Você sabia que um dos mais recentes projetos urbanos em
Porto Alegre recebeu o nome de Orla Moacyr Scliar, em homenagem ao grande
médico gaúcho e escritor altamente humanista, Dr. Moacyr Scliar, falecido em 2011?
A nova área de lazer da cidade, com 1,3 km de extensão,
situada entre a Usina do Gasômetro e a Rótula das Cuias foi projetada por Jaime
Lerner, arquiteto conhecido internacionalmente por suas incontáveis obras, um
dos cinco urbanistas mais famosos do último século.
A nova orla conta “com
ciclovia e passeio público, mirantes, quadras esportivas, ancoradouro para
barcos de passeios turísticos, bares e um restaurante panorâmico, um posto
permanente da Guarda Municipal e cobertura de 39 câmeras de videomonitoramento.
Uma das atrações é a iluminação especial, que proporcionará a visitação
noturna. Para isso, foram instalados 47 postes inclinados e um piso iluminado
por pontos de luz.”
Estimulando a gastronomia do estado, haverá 4 bares e um
restaurante panorâmico que servirão de acolhida aos visitantes.
Moacyr Scliar, o homenageado neste projeto
urbanístico-cultural da cidade, sétimo Imortal a ocupar a Cadeira #31 da
Academia Brasileira de Letras, nasceu em Porto Alegre em 23 de março de 1937.
Seus pais, José e Sara Scliar, vieram da Bessarábia em
1904.
Moacyr, o filho mais velho, desde os primeiros anos
mostrou gosto pelos livros, sendo alfabetizado em casa por sua mãe.
Estudou no Colégio Iídiche, ou Escola de Educação e
Cultura, onde sua mãe era professora, e em 1948 foi para o ginásio Rosário, uma
escola católica.
Em 1962 formou-se médico pela Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especializou-se em Saúde Pública e, Doutor
em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública, exerceu a profissão junto ao
SAMDU, Serviço de Assistência Médica Hospitalar e de Urgência.
Em 1965 casou-se com Judith Vivien Olivien, com quem teve
um filho, Roberto.
Suas obras literárias o levaram aos Estados Unidos, onde
atuou como professor visitante na Universidade do Texas e na Brown University.
Sempre participou de conferências e encontros literários
dentro e fora do país. Era convidado para palestras onde se mostrava um
excelente contador de histórias. Nunca esqueço o caso por ele relatado de um
imigrante recém-chegado ao Brasil, que ao ser-lhe oferecida uma banana,
devorou-a com casca e tudo.
“Seu
primeiro livro, publicado em 1962, foi Histórias de Médico em Formação, contos
baseados em sua experiência como estudante. Em 1968 publica O Carnaval dos
Animais, contos, que Scliar considera de fato sua primeira obra.
Autor
de 74 livros em vários gêneros: romance, conto, ensaio, crônica, ficção
infanto-juvenil, escreveu, também, para a imprensa. Obras suas foram publicadas
em muitos países: Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, Portugal,
Inglaterra, Itália, Rússia, Tchecoslováquia, Suécia, Noruega, Polônia,
Bulgária, Japão, Argentina, Colômbia, Venezuela, Uruguai, Canadá e outros
países, com grande repercussão crítica.
Teve
textos adaptados para o cinema, teatro, tevê e rádio, inclusive no exterior.
Foi,
durante 15 anos, colunista do jornal Zero Hora, onde discorria sobre medicina,
literatura e fatos do cotidiano. Foi colaborador da Folha de S. Paulo desde a
década de 70 e assinou uma coluna no caderno Cotidiano.
Duas
influências são importantes na obra de Scliar.
Uma
é a sua condição de filho de imigrantes, que aparece em obras como A Guerra no
Bom Fim, O Exército de um Homem Só, O Centauro no Jardim, A Estranha Nação de
Rafael Mendes, A Majestade do Xingu.
A
outra influência é a sua formação de médico de saúde pública, que lhe
oportunizou uma vivência com a doença, o sofrimento e a morte, bem como um
conhecimento da realidade brasileira. O que é perceptível em obras ficcionais,
como A Majestade do Xingu e não-ficcionais, como A Paixão Transformada:
História da Medicina na Literatura.”
Conforme o escritor gaúcho Luiz Antônio Assis Brasil:
“Cada
leitor da obra do Scliar tem seu gênero preferido. Mas todos reconhecem nele,
acima de tudo, seja na ficção, no ensaio ou na crônica, um estilo altamente
humanista, que o torna dono de valores universais e a ABL, ao aceitá-lo como
imortal, fez justiça não só ao Rio Grande do Sul, mas também ao grande escritor
que ele foi, capaz de introduzir na literatura brasileira a contribuição que
outros escritores de origem judaica deram à literatura mundial. Sua ficção
insere a temática do imigrante judeu e urbano no imaginário da literatura
sul-rio-grandense.”
Sua obra conquistou três Prêmios Jabuti, nos anos 1988,
1993 e 2009.
Sobre o romance premiado Um Sonho no Caroço do Abacate - um livro infanto-juvenil que se
transformou num filme com o nome de Caminho dos Sonhos - Fernanda dos Santos
Silveira Moreira analisa alguns dos aspectos problematizados na obra, “considerando
a importância do estudo do Holocausto pelos jovens a partir de Scliar.”
Principais Prêmios:
Prêmio da Academia Mineira de Letras (1968);
Prêmio Joaquim Manuel de Macedo (Governo do Estado do
Rio, 1974);
Prêmio Cidade de Porto Alegre (1976);
Prêmio Érico Veríssimo de romance (1976);
Prêmio Brasília (1977);
Prêmio Guimarães Rosa (Governo do Estado de Minas Gerais,
1977);
Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte (1980);
Prêmio Jabuti (1988, 1993, 2000 e 2009);
Prêmio Casa de Las Américas (Cuba, 1989) pelo livro A
Orelha de Van Gogh;
Prêmio PEN Clube do Brasil (1990),
Prêmio Açorianos
(Prefeitura de Porto Alegre, 1997 e 2002).
Seu romance A
Majestade do Xingu, que narra a história de Noel Nuttles, também judeu e
médico sanitarista, além de renomado indigenista, recebeu o Prêmio José Lins do
Rego, da Academia Brasileira de Letras (1998);
Prêmio Mário Quintana (1999);
Prêmio Jabuti (2009) por "Manual da paixão
Solitária".
Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.
FONTES:
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