TIKKUN OLAM
... qualquer ato de bondade humana reverbera por todos os
cantos do mundo ...
Você sabia que a familiar expressão judaica TIKKUN OLAM,
ou “consertar o mundo”, é um convite a todos nós, humanos, para completar e aperfeiçoar
a obra da criação divina?
Tikkun
Olam: “Um conceito judaico definido por atos de bondade realizados para
aperfeiçoar ou reparar o mundo. A frase é encontrada na Mishná, um corpo de
ensinamentos rabínicos clássicos. É frequentemente usada quando se discutem
questões de política social, garantindo uma proteção àqueles que podem estar em
desvantagem.”
Nestes últimos séculos esta frase tornou-se muito
conhecida e mundialmente proferida, dando origem a uma deliciosa piada: Como se
diz Tikkun Olam em hebraico?
Mas esta frase cheia de força e significado não se resume
a isto apenas.
- Consertar o mundo pede além de proteger pobres e
desabrigados, escravos e injustiçados.
- Clama pelos valores morais que devem ser observados em
nossas relações com o próximo e a sociedade em que vivemos.
- A caridade desempenha um papel fundamental: ajudar a
todos, tanto os nossos conhecidos e iguais como aqueles de diferentes crenças e
outras vizinhanças. As comunidades carentes devem ser atendidas e auxiliadas,
independentemente de suas práticas religiosas e população.
- O trabalho voluntário também faz parte deste princípio
Tikkun Olam: doar nosso tempo (talvez a mais difícil de todas as doações) pode
ser a melhor maneira de ajudar aqueles necessitados e aliviar a dor do mundo.
- Outro item importante é o cuidado que devemos ter ao
julgar o outro. Sejamos justos.
Em 1950, a frase Tikkun Olam foi usada por Louis Dembitz
Brandeis, o primeiro juiz judeu da Suprema Corte americana, homenageado ao ter
seu nome escolhido para a universidade que havia sido recentemente fundada
- Brandeis Camp Institute,
Universidade Brandeis, Massachusetts.
Esta instituição foi criada pela comunidade judaica
americana numa época em que os judeus, outras etnias e mulheres sofriam discriminação
para serem aceitos em universidades de alto padrão no país.
Para Louis Brandeis, estas palavras abrangiam a essência
dos valores judaicos, significando “quando
o mundo for perfeito sob o reino do Todo Poderoso.” Conquistar um mundo
melhor era, para ele, obrigação de todos os judeus e seu ensinamento.
EMET - Verdade |
Voltemos agora ao século XVI com Ari, o rabino Isaac
Luria:
Mas afinal, a que viemos neste mundo?
“O
judaísmo responde esta questão com um conceito fundamental elaborado pelo
rabino cabalista Isaac Luria no século 16, o Tikun Olam. Tikun vem do verbo
letaken, que significa reparar ou consertar. Olam quer dizer mundo. Juntas
criam um conceito maior que reparar o mundo, juntas significam melhorar o mundo
preparando-o para entrar no estado supremo para o qual foi criado.
Esse
conceito de mundo incompleto ou imperfeito é derivado do livro de Gênesis 2:3
“E abençoou Deus ao dia sétimo, e santificou-o, porque nele cessou toda sua
obra, que criou Deus para fazer”. Aqui vale uma observação; em muitas traduções
do antigo testamento essa passagem é descrita como “Abençoou Deus o sétimo dia,
e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera”.
O correto é a versão com o final “… que criou Deus para fazer”, pois demonstra
a obra do Criador como inacabada, o que justifica todas as imperfeições deste
mundo terreno e a missão da humanidade de melhorá-lo. Mas como os homens que são seres imperfeitos,
poderão aperfeiçoar a obra do Criador, que é perfeito em sua definição? Uma
missão gigantesca para uma criatura tão aparentemente pequena se comparada com
toda criação.
Olhemos então para o tripé do judaísmo:
Tzedaká (Justiça
Social)
Chessed (Compaixão)
Shalom (Paz)
De posse destas ferramentas, o ser humano estará apto a
aperfeiçoar o nosso mundo.
Cada gesto humanitário tem o poder de atingir o universo
em sua totalidade.
E de acordo com a Mishná (transcrição da tradição oral
judaica), cada pessoa é um mundo inteiro. E no Talmud lemos que quem salva uma
vida, salva o mundo.
Rabino Isaac Luria, o Ari. |
E nós? Fazemos parte da injustiça social, dos sofrimentos
do mundo?
Como podemos consertar os erros?
É difícil irmos longe para corrigir o que está mal feito ou
incompleto.
Assim pratiquemos esta oração Tikkun Olam junto à nossa
família, em nosso ambiente de trabalho, em nossas relações sociais, com nossos
vizinhos e empregados, em nossos julgamentos, em nossa alimentação e no cuidado
com nosso corpo e alma.
Com tolerância, atos religiosos, paz e muito amor
estaremos colaborando nesta divina tarefa de melhorar o mundo.
“Tikkun
Olam é uma convocação a ação, uma provocação constante para tirar o ser humano
da espera inerte por uma solução divina. Quer um mundo melhor? Uma família
melhor? Uma Irmandade melhor? Um trabalho melhor?
Não
reclame e não espere, faça! A energia positiva de cada pessoa poderá inspirar
outras de modo que uma corrente de boas ações torne a nossa vida e de nossos
semelhantes cada vez melhor.
O
Tikkun Olam deve ser um movimento constante, incessante, sempre renovado e
retroalimentando. Mãos à obra, não há tempo a perder.”
Há poucos anos, em São Paulo, três líderes religiosos
seguidores do monoteísmo do Patriarca Abraão reuniram-se no intuito de se
conhecerem, de se relacionar mais de perto e provar que as crenças religiosas
não afastam as pessoas. Como afirmou o
cônego Bizon, de praticar juntos o “tikkun
olam”, “a expressão judaica que significa trabalhar para melhorar o mundo e
torná-lo mais harmonioso. Esta é a lição mais importante do nosso trabalho”.
“O
riso corre solto entre o cônego José Bizon, o judeu Raul Meyer, o muçulmano
Atilla Kus e Ruth Junginger de Andrade, membro da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias, conhecida como Igreja Mórmon. É hora da foto que
ilustra esta reportagem da Revista Isto É.
Eles
estavam na sala de estar da Casa da Reconciliação, em São Paulo, um lugar
pertencente à Igreja Católica aberto ao diálogo inter-religioso. Quem os vê
juntos, brincando uns com os outros, descobre o que é na prática o significado
do respeito à crença alheia e, principalmente, que é possível conviver com o
diferente.”
E assim surgiu a Família Abraâmica, em que famílias
cristãs, muçulmanas e judias encontram-se uma vez por mês convivendo com suas
diferenças, culturas e crenças.
Os encontros são felizes e ao longo dos anos amizades
foram sendo construídas, lições de vida foram trocadas e muita informação foi
repassada. A culinária tem um papel importante: pratos típicos de cada grupo
são preparados e receitas são degustadas num ritmo alegre e descontraído em que
as horas correm livres e a conversa rola espontaneamente, seja em almoços ou
cafés da tarde.
Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg especialmente para os nossos canais.
FONTES:
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