Esta semana o Brasil parou estarrecido observando, pela segunda vez, o rompimento de uma barreira de contenção. Brumadinho - uma cidade que muitos de nós conhecemos. Lá ficamos ao visitar o lindo museu a céu aberto de Inhotim. Quantos amigos colocaram posts lembrando da pousada que se foi. Conhecendo ou não o local, são dias de luto, preocupação e reação.
Gratidão de todo um povo que olha estarrecido os que literalmente se enterram na lama para salvar vidas, resgatar corpos e dar alento aos que tudo perderam. E nós brasileiros, fazemos isto a cada rodada da história com eficiência e coração.
Desta vez, algo diferente aconteceu. Israel ofereceu uma equipe de 136 pessoas para auxiliar no resgate. Seguindo o princípio talmúdico de "quem salva uma vida, salva toda a humanidade", o Exército de Defesa de Israel (IDF) mantém equipes de resgates treinadas e capazes de uma movimentação rápida. Para o Brasil vieram alguns socorristas que já moraram no Brasil ou são filhos de brasileiros.
O compromisso em usar equipamentos sofisticados, e principalmente um grupo de pessoas treinados para situações de emergência, vem de longa data. Em setembro de 1985, pela primeira vez, uma equipe de resgate israelense atuou no exterior - no Terremoto do México - e a ela seguiram-se ações nos terremotos na Armênia, no Japão, Equador, Itália e novamente no México, em 2017. Equipes israelenses estiveram presentes no resgate de vítimas de enchentes e furacões na Inglaterra, Sri-Lanka, Luisiana e Haiti, de incêndio na Turquia, de guerra civil em Ruanda, entre outras. Existem documentos que detalham as ações e até um mapa que mostra onde, quando e de que forma Israel enviou ajuda.
Este ano chegaram ao Brasil. Como temos conversado ao longo destas 100 semanas em que escrevemos este editorial, Israel desperta muitas reações. Algumas atávicas, baseadas em anos e anos de preconceito. Estas reações ficaram muito claras na grande mídia. Críticas ferinas, cheias de segundas intenções, todas desmentidas - mas já estavam ventiladas e encontraram solo fértil em alguns meios. Por outro lado, encontramos os que identificam Israel com preceitos religiosos. E a maioria, entre os que se manifestam e os que silenciam, observam a atitude pouco comum de ajuda ao outro. No judaísmo existe o conceito que o homem foi criado à imagem e semelhança de D'us, mas esta semelhança não é física, é a capacidade criativa do homem, a capacidade de TIKUN OLAM - reparar o mundo que é relevante. Este é um princípio que vai além de religião, hábitos ou costumes.
Este, na realidade é a principal razão que move uma ajuda humanitária, e ela deve ser independente de razões que a própria razão desconhece. A cada passar do dia vemos que muitos dos homens e mulheres envolvidos nesta tragédia sabem que é bom receber o apoio e os dois lados aproximam-se um pouco mais.
Brumadinho - ainda muito próximos do que nunca deveria ter acontecido
Brumadinho - um local em que turistas e trabalhadores se encontravam
Brumadinho - esperemos que janeiro de 2019 seja apenas um hiato no tempo para esta cidade encantadora - mas que estes momentos sejam gravados na memória de cada brasileiro e passemos a usar o slogan
#BRUMADINHO_nós_lembramos
#NUNCA MAIS
Regina P. Markus