Jacob
Pick Bittencourt 1918 – 1969
|
Você sabia que o triste e saudoso samba “Naquela
mesa” foi composto em homenagem póstuma ao famoso músico brasileiro Jacob - o
Judeu do Bandolim - filho de uma Polaca, operária do sexo, proprietária de
bordel no Rio de Janeiro, e do respeitável farmacêutico capixaba Dr. Francisco
Bittencourt?
Dona Sara Rachel e o menino Jacob
|
Sua mãe, Sara Rachel Pick, oriunda de Lodz,
Polônia, praticava a profissão mais antiga do mundo. Era uma das Polacas,
escravas brancas judias, enganadas em suas aldeias de origem e levadas ao Rio
de Janeiro por cafetões europeus no final do século XIX.
Uma vez na nova terra, em meio a muita tristeza, trabalho,
opressões e maus tratos, tentavam sobreviver. Assim, elas criaram um grupo de apoio
coletivo, uma sinagoga e um cemitério, nunca se afastando de sua religião e
tradições, sempre sob o estigma de viverem da vergonhosa e indesejável
prostituição.
Sara Rachel Pick foi prostituta, meretriz, mulher
da vida, e apesar de ser dona de bordel, nunca teve o comportamento de uma
pessoa vulgar. Seguia com cuidado os preceitos de sua religião e respeitava os
Shabbats e os sagrados dias de Rosh Hashaná e Yom Kipur - Ano Novo Judaico e
Dia do Perdão, respectivamente.
Nunca aprendeu a ler ou escrever mas sabia fazer os
cálculos mentalmente, exercendo o importante cargo de Primeira Secretária da
ABFRJ na chapa de 1932.
A Associação Beneficente Funerária e Religiosa
Israelita (Judaica), fundada no início do século pelas polacas cariocas, funcionou
durante 62 anos em vários locais sempre cerca da Zona de Boemia da capital, sendo
responsável pelo cemitério judaico de Inhaúma, por uma casa para acolher os
idosos e inclusive um programa social para amparar as sócias enfermas ou
aposentadas.
Jacob foi criado com muito carinho, sempre
protegido pela mãe, ficando sozinho por horas em seu quarto observando a vida
pela janela envidraçada que mostrava a rua.
Lá havia um senhor de idade, um francês cego que
tocava violino e recebia moedas dos passantes que dele se compadeciam.
Jacob encantava-se com o instrumento e os sons que
dele provinham e, ao completar 13 anos, pediu à mãe um violino - um presente
bem acima das possibilidades de Dona Sara Rachel. O que fazer? Era o seu
bar-mitzvá, idade em que o menino judeu atinge a maioridade religiosa e passa a
ter a obrigação de cumprir os preceitos religiosos. Foi com sacrifício que conseguiu
dar ao menino seu violino. Já para contratar um professor, não havia recursos
financeiros.
Jacob encantou-se com o presente, mas apesar de
muito tentar, não conseguia manejar o arco com sucesso e afinação. Foi aí que
lançou mão de grampos de cabelo da mãe e obteve sons mais ao seu agrado.
Uma das amigas de Sara percebeu que o violino não
era exatamente o que ele precisava e comprou-lhe um bandolim. A partir de então
a vida de Jacob mudou e de composição em composição, de acorde em acorde, e de
criação em criação, ele virou o maior compositor de chorinhos do Brasil, o “Mestre
do Bandolim”, um verdadeiro autodidata da música.
Como todo menino e jovem de sua geração, Jacob
estudou, viveu o dia a dia dos adolescentes, cresceu e conviveu com a sociedade
em que estava inserido, mas sempre sob um duplo estigma: ser judeu e filho
natural.
Em 1940 casou-se com Adylia Freitas e o casal construiu
uma amorosa família junto aos seus dois filhos - Sergio Freitas Bittencourt, que
se tornou um importante jornalista e compositor, e Elena Freitas Bittencourt,
que cursou odontologia e mais tarde se tornou presidente do Instituto Jacob do
Bandolim.
Sergio e Elena sempre foram fãs e grandes amigos de
Jacob. Sergio, aos 29 anos de idade, profundamente acabrunhado com a morte de
seu pai, compôs o saudoso samba “Naquela mesa”, que ficou famoso em todo o país
e também no exterior.
Abaixo, segue a letra:
Eu não
sabia que doía tanto/uma mesa no canto, uma casa e um jardim./Se eu soubesse
quanto dói a vida,/essa dor tão doída, não doía assim./Agora resta uma mesa na
sala/e hoje ninguém mais fala no seu bandolim./Naquela mesa tá faltando ele e a
saudade dele/tá doendo em mim. (...)
Assistamos agora este choro de saudades de um filho
que lamenta a morte de seu pai querido, na voz do autor Sergio Bittencourt e da
cantora Elizeth Cardoso:
“Jacob do Bandolim é um dos
responsáveis pela presença mais constante do bandolim no cenário musical
brasileiro. Por suas mãos o instrumento passa da posição de mero acompanhamento
para a categoria de solista. Ele cria uma maneira própria de tocar o bandolim,
desde o manuseio da palheta, depois usada pela maioria dos bandolinistas que o
seguem, até o estilo de composição e interpretação.”
Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.
FONTES:
Fantástica história. Eu era fã do Jacó do bandolim.
ResponderExcluirSempre gostei dele mas não conhecia sua história. Agora gosto ainda mais
ResponderExcluir