O Édito dos Reis católicos e a expulsão definitiva dos judeus da Espanha em 1492
Por Itanira Heineberg
Cópia do Édito de Granada |
Você sabia
que em 1492, quando aos judeus foram permitidos apenas 3 meses para sair da
Espanha, a Holanda mostrou-se um abrigo protegido, acolhedor, oferecendo alívio
e esperança aos que procuravam uma Nova Jerusalém para aí iniciarem uma vida
mais segura?
Em 1492 os
judeus foram expulsos da Espanha pelos reis católicos Fernão e Isabel I.
Portugal e
o Império Otomano ofereciam oportunidades aos fugitivos, mas a situação
política em toda a Europa estava mudando. Em 1496 D. Manoel I, de Portugal, se casou
com D. Isabel da Espanha, filha dos reis católicos, e decretou a ordem de
expulsão dos judeus de suas terras em 1497.
Apenas três
meses foram concedidos aos judeus espanhóis, para liquidarem suas propriedades
e partirem.
“De
acordo com esse édito, todos os súbditos hebreus deveriam converter-se ao
catolicismo ou partir. Apesar da enérgica ação de Isaac Abravanel, funcionário
da corte de Isabel de Castela que tentou obter a anulação do decreto, as
perseguições intensificaram-se.
Alguns
foram para Portugal, de onde foram expulsos em 1497. Outros atravessaram o
estreito de Gibraltar para viver livremente a sua fé do outro lado do
Mediterrâneo, em Marrocos. Muitos fugiram para o Oriente – para a Itália, para
o leste da Europa, para o Egito ou para a Palestina. Houve os que encontraram
refúgio no Império Otomano, onde o sultão Bayazid II lhes ofereceu a sua
hospitalidade. Os que ficaram (cerca de 150 mil) converteram-se, mas um grande
número continuou a viver secretamente de acordo com a tradição judaica.”
Em seu
decreto, assim ordenavam os reis católicos Isabela I de Castela e Fernando de
Aragão:
“Que todos os judeus e judias de qualquer idade que residem em nossos domínios e territórios, que saiam com os seus filhos e filhas, seus servos e parentes, grandes ou pequenos, de qualquer idade, até o fim de Julho deste ano, e que não ousem retornar às nossas terras, nem mesmo dar um passo nelas ou cruzá-las de qualquer outra maneira. Qualquer judeu que não cumprir este édito e for achado em nosso reino ou domínios, ou que retornar ao reino de qualquer modo, será punido com a morte e com a confiscação de todos os seus pertences”.
Em 1581 a
Holanda tornou-se uma nação independente após uma prolongada guerra de
independência com a Espanha.
Os
conceitos holandeses de tolerância religiosa foram oriundos das premências da
guerra e da absoluta necessidade de estabelecer a paz em sua nação religiosamente
heterogênea.
Assim,
novas crenças e movimentos cristãos foram incorporados de bom gosto no percurso
da longa guerra com a Espanha.
“O
artigo XIII do Tratado de Utrecht, que ratificou a união das províncias do
norte, declarou que ninguém deveria ser processado por suas crenças religiosas.
Embora essa cláusula visasse beneficiar os protestantes e manter a paz entre os
cristãos, ela forneceu a base legal sobre a qual os judeus imediatamente
começaram a fixar residência e buscar reconhecimento na Holanda. Lá, os
sefarditas encontrariam as condições ideais para criar uma Nova Jerusalém.”
Documento
de doação emitido pelo rei Fernando e pela rainha Isabel ofertando propriedades
de judeus confiscadas pela inquisição a um monastério em Córdoba
“A
capital holandesa era o empório da Europa do século 17, com seu porto repleto
de navios cheios de mercadorias das Américas e do Extremo Oriente. Seu povo
avidamente se inventou como uma nova nação; seduzidos pelo comércio e suas
possibilidades, eles eram, no entanto, caracterizados por sobriedade de
comportamento e aversão tanto à superstição quanto a qualquer pretensão de
nobreza. A grande riqueza da cidade baseava-se em três fatores: sua frota, seu
comércio próspero e uma política de tolerância que atraiu algumas das almas
mais empreendedoras e ambiciosas do continente.”
E foi
neste novo clima de mercado que os marranos ou cripto-judeus (Judeus que se converteram
ao Cristianismo, mas continuaram a praticar o Judaísmo em segredo) passaram a
se destacar.
“Em 1604, um certo Manuel Rodrigues de Vega fez uma petição aos burgomestres da cidade para poderem estabelecer fábricas de seda ali junto com outros dois judeus portugueses. Em pouco tempo, os sefarditas desenvolveriam não apenas a indústria doméstica da seda, mas também o comércio da seda, grande parte do comércio de tabaco e o comércio de açúcar, corais e diamantes. Eventualmente sefarditas poetas, dramaturgos, calígrafos e gravadores de cobre também seriam encontrados ao lado dos comerciantes, banqueiros e médicos habituais.
Agora que parecia que os judeus podiam finalmente cessar suas peregrinações, eles começaram a chegar à Holanda vindos da Espanha, Itália, Portugal, Alemanha e Antuérpia. No início, os serviços religiosos eram realizados discretamente em casas particulares, bem como na residência de Samuel Pallache, um judeu sefardita que foi embaixador do Marrocos na Holanda de 1612 a 1616.
Em
certa medida, a posição dos judeus foi regularizada em 1597, quando os direitos
dos burgueses foram concedidos aos membros da “nação portuguesa” em Amsterdã.
Não foi até 1606 que se encontrou a primeira referência oficial a Joodche
Gemeente (a congregação judaica), mas em 1609 a comunidade sefardita contava
com 200 almas e sustentava duas sinagogas. Uma década depois, uma terceira casa
de culto seria fundada….”
Sinagoga portuguesa em Amsterdã
Em 1630 os
holandeses procuraram estabelecer uma colônia na América, apoderando-se de uma
das mais importantes regiões do Brasil - a capitania de Pernambuco - grande
produtora de açúcar.
Mais uma
vez, os judeus vislumbraram um porto seguro para suas vidas, religião e
negócios.
E foi de
Pernambuco que saiu em1654, fugindo dos portugueses que resgataram sua terra
brasileira, o primeiro açougueiro kosher que se fixou em Nova Amsterdã, mais
tarde a famosa cidade de Nova York, conforme vimos recentemente nesta coluna, no diário de Asser Levy.
FONTES:
https://www.myjewishlearning.com/article/jews-in-amsterdam/
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/2966620/jewish/A-Expulso-dos-Judeus-da-Espanha.htm
http://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/03/31-de-marco-de1492-edito-dos-reis.html
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