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sexta-feira, 3 de junho de 2022

Editorial - Shavuot - Bikurim - Revelação da Torah - Festa de Ruth, a moabita

 


O ano vai passando e as datas comemorativas vão pautando as nossas vidas.
Em família, comemoramos os aniversários de forma geral e datas que recordam fatos especiais para cada um. Como nação, observamos que algumas datas mudam o seu significado ao longo da vida, na dependência dos muitos momentos políticos que vivemos.
A festa de Shavuot é um grande exemplo de ressignificação; um grande exemplo de que nossas vidas, para ser completas, têm que navegar por várias dimensões.
A tradução literal de Shavuot para o português é "semanas". São contados 49 dias entre a saída do Egito e a revelação da Torah. Ao findar as 7 semanas e chegar o dia 50 inicia-se a festa de Shavuot. Este ano, a galut Shavuot começa na noite de 4 de junho e termina na noite de 6 de junho. Em Israel é apenas um dia.

Quantos significados!!!

1 - Festa das primícias - início de uma vida nova, para os homens e para a natureza. Encontramos na Torah várias regras e leis de como lidar com a terra. Muitos rabinos e líderes religiosos que escutei falar esta semana têm opiniões diversas sobre o tema. Alguns chegam a desqualificar as informações porque estavam destinadas à antiguidade. Outros dão a elas um significado místico. Gostaria de deixar aqui um toque muito diferente do que assistimos nas sinagogas reformistas, liberais, conservadoras e ortodoxas. Uma forma nova de abordar a temática. As regras colocadas para o tratamento da terra, os ciclos de colheita e plantio e a forma com que se deve esperar a produção agrícola deveriam merecer um olhar científico. E desta forma, entenderíamos que os antigos israelitas já dispunham de conhecimentos científicos adequados para produzir alimentos de forma eficiente.
Podem alguns dizer que a linguagem soa muito mística e religiosa! Não fica muito diferente da nossa linguagem de divulgação científica. Se, há décadas, os cientistas reclamavam da falta de rigor, hoje passaram a entender a necessidade de adequar a linguagem. EM RESUMO - a revelação da Torah junto com a Festa das Primícias  permite considerar que os antigos judeus, assim como os chineses e hindus, dispunham de textos que divulgavam conhecimentos importantes para a sobrevivências dos animais e do planeta. Dados, e não conjecturas, transmitidos na linguagem adequada.

2 - Festa da Revelação da Torah - a palavra revelação já nos remete ao oculto. A revelação Divina - as muitas formas de Adonai chegar aos humanos e trazer sua mensagem em forma de bençãos e maldições - em uma linguagem que pode ser assustadora. Ao mesmo tempo, é em nome da Revelação que se instituiu entre os judeus a obrigatoriedade dos estudos. Na Ética dos Pais, Pirkê Avot (2:17), um dos tratados do Talmud, Rabi Yossi afirma "Prepare-se para aprender a Torá, pois não foi dada como um legado para você." Legado, herança - aquilo que é passado de uma geração para outra, apenas por ser a geração seguinte! As Leis que permitiram que o Povo Judeu migrasse da servidão para a liberdade podem ser consideradas sua herança para a humanidade, mas não são um legado para os próprios judeus.
Ooops - a esta altura os leitores já estão bastante confusos - ou já entenderam que a festa é uma forma de abrir tempo para estudo. Uma das coisas divertidas desta festa era passar a noite inteira estudando junto com amigos. Com prazer, vemos o hábito voltar ou ser implantado em várias comunidades. Neste ano de 2022 muitas comunidades aqui no Brasil estarão realizando o Tikkun Shavuót - uma noite inteira lendo e debatendo temas judaicos e a Torah. Que sabor especial terá participar do Tikun de Shavuót na CIP após este longo período de pandemia. 

A Torah não é um legado - não é possível se apropriar da Torah sem estudo.  Preparar pessoas para conseguirem estudar sozinhas é EDUCAR. Educar os pequenos é uma das mais importantes obrigações do povo judeu, e esta regra foi cumprida à risca por todos, independentemente de seguirem ou não a religião judaica. Os séculos de afastamento de judeus, obrigados a se converter para outras religiões, não foram suficientes para acabar com esta prática. Educar! Gostaria de acreditar que ensinar a perguntar, discordar e debater fosse uma prática que fosse apreciada por toda a humanidade.

3 - Festa do Povo ENTRE os Povos - De todas as datas judaicas, esta é a que diretamente aborda a questão do Povo Judeu, dos Filhos de Israel, serem diferentes dos outros povos. Este é um contexto que levou a muito antissemitismo e a muita falta de entendimento entre judeus. Em Shavuót é lida a Meguilat Ruth - que conta a história de uma moabita que casa-se com um judeu. Após o falecimento precoce de seus filhos, a sogra de Ruth, Naomi, decide deixar as terras de Moab e voltar para Israel. Ruth decide ir junto com a sogra e unir-se aos judeus. Há muito material para estudar as formas de pertencer e se achegar, tão comum em nossos tempos. Colocando em poucas linhas, a importância que se dá aos que chegam - a história de Ruth - nos conduz por campos em que as sobras são sempre deixadas para os necessitados e encontra seu caminho dentro da comunidade.
Como herança - aquela que recebemos e cultuamos, é da linhagem de Ruth que nasce o Rei David, e da linhagem de Ruth que virá o Messias... Partimos então para o místico de Shavuot.

E tudo isso sem falar do Jubileu - da Shmitá - do descanso da terra! Este ano em Israel a terra não é plantada para que possa ter o seu descanso que deve ocorrer a cada 50 anos! A colheita no cinquentenário é sempre pobre e devemos deixar os frutos cairem.

Uma linda festa de Shavuót a todos - e muitos estudos!!

Regina P. Markus

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