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sexta-feira, 29 de abril de 2022

Editorial - Memória e construção

Memória e construção



Parada pelo Yom HaShoá composta de crianças e jovens em Tel Aviv. 


Sempre lembramos pessoas, lugares ou momentos que nos foram agradáveis, de quem temos saudades e queremos mais. Bem, com a idade nem sempre lembramos informações e contextos, mas a saudade está em nós e é como se tudo estivesse presente!

Ao contrário, tentamos esquecer o que foi ruim, muito ruim, aquilo que nos remete a tudo que queremos distante, que preferiríamos não ter conhecido ou presenciado. E assim, se tivermos sucesso, limpamos “o nosso HD”, a memória pessoal, para fazer espaço ao que vem de bom por aí… se não tivermos sucesso, ficaremos assombrados com as imagens e sons que não nos deixam dormir e que às vezes nos levam a profissionais que nos ajudem a arrancar estas “grudadas” memórias pessoais.


Eu repito pessoais em contraposição a históricas, coletivas, comunitárias. O que fazemos com estas últimas? Aglomeramo-nos, presencialmente, ou por Zoom, para celebrar juntos e juntas o que é bom - e comemos, bebemos, dançamos…. ou para lembrar juntos e juntas o que PRECISAMOS LEMBRAR, e então contamos, recontamos, nomeamos, revisitamos. Em ambos os casos, das boas e das muito ruins, compartilhamos nossas memórias pessoais, ou que adquirimos por estudo, de forma que os mais vividos possam contribuir e, sobretudo, para que os mais jovens possam conhecer e absorver o que não enfrentaram e para que todos e todas possamos refletir sobre o presente e o futuro. 

O que passou passou. Já era! E não há nada que nós, pessoal ou coletivamente, possamos fazer a respeito. A não ser aprender e planejar construir mais e melhor daquilo que foi bom, e menos e maior proteção contra aquilo que foi ruim.


A Parashá desta semana se chama Acharei Mot - “Depois da Morte” . Relembra a morte dos dois filhos de Aarão vítimas de um fogo causado pela própria celebração de suas oferendas dentro do tabernáculo. O texto trata do luto e de como cuidar das próximas oferendas e sacrifícios depois dessa morte. Há interpretações sobre o detalhado manual de regras que se seguem que dizem: “Deus trocou a paixão pela disciplina”… mas muito importante é que trata da expiação da culpa, e da “reparação” do que foi “errado”, e estes elementos estão totalmente presentes em Yom Kipur.


E hoje para nós, o que traz? Para nós, que estamos esta semana forçando-nos a lembrar, coletivamente, o horror do Holocausto, o alcance antes inimaginável da barbárie humana no Yom HaShoá - Dia da lembrança do Holocausto e do Heroísmo dos combatentes do Gueto de Varsóvia.  


Para nós é fundamental, e não só hoje, contar o que se passou para quem não esteve lá, para quem nunca ouviu falar disso - e olha que este grupo é muito grande, no mundo e principalmente no Brasil! E, justamente porque o contexto foi tão terrível e é difícil de acreditar no que ocorreu, faz-se necessário revisitar os tristes inúmeros registros que se coletaram a partir dos depoimentos de sobreviventes. Destes sobram cada vez menos que possam contar de viva voz a história. Fazem-se diversos cálculos sobre o número de sobreviventes mas o fato é que o mundo é sobrevivente do que ocorreu. Os que estiveram em campos de concentração e de extermínio - judeus, ciganos, homossexuais, deficientes, opositores ao regime nazista - mas também os soldados, os colaboracionistas, os delatores e a grande maioria omissa. 


Para nós que recordamos e presenciamos essas mortes absurdas, desnecessárias, imperdoáveis - e atuamos a cada dia para que aquele horror não se repita, é fundamental não só lembrar, contar, compartilhar e honrar acendendo velas; é fundamental construir, individual e coletivamente, um manual de convivência humana, sistemas de detecção de sinais que mostram tendências de horrores, e alertas que impeçam estes sinais de evoluir, cortando estas pragas pela raiz. 


Trazer este conteúdo de modo estruturado às escolas públicas, fazer cerimônias, educar. Insiro uma foto tirada hoje em Tel Aviv de uma parada pelo Yom HaShoá composta de crianças e jovens. 


Mas é claro também que é precioso construir, dia a dia, as memórias alegres, fraternas, amorosas e lindas das quais as próximas gerações queiram muito lembrar e celebrar! 


Shabat Shalom!

Juliana Rehfeld

segunda-feira, 25 de abril de 2022

VOCÊ SABIA? - A vibrante cantora FORTUNA e sua música no Museu Judaico de São Paulo

 Por Itanira Heineberg


“A música é uma das formas mais potentes de expressão artística, um elemento imprescindível na tradição judaica, seja ela litúrgica nas sinagogas, klezmer ou judaica não litúrgica, outros gêneros também – contribuindo na construção da história da cultura judaica.”

 

Você sabia que o primeiro show no MUJ anunciado para 30 de abril de 2022 contará com a cativante intérprete musical Fortuna, uma fã de longa data desde o início do projeto do museu, escolhida para encantar a todos com seu repertório de mesclas musicais de origens distintas?



“O MUJ está preparado para receber músicos, promover encontros e trançar essas tradições, assim como ser um espaço de criação e expressão musical.” 

 

Fortunée Joyce Safdié, nome artístico Fortuna, nasceu em São Paulo em 1958 no seio de uma família sefardita e desde cedo demonstrou paixão pela música. A grande mudança em sua vida ocorreu em 1991 quando viajou para Israel e conheceu o país, o povo e as diversas facetas da cultura judaica.

Mergulhou com vontade na música, garimpando velhas e novas canções, pesquisando com gosto o cancioneiro sefardita e estabelecendo vínculos entre sua música e a de outras religiões e culturas do mundo. Cantora e compositora brasileira, Fortuna, ligada também à dança e ao teatro, possui uma trajetória musical de mais de 30 anos, numa aproximação com cultura e música sefardita tentando recapturar velhas canções apresentando-as em estilo moderno.

Muito há a ser dito sobre esta pessoa fascinante, sua produção musical é incontável, seus prêmios e condecorações são incríveis e seus laços com outros músicos abrangem todas as idades, gostos e credos.

Um de seus trabalhos que muito me encanta é o coro formado juntamente com os monges do Mosteiro de São Bento em São Paulo.



Abaixo apresentamos um curto vídeo de Fortuna cantando o Salmo 45:10 do Canto dos Cânticos da autoria do Rei Salomão – Ani le Dodi ve Dodi Li:

“Eu sou para meu amado, e meu amado é para mim.”

 



A direção do primeiro espetáculo no MUJ está nas mãos de Gustavo Kurlat, argentino de Buenos Aires, radicado no Brasil desde os 19 anos, compositor, diretor musical, diretor teatral, dramaturgo e escritor, além de tradutor, educador e locutor. 


Segundo Gustavo Kurlat,

“Abrir a programação musical do Museu Judaico reitera em mim um caminho de alegria; quanto do nosso futuro é feito de passado? Cantar as raízes de forma contemporânea é um presente no presente."

 

“No show ‘Saudade de Sefarad’, Fortuna segue a trilha aberta desde o dia em que se encantou pelas belezas do cancioneiro ladino.

Nesta apresentação estão as mais belas canções festivas, rituais, românticas e alegres que faziam parte do cotidiano dos judeus originários da Espanha, os sefaradim. Seu colorido musical remete a ritmos e melodias espanhóis, árabes, ciganos e judeus.

 

O repertório traz canções do ciclo de vida de Sefarad (nome hebraico da Península Ibérica) além de outras em homenagem aos que mantiveram suas raízes judaicas vivas, mesmo que de forma secreta, com destaque para Branca Dias.”


Para quem se animou, o show acontecerá no térreo do MUJ no sábado, dia 30/04, às 17h. Ingressos podem ser retirados gratuitamete na recepção a partir das 16h. Visite aqui o site do Museu Judaico de São Paulo. 


E ficamos agora na espera do próximo espetáculo musical do MUJ.

Até lá!

 

FONTES:

http://fortunaoficial.com/biografia/

https://pt.frwiki.wiki/wiki/Fortuna_%28chanteuse%29

https://ultrassom.com/pedro-lima/

https://tratore.com.br/um_artista.php?id=7605


quarta-feira, 13 de abril de 2022

Editorial- MATZÁ - PÃO ÁZIMO - PESSACH



PESSACH - PRIMAVERA - NASCIMENTO - PASSAGEM


Chegamos a mais uma Páscoa
Chegamos a mais um PESSACH
A PRIMAVERA entra no Hemisfério Norte,
O Outono chega ao Hemisfério SUL.

    Quer lá ou cá, a vida brota
    A vida em forma de uma nova planta
    Planta que desafia o frio solo do inverno

        A vida em forma de frutos
        Frutos que aproveitaram todo o calor do Verão
        E, dentro destes mais VIDA!

            PESSACH - A PASSAGEM em Hebraico

            PÁSCOA - PASSAGEM em Grego


Estas duas comemorações sempre acontecem próximas e este ano coincidem. A Primeira Noite de Pessach (Leil Pessach) acontece na Sexta-Feira Santa. Esta coincidência não é frequente - mas aqui repete a primeira Sexta-Feira Santa da história. 

Nesta noite os judeus sentam-se à mesa de forma solene. O mais velho à cabeceira, reclinado, muito confortável. Ah... a mesa, preparar uma mesa para a Ceia de Pessach - Seder de Pessach - é algo que requer horas, bom gosto, habilidade e conhecimento!

PESSACH - a passagem - quando atravessamos fronteiras e tempos e ganhamos de forma natural a vida além da morte.

Pessach tem regras ditadas na TORAH - e que até hoje são seguidas. Há os que seguem regras extremamente rígidas e outros abrandam e adaptam. E aqueles que já estão afastados do judaísmo sentem-se confortáveis em se achegar nesta festa com tantas regras.


Lembrar a saída do Egito.
    Lembrar as 10 pragas.
        Lembrar a travessia do Mar.
            Lembrar - Santificar - Bendizer.

Assumir a Liberdade.
    Assumir a identidade como Povo.
        Assumir a responsabilidade pelo futuro.
                Assumir a Santificação da própria pessoa,
                        dos filhos e de D'us.


KIDUSH, KADISH, KASHER, 

KIDUSH - Santificar o fruto da vinha - o vinho! A bebida que aquece e alegra, mas tem que ser tomada com moderação. Nesta noite, a quantidade é estabelecida - 4 copos!!! (Como era bom quando criança sentar em uma mesa com muita família e beber os quatro copos - os primos mais velhos achando graça das crianças!) Não mais que quatro. Santificar a alegria e a moderação, assim falavam naqueles dias.

KADISH - Santificar a D'us. Nossos atos assim o fazem. Esta é uma reza que não é lida na mesa de Pessach. Esta é uma reza muito conhecida, porque é a reza que lemos para os que já se foram. É uma separação. Mas é lida muitas vezes durante as orações regulares na sinagoga. O que marca? A estruturação de um serviço religioso, a passagem de um conjunto para outro. Marca a passagem! 

KASHER - Kashrut - as regras que foram ditadas para santificar o dia a dia. Há os que mantém kashrut segundo regras estritas - e outros que adaptam-se aos tempos e aos lugares. MAS, ao chegar em PESSACH é muito comum ouvir o cumprimento - PESSACH KASHER VE SAMEACH. Kasher aqui significaria santificado? O que queremos dizer é que serão mantidos preceitos alimentares para Pessach. Dizem alguns, eu não "sou kasher", mas nunca como farinha em Pessach!

Não comer farinhas e fermentados - comer o Pão ÁZIMO - a Matzá!


Tem quem adore, tem quem não ache tão bom, mas todos comem! É uma forma de transformar o corpo de cada um de nós em um santuário. É uma semana mágica em que carregamos e criamos memórias.

O que é a MATZÁ - Em Devarim (Deuteronômio 16:3) está escrito: "Durante sete dias não comerás fermentados. Comerás MATZÁ (em hebraico, Lechem Oni), porque apressadamente saíste do Egito."

Há neste versículo dois conceitos. O que comer e porque comer. O pão não deve ser fermentado, e literalmente é explicado que a saída do Egito foi feita às pressas. Apesar do longo tempo que demorou para o Faraó concordar com a saída, apesar das dez pragas, quando chegou o momento ainda não estavam prontos. Podemos trazer isto para os nossos dias! Para as nossas vidas!😀 

O pão feito às pressas foi chamado de Lechem Oni -  Pão Pobre. Sem leite, sem queijo, sem fermento, sem ovos... um pão feito de farinha e água.

AQUI ⏳🌸🙃 quero lembrar que o Povo Judeu, o Povo do Livro, vive entre pessoas que estudam e que debatem. Há vários textos falando sobre o tema do Pão da Pobreza. Hoje vamos apreciar o que escreveu o MaHaRal de Praga (Judá Loew ben Betzalel, 1525 - 1609). MaHaRal é o acrônimo de Moreinu haRav Loew - nosso professor o rabino Loew. Filósofo, matemático e rabino, foi descrito por Rav Kook (1865-1935) como "um cabalista que escreveu em trajes filosóficos" e um de seus discípulos, David Ganz, trabalhou no observatório de Tycho Braher como astrônomo, e assim é conhecido. 


O MaHaRal traduzia Lechem Oni por Pão Simples. Uma estrutura primária que poderia ser conduzida para muitas direções. Que delícia os sanduíches e os doces feitos de Matzá. Admite muitas combinações e, sobre um fogão de lenha no centro de São Paulo, adorava ver estas combinações sendo feitas! Algumas eram deliciosas, outras eram menos apreciadas. 


Rav Yehuda Loew, o MaHaRal, diz que aquele era o estágio em que estava o Povo Judeu: muito simples, apenas tijolos. Um livro em branco. Um pão simples. E dali sairia para construir a sua história. Para que esta pudesse enfrentar as tempestades dos tempos e as faces escuras da vida, deveria o povo todo voltar a comer o Pão Simples. E todos os anos, desde a saída do Egito, em todos os cantões de nosso planeta, famílias se reunem para o Seder de Pessach. Para juntos bendizerem terem chegado até aquele momento festivo e poderem comer o Pão Simples. O Pão que dá forças para recomeçar e evoluir. Enfim, a possibilidade de sobreviver. 

E, para terminar, quero contar uma história de meu pai - Isaac Pekelman. Hoje é dia 13 de abril, todos os anos contava que foi o dia que saiu da casa de sua mãe, em um Shtetl (vila) na Bessarabia (Moldávia) para um lugar distante onde já estava seu irmão (São Paulo, Brasil). Atravessou o Atlântico em 1922 em um navio alemão partindo de Hamburgo. Embaixo, no porão, com outros que partiam para uma nova vida, jovem com 17 anos, conversava com muitos. Lá pelas tantas um cozinheiro perguntou se ele era judeu. Tendo obtido a resposta afirmativa disse para meu pai levar matzot para ele e os demais. Havia algumas famílias judaicas na primeira classe e pediram refeições especiais para Pessach! E, contava orgulhoso que todos ficaram muito aliviados e felizes quando tiveram um Seder de Pessach Kasher ve Sameach - atravessando um oceano um pouco maior que o Mar dos Juncos!

PESSACH KASHER VE SAMEACH

Regina e toda a equipe EshTáNaMídia






segunda-feira, 11 de abril de 2022

VOCÊ SABIA? - Xangai

 

Xangai dos sonhos, do glamour, sublime, libertadora...

Uma história que não foi contada!

Por Itanira Heineberg



Você sabia que a vibrante Xangai já foi um refúgio de paz e acolhimento para judeus em fuga dos horrores do nazismo durante a Segunda Grande Guerra (1939-1945)?


Judeus refugiados desembarcando do navio – Xangai - Divulgação Museu Judaico de São Paulo


Centro Judaico Xangai


Já com mais de 80 anos, Kurt Wick, o menino que escapou da morte certa em um campo de concentração nazista, relata que refugiou-se em Xangai, em um pequeno santuário da China, conhecido por milhares de judeus que fugiam do Holocausto.

 

"Eles salvaram 20.000 judeus e, se não fosse por isso, eu não estaria falando com você agora", diz Wick, que nasceu em Viena e que embarcou, com seus pais, em um navio no porto de Trieste para esta longa viagem para o leste.

 

"Eu teria sido parte das cinzas em Auschwitz, como minha outra família".


Kurt Wick mostra o nome de sua família no Museu de Refugiados Judeus em Xangai em fevereiro de 2019. - CHINA DAILY


Wick queria agradecer Xangai por ter salvado sua família, doando sua coleção de mais de 8.000 livros para o Museu de Refugiados Judeus de Xangai.

 

Estes livros sobre a história, cultura, política e economia do povo judeu foram finalmente levados ao museu. Devido à pandemia, Wick não pode fazer a entrega pessoalmente.

 

“Muitos dos livros apresentam a história do povo judeu, o Holocausto e seu tratamento pelos nazistas. Alguns contam o período em que mais de 20.000 refugiados judeus buscaram abrigo em Xangai durante a Segunda Guerra Mundial.

Os livros, em inglês, hebraico, alemão e outros idiomas, se tornarão a primeira coleção de volumes de uma nova biblioteca do museu, de acordo com seu curador Chen Jian.”

 

A família Wick chegou ao país em 1939 e para vencer na nova terra, os pais montaram uma loja de bolsas no distrito de Hongkou.

Em 1948 eles viajaram novamente, estabelecendo-se em Londres - e após finalizar seus estudos Kurt herdou o negócio das bolsas da família.

Como hobby, Wick coleciona livros sobre história, política, economia e cultura judaicas.

 

"Xangai significa um lugar seguro para mim", disse Wick. "Cheguei lá quando menino e não sabia muito sobre a guerra. Embora fôssemos muito pobres, nunca me lembro de sentir fome lá."

 

“Em 2019, Wick trouxe sua esposa, filha e genro para Xangai. Quando viu o nome de sua família na parede de sobreviventes do Museu de Refugiados Judaicos de Xangai, Wick ficou muito emocionado e depois decidiu doar seus livros para o museu.”

 

“Chen, o curador do museu, disse que a coleção doada por Wick é muito valiosa, já que o museu pretende desempenhar um papel maior na pesquisa acadêmica e nos intercâmbios culturais.

 

"Os livros têm um significado especial para o museu e as trocas entre Xangai e o povo judeu", acrescentou Chen.”

 

Tanto a biblioteca como o museu expandido serão abertos ao público em breve.



O dia 27 de janeiro é o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, que lembra o aniversário da libertação do campo de Auschwitz-Birkenau, o maior campo de extermínio nazista, em 1945.

No pior genocídio da história da humanidade, foram exterminados seis milhões de judeus mas Wick e seis outros membros de sua família conseguiram escapar da Europa para Xangai,  um dos raros destinos para os quais nenhum visto era exigido.

 

"As pessoas deveriam saber, porque foi o único lugar no mundo em 1939 que abriu suas portas para nós", disse Wick por telefone de sua casa em Londres.

"Nem mesmo muitos judeus sabem".

 

Xangai, uma terra estranha e distante para os judeus europeus, foi ocupada pelo Japão imperial em 1937 porém os invasores não perseguiram os recém chegados fugitivos de Hitler.

 

Felizmente a pequena e próspera comunidade judaica que vivia na cidade chinesa desde o século XIX ajudou os infelizes refugiados. Esta era a Época de Ouro da cidade, conhecida como The Old City of Shangai, a Velha Xangai.


Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, a vida foi ficando mais complicada e assim a população judaica de Xangai diminuiu radicalmente com os refugiados voltando para casa, ou para outros países.

E hoje em dia é com alegria que as autoridades chinesas percebem que o que aconteceu no passado em Xangai está vindo à tona e a região está famosa como “um refúgio de paz para os judeus de Hitler.”


Turismo religioso em Xangai – em 2008 meu marido e eu caminhamos por este parque e aprendemos a história dos refugiados de Xangai.


2007 - Inauguração do Museu dos Refugiados Judeus, pela prefeitura, em Hongkou, bairro onde ficava o "Gueto de Xangai".


Localizado onde ficava a antiga sinagoga, Ohel Moshe, o museu foi reaberto recentemente após uma expansão que o triplicou.



O item de destaque do museu consiste em uma parede com os nomes dos milhares de judeus que temporariamente moraram na cidade nas décadas de 1930 e 1940.

Também importante destacar que os judeus nunca sentiram discriminação por parte dos chineses, conforme confirma Wick em seus relatos.


Sinagoga Ohel Rachel, uma das duas sinagogas da cidade.


“Nenhum dos refugiados permanece em Xangai, mas ainda há uma pequena comunidade muito ativa de cerca de 2.000 pessoas.”

 

O rabino Shalom Greenberg, 49 anos, afirma não haver preconceito algum com essa comunidade, na centenária Sinagoga Sefardita Ohel Rachel.



"Este é um dos poucos lugares no mundo onde quando você anda na rua e ouve duas pessoas atrás de você dizer 'esta pessoa é judia', você não tem medo", comenta.

 

"Nesta terra, nunca houve antissemitismo", acrescenta.”


Estátuas de refugiados judeus no Museu dos Refugiados Judeus de Xangai - 08/12/2020


Que este refúgio de paz e tolerância em Xangai permaneça como um grande exemplo para as nações de nosso atribulado mundo neste início do século XXI.

Sinagoga Ohel Rachel - Xangai


Museu dos Refugiados Judeus - Xangai


Xangai, conhecida como a Pérola do Oriente, foi realmente uma joia abençoada para os mais de 20.000 judeus em fuga do continente europeu.

 

FONTES:

https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/01/26/interna_internacional,1232302/como-xangai-salvou-milhares-de-judeus-do-holocausto.shtml

https://stringfixer.com/pt/Shanghai_Jewish_Refugees_Museum

https://www.istoedinheiro.com.br/como-xangai-salvou-milhares-de-judeus-do-holocausto/

https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/01/26/interna_internacional,1232302/como-xangai-salvou-milhares-de-judeus-do-holocausto.shtml

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/historias-sobre-refugiados-judeus-em-xangai-marca-pre-abertura-museu-judaico-em-sao-paulo.phtml

https://www.chinadaily.com.cn/a/202009/04/WS5f51750aa310675eafc57695.html

https://chinanaminhavida.com/2018/06/19/judeus-em-shanghai/

 


sexta-feira, 8 de abril de 2022

Editorial - O que estamos vivendo esta semana







O que estamos vivendo esta semana? 


Há uma esperança de redução dos ataques russos na Ucrânia mas não há nenhum passo levando a isso… a Europa, que reagiu rápido com uma profusão de críticas e sanções à Rússia, pausou para olhar seus públicos; seus eleitores domésticos… compasso de espera enquanto na Ucrânia ainda se morre mesmo sendo civil!

Em Israel, como acontece há muito tempo antes do mês de ramadã (mês do calendário islâmico no qual a maioria dos muçulmanos pratica o seu jejum ritual), há uma nova onda de terrorismo praticado em sua maioria por árabes israelenses. Enquanto no Neguev ocorria um bem sucedido Encontro entre Israel e seus parceiros nos Acordos Abraâmicos, no qual laços de respeito e compartilhamento se estreitaram, onze israelenses, judeus e árabes, foram esfaqueados ou abatidos a tiros no período mais sangrento em muitos anos. Mais uma vez o plano parece ser desestabilizar as tentativas de paz, de convivência normal em um país diverso. 

Quanto desses atentados chegaram à imprensa, ou foram publicamente condenados? Será porque as pessoas passaram a achar normal - a desinformação é tamanha que ouve-se  "são mais alguns atos de defesa do povo palestino" e rapidamente propõem-se manifestações de apoio - a quem? - aos palestinos! E infelizmente no ambiente universitário isso é comum. Pelo menos essas movimentações aqui no Brasil tem sido menos “populares”, sem angariar legitimidade… e há significativas informações sobre Israel que são trazidas como por exemplo a feira das Universidades de Israel na USP, ocorrida ontem.

Mas convivemos com erros e mentiras que se repetem tanto que passam a ser vistas como fatos. A imprensa mundial e alguns organismos internacionais há muitos anos usam a expressão "territórios palestinos ocupados", e assim criaram essa "verdade" que é comprada por quem não tem informações sobre o assunto. De acordo com a lei internacional criada no fim do século XIX, e hoje regida pelas quatro convenções de Genebra, "território ocupado é aquele que de fato está submetido à autoridade de um exército hostil". (Guide-humanitarian-law.org) 

Em breve histórico, no ano 135 da era comum, a província da Judeia foi renomeada pelo imperador romano Adriano para Síria - Palestina pela qual passaram diversas populações e entre elas sempre continuaram lá os judeus. O último poder soberano na região foi o do Mandato Britânico conferido pela Liga das Nações para administrar a Palestina e a Transjordânia - territórios cedidos pelo Império Otomano ao final da 1a Guerra Mundial. Os crescentes movimentos contra o mandato inglês, perpetrados ora por judeus palestinos, ora por árabes palestinos e, sem dúvida, o Holocausto, levaram a já então ONU a propor a Partilha da Palestina em novembro de 1947. Logo em 1948 Israel foi fundado na porção definida para o estado judeu mas no restante do território nenhum estado foi criado, a não ser a guerra de 1948. Nela a recém criada Jordânia invadiu território a Oeste do rio Jordão que passou por isso a ser chamado de West Bank (em português, Cisjordânia) seus habitantes receberam a cidadania jordaniana mas foram mantidos separados do restante da população jordaniana pelo rio.

Em 1967 Israel se defendeu de ataques árabes e conseguiu não só defender seu território como conquistar novas áreas: Cisjordânia, Gaza, Golan, o Sinai e a parte oriental de Jerusalém. A partir da conquista do leste de Jerusalém, as áreas religiosas puderam voltar a ser visitadas por turistas, o que era antes proibido pela Jordânia. Essas áreas não foram invadidas por Israel, foram conquistadas em guerra provocada pelos árabes. Assim como, entre vários exemplos, o Texas foi conquistado do México pelos EUA em 1848, e lá permanece até hoje…

O Sinai foi cedido por Israel ao Egito em 1979 por uma "fronteira pacífica", Israel se retirou de Gaza em 2005. Com exceção do Golan e Jerusalém oriental, Israel não mantém o poder sobre os territórios que conquistou na guerra.

Foi a partir de 1967 que passou-se a usar o termo "territórios" frequentemente acompanhado de "ocupados". Pela lei internacional, no entanto, não o são. Como há pleitos por parte de árabes palestinos e da Jordânia o termo mais correto é territórios "em disputa". E isso deve ser explicado, repetido até que a palavra "ocupados" não soe mais normal… mas a ONU, que hoje tem 57 países membros muçulmanos votando em bloco - países que não têm autonomia de não votar em bloco - não tem sido sensível a esclarecimentos. Em maio de 2021 (!) foi criado pelo Conselho de Direitos Humanos uma "comissão internacional independente de investigação dos territórios ocupados, incluindo Jerusalém oriental"! Este Conselho de Direitos Humanos é composto por 47 países membros, eleitos a cada 3 anos, e a Assembleia-geral está reunida neste momento tratando da expulsão da Rússia devido aos crimes atuais na Ucrânia. Atual composição pode ser conferida clicando aqui

O viés, a inequidade com que Israel é tratado por este Conselho em relação aos demais países é estarrecedor! Dois pesos e duas medidas: uma para o mundo e outra para Israel! Quem, entre poucos, demonstra isso claramente é Hillel Neuer, o Diretor Executivo do Human Rights Watch, uma ONG sediada na Suíça que atua pelos direitos humanos. Nesta entrevista sobre a última eleição do conselho, de setembro de 2020, Neuer fala disso e “dá nome aos bois” -  o antissemitismo é o que fala mais alto! 

Neste período lemos a dupla de Parashiot Tazria e Metzorá. A tradução literal desta sequência de palavras é "ela dá semente, infectada". Parece-me oportuna esta leitura, aplicando-a à atual profusão de acusações cada vez mais criativas, conspiratórias, a Israel e aos judeus por parte de muitos órgãos da imprensa e das Nações Unidas. São sementes doentes, impuras, que devemos arrancar com as raízes, devemos retrabalhar o solo dos organismos internacionais, prepará-lo para receber novas e saudáveis sementes que possam brotar e florescer construindo florestas de colaboração e parcerias. 

Aproveitemos para fazer isso enquanto chega Pessach…

Juliana Rehfeld

segunda-feira, 4 de abril de 2022

VOCÊ SABIA? - Monumento El Abrazo

 

MONUMENTO EL ABRAZO ...    1492, 31 de março – 2022, Primeiro de Abril, Espanha...

parece até uma brincadeira ...

Mas foi verdade, aconteceu!


Por Itanira Heineberg




Após 530 anos, desde o Decreto de Alhambra ou o Édito de Granada, a Espanha comemorou sua solidariedade ao povo judeu com a estátua “O Abraço”, de Jose Sacal, inaugurada em primeiro de abril de 2022, com a presença de várias autoridades em Cartagena - porto de partida da expulsão dos judeus pelo mar.

Você sabia que o Decreto de Alhambra, emitido em 1492 pelos reis católicos Fernando e Isabel, expulsou todos os judeus da Espanha?

Este fato histórico foi tratado com sabedoria no Editorial de 31 de março de 2022 por Regina Markus.

Para aqueles que ficassem, a opção era a conversão ou a morte, e houve quem fugisse para bem longe - norte da África, Império Otomano, Itália ou Portugal – este último de onde, infelizmente, foram logo expulsos pelo rei D. Manuel, o Venturoso.

Com o monumento “O Abraço”, do renomado artista mexicano, surge uma nova relação entre os mundos hispânico e judeu. Jose Sacal (1944-2018), um escultor judeu, era orgulhoso de sua herança sefardita.


Jose Sacal



Voltando à infame história do decreto, os judeus praticantes das Coroas de Castela e Aragão e seus territórios e posses deviam sair do país até 31 de julho daquele ano.

 

"O decreto foi o último golpe de antissemitismo que acabou com uma das mais magníficas comunidades judaicas da história", disse David Hatchwell, presidente da Fundação Hispânico-Judaica.

"O que ocorreu na Península Ibérica nos 500 anos seguintes foi a erradicação cruel e completa de qualquer coisa associada ao judaísmo. No entanto, a Espanha está atualmente experimentando um renascimento de sua comunidade judaica."


Tela “Expulsão dos judeus da Espanha em 1492”, por Emilio Sala Francés


“Este Decreto de Alhambra permaneceu até 1869, quando a Constituição espanhola permitiu a liberdade de religião, e o país não anulou o decreto até 1968, quase cinco séculos depois de ter sido aplicado. A Espanha estabeleceu relações diplomáticas com Israel em 1986. Quase três décadas depois, uma lei foi aprovada na Espanha que permitia que aqueles que podem provar que são descendentes de judeus sefarditas obtenham cidadania espanhola.”

 

Na Espanha de hoje conservam-se apenas três sinagogas anteriores à expulsão dos judeus em 1492: Santa María la Blanca e Sinagoga del Tránsito, ambas em Toledo, e a Sinagoga de Córdoba. Essa última data de 1315 e se caracteriza por ser um templo judeu com decoração mudéjar.


Sinagoga de Córdoba, templo hebraico localizado em plena juderia, em frente à casa de Sefarad.


Este abraço simbólico da Espanha em relação ao povo judeu é motivo de muita alegria para toda a comunidade no mundo.

Outros agrados têm acontecido, tal como a retomada de negociações e encontros de países árabes com Israel no conhecido Tratado de Paz Abraâmico e o convite aberto de Portugal a todos os judeus cujos  antecedentes foram expulsos do País.

Em 2015 a Fundación HispanoJudía foi criada com a intenção de estabelecer relações entre os dois mundos. Programas educacionais e culturais foram desenvolvidos com o objetivo de aproximar judeus e espanhóis.

A Fundação é composta por 80 filantropos líderes e um conselho internacional de 20 membros distribuídos por escritórios na Espanha, Israel, México, Argentina, Panamá, Miami e Nova York.

Um grande projeto desta entidade é abrir um museu de classe internacional em Madri até 2024.

Que mais abraços aconteçam pelo mundo, incluindo toda a diversidade humana numa fusão de paz e tolerância onde crenças, ideias e etnias convivam tranquilamente, aceitando-se mutuamente, colaborando entre si e enriquecendo-se com as lições dos outros.

 

Nunca Mais - Jose Sacal


FONTES:

https://www.jpost.com/diaspora/article-703011

https://ensina.rtp.pt/artigo/a-expulsao-dos-judeus-de-portugal/

https://www.bn.gov.br/acontece/noticias/2020/03/ha-528-anos-31-marco-segunda-diaspora-egito

https://www.jewishpress.com/news/history/hispanic-jewish-foundation-erects-monument-at-spains-1492-edict-of-expulsions-port-of-departure/2022/04/01/

https://jewishlatinamerica.wordpress.com/tag/surrealism/

https://murciaplaza.com/localizan-una-necropolis-romana-en-aguilas

https://menorah.com.br/2022/03/31/o-decreto-de-alhambra-inicia-tragica-expulsao-dos-judeus-da-espanha/