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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Você Sabia? - JACOB, o JUDEU do BANDOLIM


 Jacob Pick Bittencourt  1918 – 1969



Você sabia que o triste e saudoso samba “Naquela mesa” foi composto em homenagem póstuma ao famoso músico brasileiro Jacob - o Judeu do Bandolim - filho de uma Polaca, operária do sexo, proprietária de bordel no Rio de Janeiro, e do respeitável farmacêutico capixaba Dr. Francisco Bittencourt?



Dona Sara Rachel e o menino Jacob


Sua mãe, Sara Rachel Pick, oriunda de Lodz, Polônia, praticava a profissão mais antiga do mundo. Era uma das Polacas, escravas brancas judias, enganadas em suas aldeias de origem e levadas ao Rio de Janeiro por cafetões europeus no final do século XIX.
Uma vez na nova terra, em meio a muita tristeza, trabalho, opressões e maus tratos, tentavam sobreviver. Assim, elas criaram um grupo de apoio coletivo, uma sinagoga e um cemitério, nunca se afastando de sua religião e tradições, sempre sob o estigma de viverem da vergonhosa e indesejável prostituição.

Sara Rachel Pick foi prostituta, meretriz, mulher da vida, e apesar de ser dona de bordel, nunca teve o comportamento de uma pessoa vulgar. Seguia com cuidado os preceitos de sua religião e respeitava os Shabbats e os sagrados dias de Rosh Hashaná e Yom Kipur - Ano Novo Judaico e Dia do Perdão, respectivamente.
Nunca aprendeu a ler ou escrever mas sabia fazer os cálculos mentalmente, exercendo o importante cargo de Primeira Secretária da ABFRJ na chapa de 1932.
A Associação Beneficente Funerária e Religiosa Israelita (Judaica), fundada no início do século pelas polacas cariocas, funcionou durante 62 anos em vários locais sempre cerca da Zona de Boemia da capital, sendo responsável pelo cemitério judaico de Inhaúma, por uma casa para acolher os idosos e inclusive um programa social para amparar as sócias enfermas ou aposentadas.

Jacob foi criado com muito carinho, sempre protegido pela mãe, ficando sozinho por horas em seu quarto observando a vida pela janela envidraçada que mostrava a rua.
Lá havia um senhor de idade, um francês cego que tocava violino e recebia moedas dos passantes que dele se compadeciam.
Jacob encantava-se com o instrumento e os sons que dele provinham e, ao completar 13 anos, pediu à mãe um violino - um presente bem acima das possibilidades de Dona Sara Rachel. O que fazer? Era o seu bar-mitzvá, idade em que o menino judeu atinge a maioridade religiosa e passa a ter a obrigação de cumprir os preceitos religiosos. Foi com sacrifício que conseguiu dar ao menino seu violino. Já para contratar um professor, não havia recursos financeiros.

Jacob encantou-se com o presente, mas apesar de muito tentar, não conseguia manejar o arco com sucesso e afinação. Foi aí que lançou mão de grampos de cabelo da mãe e obteve sons mais ao seu agrado.
Uma das amigas de Sara percebeu que o violino não era exatamente o que ele precisava e comprou-lhe um bandolim. A partir de então a vida de Jacob mudou e de composição em composição, de acorde em acorde, e de criação em criação, ele virou o maior compositor de chorinhos do Brasil, o “Mestre do Bandolim”, um verdadeiro autodidata da música.
Como todo menino e jovem de sua geração, Jacob estudou, viveu o dia a dia dos adolescentes, cresceu e conviveu com a sociedade em que estava inserido, mas sempre sob um duplo estigma: ser judeu e filho natural.
Em 1940 casou-se com Adylia Freitas e o casal construiu uma amorosa família junto aos seus dois filhos - Sergio Freitas Bittencourt, que se tornou um importante jornalista e compositor, e Elena Freitas Bittencourt, que cursou odontologia e mais tarde se tornou presidente do Instituto Jacob do Bandolim.






Sergio e Elena sempre foram fãs e grandes amigos de Jacob. Sergio, aos 29 anos de idade, profundamente acabrunhado com a morte de seu pai, compôs o saudoso samba “Naquela mesa”, que ficou famoso em todo o país e também no exterior.

Abaixo, segue a letra: 

        Eu não sabia que doía tanto/uma mesa no canto, uma casa e um jardim./Se eu soubesse quanto dói a vida,/essa dor tão doída, não doía assim./Agora resta uma mesa na sala/e hoje ninguém mais fala no seu bandolim./Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele/tá doendo em mim. (...)

       
Assistamos agora este choro de saudades de um filho que lamenta a morte de seu pai querido, na voz do autor Sergio Bittencourt e da cantora Elizeth Cardoso:




“Jacob do Bandolim é um dos responsáveis pela presença mais constante do bandolim no cenário musical brasileiro. Por suas mãos o instrumento passa da posição de mero acompanhamento para a categoria de solista. Ele cria uma maneira própria de tocar o bandolim, desde o manuseio da palheta, depois usada pela maioria dos bandolinistas que o seguem, até o estilo de composição e interpretação.”


Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.

FONTES:


2 comentários:

  1. Fantástica história. Eu era fã do Jacó do bandolim.

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  2. Sempre gostei dele mas não conhecia sua história. Agora gosto ainda mais

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