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terça-feira, 27 de maio de 2025

VOCÊ SABIA? - RENOIR

 

Como prenunciar um futuro sombrio frente a uma infância alegre e despreocupada? Como prever a História?

Por Itanira Heineberg


Les Demoiselles Cahen d'Anvers - Rose et Bleue


Você Sabia que a tela “Rosa e Azul”, de 1881, a mais emblemática das obras de Renoir com as meninas Cahen D’Anvers, inocentes em sua luxuosa residência, gozando uma infância aparentemente feliz e despreocupada, jamais alertaria o mundo para a chegada galopante das trevas e extermínio do Nazismo?

Esta obra, que foi doada ao MASP em 1952 por Assis Chateaubriand, fundador do museu, um dos mais populares ícones do acervo paulista, tornou-se um símbolo da fragilidade diante das tragédias humanas, especialmente devido ao destino fatídico de Elisabeth.

Alice, a mais jovem, em um lindo vestido com faixa de seda rosa, viveu até os 89 anos e morreu em Nice, em 1965. Elisabeth, em azul, aos 6 anos na tela, teve um fim nefasto.

 

Divorciada do primeiro marido, o diplomata e conde Jean de Forceville, casou-se com Alfred Émile Denfert Rochereau, de quem também se divorciou. Em 1987, por ocasião da exposição de obras do MASP na Fondation Pierre Gianadda, em Martigny, Suíça, o sobrinho de Elisabeth, Jean de Monbrison, escreveu ao museu relatando seu triste fim: ela se convertera ainda jovem ao catolicismo, sendo mesmo assim enviada para Auschwitz, devido à sua origem judaica, e morreu a caminho do campo de concentração, em março de 1944, aos 69 anos.”

“Elisabeth foi presa por oficiais alemães em 27 de janeiro de 1944 e levada para o campo de Drancy, onde desembarcou no dia 30. Deportada em 27 de março, morreu em 15 de abril, antes de chegar a Auschwitz.”

 

Aqui mais uma vez a crueldade da guerra, a maldade humana, a ganância pelo poder e riquezas, interrompem o caminho natural da vida.

Alice, casada com um nobre inglês, permaneceu segura em Londres.

Irene, a irmã mais velha, conseguiu um atestado de não-judia, provando que as avós eram cristãs.

Mas Elisabeth, apesar de sair a conversão, não se salvou.

Esta tela era uma de minhas favoritas, especialmente por lembrar-me de uma foto tirada por meu esposo, uma foto linda, com nossas meninas, 8 e 6 anos, em vestidos bonitos e aventais de renda, e seus cabelos soltos sobre os ombros.

Agora, ao visitar o novo MASP e descobrir a história de Elisabeth, mudei minha impressão sobre a tela. E muitas pessoas que descobriram o fim triste da menina me afirmaram terem também mudado suas impressões sobre a obra.

A Segunda Guerra trouxe ao mundo muita tristeza e dor.

O Nazismo, com sua obsessão por uma raça superior, acabou injustamente com vidas inocentes, destroçou famílias, bombardeou cidades, destruiu prédios, escolas, mansões.

O Holocausto cobriu a História de vergonha.

Ao final da guerra, ao descobrirem-se os crimes horrendos, jamais imaginados por pessoas de bem, crimes hediondos perpetrados pelos nazistas, criou-se a ONU com a finalidade de não se repetir, nunca mais, uma tragédia daquele calibre.

Sim, dizia o mundo: NUNCA MAIS.

E acreditava-se que a lição tivesse sido aprendida.

Então, como Renoir, artistas continuaram a retratar a vida que os rodeava, até acontecer o inadmissível 7 de outubro de 2023.

E, perplexos, vimos que o NUNCA MAIS se quebrara e que desta vez o mundo se dividia desproporcionalmente: os crimes hediondos agora são aceitáveis e as vítimas massacradas são transformadas de maneira injusta e inacreditável, em criminosos.

Até quando a História e suas surpresas vão nos surpreender?

Devemos acreditar num mundo melhor?

O que fazer para iluminar a humanidade? Instruir os ignorantes? Informar os mal-informados?

Devemos mais uma vez pregar a Paz? E difundir NUNCA MAIS?


Brasão de Armas da Família Cahen d’Anvers


Hoje famílias honradas ... amanhã pessoas acusadas e julgadas erroneamente ...

Apesar de sua certidão de batismo, Elisabeth não se safou do ódio nazista, assim como a maioria de sua família.

O pai das meninas, o banqueiro judeu Louis Raphael Cahen d’Anvers, casado com a italiana Louise Morpurgo, de uma rica estirpe de Trieste, era um dos mais abastados da dinastia poderosa de sua época. Ele e a esposa, encantados com o trabalho do jovem impressionista, solicitaram-lhe várias telas replicando a vida da família.

E assim, Renoir frequentou a casa do nobre banqueiro, representando seus componentes, com realismo e cores vivas. Em 1880, ele decidiu-se por óleo sobre tela para retratar a filha mais velha do casal, Irene, “Pequena Irène”.



Após a tela da menina Irene, os pais solicitaram outra, desta vez das meninas Alice de 5 anos e Elisabeth de 6. E assim as duas crianças posaram para o artista, divididas entre o tédio da inatividade e a euforia de vestirem trajes elegantes. 


“Pela obra, Louise e seu marido pagaram 1.500 francos ao artista. E cada centavo valeu a pena, já que o resultado foi uma das obras mais conhecidas e emblemáticas da história do impressionismo francês.”


Mas a História, sempre a História, nos espreita nas curvas do caminho.

Aquela menina de faixa azul e olhar compenetrado prosseguiu com sua vida, ainda jovem sofreu uma queda quase fatal cavalgando, lutou contra a morte, convalesceu e desde então pensou em se converter ao catolicismo, o que o fez aos 20 anos.

Foi enfermeira durante a Primeira Guerra 1914-1918, casou-se duas vezes, teve dois filhos e viúva, foi proprietária do Château du Plessis-Gallu de 1924 a 1938.

Com o início da Segunda Guerra foi domiciliada na rue Charles Lafitte 90 em Neuilly sur Seine, atualmente em Le Poteau, com o casal FOUCAUD, seus empregados desde 1924, o Sr. Etienne FOUCAUD, motorista, e a Sra. Marguerite FOUCAUD sua governanta.






Uma placa em sua memória foi inaugurada em 8 de maio de 2015 em Juigné-sur-Sarthe.

Seu nome aparece no Memorial dos Deportados do Sarthe, inaugurado em 28 de abril de 2019 em Le Mans (Foto: Yves MOREAU)

 

 

FONTES:

https://maguetas.com.br/rosa-e-azul/

https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/perseguicao-nazista-e-monotonia-quem-sao-meninas-na-tela-rosa-e-azul.phtml#google_vignette

https://masp.org.br/en/collections/works/rosa-e-azul-as-meninas-cahen-danvers

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/duas-meninas-2/

https://lesdeportesdesarthe.wordpress.com/de-cahen-danvers-elisabeth-mme-la-comtesse/


2 comentários:

  1. Que lembrança histórica marvilhosa!!! Consiguiu combinar a arte, com a historia e finalmente um exemplo claro das atrocidades cometidas pelos nazistas... outra pagina sobre antisemitismo.Parabésn Ita!

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  2. Muito interessante e Muito bem scrita
    O Destin de cada um…

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