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quinta-feira, 12 de junho de 2025

ACONTECE: Frio tic-tac do relógio

Por Juliana Rehfeld

Parece que não é só o clima que está congelando para nós, mas congelam também os acontecimentos. E de novo, ou melhor, ainda, a sensação de que o tempo pára… acontecem alguns fatos, alguns posicionamentos aqui e lá contra o monobloco da opinião formada, e formada em cima dos mesmos dados alegados, e frequentemente já até desmentidos… mas sabemos que a defesa em geral não tem a força de rebater a acusação …

Houve acontecimentos até cômicos, primitivos como um barco levando um grupo de 12 autodenominados ativistas em missão de ajuda a Gaza, com o nome de “flotilha pela liberdade”, interceptado por Israel. Entre eles a famosa sueca Greta Thunberg, que discute igualmente opressão de palestinos além de riscos ao meio ambiente, e um brasileiro Thiago Ávila, que conseguem emitir falas como “estamos sequestrados” numa situação de risível invasão a uma zona de guerra… como disse Henrique Cymerman, o que pensariam os reféns ainda vivos em Gaza, após quase dois anos, se ouvissem esse “disparate”. Escrevi entre aspas pois a palavra é minha, não do jornalista…quem quereria sequestrá-los? Quem quereria se responsabilizar pela segurança de um grupo inócuo, trazendo uma quantidade ínfima de alimentos que, mesmo assim Israel prometeu encaminhar ao local adequado. Extraditá-los rapidamente era o melhor para o país… e Egito passou a vigiar a entrada do que poderão ser novas aventureiras e bombásticas flotilhas…

Havia, mais esta vez, uma expectativa de novos fatos sobretudo em relação a uma mudança na coalizão que sustenta o atual governo de Netaniahu, devido principalmente às sonoras ameaças que têm vindo há pelo menos duas semanas dos partidos ultra-ortodoxos. O que poderia ser preocupante numa situação de guerra que persiste há 618 dias, poderia também resolver muitos dos problemas que aí estão. Sem entrar no mérito partidário em si, pois não cabe na nossa linha editorial, é possível dizer que poucos radicais têm desequilibrado a comunicação do país com a sociedade: poucas mas estridentes declarações sobre anexação, re-ocupação, expulsão, e por aí vai, claramente não representantes da maioria da população nas ruas, têm impedido avanços de negociações e prejudicado muito, se é que isso ainda era possível, a opinião pública mundial em relação ao país. Mas parece que a decisão de sair da coalizão ainda não é firme o suficiente, apesar do crescente incômodo dos ultra ortodoxos com a pressão para alistarem seus membros para cobrir cada vez maiores “gaps”, sobretudo na infantaria.

O tic-tac do relógio - expressão que denuncia idade, já que poucos relógios ainda ticam - segue incólume. E fatal para alguns reféns, e também, para alguns palestinos abrigados próximos a bases do moribundo mas não morto Hamas. Começa a crescer um consenso entre os países árabes, e alguns europeus, de que qualquer solução de curto ou médio prazo para a região, não inclui esta organização terrorista, mas ir além dos meros discursos para uma ação efetiva, ainda não está no radar…

Haja esperança e coração!
Shabat Shalom

terça-feira, 10 de junho de 2025

VOCÊ SABIA? - Sinagogas Instagramáveis

 

Por Itanira Heineberg


Sinagoga da Estrada dos Príncipes em Liverpool, Inglaterra



Você Sabia que não há duas sinagogas iguais?

Na realidade, cada templo tem sua própria história e peculiaridades únicas, e como consequência, estes detalhes diferenciais aparecem no projeto de criação da própria sinagoga.

As mais antigas retratam as características arquitetônicas da época de suas construções: arcos românicos, intrincadas esculturas mouriscas ou vitrais góticos.

 

“As sinagogas históricas costumam oferecer passeios para os aficionados por história judaica e amantes da arquitetura. Graças à maravilha das mídias sociais, você não precisa reservar um voo para ver algumas das sinagogas mais impressionantes do mundo. Uma simples rolagem pelo Instagram pode servir como uma visita virtual a sinagogas”.

 

Aqui estão algumas das sinagogas que visitamos e gostaríamos de  compartilhar com nossos leitores, desde Mumbai à Cidade de Buenos Aires, na Argentina.

 

·        Sinagoga Jubileu de Jerusalém   -   Praga   -   construída em 1906 na rua Jerusalém



A sinagoga Jubileu de Jerusalém é a única sinagoga de Praga ainda em atividade fora da área do antigo gueto judeu, na Cidade Nova, próxima à estação central. Em relação às outras sinagogas da cidade, destaca-se devido ao seu tamanho e fachada colorida, que visivelmente lembram os monumentos muçulmanos da Espanha.



Foi projetada em estilo mourisco e art nouveau por Wilhelm Stiassny, famoso arquiteto de monumentos judaicos e cofundador do Museu Judaico de Viena.

Vale muito a pena visitar seu interior.


·         Grande Sinagoga de Roma inaugurada em 1904



O Templo Maggiore, a principal sinagoga de Roma,  é uma das mais grandiosas da Europa. Também conhecida como a Grande Sinagoga de Roma, o monumental edifício localiza-se na área do antigo gueto. Exibindo uma cúpula quadrada, a única com esse formato na cidade, que cobre toda a construção e o edifício, é uma das muitas sinagogas majestosas erguidas pelos judeus na Europa pós-emancipação, testemunhando seus esforços para serem aceitos como cidadãos iguais pela sociedade maior, nos inúmeros países onde viviam.


Por sua imponência, mesmo numa cidade como Roma, famosa por seus esplendidos edifícios, o Templo Maggiore se sobressai por seu eclético estilo arquitetônico, com elementos ao gosto assírio-babilônico, egípcio e greco-romano.

 

A pedra fundamental da sinagoga foi colocada em 1901, três décadas  após a conquista da cidade pelo exército italiano. Em 1870 o Papa perde o controle político e militar dos Estados Pontifícios, Roma é incorporada ao Reino da Itália, tornando-se sua capital.


O Reino havia sido estabelecido em 1861, com a unificação da península italiana, realizada pela Casa de Savóia. Consequentemente, o rei Vítor Emanuel da Sardenha é proclamado rei da nova nação. Na Itália unificada os judeus gozam de plenos direitos civis, em igualdade de situação com os demais habitantes. Assim sendo, tão logo Roma passa a fazer parte do Reino os judeus da cidade são finalmente libertados. Eram os últimos da Europa a serem emancipados, sendo que em 1870 ainda viviam reclusos no gueto, um dos maiores símbolos da opressão cristã, e sujeitos a leis muito severas.




Em 1893, Abraham Berliner, teólogo e historiador judeu alemão, mostra-se muito esperançoso acerca do futuro dos judeus de Roma, que, a partir de então, faziam parte de “uma Itália unida e liberta, onde todos os cidadãos têm direitos iguais, sem distinção de fé religiosa, e onde os muros do gueto de Roma desmoronaram ao som das trombetas da liberdade”.

 

·        Grande Sinagoga de Edirne, Turquia ou Sinagoga de Adrianópolis, inaugurada em 1909



Concluída no estilo neomourisco, a sinagoga foi restaurada após a Segunda Guerra Mundial , abandonada na década de 1980 e restaurada como uma sinagoga ativa em 2015.




Em 1983, a sinagoga foi abandonada depois que a maior parte da comunidade judaica deixou a cidade, emigrando para Israel, Europa ou América do Norte. Em 1995, o templo, por lei, ficou sob o controle da Instituição de Fundações Turcas do governo .

 

·         Sinagoga Knesset Eliyahoo  Mumbai, Índia, pintada na cor turquesa



A Sinagoga Knesset Eliyahoo, também  Sinagoga Azul, é uma congregação e sinagoga judaica ortodoxa, localizada em 55, Dr. Gandhi Marg, no bairro de Kala Ghoda, Fort, no centro de Mumbai, no estado de Maharashtra, na Índia. Concluída em 1884, é a segunda sinagoga sefardita mais antiga de Mumbai.




Esta  sinagoga foi fundada por Jacob Elias Sassoon  e o edifício é mantido pelo Jacob Sassoon Trust.

A importância do edifício é atribuída às suas tradições judaicas, bem como às influências coloniais indianas e inglesas. Foi projetado pelo escritório de arquitetura britânico Gostling & Morris de Bombaim.

E agora estamos chegando ao fim de nossa viagem. Uma professora colega minha de trabalho costumava dizer que ler era uma gostosa atividade, algo como um  “armchair travel”.




Desejo ao leitor uma excelente continuidade de nossa viagem até agora. 

Assim, acomode-se em sua poltrona favorita e embarque nesta aventura deliciosa de visitar novos lugares no conforto de sua casa, sem os percalços de aeroportos, malas perdidas, voos atrasados ou simplesmente cancelados.

Embarque neste arm chair travel, degustando seu café preferido ou seu drink de cada dia.

Evite fumar, especialmente os cigarros eletrônicos.

God Speed!!!



quinta-feira, 5 de junho de 2025

ACONTECE: Resgatando e Esperando - O doloroso processo da espera

 

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Ofer Kalderon, um dos primeiro reféns liberados abraçando a família


Esperar tem algo a ver com esperança, ou esperar é um tempo em que o emaranhado de informações e ações nos fazem aguardar por algum sinal que permita indicar o melhor caminho.

Esta semana tenho a certeza de que muitos de nós ficamos chocados com o que aconteceu no dia a dia. Os jornais de grande circulação em São Paulo publicaram artigos e opiniões com forte teor antissemita e de desconfiança e repúdio ao Estado de Israel. Muitas das publicações eram baseadas em fakenews e algumas até traziam imagens de 2023 confundindo o que aconteceu no festival NOVA. Ao redor do mundo, na França, Canadá, Austrália, ocorreram casos de terrorismo com graves consequências.

Aqui em São Paulo paredes são pichadas, pessoas são abordadas de forma indecorosa e agressiva, instituições e ações são difamadas. Todas estas ações implicam em terem pessoas que fomentam, através de processos organizados e aquelas que acompanham por acreditar que estão plantando um futuro mais adequado. Aqui abro um parênteses e penso nos processos de manter o nosso planeta. Quanto ouvimos falar de reflorestamento e de manutenção de uma fauna adequada. A época em que o reflorestamento era feito com apenas uma espécie de árvore passou, hoje é conhecida a importância da biodiversidade vegetal. Podemos condenar o passado, ou criar sistemas que permitam educar para o futuro.

Nas questões de antissemitismo e de ódio ao Estado de Israel o mesmo acontece. Há informações falsas disseminadas há milênios, com vários tipos de linguagens. Estas linguagens foram e são adequadas às pessoas alvo e também ao tempo histórico. Como reação há muitos grupos e pessoas que trabalham para que possa haver difusão de fatos através do sistema educacional.


21/05/2025 - Câmara Municipal de São Paulo aprova
Projeto de Lei da Vereadora Cristina Monteiro
que proíbe a Negação do Holocausto nas Escolas 


No contexto estadual, a LEI N° 17.817, DE 27 DE OUTUBRO DE 2023 instituiu a proibição do ensino ou abordagem disciplinar do Holocausto sob os prismas do negacionismo ou revisionismo histórico, no âmbito do Sistema Estadual de Educação Básica do Estado de São Paulo. O projeto de lei era de 2021 de autoria dos Deputados Henzi Ozi Cukier e Gilmaci Santos. 

O que entendemos deste esforço é manter a história mundial e a história judaica baseada nos relatos dos que viveram e na documentação disponível. 

Hoje está na pauta a discussão sobre o Estado de Israel. Passeando pelas ruas das cidades de Israel encontramos pessoas de todas as etnias e de diferentes indumentárias, mostrando a diversidade populacional de Israel. Segmentações e mesmo conflitos não impediram que houvesse educação e representatividade para todos os segmentos. Muito já falamos a respeito da educação tendenciosa feita em muitos países árabes. Hoje sabemos que este padrão de educação está ligado aos grupos Jihadistas, ao Hamas e Heszbolah. A penetração que têm na sociedade civil em geral varia de país para país e também da vontade e possibilidade de combaterem os que defendem a frase "do Rio ao Mar"!

Esta semana foram feitas ações para impedir a reconstrução de novos sistemas de ataque, que permitiriam voltar a surpreender Israel. A ajuda humanitária continua a fluir e as notícias mostram que chega à população. No entanto, ainda não conseguimos saber se há possibilidade ainda de ser usada como carta de negociação para refazer o contingente humano do Hamas. 

Entre tantas informações cruzadas resta olhar para trás para ver se conseguimos entender o processo. Comecei com o holocausto - algo perpetrado na Alemanha nas décadas de 30 e 40 do século passado. Hoje, chegam as histórias dos que apesar de estarem sob o regime nazista procuraram e muitas vezes conseguiram proteger os perseguidos.

Olhando o que acontece nas relações Alemanha - Israel hoje vemos que há um entendimento que vai além da reparação. Há interações positivas no campo da diplomacia, educação, desenvolvimento e inovação. Israel investe em ciência básica e disruptiva na busca de novos sistemas de proteção anti-aérea. Segundo a CNN Brasil, a Alemanha assinou um acordo com Israel para adquirir o sistema de defesa antimísseis Arrow3. Na qualidade de Vice-Presidente dos Amigos do Instituto Weizmann no Brasil, tenho testemunhado uma franca e profícua colaboração científica entre os dois países. Não ampliarei os fatos, quero apenas reforçar a ideia que ao longo da história há grandes possibilidades de idas e vindas.

Assim, não ficaria surpreendida se, mantendo a resiliência do momento e reduzindo o valor dado aos que seguem com a ladainha antissemita não poderemos num futuro ver o mundo árabe ateu, cristão e mulçumano interagir de forma positiva com o Estado de Israel, o único estado judeu no mundo e os judeus do mundo inteiro.


Am Israel Chai

Regina P. Markus





quarta-feira, 4 de junho de 2025

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: A hora da verdade

 

A Hora da Verdade




No silêncio acolhedor de uma manhã que misturava o antigo e o novo, José se via diante de uma tela que mais parecia uma janela para o seu passado. Recém-promovido CEO da maior corporação brasileira de agronegócio, ele não conseguia escapar do perfume envolvente de café e bolo de fubá – uma experiência sensorial que, assim como a madeleine de Marcel Proust, o fazia viajar de volta às lembranças da infância, àquelas tardes morenas onde dona Tereza, a copeira, preparava com tanto carinho os aromas que agora se tornavam tão inevitavelmente humanos.

Na simplicidade de um gesto tecnológico, o aroma digital despertava memórias que eram, ao mesmo tempo, doces e amargas. Lembrava-se dos dias de fome e medo, mas também da dor transformada em força, de um sofrimento que, mesmo duro, moldara o homem que ele se tornara. Seus irmãos, trabalhando nos vastos campos de soja e milho, eram parte inevitável dessa história: como peças de um quebra-cabeça invisível, eles traziam à tona questões profundas, como se fossem instrumentos da vontade Divina, responsáveis tanto pelo seu triunfo quanto pelas cicatrizes da alma.

Enquanto observava essas imagens em holograma, a sensação de estar entre dois mundos – o futurístico e o ancestral – tomava conta de José. Era como se, num mesmo instante, o cheiro do bolo e o calor de um abraço perdido se misturassem aos brilhos artificiais e aos comandos digitais. E nesse turbilhão de sentimentos, ele se via lutando contra seus próprios conflitos internos. Cada lembrança do pai Jacó, da mãe Raquel, e a saudade apertada das risadas simples do passado, lembrava-o de que a vida sempre foi feita de luz e sombra.

Com o coração apertado e a mente repleta de dilemas, José entendia que o sofrimento o havia levado até ali – àquele cargo que tanto prezava, mas que também vinha carregado dos ecos de um tempo em que as emoções eram mais genuínas, menos calculadas. E então, num ato de coragem e de desejo de resgatar o que parecia estar se perdendo, ele ordenou, com a voz trêmula mas decidida: “Chamar os irmãos!”

Naquele comando, mais que um simples ato empresarial, havia um pedido de reencontro com um passado que, mesmo marcado pela dor, era essencial para se reconhecer e compreender. E, entre o som das máquinas e as pulsações de um coração que insistia em lembrar, José percebeu que, apesar de toda a tecnologia e dos dias modernos, era o calor humano – o cheiro do café, o sabor do bolo, o abraço dos entes queridos – que realmente fazia a vida valer a pena.

André Naves

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política - PUC/SP. Cientista Político - Hillsdale College. Doutor em Economia - Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def