Entramos na primavera, onde a visão das flores e árvores, juntamente com a temperatura, nos aquece e inspira.
Nós, judeus, estamos no meio de Sucot, a alegre Festa dos tabernáculos, ou Festa das Tendas, um dos três feriados de peregrinação, junto com Pessach e Shavuot. Na festa celebrava-se a colheita do outono e a longa caminhada pelo deserto em Êxodo; em nossos dias se comemora construindo uma cabana (Sucá) de acordo com instruções específicas, com paredes firmes mas com o telhado apenas coberto de galhos e folhas de forma a permitir “a presença da cobertura divina” e a visão do céu. Come-se e bebe-se dentro da Sucá, usam-se simbolicamente as 4 espécies: a lulav (לולב) uma folhagem da tamareira, o hadass (murta-comum), o aravá (salgueiro) e o etrog (cidra), pela diversidade que representam - O Etrog tem sabor e aroma, o Lulav tem sabor mas não tem aroma, a murta tem aroma mas não tem sabor e o salgueiro não possui nem um nem outro. Os homens (e as mulheres) são diferentes mas são tod@s necessari@s para formar um povo, uma comunidade.
E também , como já mencionado aqui, e conforme o primeiro Zohar, livro do século XVI da Cabala, convida-se simbolicamente os nossos patriarcas, um a cada noite, começando por Abraão - há menções de que este ficava à frente da sua tenda no deserto esperando por andarilhos para então convidá-los a entrar e preparar-lhes uma refeição... há também um Midrash que atribui o início desta tradição à hospitalidade de Abraão aos anjos que lhe trouxeram a notícia de que Sara seria mãe.
Bem, é sempre muito rico recorrermos às fontes - estudarmos mesmo - para poder, com mais propriedade, ressignificar, atualizar as tradições, os rituais, as músicas e as explicações, mantendo seus propósitos. É parte fundamental da evolução do pensamento judaico questionar o que se apresenta, analisar criticamente e resgatar o sentido das ações, para fazê-las com Kavaná (intenção). Novamente Rambam, ele dizia que “as orações sem Kavaná não valiam de fato como orações; são feitas com rotina, são apenas um ‘trabalho dos lábios’ “. E assim como às orações, isto se aplica perfeitamente às ações. No objetivo que ele declara perseguir em sua grande obra “Guia dos Perplexos” ele afirma que quer explicar as mensagens (alegorias) que muitas vezes parecem contraditórias - o que deixa sábios e filósofos perplexos - e cita:
“Para compreender tudo o que os profetas disseram e para conhecer suas verdades, a chave para isso é a interpretação das expressões e o entendimento correto das alegorias…as alegorias em si mesmas não são de grande valor, mas através delas tu compreendes as palavras da Torá “ e ainda “o discurso possui duas faces: o sentido literal e o significado oculto, e o sentido literal é belo como a prata e o significado oculto é mais belo, diferenciando-se do literal como o ouro se diferencia da prata”.
As quatro espécies são alegorias poéticas sobre a necessária diversidade, e basicamente da saída de um lugar que não tinha nada disso para um lugar com árvores frutíferas. Os Ushpizin são a forma de pensarmos se temos exercido a hospitalidade e o acolhimento a quem precisa. Além disso, Sucot tem o intuito de perpetuar a caminhada no deserto às novas gerações - o ensino moral é que devemos lembrar sempre os tempos difíceis, lembrar o caminho dos patriarcas. E, acrescento, devemos buscar sempre o significado oculto das alegorias, torná-las significativas em nossos dias e fazê-lo com Kavaná!
Juliana Rehfeld
Oi Juliana, a mensagem está ótima e as imagens também!
ResponderExcluirParabéns!
Oi Juliana, aqui é a Itanira e escrevi a mensagem acima!
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