Marcadores

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

EDITORIAL: Sonhos - construindo o futuro

O SONHO DE YAKOV


Mais uma semana de quarentena, mais uma semana olhando gráficos. Esta foi uma semana muito diferente - acabaram as eleições americanas e foram apresentados os principais colaboradores de Joe Biden. Estamos às vésperas do segundo turno para eleição de prefeito na maioria dos municípios de Brasil, incluindo a Cidade de São Paulo. Presenciamos cenas de violência extrema, por uma causa insignificante, que permite ver a face degradante do racismo. E, seguimos em frente equilibrando todos estes eventos de forma a não perder os nosso sonhos. Os sonhos que permitirão continuar a nossa existência neste planeta. Uma humanidade diversa e consciente de sua diversidade, uma humanidade ciente que fortes e fracos, bem ou mal dotados em certas aptidões mais valorizadas, os que acreditam e os que dão motivos para que valha a pena acreditar. Em resumo, uma humanidade que abre espaço para a participação de todos.

Nesta semana, várias notícias sobre as relações entre os países árabes e Israel foram veiculadas. Algumas até encontraram destaque na mídia brasileira, na esteira de opiniões políticas sobre dirigentes de Israel e Estados Unidos. E nesta semana, em todas as sinagogas do mundo na segunda, na quinta e no sábado é lido o trecho da Torá que fala sobre o sonho de Yakov. Não cabe aqui analisar trecho tão complexo,  mas vale lembrar que ao deitar a cabeça em uma pedra, em um local que foi chamado de Beth El (a casa de D'us), Yakov sonhou com uma escada que chegava até aos Céus e por onde anjos subiam e desciam. O fato dos anjos subirem primeiro tem muitas explicações ao longo dos milênios. Rashi (Rabi Shloo Yitzhaki, 1040-1105, França), um grande erudito que tem seus comentários inseridos em uma das "janelas" do Talmud,  em Genesis Rabah (68:12) propõe que esta escada ficava na fronteira entre a Terra de Israel e a Diáspora: "Anjos que acompanharam ele para a Terra de Israel não saíram da Terra, mas subiram para os céus, e os anjos que acompanharam Yakov para fora da Terra de Israel desceram dos Céus" (leia mais). Aliá (subida), Glitá (descida) - assim é mencionada a imigração para - e a emigração de - Eretz Israel (a terra de Israel). 


Nesta semana tão cheia de fatos coletivos tive uma experiência pessoal que cabe perfeitamente em todos os temas - diversidade de raças, de gênero, busca de um sonho e construção de um futuro idealizado. Minha irmã, Esther Pekelman Levy, compartilhou um link contendo a história de Hennya Pekelman, uma mulher que nasceu em 1903 no mesmo vilarejo que nosso pai e faleceu em 1940 em Israel. O vilarejo era muito pobre e localizava-se na Moldávia, na época parte do Império Russo. Os judeus e muitos outros povos chegaram a esta região no século 18 a convite dos governantes do Império da Lituânia para desenvolver agricultura e comércio. As pequenas propriedades foram sendo herdadas até o início do século XX. Em 1941, os que ainda estavam nestas terras foram todos mortos, e hoje apenas poucas pedras tumulares lembram um sociedade ativa tanto intelectualmente, quanto profissionalmente.

Marculesti, Moldávia, 2020


Em 1920 ela, com 17 anos, decidiu imigrar para o Mandato Britânico da Palestina junto com outros jovens para permitir que os judeus tivessem um lar nacional, um país, assim como muitos outros povos ao redor do mundo. Foi para a terra de seus ancestrais, e apesar de ser jovem estudada, com o Gymnasium completo, que equivale ao nível médio (High School), resolveu que deveria construir casas para os que chegassem e foi trabalhar como operária da construção civil. 


Fonte 

Li o que pude nos últimos dias. Henya Pekelman teve uma vida triste, com muitos obstáculos. Ela era do povo, uma trabalhadora, mas decidiu que a vida de cada um merecia ser conhecida pelas próximas gerações e escreveu um livro autobiográfico intitulado "The Life of a Woman Laborer in The Homeland". Uma história que começa com lembranças na infância, segue pela adolescência e os primeiros três anos no território do Mandato Britânico da Palestina, onde sofreu estupro, e deu à luz uma criança que não sobreviveu (1).  Os autores que hoje estudam o papel de mulheres trabalhadoras, operárias, líderes, intelectuais e cientistas mencionam que ela descreve seu livro como "Esta é a vida de uma mulher operária que viveu em uma pátria que chamar de sua era o seu sonho maior" (2).

Fiquei me perguntando como esta mulher publicou uma autobiografia em 1935. Qual a editora que aceitou bancar esta publicação? E a resposta chega... Nenhuma. Ela financiou a publicação do livro porque, em sua opinião, a história deveria ser contada não apenas pelos líderes e intelectuais, mas também pelos muitos anônimos que sonham um sonho além das fronteiras da própria existência. Sonham em deixar mais do que uma árvore, sonham em um futuro para seus filhos, do ponto de vista conceitual.

Este foi um editorial diferente, tenho ainda muito a aprender sobre esta mulher que seguiu o seu caminho até onde conseguiu. Mas apesar do triste desfecho que ocorreu em 1940, agora começa a ser lembrada.



 

Lembrada em um país que ajudou a criar e que hoje é considerado o primeiro no mundo para mulheres empreendedoras. Cidadãs israelenses judias, árabes, druzas, cristãs, sem religião e com qualquer outra denominação atuam como empreendedoras nas mais diferentes áreas.

SONHOS que se CONVERTEM em REALIDADE garantem uma história milenar que se desenrola pela sequência das gerações.

Boa Semana! 

Regina P. Markus



1. (Alyagon Darr, Orna (2015-03-30). "Sexual offences and ethnic identity(PDF). Tel Aviv University. Retrieved 2020-02-01 – via Carmel Academic Center - School of Law. ).

2. (Hess, Tamar S. (2008). "Henya Pekelman: An Injured Witness of Socialist Zionist Settlement in Mandatory Palestine" (PDF). The Feminist Press. Retrieved 2019-04-27.). 


14 comentários:

  1. Que especial poder resgatar esta estória que faz a história da família ficar mais completa! Conectar a parasha da semana e ainda trazer este olhar para todos nós! Obrigado! E que possamos todos escrever e valorizar nossas “pequenas” (mas importantes) Jornadas! Shabat Shalom!

    ResponderExcluir
  2. Agora vou tentar como anônimo - e identifico no texto RPM

    ResponderExcluir
  3. Sensacional o texto , que vida forte desta Mulher Henya Pekelman..a .estrada de vida dela não foi nada fácil , mas escolheu o caminho e com muita luz trilhou e realizou seus sonhos.
    Shabat Shalom.

    ResponderExcluir
  4. Que apropriação bacana do texto bíblico! Muito inspirador. Obrigada!

    ResponderExcluir
  5. Otimo comentario Regina.Mais pormenores e informacoes sobre Henia Pekelman,a Zilda e Nirka podem oferecer. Continuando tuas ideias,importantissimo e obrigatorio para humanidade : Adormecer com um Sonho , e amanhecer com um objetivo,uma Meta . Eva Schenkman Cialic

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eva, super obrigada - fiquei impressionada com a vida de Henya e seu posicionamento como mulher. Vc também tem tido uma atuação de destaque.

      Excluir
  6. Em março de 2021 fui contactada por Jacqueline Aronis, neta de Henrique Pekelman, um tio muito querido. Jacquie conta que sua filha Lola (Eleonora Aronis Rainha) também encontrou a História de Henya Pekelman na INTERNET. Será que conseguiremos saber mais?

    ResponderExcluir