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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

EDITORIAL: USHPIZIN - SUCOT - SIMCHAT TORAH

Crianças montando a Sucá


USHPIZIN?

Uma palavra estranha para nós judeus brasileiros. Uma palavra mais estranha ainda para os que não são judeus. Uma palavra em aramaico, o idioma falado em Israel na Antiguidade. O significado desta palavra é CONVIDADO. Nesta semana que se segue ao começo do ano, em que todos se preparam para uma data muito importante, o recebimento da Torah, é comemorada a festa de Sucot - a festa das cabanas.

A EshTáNa Mídia tem como propósito básico criar material que permita rebater e combater o anti-semitismo e a difamação do Estado de Israel, mas quando chega esta época do ano, as bases do judaísmo que são fundamentais para a sobrevivência do Povo Judeu falam tão alto e trazem tantos simbolismos e informações que é quase impossível deixar de compartilhar com todos os nossos leitores alguns dos hábitos e costumes que regem este período.

Ao acabar o jejum de Iom Kipur, começa a construção de uma cabana, que entre as muitas regras deve ter um teto feito de folhas que permita ver as estrelas e dentro desta cabana todos devem comer durante 8 dias. Se por um lado é lembrado o tempo em que o Povo Judeu ficou no Deserto após a saída do Egito, por outro, é nesta época que se preza de forma explícita um costume muito importante. Receber convidados - e esta é a palavra USHPIZIN. Os convidados, ou os que aparecem, sentam-se à mesa e apreciam a refeição ritual. Conta a lenda que também chegam convidados de outra dimensão e cada um por um dia, os patriarcas, sacerdotes, reis e Moisés. O lado místico da vida se encontra com o lado prático do dia a dia em um local que fica ao lado da casa e que é construído de forma precária, com tábuas e folhas. Uma cabana enfeitada onde se pode comer com familiares e amigos, com colegas e professores e com isto lembrar que juntos podemos mais.

Mas estes dias em que a união é feita com alegria servem de preparativo para a data do recebimento da Torah - quando é enfatizada a importândia do  estudo. A Torah escrita - recebida em forma de rolos - é lida semanalmente. A Leitura começa e termina no dia de Simchat Torah - Alegria pela Torah. Da morte de Moisés - no final do livro de Dvarim (Deuteronômio) - à criação do mundo no primeiro capítulo de Bereishit (Gênesis), passam-se poucos minutos e é dado o recado que todos os tempos podem se encontrar. E que apesar da leitura ser cíclica e cada um dos ciclos terem muitos pontos semelhantes, eles não se sobrepõem. A cada passo da história podemos acrescentar fatos novos e podemos achar novos caminhos.

Nossos tempos são ricos em mostrar que novos conhecimentos científicos não apenas atestam que sempre há mais para descobrir, como também mostram que novas oportunidades ocorrem para os que são capazes de avaliar de forma crítica e metódica conhecimentos e fatos que parecem já ser de total domínio.

Se começamos o texto com CONVIDADOS, quero terminar com um conceito: TALMUD TORAH - estudo da Torah - ESTUDO. Neste período fica muito clara a importância do estudo. Não do saber, não do lembrar, não do seguir dogmas prontos: o que é relevante é buscar junto com convidados, junto com outros, estudar e criar.

Lembrando que a morte é um fato - a Criação que segue a morte a cada ano pressupõe que haja estudo e busca do novo através do conhecimento. Não há nenhuma incompatibilidade entre a Ciência e o Judaísmo. O Estado de Israel moderno é a prova viva desta afirmativa. Duas forças focadas no estudo capazes de gerar conhecimentos novos que vêm revolucionando nossa forma de viver e que mesmo os que querem tirar Israel do mapa não conseguem mais sobreviver sem usar os novos conhecimentos gerados nas áreas de medicina, agricultura, energia e o maravilhoso mundo das grandes bases de dados.

Boa Semana

Regina P Markus

Simchat Torah - Foto Jewish Life CT

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

VOCÊ SABIA? - Shoah





Você sabia que a palavra SHOAH foi introduzida na língua do mundo pelo famoso cineasta Claude Lanzmann, ao adotá-la para o filme de mais de 9 horas de duração e mais de 7 anos de produção que ele finalmente lançou em 1985?




Claude Lanzmann, filho de uma família de tradição judaica oriunda da Belorússia, jornalista francês, escritor e diretor de cinema, foi procurar esta palavra no judaísmo fazendo dela o título para seu filme, uma palavra tétrica, com o significado de tragédia, hecatombe, infortúnio.



Shoah, um vocábulo forte e carregado de emoções, foi entendido por todos e instantaneamente adotado pelo mundo. A partir de seu filme Shoah, o massacre de 6 milhões de judeus cometido atrozmente por Adolf Hitler passou a ser conhecido em todos os continentes.

“O mundo ficou incrédulo. A “solução final”, um dos momentos mais ignóbeis da história humana, de sua vergonha e de sua loucura, embora continuasse opaco e inconciliável, era por fim representado.”


Claude Lanzmann nasceu perto de Paris em 1925.

“Foi no Liceu Henry IV, antes da 2ª Guerra, que o judeu agnóstico encontrou o antissemitismo. Ele ficou estupefato ao ver como as salas de aula da burguesia francesa estavam infectadas por um ódio pegajoso. Foi um choque, mas Lanzmann permaneceu passivo. Após a guerra, ele leu A Questão Judaica, de Jean-Paul Sartre. “Sartre me curou, me livrou da vergonha de ser judeu. A cada linha, eu renascia.”


Sartre, então no auge da glória, dirigia uma revista, Les Temps Modernes. Lanzmann enviou alguns artigos. Sartre publicou e convidou-o a participar das reuniões de pauta. Ali, ele conheceu intelectuais – Deleuze, Merleau-Ponty, Rezvani – e a companheira de Sartre, Simone de Beauvoir. “Adorei sua voz velada, seus olhos azuis, a pureza de seu rosto e, acima de tudo, suas narinas”, contava Lazmann.

Militante anticolonialista, grande admirador de Franz Fanon, dos terceiro-mundistas e dos anarquistas, impetuoso, rabugento, caloroso, defensor entusiasta do Exército israelense, seus caminhos às vezes são confusos, quase incompreensíveis.”

Shoah foi um filme que causou um grande impacto no mundo, chocou as plateias e trouxe à tona uma verdade sangrenta da história da humanidade. Tornou concreta uma memória que muitos tentaram e ainda tentam apagar.
Lanzmann ficou conhecido como o titã do cinema, todavia não podemos esquecer que seu trabalho não parou por aí. Em sua vida longeva de mais de 90 anos, produziu outras significativas obras como “O Último dos Injustos”,” Napalm”, “Tsahal” e livros como “A Lebre da Patagônia – Memórias”.


Lanzmann e Simone de Beauvoir


“É pura obra-prima”, disse Simone de Beauvoir. “O filme tem magia, e magia não se explica.“

Mais de 70 anos se passaram desde o Holocausto – Shoah - e parece que o mundo não quer  refletir  sobre esta tragédia nem  aprender com o passado.
Assim sendo e em tempos de vívidas demonstrações neonazistas na Berlim do século XXI, é hora de  preservar e evocar a memória de Claude Lanzmann e de seu filme.



Últimas cartas do Holocausto


Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para o EshTá na Mídia.

FONTES:




sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Editorial: O Dia do Julgamento




Esta semana foi celebrado o Iom Kipur, por muitos considerado o dia mais importante no calendário judaico. Iom Kipur, também conhecido como Iom haDIN - o dia do julgamento. Diz a liturgia que em Rosh Hashana, cada pessoa é inscrita e em Iom Kipur, confirmada, no Livro da Vida. Este é um dia voltado para pedidos de desculpas e para perdão. Na liturgia judaica, uma pessoa deve pedir desculpas à outra e também o perdão deve ser concedido entre as pessoas. 

Há, no entanto, desvios ou quebras de promessas necessários que são feitas de forma involuntária. Para estes casos, existe uma fórmula muito bizarra de solução. Ao iniciar os serviços de Iom Kipur, ao por do sol,  quando o número de judeus em sinagogas é recorde, é lida e cantada a principal reza - o Kol Nidrei- Todos os Votos. Este lindo poema pede que todos os pecados cometidos daquele momento até o ano seguinte de forma involuntária ou quando for impossível não cometê-los sejam perdoados previamente. Esta "conversa" entre cada um, a comunidade e D'us estabelece a responsabilidade de nossos atos no campo do possível e dá a dimensão que a vida está acima de qualquer preceito ou regra que possam ter sido criadas em nome da religião e da vida em sociedade.


Então, neste dia do Julgamento, todos entram sabendo que o livre arbítrio é o foco de cada vida. A responsabilidade pessoal é de suma importância, mas quando não puder ser exercida existe um crédito: o crédito da boa vontade. O crédito de que o julgamento de cada pessoa sobre o certo e o errado são uma base muito importante para o convívio e a possibilidade de fazer com que a eternidade possa ser alcançada pela corrente que une as gerações.


Neste mesmo dia, a vida continua a fluir de forma normal no resto do mundo. Mas todos sabemos que os mundos estão interligados e que neste momento o Povo Judeu e o Estado de Israel estão sob ameaça contínua e constante. Assim, foi muito interessante quando, ao sair das sinagogas chegou a notícia que em um Tribunal de Porto Alegre, a juíza Cristiane Busatto Zard condenou os três skinheads pertencentes a um grupo neonazista gaúcho que atacaram com facas judeus. A notícia dada nos jornais de grande circulação, alguns em primeira página no Iom ha Din, Dia do Julgamento, foi uma coincidência interessante e mostra uma dimensão do Brasil que orgulha a todos. Um país que sabe viver além de seus erros.


Regina P Markus

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

VOCÊ SABIA? - Jejum





Você sabia que o jejum, prática milenar de religiosos dos mais diversos credos e de civilizações ao longo da história do mundo, faz as células “se comerem”, assim renovando o corpo e aumentando a longevidade humana? Quem afirma é o Dr. Yoshinori Ohsumi, recebedor do Prêmio Nobel de Medicina em 2016.




Jejum:
Em hebraico: cobrir (a boca), como em jejum;
Em grego: abster-se de comer voluntariamente como um exercício religioso, particular, em conjunto para único propósito ou público;

Dicionário Aurélio: abstinência ou abstenção total de alimentação em determinados dias por penitencia ou prescrição religiosa ou médica.”




Yoshinori Ohsumi, biólogo celular, professor da Universidade de Tóquio, afirma que o jejum é uma poderosa ferramenta a favor da saúde.
Segundo o ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 2016, a autofagia, processo de autodestruição de substâncias do próprio corpo, é essencial para o funcionamento satisfatório das células. A descoberta sobre esta reação, autofagia, criou polêmica nos centros médicos, ao comprovar que “ficar algum tempo sem ingerir alimentos elimina as células deterioradas do organismo, cria outras novas, sadias e mais eficientes para o bom funcionamento de nosso corpo, além de ser eficaz no combate aos malefícios do envelhecimento e na cura de doenças degenerativas.”




Onde fica agora a sábia recomendação de sempre comer um pouco de 3 em 3 horas?
Presentemente os estudos confirmam que tanto o jejum como a restrição calórica esgotam as células contribuindo para estimular a autofagia nas mesmas, impelindo-as a uma faxina interior no corpo além de paralelamente esticar a tão desejada longevidade. Vale lembrar que na autofagia o organismo detecta células doentes e elas morrem sem causar os danos que ocorrem quando as células morrem por necrose decorrente de injúrias físicas, químicas ou induzidas por bactérias, vírus, fungos, enfim, agentes biológicos.
E aí mais uma vez desponta a pergunta: e a alimentação equilibrada e nutricional tão fundamental para a boa saúde?
 Yoshinori Ohsumi responde: “O jejum faz tuas células se comerem – autofagia – e isto te renova.”




Resta ainda uma pesquisa que informe sobre a frequência de um jejum eficiente e seguro.
 “O jejum induz a autofagia, isso é sabido. Também sabemos que a autofagia induz à longevidade. A busca agora é entender a conexão entre a autofagia ativada pelo jejum e a longevidade das células”, explicou Soraya Smaili, professora livre-docente da Escola Paulista de Medicina.

Os judeus do mundo inteiro celebrarão no próximo dia 19 de setembro a festa de Yom Kipur, o dia mais sagrado do calendário judaico, e seguindo o mandamento (Levítico 23:26-32) jejuarão incluindo a abstinência de líquidos por 24 horas, de acordo com suas idades, saúde e condições físicas.
Este não é o único jejum praticado no judaísmo. Outros permeiam as celebrações do ano religioso dos judeus, assim como 10 de Tevet (cerco a Jerusalém – 1º Templo), 13 de Adar (dia que precede o Purim, quando Aman decretou morte aos judeus) e outros.

Em um diálogo sincero com Avinu Malkenu, Nosso Pai, Nosso Deus, o povo judeu praticará a Teshuvá, a penitência por seus erros e omissões, uma introspecção seguida por um exame de consciência, arrependendo-se de suas falhas e prometendo não mais repeti-las. É o momento de pedir perdão ao outro, pedir perdão pelas ofensas cometidas.

E assim, ao final da celebração, com a alma limpa e o coração tranquilo, a congregação rejubilar-se-á em vista de um novo ano e do perdão concedido.
O jejum de Yom Kipur produz a limpeza celular associada à purificação espiritual sugerida para os 10 dias de reflexão que nos permitem solicitar a D’us a inscrição no Livro da Vida para 5779.

Agora sabemos que o santo jejum, além de afastar-nos das preocupações terrenas, elevando-nos às alturas celestiais, está ao nosso lado, regenerando nossas células ruins ao mesmo tempo em que retarda nosso envelhecimento.





Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para o EshTá na Mídia.

FONTES:

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Editorial: Um pouco da Liturgia Judaica





Kedushá, Kidush, Kadish - Ao ler estas três palavras, aqueles que não conhecem a liturgia judaica podem imaginar que é a mesma palavra apenas com pronúncias diferentes. Na realidade, são três palavras e três rezas diferentes, ditas em momentos diferentes. Contextos diferentes para um mesmo texto. Cenários diferentes para adequar a mensagem a um momento específico. Mas, é no encontro entre estes diferentes cenários que encontramos a unicidade da diferença.

K(ק) –D (ד)-SH (ש) é a raiz da palavra sagrado. E as três rezas acima são textos
de santificação.

KEDUSHÁ faz parte da AMIDÁ – da reza central nas liturgias da sinagoga e
que também é chamada de Grande Oração. Na semana que se encerrou, no
primeiro dia de Rosh Hashaná, ao ver e ouvir o chazan (lê-se razan – e é o
cantor que dirige a oração) fazendo a Kedushá, com toda a reverência e
proclamando a frase do Profeta Isaías que dizia que o Santo dos Santos está na
multidão, pensei nas outras três rezas. E pensei que, assim como na Biologia, o que vale é a diversidade - assim na vida as repetições têm que ser diversas.
Na Kedushá fala-se do Senhor nas Multidões.

O KIDUSH é rezado em família, abençoando a fruta da vinha, que alegre e
entristece, que une e separa, que é santificado na forma de vinho, unindo o
processo do homem e a dádiva da natureza.

Mas a forma mais interessante de santificação para mim sempre foi o
KADISH. A reza é falada em aramaico, o idioma das ruas nas épocas dos
Templos de Jerusalém; dita muitas vezes e que separa cada uma das
partes da liturgia. A reza dita em homenagem aos mortos e que santifica a
VIDA. Como vemos, uma forma muito especial de dizer a cada um de nós que
os mortos e os vivos caminham juntos no mundo da KEDUSHÁ – no mundo
do sagrado.

Esta é a semana dos Iamim Noraim. A semana que une Rosh Hashaná a
Iom Kipur. O momento em que somos inscritos no Livro da Vida e o
momento em que esta sentença é Selada. Mas, para não tornar a vida
estéril e passível de ser apagada, há um momento na liturgia de Iom
Kipur – o momento da lembrança (Izkor) - dedicado aos que já foram. É o
momento que através do KADISH lembramos das conexões entre os
vários mundos, o momento em que as sinagogas do mundo inteiro estão
com um enorme número de pessoas e o momento em que muitas pessoas
que não vão às sinagogas lembram dos seus. Este é o momento em que o
Povo Judeu em 2018 deixa de ser composto por apenas 14,3 milhões de
pessoas e incorpora todos os que já se foram e mantém viva a sua
história.

K-D-SH – representam os três cenários importantes na vida humana – a
multidão (todos os povos, todos os homens e mulheres, o outro) – a família e
os amigos (com quem brindamos os momentos alegres) – e a eternidade,
representada por um momento único no ano em que os vivos e os mortos se
encontram nos portões abertos em Iom Kipur.

Shaná Tová u Metuká


 Regina P. Markus

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

VOCÊ SABIA? - Shofar




Você sabia que a palavra SHOFAR, já citada na Revelação Divina no Monte Sinai quando “a voz do shofar era por demais forte e todo o povo do acampamento tremeu”, designa um instrumento primordial do importante mandamento a ser observado pelo povo judeu nos dias do Ano Novo Judaico?




Escutar o toque do SHOFAR em Rosh Hashaná, ou Ano Novo Judaico - preceito que deve ser obedecido por todos - tem a incumbência de advertir os judeus sobre seus compromissos religiosos.
O chamamento do SHOFAR leva-nos a esquecer preocupações terrenas e muitas vezes fúteis para focarmos na primordialidade da alma.
A presença do SHOFAR é tão compulsória nesta data que o dia é chamado YOM TERUÁ, o dia do toque.

Segundo Maimônides, a mensagem do shofar é:
"Acordai de vosso sono e ponderai sobre os vossos feitos; lembrai-vos do Criador e voltai a Ele em penitência. Não sejais daqueles que perdem a realidade de vista ao perseguirem sombras ou esbanjam anos buscando coisas vãs que não lhes trazem proveito. Olhai bem vossas almas e considerai vossos atos; abandonai os caminhos errados e os maus pensamentos e voltai a Deus, para que Ele tenha misericórdia para convosco!"




Os três sons característicos dos toques do SHOFAR são:

Tekiyá, Shevarim e Teruá.

O primeiro, Tekiyá, é um som contínuo, como um longo suspiro, e simboliza o amor do Eterno por Israel. Anuncia também a coroação de D'us como Rei do Universo. Em Rosh Hashaná celebra-se a criação de Adão, que imediatamente proclamou D'us como o Rei do Universo e, a cada novo ano, o som do shofar proclama que Ele é nosso Rei. O segundo tipo de toque, chamado de Shevarim, são três sons interrompidos, como soluços.

Os sons entrecortados do shofar - Shevarim e Teruá - lembram suspiros e gemidos abafados que penetram no coração e servem para despertar a pessoa para o arrependimento e o retorno. Além de evocar e expressar sentimentos de profundo pesar pelas más ações que cometemos no passado, seus toques são uma conclamação às armas, como um tambor de guerra que confunde nosso inimigo interno e nos estimula a não desistir de nossa batalha espiritual.

Segundo Rashi:
Ao tocar o shofar, o povo judeu consegue apaziguar D'us, pois quando o Eterno ouve o som da Teruá e vê nosso arrependimento, Ele Se enche de compaixão por Seus filhos, levantando-Se do Trono da Justiça para Se sentar no da Misericórdia. Como a mensagem final é a do perdão Divino, o último som, a Tekiyá Guedolá, o grande toque, é bem longo. Este som não representa soluço, suspiro ou lamento, mas um grito de triunfo e alegria; pois estamos confiantes de que D'us tenha aceito o nosso arrependimento.
 A Tekiyá Guedolá lembra o grande dia, quando o Grande Shofar será tocado para reunir do exílio todo o povo de Israel, com a chegada do Mashiach.

Para a Cabalá, os toques lembram lamentos, um brado como um soluço do coração do povo judeu ansioso por se reunir a D’us.
Há muito a ser relatado sobre o SHOFAR, um dos instrumentos de sopro mais antigos da história da humanidade.
Um objeto curvo que nos lembra a humildade de nossos corações, que indica que devemos sempre nos curvar perante D’us.
Um instrumento feito de chifre de qualquer animal casher, limpo, com exceção dos bovinos pois eles lembram o pecado cometido no deserto quando o povo confeccionou um bezerro de ouro e o adorou.




Seu som inconfundível tem sempre o dever de nos elevar do mundo material para o espiritual.
Que nestes dias de reflexão e arrependimento, examinemos nossas atitudes  para com nossos semelhantes, meçamos  as palavras com que premiamos ou ofendemos aqueles à nossa volta,  e sobretudo esqueçamos um pouco este novo shofar do século XXI, esta ferramenta que nos acompanha do despertar ao deitar, ferramenta útil  mas por vezes imprudente,  estressante e perturbadora, o inseparável celular nosso  de cada dia, para prestarmos atenção aos toques abençoados do SHOFAR.



Boa semana!

Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.


FONTES

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

EDITORIAL - O Ciclo da Vida – A Roda Gigante




As imagens acima lembram que às vezes estamos em cima e às vezes estamos embaixo. Todos nós aceitamos que durante a nossa vida acontecem fatos que não são desejáveis, mas nenhum de nós aceitamos que estes devam se repetir como o percurso de uma roda gigante. Nossa tendência é imaginar que nossas vidas, apesar dos problemas, estão sempre premiadas por momentos de decisão e que estes podem ser aproveitados para mudar o rumo de uma história, ou mesmo evitar o pior.

Esta semana começou com uma notícia que horrorizou o Brasil. O incêndio do Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, na Cidade do Rio de Janeiro. Uma sequência enorme de entender e escutar avisos que o prédio que abrigava parte do passado do Brasil e da humanidade, bem como caminhos para o seu futuro, se perderam em um momento que havia sido anunciado por anos e anos. Falta de cuidado e manutenção. Aqui não é nem o lugar nem o momento de analisar causas e consequências, mas sim, a hora de usar o Ciclo da Vida para entender o porquê nós judeus temos uma forma muito especial de não transformar a nossa vida em uma Roda Gigante, mas sim em uma estrada que, por mais dificuldades que apareçam, tem momentos de ALERTA – momentos de AVISO – quando é possível refletir sobre fatos e, mais importante, criar estratégias para mudar os rumos. 

Chegamos em ROSH HA SHANÁ – em um dos ANOS NOVOS judaicos, o ANO NOVO voltado à pessoa e à comunidade, quando o cumprimento é SHANA TOVA UMETUKÁ. Um ANO BOM e DOCE – o melhor sentido desta frase é – alguns remédios podem ser bons, mas amargos – que a tua vida possa estar preenchida de coisas boas e doces. 


Outro costume muito importante em Rosh Hashaná é escutar o SHOFAR – um som especial, vindo de um chifre de carneiro – que tem por objetivo ALERTAR! 
  
Escutar o SHOFAR – fisicamente e espiritualmente.
Escutar o SHOFAR – metaforicamente e realmente.
Escutar aos ALERTAS – dos amigos, do corpo, da Natureza e também dos edifícios.

Se uma imagem vale mais do que mil palavras, e se uma palavra esclarece mais do que muitos sons guturais, sempre me perguntei por que tocar um instrumento tão antigo, e não proferir discursos ou mostrar imagens? Hoje a resposta vem fácil, é preciso olhar para uma imagem, e portanto é preciso mirar em uma direção. As palavras são desenhos feitos por uma pessoa e, também tem um foco final. O som de um berrante – o som de um Shofar – é muito característico e atinge a cada um de forma especial, e mesmo aqueles que não podem escutar sentem a sua vibração. 

Saber entender os sinais e sintomas de cada momento e com isto fazer com que o ano que se inicia seja BOM e DOCE.

Este é um momento dedicado às pessoas, à comunidade, ao vizinho, ao outro. Para lidar com todos estes fatores há uma condição essencial – a condição de escutar, mas também a condição de admitir que sempre há a possibilidade de erro, e que esta não deve ser punida além da percepção do próprio erro.

O erro é também um momento de alerta – o erro é o momento de criar planos e estratégias e talvez seja o som mais estridente de um SHOFAR que está tocando alto demais e emitindo sons que nossos ouvidos não foram capazes de entender. Mas, ao tocar novamente, mostra que o erro é apenas um hiato e que deve ser detectado e superado. Não deve servir para que paremos, mas para que mudemos de rumo.

E nós chegamos a este ANO de 5779, que se inicia no próximo domingo à noite sabendo que temos a frente um tempo precioso para criar novas oportunidades para os que nos rodeiam e muito mais.

Shaná Tova u Metuká - Um Ano Bom e Doce

São os votos das Editoras da Esh Tá na Mídia para todos os nossos leitores.

Regina, Marcela e Juliana.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

VOCÊ SABIA? - Golda Meir






Você sabia que Golda Meir, Primeira Ministra de Israel de março de 1969 a junho de 1974 e a Dama de Ferro dos políticos israelenses, viveu momentos de grande tensão durante os encontros secretos que manteve com o rei Abdullah, da Transjordânia, antes da declaração da independência do Estado de Israel?
Em 1947, antes da criação do Estado de Israel, Golda recebeu a tarefa de se encontrar com o rei da Transjordânia, o rei Abdullah, no intuito de apaziguar a atmosfera hostil que já vibrava no ar.



Golda, então chefe do Departamento Político da Agência Judaica, e Eliahu Sasson, expert em temáticas árabes, encontraram-se com o rei em uma usina elétrica às margens do rio Jordão. Golda relatou:

 "Bebemos as costumeiras xícaras cerimoniais de café e depois começamos a falar. Abdullah era um homem de baixa estatura, belo porte e grande encanto. Não tardou a ir direto ao assunto; ele não se associaria a qualquer ataque árabe contra nós. Disse que permaneceria sempre nosso amigo e que, como nós, queria a paz acima de tudo. Afinal de contas, tínhamos um inimigo comum: o Mufti de Jerusalém, Haj Amin el-Husseini. E não só isso. Sugeriu ainda que voltássemos a nos encontrar após a votação nas Nações Unidas".


Porém, Ezra Danin, outro expert em assuntos árabes, tinha outras impressões sobre Abdullah e desconfiava de suas boas intenções para com Israel. E não se enganou: com a passagem do tempo, o rei filiou-se à Liga Árabe.


Quatro dias antes da proclamação da independência, dia 10 de maio de 1948, Bem Gurion e Golda Meir quiseram tentar mais uma conversa com o rei porém ele exigiu que os israelenses fossem até Amã, a capital, pois tinha receio de ir até a usina novamente, e não se responsabilizaria pela segurança de Golda nem de Danin. Golda e Danin partiram de Haifa. Como ele falasse árabe com maestria, usaria como “disguise”, disfarce, uma kafiah na cabeça. Golda escreveu sobre sua camuflagem:

"Quanto a mim, iria com as volumosas vestes escuras de uma mulher árabe; eu não falava uma só palavra de árabe, mas como uma esposa muçulmana, acompanhando o marido, era pouco provável que tivesse que dizer qualquer coisa a quem quer que fosse".

Para não serem seguidos, efetuaram várias trocas de veículos em seu trajeto até o local onde seriam esperados e de lá levados até a casa de um dos assistentes de Abdullah.

Conforme relato de Golda, o rei estava em pânico, pálido, gaguejando, e após a conversa introdutória confessou que não mais poderia manter sua palavra de apoio a Israel. Agora já não estava mais agindo independentemente, agora havia 5 países: Egito, Líbano, Síria, Iraque e ele. Perguntou então qual a pressa de proclamar a independência do Estado de Israel, ao que Golda respondeu sabiamente:

"Quem já está esperando há dois mil anos, certamente ignora o que seja pressa. Vossa Majestade não compreende que nós somos seus únicos aliados nesta região? Se formos forçados à guerra, lutaremos e venceremos". Ele respondeu: "Vocês têm o dever de lutar. Mas por que não esperam alguns anos? Desistam de suas exigências de livre imigração. Eu assumirei o controle de todo o país e vocês serão representados no meu parlamento".

Ao ouvirem suas palavras desencorajadoras, Golda e Danin fizeram suas despedidas e regressaram a Tel Aviv numa viagem digna de ser apresentada em um filme de terror.

O motorista transjordaniano, apavorado a cada parada nos postos de controle da Legião Árabe, fez com que eles abandonassem o carro num local bem distante da usina elétrica. Em plena madrugada, mais de duas horas da manhã, os dois caminharam a esmo no escuro, incertos sobre a direção da usina em Naharaym.

Enorme foi o medo de Golda e maior ainda a sensação de fracasso por não obter o resultado esperado na conversa com o rei.
Golda e Danin foram encontrados por um jovem da Haganá que os esperava perto da usina.

"No escuro não pude ver seu rosto, mas creio que jamais segurei a mão de alguém tão firmemente e com tanto alívio" escreveu Golda.
Mais tarde, em julho de 1951, o rei Abdullah foi assassinado em uma visita à mesquita de Al Aqsa em Jerusalém.

Acredita-se que o responsável pelo crime tenha sido o Mufti de Jerusalém, desconfiado do desejo secreto de Abdullah de estabelecer a paz com Israel.




Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.


FONTES: