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sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Editorial - Lendo as Letras Negras e as Letras Brancas

Abdullah Shatila e Reuven Rivlin

Dizem os sábios que a Torá é escrita com letras brancas e com letras negras – entendendo que tanto o que está no texto quanto o que está nas entrelinhas trazem informações muito preciosas. Todos acreditamos que conseguimos ler os textos e interpretá-los, mas apenas alguns se preocupam com o contexto. Isto é, apenas alguns leem as letras brancas e as entrelinhas.

Em processos muito longos, que atravessam gerações e gerações podendo adquirir roupagens diferentes a cada século ou milênio, faz-se mister ler as entrelinhas. 

A longa vida do Povo Judeu é acompanhada de muitos momentos de inclusão e aprovação e muitos outros de rejeição e descaracterização. Nosso trabalho, iniciado em 2017, tinha por base não apenas denunciar as ações contra o Estado de Israel e o Povo Judeu, mas também trazer ao conhecimento de todos fatos muito pouco divulgados fora ou mesmo dentro da comunidade judaica. Esta semana, poderíamos dedicar este espaço para mais um momento de denúncia, visto o que vem acontecendo na França. Mas dois acontecimentos completamente isolados, um que aconteceu em Jerusalém e outro na ONU, mostram que sempre há espaço para retomar o caminho da verdade e que esta retomada depende de pessoas. 

Sim, o coletivo tem relevância para chamar atenção e promover mobilizações, mas são seres humanos de forma individual que mostram caminhos ou mesmo se integram no coletivo. 

O Presidente de Israel, Reuben Rivlin, homenageou um cidadão libanês em Jerusulém que com grande sensibilidade ajudou a preservar a memória e a história do Holocausto. 

O empresário libanês Abdalah Chatila arrebatou em um leilão vários ítens que pertenceram a Hitler, inclusive uma cartola. "Podiam cair nas mãos erradas, não tinha outra opção, que não ajudar. Tentei impedir o leilão, mas como não pude, comprei algum dos objetos", explicou Abdalah Chatila, em entrevista à Agencia Efe.

Abdalah Chatila estava na casa de leilão Hermann Historica, em Munique, que leiloou bens pertencentes a Hitler no valor de 130 milhões de dólares. Uma cartola tinha o preço de 50 milhões de dólares. Chatila tentou suspender o leilão, sem êxito. Decidiu então arrebatar todos os ítens. Ainda no processo de leilão, informou ao Karen Hayessod que tinha tomado esta decisão para evitar que estes pudessem ser transformados em símbolos de reverência por neo-nazistas e que iria doar todo o lote. No dia 9 de dezembro, o presidente do Yad Vashem, museu em Jerusalém dedicado a preservar a memória do Holocausto, recebeu a coleção.

Este é um ato em que as linhas e entrelinhas se encontram. Traduz o sentimento de que preservar a memória dos fatos é a única forma de disseminar as verdades contidas no texto e no contexto.


Do lado do Estado de Israel, esta semana aconteceu um fato inédito na Assembléia Geral da ONU. O embaixador de Israel Daniel Danon capitaneou a passagem de uma Resolução sobre “Tecnologias Agrícolas para o Desenvolvimento” que visa capacitar países em desenvolvimento em tecnologias agrícolas e com isto promover o desenvolvimento sustentável. Foram 147 votos a favor e a Liga de Países Árabes decidiu abster-se.  


Daniel Danon


Fato inédito na história da ONU. Os países árabes, através da abstenção, reconheceram o valor da ajuda humanitárias israelense. Vale ressaltar que esta tem sido dirigida de forma contínua para países africanos, inclusive para populações de maioria muçulmana, na forma de novas tecnologias para obtenção de água e de plantio.


ASSIM, a história vai sendo escrita não apenas pelo lado negativo, mas também pelo lado positivo. Cabe a nós não deixarmos de transmitir fatos e continuar sabendo ler na entrelinhas.


Cumprimentos ao Embaixador Daniel Danon, que uma vez não conseguiu entrar no Brasil, mas que foi à ONU e tem feito um trabalho espetacular, e ao empresário Abdalah Chatila que teve a sensibilidade e a presteza de alterar o curso da história.

Boa Semana!

Regina P. Markus

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