Acontece muito, mas não é suficiente!
Por Juliana Rehfeld
Mais uma semana do longo período pós 7 de outubro de 2023, parecem anos de horror, desespero, dúvidas, esperança, união, manifestações, insatisfação… e tudo isso ainda tem que estar na manchete.
E esta nossa manchete, bem como a de outras mídias internacionais ou brasileiras que combatem a desinformação e o antissemitismo, tem que continuar reverberando, para que fure e penetre muralhas de preconceito e más intenções, deliberadamente construídas com dinheiro de petróleo continuamente injetado em órgãos de “informação“ e universidades pelo mundo.
Em relação ao objetivo declarado por Netanyahu imediatamente após 7 de outubro - o de eliminar ou aniquilar o poder do Hamas - estas últimas semanas foram de grande “eficácia” - a conta de líderes terroristas eliminados, tanto em Gaza como em Teerã e no Líbano (neste porque o Hezbollah entrou de cabeça tardiamente no conflito) é impressionante. E os meios de eliminação foram ainda mais impressionantes, precisos, cirúrgicos, inteligentes. Com exceção, é claro, do mais perigoso deles, Yayia Sinwar, que foi morto por jovens do exército em treinamento em Gaza e só depois foi identificado.
Enquanto a postura de Netanyahu é criticada em todos os cantos, dentro e fora do país, estas ações militares são, ao contrário, comemoradas, na imprensa livre, pela população de árabes dentro e fora dos países árabes. E são admiradas por todos os exércitos. É realmente incrível que haja tanta qualidade, tanto empenho e concentração em uma força de defesa de um país tão pequeno, atacado continuamente há tantas décadas e, particularmente nesta guerra, pagando um preço inestimável… quase 800 soldados mortos, cerca de 10000 feridos, quase 70% deles, reservistas! Tantos jovens deixarão de cantar, dançar, ver seus filhos crescendo…
É um país em reabilitação. Há nesse campo também, o da reabilitação, inovações e resultados impressionantes, capitaneados pelo Hospital Hadassa, centro Sheba. Técnicas que usam IA e aceleram grandemente a recuperação. Sobre o tratamento às crianças já falamos aqui. O carinho e a dedicação. E para os adultos nova possibilidade de viver. A rapidez e eficiência dos meios de resgate do local de ferimento, usando helicópteros especiais, têm feito uma enorme diferença na possibilidade de salvar os membros dos feridos. E as instalações estão em expansão para poder receber mais que o dobro de pacientes - tomara que nunca sejam usadas, mesmo que a população de Israel cresça….
Há um centro chamado Returning to Life (Voltando à Vida) equipado com uma ampla gama de aparelhos de reabilitação, e equipamento de treinamento e esportes, bem como sistemas de vídeo game. Há aulas e atividades diárias tais como ioga e cozinha, que ajudam pacientes a retomar o controle de seus corpos e mentes em um ambiente saudável e positivo.
Aaron, 33 anos, reservista de Nova York, recém casado, entrou em Gaza em outubro de 2023. Questionado se planeja retornar ao serviço da IDF, não tem dúvidas sobre isso.
"Não sei se algum dia serei liberado para combate completo novamente, por causa do peso que você tem que carregar — pelo menos pelos próximos dois anos não poderei — mas se você está perguntando se mentalmente estou pronto para voltar, então a resposta é sim", ele diz.
"É muito difícil ficar longe da minha unidade enquanto eles continuam sendo convocados. Eu sei o que eles estão passando. Sinto que nada mudou em termos de minhas lealdades e meu entendimento do que estamos fazendo e da missão em questão."
Mas, então, após as mencionadas vitórias militares, não podemos parar esta máquina de destruir gente, todos nos perguntamos… até quando?
A esperança posta nas discussões em Doha que acabaram hoje vai ter que se prolongar por mais dias, com a informação de que se discute a libertação de 11 a 17 reféns, vivos, maioria mulheres, mas não são contados os termos de tal acordo… ainda não estamos lá… qualquer vitória ainda é insuficiente…
Sobre a Parasha desta semana, Noé, o rabino Jonathan Sacks, z’l’, escreve sobre a coragem de viver com incertezas, e recorre a um Midrash antigo (história criada para explicar trechos da Torá). Ele compara a fé de Noé e a de Abraão sendo que Noé precisou da permissão divina para sair da arca pós dilúvio. Diz a Torá que “Noé andou com Deus”. Já para Abraão Deus disse: caminhe à minha frente. E Abraão seguiu em frente, enfrentando o que viesse, mas Deus estava na retaguarda.
Isto vem diretamente a cada um de nós. Sacks diz que a fé no judaísmo não paralisa, não subjuga, “mas é precisamente o que possibilita enfrentar riscos”. “Os inovadores enfrentam críticas, desdém, oposição ou desconsideração. Você tem que estar preparado/a para estar solitário/a ou mal- compreendido, ou até difamado”. Ele cita Einstein, que dizia que se a teoria da Relatividade desse certo, a Alemanha diria que ele era alemão e a França diria que ele era cidadão do mundo. Mas se não desse certo, a França diria que ele era alemão e a Alemanha, que ele era judeu…
Sacks lembra que entre os sionistas havia religiosos, outros eram seculares, mas o mais importante é que todos sabiam o que esse Midrash Tanchuma deixa claro: quando se trata de reconstruir um mundo estilhaçado ou um sonho quebrado, você não espera pela permissão do céu, o céu está te dizendo - vá em frente!
Não percamos a esperança mesmo com a contínua incerteza.
Shabat Shalom!