MARCEL MARCEAU, SEU INCRÍVEL PERSONAGEM BIP E SUA
INCRÍVEL FAÇANHA DE SALVAR CRIANÇAS JUDIAS.
Você sabia que o mundialmente conhecido mímico francês
Marcel Marceau, criador do famoso personagem Bip, sobreviveu à ocupação nazista
e salvou mais de 70 crianças judias durante o Holocausto?
Marcel Marceau nasceu em Estrasburgo em 1923, filho de um
açougueiro Kosher e de mãe alsaciana, bilingue desde os tenros anos. Ainda cedo
foi introduzido à música e ao teatro por seu pai, cantor barítono e grande
apreciador das artes.
Aos cinco anos sua mãe o levou ao cinema para ver Charles
Chaplin - e foi aí que ele se encantou com o ator e decidiu que queria ser
mímico. Estudioso da literatura, aprendeu inglês e tornou-se poliglota, já que
já dominava também francês e alemão.
Com o início da Segunda Grande Guerra, precisou esconder
sua origem judaica e trocou seu nome Marcel Mangel para Marcel Marceau - e
abandonou seu lar fugindo com toda a família. Seu pai foi enviado para
Auschwitz, onde veio a falecer em 1944.
Marcel e seu irmão Alain juntaram-se às táticas de
guerrilhas contra os invasores alemães. Marceau foi requisitado a trabalhar na
Resistência Francesa por seu primo Georges Loinger, comandante da unidade
secreta encarregada de contrabandear crianças judias da França ocupada,
levando-as para países neutros. Seu primo Loinger salvou mais de 300 crianças.
Marceau, através de Bip, com sua cara pintada de branco,
calças muito largas, camisa listrada, cartola velha com uma flor vermelha em
uma figura tragicômica encantou audiências por várias décadas com sua
performance sem palavras. Ficou conhecido como o “mestre do silêncio” e o
melhor mímico do mundo.
E foram estas suas habilidades que o levaram a salvar
crianças judias durante o Holocausto.
Marcel trabalhou em um orfanato apresentando shows de
mímica para as crianças e elas simplesmente o amavam. Sua missão era evacuar as crianças judias
escondidas no orfanato. Assim, ele as instruía a representar através da mímica,
sem usar palavras. Elas precisavam dar a impressão de estar saindo de férias
para uma casa de veraneio na fronteira com a Suíça. E Marcel deixou-as tão à
vontade e confiantes que chegaram ao outro lado em silêncio e com o sucesso de
missão cumprida. A mímica aqui não era entretenimento, era a garantia de vidas.
Em 2002 Marcel relembrou outra experiência vivida durante
a guerra: ”Certa vez eu passei por
chefe de escoteiros, enganando as autoridades. Levei 24 meninos judeus em
uniformes de escoteiro através da floresta até a fronteira onde alguém os
esperava para levá-los à Suiça.”
Além
de levar crianças à fronteira, Marcel também forjava documentos de identidade
numa tentativa de fazê-las passar por mais jovens e assim se safarem da deportação
nazista.
Seus esforços iam sempre além e quando um membro da
resistência descobriu que os soldados alemães nunca tocavam sanduiches com
maionese para não sujarem seus uniformes com óleo e condimentos, Marcel começou
a esconder documentos de identificação das crianças em pães com maionese.
Após a guerra, Marcel criou seu personagem famoso, Bip, e
ficou conhecido no mundo inteiro como o melhor artista mímico de sua época. As
pessoas se conectavam com a universalidade de seu personagem e sua compaixão. Parte
de sua tristeza originou-se de uma perda pessoal durante o Holocausto, a morte
de seu pai em Auschwitz.
“Eu chorei por meu pai mas eu também chorei
pelos milhões de pessoas que morreram. O destino me permitiu viver. Por esta
razão eu devo levar esperança àqueles que sofrem no mundo.”
Com a liberação de Paris em agosto de 1944 aconteceu a
primeira grande performance de Marceau para o público, que alegrou e conquistou
3000 soldados vitoriosos.
Em 1946, Marceau matriculou-se como aluno na Escola de
Artes Dramáticas de Charles Dullin no Teatro Sarah Bernhardt em Paris.
De lá para cá o mestre do silêncio recebeu o
reconhecimento mundial de sua arte. Em 1949 criou sua própria companhia e
viajou pelo mundo.
Assistamos agora a este vídeo de quase 2 minutos usufruindo
de seu desempenho e arte:
Em 1959 criou sua própria escola em Paris e, mais tarde,
a Fundação Marceau, com o intuito de promover a pantomima nos Estados Unidos.
Através de uma gama sem fim de personagens, desde o mais
inocente ao mais impertinente, desde um domador de leões até uma velhinha
decrépita, numa metamorfose constante e silenciosa, ele colecionou aplausos
entusiasmados de audiências constantes e títulos e honrarias até o fim de seus
dias.
Após uma carreira de 60 anos, o artista do silêncio
descansou em 2007 e repousa entre outros tantos homens famosos, no grande
Cemitério Pére Lachaise em Paris.
Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para o EshTá na Mídia.
FONTES:
https://www.bbc.com ›
news › world-europe-46714673
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