha paralela de informações, desinformações e palpites infundados, temperada com visões políticas extremas e discursos de ódio velados (e explícitos).

E, no final das contas, entre o inconformismo e a revolta com os eventos no mundo real e suas repercussões no mundo virtual, ficamos sob o risco de perder nosso espírito humano, nossa empatia natural pelos nossos semelhantes. Gastamos mais tempo buscando justificativas para os atos de terceiros — tanto do lado terrorista, quanto do lado Israelense — do que processando a dor da perda de vidas inocentes nos dois lados da fronteira.

Então, sem entrar no mérito sobre por que, nem como este conflito específico se iniciou, proponho apenas uma pausa para sofrermos pelas vidas interrompidas, pelos sonhos destruídos e pelas famílias dilaceradas, sem precisarmos nos justificar ou racionalizar os eventos. Apenas porque somos humanos e toda vida inocente conta.

Que suas memórias possam ser uma bênção para nós.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Acontece - ‎אני מאמינה - Ani maamina - Eu acredito

Por Juliana Rehfeld



Há quatro dias começou a operação de ataque do Hamas a Israel. Continuamos chocados, devastados, profundamente tristes, buscando meios de apoiar pessoas, famílias e instituições de assistência e saúde, e sedentos por informações . 

Quero pensar aqui na cobertura da mídia neste momento.

Um dos motivos pelos quais decidimos fazer o EshTaNaMídia, que inclusive deu o nome deste periódico, é denunciar e esclarecer conteúdos distorcidos que estão na mídia, global mas particularmente, a brasileira. Além disso, trazer a conhecimento conteúdos que são ignorados pela mídia - "o que não EshTaNaMidia" -, informações que faltam à opinião pública quando ela compõe a imagem que se tem de Israel e do próprio judaísmo. Acreditamos que assim combatemos, e ajudamos os leitores a combater, o antissemitismo e “antissionismo” à nossa volta de forma afirmativa. 

Esta mesma motivação tem, nos últimos anos, trazido ao cenário internacional e também brasileiro vários sites, periódicos e diversos informativos cujas notícias muitas vezes retransmitimos, sempre citando a fonte. O investimento internacional foi além, estabeleceu de maneira profissional os fundamentais  Honest Reporting e StandWithUs, este com escritório também no Brasil. Por aqui foi criado o IBI, Instituto Brasil-Israel. Estas organizações mais estruturadas vêm ganhando público nas comunidades judaicas e na sociedade mais ampla, mas mais importante ainda, vêm formando jovens e atuando dentro de universidades, em seminários e “laboratórios”, informando e convidando à reflexão jovens e adultos que passaram a ter uma visão mais clara da complexa realidade que é Israel. É um país único, em milhares de aspectos que se queira olhar. 

Quero aqui registrar a grande qualidade e diversidade de colaboradores, jornalistas ou não, que ganharam confiança e, consequentemente, espaço na mídia para explicar a história , o contexto e esta complexa situação com suas complexas consequências. Os conceitos trazidos e explicados mudam ou eliminam preconceitos. Acredito profundamente nisso. A cobertura do atual conflito pela mídia está em um patamar nunca dantes visto, com certeza porque é de uma gravidade histórica mas também porque é histórica a qualidade e disponibilidade do acesso aos fatos.

Há também o fator de que a mídia é não só autorizada como é convidada a acompanhar de perto as operações militares de Israel e dessa forma a guerra é hoje transparente. Transparente é o controle e abuso do movimento terrorista Hamas sobre a população civil palestina, verificável o uso de instalações civis e moradores como escudo, visíveis e audíveis os apelos da população de que o Hamas não repreenda os palestinos mas não há como dizer isso sem ser morto na sequência… também fica transparente a dificuldade de explicar o que deu errado no monitoramento da fronteira para permitir entrada de tantos novos mísseis (haviam sido eliminados na última batalha); transparente também a dificuldade das decisões que Israel precisa tomar, a complexidade - sem saída boa - de uma incursão em Gaza.

A presença maciça da mídia mantém ininterruptamente no ar a série de depoimentos, queixas, pedidos, relatos, feitos por cidadãos de Israel, judeus ou não, de suas buscas e perdas e suas histórias... Os pais de muitos jovens que morreram na rave em Reim se uniram e foram à TV israelense contar como foram as últimas palavras ao telefone. Nós, de fora da região que temos as vezes a vontade de mudar de canal para aliviar a permanente tensão temos, na minha opinião, no mínimo que abrir o coração e os ouvidos para estes relatos. 

Os corações de tantos de nós, em todo o planeta, se preparam para imagens que não queremos ver. Pais receberam orientação para desinstalarem aplicativos como TikTok dos fones de crianças porque imagens lá entram sem pedir licença. 

Este ano já é histórico para Israel. Nunca antes houve tanta divisão, tanta energia em manifestações por conta do inédito risco à democracia. Agora esta energia se voltou toda à colaboração, às doações e também ao alistamento voluntário de inúmeros jovens, antes mesmo de serem convocados!

O ataque de 7 de outubro 2023 trouxe e, literalmente, mantém no ar uma situação inimaginável aos 75 anos do Estado e mudou a história. Cada passo a partir de hoje, que sabemos ser inescapavelmente doloroso, qualquer que seja, começa a escrever um novo capítulo daquilo que, rezamos e esperamos, seja uma história diferente: uma busca por lideranças assertivas mas não abusivas, uma cobertura mais transparente e mais justa pelas mídias, uma vigilância mais consistente e mais justa por parte de organismos multilaterais, uma realidade de convivência pacífica entre populações vizinhas na região.

‎אני מאמינה - Ani maamina - Eu acredito   

Amém.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

CINEMA - Por Bruno Szlak: 50 anos da Gu3rra de Iom Kipur e 3 dias da bestialidade

 


50 anos da Guerra de Iom Kipur e 3 dias da bestialidade.

Esta semana marca os 50 anos da Guerra de Iom Kipur. Creio que muitos devem ter assistido ao filme Golda no cinema. O filme tem como eixo os 20 dias entre o início da guerra até o momento em que o exército israelense consegue cruzar o canal de Suez e levar ao final da guerra sob pressão dos Estados Unidos e comunidade internacional. A riqueza do filme está exatamente em mostrar estes dias, os medos e as decisões, a doença de Golda e como elipse, a comissão Agranat que investigou os eventos que levaram ao que foi considerado uma falha gigantesca dos serviços de informação de Israel. Golda assume toda a responsabilidade e com isso tem sua carreira política terminada.

Mas este não é o único filme ou série que toma a Guerra de Iom Kipur como leitmotif. Já há algum tempo Valley of Tears, cujo nome original da série é Sha'at Ne'ila - que significa "a hora de Ne'ila”, reza que marca o final do dia de Iom Kipur - é uma minissérie de televisão israelense dirigida por Yaron Zilberman baseado em roteiro de Ron Leshem e estrelado por Aviv Alush, Joy Rieger e Lior Ashkenazi. O desenvolvimento da série durou cerca de uma década e suas filmagens ocorreram durante 52 dias. A série encontra-se disponível na HBO Max e retrata os primeiros dias da guerra na frente norte, no Golan e todo o despreparo, desespero e medo. Mas mostra também os momentos de heroísmo. É interessante que a série mostra um fenômeno da época na sociedade israelense que são os Panteras Negras. O movimento israelense tomou emprestado o nome dos Panteras Negras americanos e foi das primeiras manifestações na sociedade israelense sobre a revolta dos imigrantes mizrachim (judeus vindos dos países árabes nos anos 1950 e 60) com a forma como haviam sido tratados pelo poder dominante até então predominantemente ashkenazita (judeus vindos dos países da Europa). São estes episódios, entre outros, que levaram em 1977 ao final do domínio trabalhista no governo e a ascensão do partido Likud de Menachem Begin. Recomendo muito a série.

Este ano, várias produções também estão disponíveis e em produção. O canal Kan de televisão israelense, que antigamente era o canal estatal, criou um hot site especial onde é possível ver vários vídeos de arquivos dos dias de Guerra (https://www.kan.org.il/lobby/yom-kippur-war/). Neste mesmo projeto, o canal produziu um documentário chamado HaAchat (a uma) que é uma série de documentários de quatro episódios (com duração total de 247 minutos). A série trata do Esquadrão aéreo 201 na Guerra do Iom Kipur. Os criadores são Amnon Rabi e Sima Kadmon, e o diretor é Gilad Toktali. Kadmon serviu como secretário de operações no esquadrão durante a guerra. 26 pilotos de combate e navegadores de combate do esquadrão foram entrevistados para a série (e vídeos feitos durante a guerra estão incluídos).

Ainda no canal Kan, em breve deve estrear uma série baseada em fatos reais estrelada por Michael Aloni (Shtisel entre outros) chamada Hamezach (o Pier). Hamezach é uma série dramática de guerra de cinco episódios, dirigida por Lior Hefetz, que deveria estrear em 9 de outubro, mas foi adiada pelo momento em que Israel está passando. A série descreve a história de um posto no canal de Suez durante a Guerra do Iom Kipur e os eventos que ocorreram após sua rendição. O roteiro foi escrito com base em pesquisas nos arquivos das FDI, análise de diários militares, gravações de redes de comunicação e entrevistas com os soldados que lutaram dentro e ao redor do posto avançado. A produção foi feita em colaboração com os combatentes do posto avançado e as famílias dos caídos, portanto, os personagens apresentados na série são baseados em pessoas reais e são chamados pelos seus nomes reais, com exceção de alguns que pediram para manter a privacidade.

Finalmente (mas sem esgotar outras produções), deve chegar ao mercado, em breve, outra série sobre Golda. Tendo Barbra Streisand como produtora, a série, a princípio chamada de Lioness, terá como estrela Shira Haas (Shtisel, Unorthodox). E uma produção americana da MGM/UA Television.

Escrita e produzida executivamente pelo vencedor do Emmy Eric Tuchman (The Handmaid's Tale) e com direção/produção executiva da vencedora do Emmy Mimi Leder (The Morning Show), a série é baseada no livro de não-ficção Lioness: Golda Meir and the Nation of Israel. por Francine Klagsbrun.

O livro narra a vida e a carreira de Golda. Abrange o seu nascimento em Kiev, a sua educação americana em Milwaukee, o seu papel na formação de Israel e a sua ascensão para se tornar a primeira e única mulher primeira-ministra da nova nação. Esta líder notável e muitas vezes controversa era (e ainda é) conhecida como a amada Mãe de Israel.

PS: Escrevo este artigo no terceiro dia após o ataque que o Hamas perpetrou conta Israel. Confesso que fiz um esforço grande para me concentrar e poder contar algo, que neste momento me parece dispensável. Confesso, que toda a minha formação humanitária e de tolerância e respeito pelas diferenças, se vê abalada por imagens que muitos de vocês devem ter visto nas redes sociais e que não estão sendo veiculadas na mídia convencional. Confesso que embora eu procure na arte e na expressão cinematográfica o que há de melhor na experiência humana, a minha crença no humano cada vez sofre um novo abalo. Na Ética dos Pais está escrito que “se eu não for por mim, então quem será?”. Há uma segunda parte deste versículo... Hoje, prefiro deixar a segunda parte para lá...


VOCÊ SABIA? - As quatro espadas

 

Quatro espadas de 1.900 anos atrás, provavelmente usadas durante a Revolta Judaica contra Roma, foram descobertas recentemente em uma caverna e exibidas ao público pela primeira vez em Jerusalém pela Autoridade de Antiguidades de Israel.

Por Ana Ruth Kleinberger



Você sabia que um esconderijo de quatro espadas e uma arma semelhante a um dardo chamado pilum foi encontrado em uma fenda em uma caverna na Reserva Natural Ein Gedi, perto do Mar Morto?

 

Pesquisadores da Autoridade de Antiguidades e da Universidade Hebraica que examinaram os achados dizem que eles aparentemente foram escondidos por rebeldes judeus depois de apreendê-los do exército romano como espólio.

“Somos mais uma vez apresentados a descobertas emocionantes do deserto da Judeia que oferecem um vislumbre da vida diária de nossos ancestrais que residiram nesta área há cerca de 2.000 anos", disse o ministro do Patrimônio, rabino Amichai Eliyahu.



"A descoberta dessas espadas dentro de uma caverna, onde uma inscrição hebraica que remonta à época do Templo foi encontrada anteriormente, serve como mais uma evidência da tradição duradoura do povo de Israel, enfatizando o significado tanto da palavra escrita quanto da espada, simbolizando nossa herança espiritual e física."

As armas foram descobertas por acaso pelo Dr. Asaf Gayer da Universidade Ariel, Boaz Langford da Universidade Hebraica e pelo fotógrafo da Autoridade de Antiguidades Shai Halevi. Os três visitaram a caverna para tirar fotografias multiespectrais especiais de inscrições paleo-hebraicas escritas em uma estalactite, na esperança de identificar e decifrar inscrições não visíveis a olho nu. 

Enquanto estava no nível superior da caverna, Gayer avistou um pilum romano extremamente bem preservado - uma arma de eixo em uma fenda estreita e profunda. Ele também encontrou pedaços de madeira trabalhada em um nicho adjacente que acabaram sendo partes das bainhas das espadas.

Depois de relatar o achado, o grupo voltou a examinar sistematicamente as fendas da caverna. Eles ficaram surpresos ao encontrar as quatro espadas romanas em uma fenda quase inacessível no nível superior da caverna. As espadas estavam excepcionalmente bem preservadas, e três foram encontradas com a lâmina de ferro dentro das bainhas de madeira. Tiras de couro e achados de madeira e metal pertencentes às armas também foram encontrados na fenda.

As espadas tinham cabos bem moldados feitos de madeira ou metal.

 

O comprimento das lâminas de três espadas era de 60 a 65 cm, suas dimensões as identificavam como espadas romana espata. A quarta era mais curta, com lâmina de c. 45 cm de comprimento, identificada como espada de anel-pombo.


Um exame mais detalhado das espadas na Autoridade de Antiguidades confirmou que estas eram espadas-padrão empregadas pelos soldados romanos estacionados na Judeia.

Os judeus se revoltaram contra o Império Romano em uma série de revoltas entre 66-135 d.C. A revolta culminou com a destruição do Segundo Templo e da cidade de Jerusalém, seguida pela queda da fortaleza de Massada (foto abaixo).



"É uma honra e extremamente emocionante participar desta descoberta", disse Gayer. "A inscrição e as armas nos ensinam um novo capítulo na maneira como a população judaica explorou as cavernas do deserto da Judeia em diferentes períodos. A riqueza de achados expõe um novo aspecto do antigo assentamento no oásis de Ein Gedi."



Amir Ganor, um dos diretores do Projeto de Pesquisa do Deserto da Judeia, disse que o Neguev está cheio de antiguidades que ainda esperam para serem descobertas.

 

E agora convido a todos os leitores a se emocionarem e surpreenderem com Ganor e seus companheiros arqueólogos, assistindo a este curto vídeo que registra a alegria e admiração do grupo, ao tocarem com suas próprias mãos, a História do Povo Judeu.



FONTES:

https://unitedwithisrael.org/1900-year-old-roman-era-swords-from-the-jewish-revolt-unveiled/?utm_source=MadMimi&utm_medium=email&utm_content=1900-year-old+%27Jewish+Revolt%27+Swords+Discovered%3B+5th+Country+Opens+Jerusalem+Embassy%3B+How+Media+Portrayed+Jerusalem+Stabbing%3B+Israeli+Team+Wins+Big+in+Europe&utm_campaign=20230906_m175643693_1900-year-old+%27Jewish+Revolt%27+Swords+Discovered%3B+5th+Country+Opens+Jerusalem+Embassy%3B+How+Biased+Media+Portrayed+Jerusalem+Stabbing%3B+Israeli+Team+Wins+Big+in+Europe&utm_term=ROMAN-ERA+DISCOVERY_3A+1900-year-old+Swords+from+Jewish+Revolt+Unveiled

https://edition.cnn.com/style/article/ancient-weapons-cache-judean-desert-scli-intl-scn/index

https://www.timesofisrael.com/four-1900-year-old-roman-swords-discovered-hidden-in-desert-cave/

https://www.nbcnews.com/news/world/roman-swords-discovered-dead-sea-cave-1900-years-jewish-rebellion-rcna103580

domingo, 8 de outubro de 2023

Depoimento - ISRAEL invadida! ISRAEL CHAI VEKAIAM

 


ISRAEL Invadida - (7/10/2023)

Israel Chai veKaiam


Regina P Markus 

Ramat ha Sharon

8/10/2023 


Uma revista francesa fez um comparativo de quais países soltaram notas 1) apoiando israel (Azul) 2) Neutros (Amarelo) 3) Apoiando o Hamas (vermelho) - transmitido por @Ariel Krok


Esta semana aconteceu algo que não estava em nenhuma de nossas agendas. Ontem Israel foi invadida! Uma primeira invasão foi feita por bombas e drones que entraram pelos céus de Israel bombardeando cidades e vilas. Foram tantos simultâneos que o sistema de defesa anti-aéreo israelense não conseguiu impedir que caíssem e destruíssem propriedades e matassem pessoas. O alarme tocou em todas as regiões que poderiam ser afetadas. Eram 6h30 da manhã. Estava na cama, lendo um livro no celular, quando soou um alarme muito alto, que vinha da rua. Em menos de segundos meu neto chega e rapidamente descemos para o quarto protegido. Ainda sem entender o que acontecia, fui informada que estavam bombardeando o país. 

Parecia algo inacreditável, era sábado, íamos à sinagoga e à noite para a rua, dançar com a Tora. Na cidade de Ramat ha Sharon, ao norte de Tel Aviv, é costume que todas as sinagogas, desde as reformistas até as ortodoxas, levem suas Torot para uma praça e dancem. Ao acabar a leitura da Torah é iniciado um novo ano e uma leitura. Ficamos em casa, ligados na televisão e em nossos celulares recebendo notícias e acompanhando os desdobramentos. Ficamos vendo o desenrolar da invasão.

O que víamos era incrível - impossível de acreditar! Palestinos invadiam Irael a partir de Gaza. Não apenas pelo ar, mas agora por terra. Entre Gaza e Israel há um muro de segurança, monitorado, que impede a entrada de palestinos por vias ilegais. Mas, há também algumas áreas em que a separação é feita por telas de aramados. O que vimos na TV foram enormes tratores, que mais pareciam seres pré-históricos colocando os aramados abaixo e atravessando a pé e em veículos militares. Israel estava sendo invadida por terra. Podem dar a nominação que queiram a estas pessoas, mas não há dúvida que o Hamas dirige a faixa de Gaza. Nos dois territórios-base dos palestinos as eleições há anos reconduzem os mesmos líderes. Mas devemos salientar que são dirigentes eleitos e considerados representativos pelas entidades internacionais. A diferença com Israel é que o parlamento (Knesset Israel) possui representantes de várias correntes, inclusive de árabes que são cidadãos israelenses. Em suma, Israel foi invadida por terra - e o que fizeram estas pessoas?

Cidades, vilas e festas ao ar livre foram invadidas. Homens, mulheres e crianças foram mortos a sangue frio ou sequestrados. Levados para Gaza! Pessoas que conseguiram correr e se esconder, ficaram muitas horas em subsolos e hoje apresentaram declarações sobre o ocorrido. Uma barbárie, em nome de ? 

Crianças separadas dos pais e sequestradas ou mortas - os relatos são chocantes. Por anos ouvimos falar das Forças de Segurança da ONU, que ficava entre Israel e os territórios palestinos... Onde estavam? Fica só a pergunta. 

É difícil fazer uma contabilidade de vidas, mas os números estão acima de 500 mortos e 2000 feridos. Números de sequestrados não são comentados, mas vemos pessoas contando como sua família foi levada.

Tendo escrito sobre fatos, acho importante colocar o que fez com que chegássemos neste ponto sem retorno. Os palestinos recebem uma quantidade enorme de recursos e lideranças importantes foram liberadas em troca de Gilad Shalit. Olhando o que aconteceu nos últimos tempos, lembro de enormes passeatas de palestinos ao redor da cerca. Cartazes ofensivos para Israel e crianças e jovens correndo e entrando em zonas neutras que deveriam ficar livres. O exército israelense foi criticadíssimo pela imprensa internacional por fazer com que os palestinos voltassem ao seu território. E... nós não entendemos o porquê daquelas manifestações. Hoje, são levantadas hipóteses por analistas do canal 12 de Israel que ali era uma forma de recolher informação sobre os locais que ontem foram usados para a invasão.

Um dia após, o exército de Israel entra em ação e fico pessoalmente impressionada com o que vejo entre vizinhos e amigos dos familiares onde estou hospedada. Há necessidade de doar alimentos, providenciar transporte, e outras ações para uma rápida mobilização. Os grupos da cidade estão providenciando o que é necessário para que pessoas que partem desta região possam chegar aos seus destinos. O país se mobiliza para sustentar o exército a proteger a nação. E neste momento, vemos que as divergências políticas podem ser superadas. Para não dar a impressão que o esforço de defesa derrube diferenças, é importante registrar que estou obtendo informações de grupos que, conectados por redes, ligam interesses comuns. São estas redes que também informam os mortos, os feridos e os desaparecidos. As diferenças são importantes, porque é da diversidade que vem a completude. Mas, quando um grupo atua para deliberadamente extinguir o outro há necessidade de mudar atitudes. O que aconteceu esta semana foi provavelmente um ponto de inflexão que vai nos levar a um futuro ainda não imaginado.

Circulam na rede imagens de Israel chorando e também circulam na rede imagens de Israel lutando. Cada uma destas imagens reflete nossa capacidade, como seres humanos de agir, reagir e promover. Muitos usam a palavra PAZ - e rogam pela PAZ. Aqui quero retomar um conceito judaico de PAZ. A palavra Shalom (paz) tem a mesma grafia da palavra SHALEM (completo) e penso que quando nós, como seres humanos pudermos entender que cada indivíduo é uma peça isolada de uma enorme engrenagem conhecida como humanidade e que se completa a partir de diferentes contribuições poderemos fazer com que a PAZ chegue. 

Se inicio falando de Israel invadida - termino pensando que tem que haver proteção e revidar esta invasão e que o mundo desta vez precisa ajudar a que a completude possa ser atingida sem ações unilaterais que enfraquecem e tiram o direito de Israel existir.

Agora, ao concluir devo registrar a minha esperança em um futuro que contemple as diferenças, que contemple assembléias legislativas e cortes judiciárias formadas por representantes de diferentes formas de pensar e que possam atuar dentro de suas atribuições de forma a serem complementares. 

SHALOM - SHALEM -

 PAZ e COMPLETUDE


 

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Acontece - Torá, Talmud, Midrash ... Do Prêmio Nobel à Inovação Disruptiva

 

 

É bastante comum considerar o judaísmo como uma cultura em evolução. Uma cultura que congrega várias faces. A religiosa, a legal baseada em leis e regras de conduta e também uma vasta literatura de debates e histórias ilustrativas (midrashim) onde opiniões divergentes são confrontadas. A vida judaica é repleta de momentos comunitários e mesmo os momentos de introspecção são feitos em comunidade. Há um eterno aprender a ser um entre todos e não necessariamente ser um corpo comunitário em que os indivíduos perdem suas identidades.




Este ano os pesquisadores Katalin Karikó (Hungria, Estados Unidos) e Drew Weissman (Estados Unidos) foram premiados com base em descobertas de ciência fundamental que permitiram o desenvolvimento de vacinas efetivas contra COVID-19. As descobertas básicas permitiram entender como os mensageiros que traduzem informações contidas no genoma interagem com o sistema imune. Gerar moléculas de mensageiro em tubos de ensaio não resulta em substâncias que possam ser usadas para gerar vacinas; assim, os pesquisadores fizeram alterações que permitissem criar vacinas de baseadas em RNA mensageiros (mRNA). Vamos usar uma linguagem comum para entender o grande salto! A ideia de uma vacina é produzir moléculas que se liguem ao vírus e façam com que este não se reproduza. O RNA mensageiro leva o código para produzir uma proteína específica, e no caso seria a que impediria o vírus de entrar em uma célula ou se reproduzir. Então era só fazer com que células de defesa, assim chamadas quando há uma invasão, recebessem a mensagem para produzir esta proteína protetora. Mas, quando isso foi feito... a proteína era reconhecida como estranha e aconteciam várias reações indesejadas. Katlin Karikó estuda este mecanismo há décadas e desvendou muitos segredos, e Drew Weissman é um especialista em células de defesa – os dois juntaram esforços pois trabalham na mesma universidade nos Estados Unidos, e conseguiram mostrar que o mensageiro (RNAm) pode usar vários enfeites. Na linguagem química alguns radicais que quando presentes driblam as células de reconhecimento - e a pessoa vacinada não identifica o mensageiro como um ser estranho, mas como um amigo! Esta descoberta inédita, completamente fora da caixinha, permitiu que fossem criadas vacinas de mRNA efetivas. A primeira a ser lançada foi a da Pfizer-Biontech contra variantes do vírus responsável pelo COVID-19. Seguem vacinas contra influenza, vírus da Zika, citomegalovírus e contra vírus capazes de gerar câncer. Fica assim evidente que pesquisadores que buscavam conhecer o além fronteira estavam prontos para saber que havia chegado o momento de agir e transformar o conhecimento em algo que fez a diferença no enfrentamento da pandemia que vivemos em 2020-2021.

Ao longo dos anos nos acostumamos ao fato de que judeus têm dado importante contribuição ao mundo das ciências e mais recentemente no mundo da inovação. Um levantamento feito pela Universidade de Stanford (Califórnia) sobre as universidades não americanas que geraram o maior número de empresas unicórnios nos Estados Unidos aponta a Universidade de Tel Aviv em primeiro lugar, o Technion em segundo e a Universidade Hebraica de Jerusalém em 4º lugar, seguida da Universidade Ben Gurion em 6º, para citar apenas as que estão entre as 10 primeiras do mundo (veja a chamada na nossa newsletter. Não assina? Clique aqui). Unicórnios são empresas que atingem uma valorização de 1 bilhão de dólares em bolsas de valores. Olhando as dimensões territoriais e demográficas de Israel, é realmente um êxito que em muito ultrapassa todos os países do mundo. Um outro ponto interessante é que entre os empreendimentos de sucesso foram distinguidos os formados por cidadãos israelenses, o que inclui árabes cristãos e mulçumanos. Há anos diríamos que faz parte do DNA do povo judeu, mas HOJE quero introduzir um novo conceito. Faz parte das muitas maneiras com que interagimos com o mundo. Muitas vezes pode ser a famosa “chutzpá”, que vou traduzir como uma arrogância e muitas a integração total com a perda de identidade.

Será este um fenômeno ligado ao pendor para negócios, que o mundo antissemita usou para rotular judeus durante séculos, ou será o resultado de uma cultura baseada no questionamento e no debate de ideias? Certamente, o fato do Estado de Israel privilegiar a ciência disruptiva e facilitar a criação de “startups” paralelas ao ambiente universitário é um grande diferencial. E não pode ser deixada de lado o apreço pela diversidade.

Estas atitudes sendo compartilhadas por muitos é a forma com que contribuímos para mostrar que o estudo e a curiosidade são essenciais para que o futuro não seja apenas uma repetição do passado. Com este pensamento positivo, vamos encarar as contribuições dos que estudam como um alicerce para um futuro de Shalom, Salam, Paz!

 

Regina P. Markus


Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Minha alma canta

 

Minha Alma canta sempre que Caminho junto ao Povo Judeu!




            Sinceramente? Eu não sei o que seja “ser um judeu”...

Para Amós Oz, talentoso escritor e idealizador do movimento pacifista Paz Agora (“Shalom Akhshav”), a base do judaísmo está no sentimento, nos vínculos de afeto criados com a comunidade e com a cultura.

Para ele, judeu é quem se sente judeu!

Já segundo os requisitos para a Lei de Retorno de Israel (“Aliá”), judeu seria, no mínimo, um neto de judeu... Essas regras estariam baseadas no princípio relembrado pelos pais fundadores do Estado de Israel, segundo o qual, “quem era judeu o bastante para ser arrastado para os campos de extermínio, também o deveria ser para ser aceito em Israel”.

Seria eu um judeu, então?

Meus vínculos com o povo judaico são tão grandes como meu coração, animado que são por elos inquebrantáveis de Amor, Ternura e Amizade. Bebendo nas definições lírico-poéticas de Amós Oz, não há dúvidas de que eu seria um judeu, já que me sinto judeu...

Entretanto, meus vínculos de sangue são tão etéreos como a poeira das naves, que séculos atrás, trouxeram os farrapos dos Naves, após o seu martírio, a sua tortura e o seu aniquilamento pelas fogueiras odiosas da inquisição...

Ou seja, eu não cumpro, nem de longe, os requisitos para a “Aliá”... Dificilmente eu seria considerado suficientemente judeu para ser enterrado nos calabouços odiosos do extermínio.

Ainda assim já sofri ataques antissemitas, e senti na pele alguns, por menores que sejam, dramas típicos da tão nobre gente judia.

Ou seja, as barreiras sociais originadas no lamaçal fedorento da ignorância, do ódio, dos preconceitos existentes, são as mesmas que enfrentamos.

Compartilhamos o fel amargo das taças da incompreensão, mas também a doçura do mel e a substância do pão, alicerces da nossa vida em comum.

Aliás, o Talmud (“Mishnah Sanhedrin”) diz que “Aquele que salvou uma vida, salvou o mundo inteiro”, demonstrando que, ainda que a Cultura seja essencial à existência de um povo, o sentimento de pertencimento que devemos ter é aquele que nos liga à Humanidade!

Sou um Judeu? Não sei...

Sou um ser Humano? Com certeza!

Vamos Juntos, lado a lado!

ANDRÉ NAVES

Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social e Economia Política.

Defensor Público Federal. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência Intelectual, além de diversas instituições voltadas à Inclusão Social.

Membro do LeCulam, da FISESP (Grupo de Inclusão das Pessoas com Deficiência da Federação Israelita de São Paulo).

Embaixador do Instituto FEFIG, para a promoção da Educação.

Membro do LIDE – Inclusão.

Comendador Cultural.

Autor do livro “Caminho – A Beleza é Enxergar”.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def