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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

VOCÊ SABIA? - AMSTERDAM, UM PORTO SEGURO PARA OS JUDEUS DO SÉCULO XV

O Édito dos Reis católicos e a expulsão definitiva dos judeus da Espanha em 1492

Por Itanira Heineberg



Cópia do Édito de Granada

Você sabia que em 1492, quando aos judeus foram permitidos apenas 3 meses para sair da Espanha, a Holanda mostrou-se um abrigo protegido, acolhedor, oferecendo alívio e esperança aos que procuravam uma Nova Jerusalém para aí iniciarem uma vida mais segura?

 

Em 1492 os judeus foram expulsos da Espanha pelos reis católicos Fernão e Isabel I.

Portugal e o Império Otomano ofereciam oportunidades aos fugitivos, mas a situação política em toda a Europa estava mudando. Em 1496 D. Manoel I, de Portugal, se casou com D. Isabel da Espanha, filha dos reis católicos, e decretou a ordem de expulsão dos judeus de suas terras em 1497.

 

Apenas três meses foram concedidos aos judeus espanhóis, para liquidarem suas propriedades e partirem.

 

“De acordo com esse édito, todos os súbditos hebreus deveriam converter-se ao catolicismo ou partir. Apesar da enérgica ação de Isaac Abravanel, funcionário da corte de Isabel de Castela que tentou obter a anulação do decreto, as perseguições intensificaram-se.

Alguns foram para Portugal, de onde foram expulsos em 1497. Outros atravessaram o estreito de Gibraltar para viver livremente a sua fé do outro lado do Mediterrâneo, em Marrocos. Muitos fugiram para o Oriente – para a Itália, para o leste da Europa, para o Egito ou para a Palestina. Houve os que encontraram refúgio no Império Otomano, onde o sultão Bayazid II lhes ofereceu a sua hospitalidade. Os que ficaram (cerca de 150 mil) converteram-se, mas um grande número continuou a viver secretamente de acordo com a tradição judaica.”

 

Em seu decreto, assim ordenavam os reis católicos Isabela I de Castela e Fernando de Aragão:

 

“Que todos os judeus e judias de qualquer idade que residem em nossos domínios e territórios, que saiam com os seus filhos e filhas, seus servos e parentes, grandes ou pequenos, de qualquer idade, até o fim de Julho deste ano, e que não ousem retornar às nossas terras, nem mesmo dar um passo nelas ou cruzá-las de qualquer outra maneira. Qualquer judeu que não cumprir este édito e for achado em nosso reino ou domínios, ou que retornar ao reino de qualquer modo, será punido com a morte e com a confiscação de todos os seus pertences”.


Em 1581 a Holanda tornou-se uma nação independente após uma prolongada guerra de independência com a Espanha.

Os conceitos holandeses de tolerância religiosa foram oriundos das premências da guerra e da absoluta necessidade de estabelecer a paz em sua nação religiosamente heterogênea.

Assim, novas crenças e movimentos cristãos foram incorporados de bom gosto no percurso da longa guerra com a Espanha.

 

O artigo XIII do Tratado de Utrecht, que ratificou a união das províncias do norte, declarou que ninguém deveria ser processado por suas crenças religiosas. Embora essa cláusula visasse beneficiar os protestantes e manter a paz entre os cristãos, ela forneceu a base legal sobre a qual os judeus imediatamente começaram a fixar residência e buscar reconhecimento na Holanda. Lá, os sefarditas encontrariam as condições ideais para criar uma Nova Jerusalém.”


Documento de doação emitido pelo rei Fernando e pela rainha Isabel ofertando propriedades de judeus confiscadas pela inquisição a um monastério em Córdoba

“A capital holandesa era o empório da Europa do século 17, com seu porto repleto de navios cheios de mercadorias das Américas e do Extremo Oriente. Seu povo avidamente se inventou como uma nova nação; seduzidos pelo comércio e suas possibilidades, eles eram, no entanto, caracterizados por sobriedade de comportamento e aversão tanto à superstição quanto a qualquer pretensão de nobreza. A grande riqueza da cidade baseava-se em três fatores: sua frota, seu comércio próspero e uma política de tolerância que atraiu algumas das almas mais empreendedoras e ambiciosas do continente.”


E foi neste novo clima de mercado que os marranos ou cripto-judeus (Judeus que se converteram ao Cristianismo, mas continuaram a praticar o Judaísmo em segredo) passaram a se destacar.

 

“Em 1604, um certo Manuel Rodrigues de Vega fez uma petição aos burgomestres da cidade para poderem estabelecer fábricas de seda ali junto com outros dois judeus portugueses. Em pouco tempo, os sefarditas desenvolveriam não apenas a indústria doméstica da seda, mas também o comércio da seda, grande parte do comércio de tabaco e o comércio de açúcar, corais e diamantes. Eventualmente sefarditas poetas, dramaturgos, calígrafos e gravadores de cobre também seriam encontrados ao lado dos comerciantes, banqueiros e médicos habituais.

Agora que parecia que os judeus podiam finalmente cessar suas peregrinações, eles começaram a chegar à Holanda vindos da Espanha, Itália, Portugal, Alemanha e Antuérpia. No início, os serviços religiosos eram realizados discretamente em casas particulares, bem como na residência de Samuel Pallache, um judeu sefardita que foi embaixador do Marrocos na Holanda de 1612 a 1616.

Em certa medida, a posição dos judeus foi regularizada em 1597, quando os direitos dos burgueses foram concedidos aos membros da “nação portuguesa” em Amsterdã. Não foi até 1606 que se encontrou a primeira referência oficial a Joodche Gemeente (a congregação judaica), mas em 1609 a comunidade sefardita contava com 200 almas e sustentava duas sinagogas. Uma década depois, uma terceira casa de culto seria fundada….”



Sinagoga portuguesa em Amsterdã

 

Em 1630 os holandeses procuraram estabelecer uma colônia na América, apoderando-se de uma das mais importantes regiões do Brasil - a capitania de Pernambuco - grande produtora de açúcar.

Mais uma vez, os judeus vislumbraram um porto seguro para suas vidas, religião e negócios.

E foi de Pernambuco que saiu em1654, fugindo dos portugueses que resgataram sua terra brasileira, o primeiro açougueiro kosher que se fixou em Nova Amsterdã, mais tarde a famosa cidade de Nova York, conforme vimos recentemente nesta coluna,  no diário de Asser Levy.



FONTES:

https://www.myjewishlearning.com/article/jews-in-amsterdam/

https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/2966620/jewish/A-Expulso-dos-Judeus-da-Espanha.htm

http://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/03/31-de-marco-de1492-edito-dos-reis.html

https://www.todamateria.com.br/tratado-de-utrecht/

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