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segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

VOCÊ SABIA? - Rembrandt

 

Por Itanira Heineberg


Isaac e Rebecca em A noiva judia - Rembrandt (1665-1669) – RijksMuseum, Amsterdã


VOCÊ SABIA que um dos mais importantes artistas de todos os tempos, o grande mestre do barroco holandês Rembrandt viveu e trabalhou durante duas décadas em sua residência no bairro judeu de Amsterdã, de onde saíram seus melhores trabalhos, como A Noiva Judia?

Os judeus refugiados da Espanha foram muito bem recebidos na Holanda, como já vimos anteriormente em outras matérias apresentadas.

Em pouco tempo, tornaram-se pessoas proeminentes na sociedade em que atuavam.

Como um passe de mágica, era melhor serem conhecidos como judeus em Amsterdã do que como comerciantes portugueses, devido ao sentimento anti-ibérico após a separação da Espanha.

Intelectuais holandeses descobriram com admiração os moradores um tanto exóticos do bairro judeu e para lá se dirigiram para com eles conversar.

 

“Em certa medida, a posição dos judeus foi regularizada em 1597, quando os direitos dos burgueses foram concedidos aos membros da “nação portuguesa” em Amsterdã.

Não foi até 1606 que se encontrou a primeira referência oficial a Joodche Gemeente (a Congregação Judaica), mas em 1609 a comunidade sefardita contava com 200 almas e sustentava duas sinagogas.”

 

No início de sua carreira, Rembrandt, jovem e desconhecido, esboçou muitos de seus vizinhos portugueses, incluindo Menasseh ben Israel [eminente rabino e estudioso; que fez uma petição a Oliver Cromwell pela readmissão dos judeus à Inglaterra em 1655-6]. 

A Noiva Judia – detalhe das mãos – terna fusão de amor físico e espiritual


Por outro lado, os judeus sefarditas colheram os benefícios da vida intelectual animada criada pelos sábios de Amsterdã, que cultivavam avidamente a teologia, a filosofia, a jurisprudência, a matemática e as línguas orientais.”


Abraão e Isaac - 1635 - Museu Hermitage


“Desde o século 19, a relação entre Rembrandt e os judeus tem sido alvo de estudo. Os historiadores são unânimes em afirmar que foi pela mão do mestre holandês que se percebeu uma visível mudança na forma como os judeus eram retratados nas artes plásticas. Há quem chegue a considerá-lo um "artista judaico", apontando o fato de ter vivido no bairro judeu e de um terço de suas obras retratarem personagens ou temas bíblicos - fato pouco comum na Holanda protestante do século 17, pois os temas religiosos não tinham apelo para os protestantes holandeses.”


   A Cegueira de Sansão – 1636


“Rembrandt Harmenszoon van Rijn nasceu em 15 de julho de 1606, na cidade holandesa de Leyden e morreu em Amsterdã, em 1669. Na época, a Holanda protestante, finalmente livre do domínio da Espanha católica, tornara-se potência econômica e oásis de tolerância e abrigo para os perseguidos. A prosperidade comercial, aliada ao respeito à individualidade, incentivara a criatividade dos artistas, desencadeando um período extraordinário: a Época de Ouro da pintura holandesa (1584-1702). A arte deixara também de ser exclusividade dos nobres e da Igreja, passando a ser artigo de consumo da burguesia comercial; e Amsterdã se torna o maior mercado de arte não-estatal da Europa.”



O Triunfo de Mordechai – 1640 – RijksMuseum - Amsterdã


“Nesse período, de extraordinária produção artística, resplandece o gênio de Rembrandt.

Pintor, desenhista e gravador, tecnicamente brilhante, foi um dos grandes mestres do barroco. Além de dominar a técnica do chiaroscuro - a arte de jogar com contrastes de luz e escuridão, o mestre atingiu uma nova percepção, a profunda compreensão da natureza humana. "Não há, na história da pintura, artista que tenha penetrado tão profundamente, com tanta dúvida e angústia, no problema das relações entre o homem e seu mundo", escreveu o historiador de arte, Pierre Cabanne.

 

Ninguém antes dele fez as coisas "comuns" da humanidade parecerem tão profundamente humanas, sérias e interessantes.”


Velho com gorro vermelho de pele – 1632 - Museu de Fine Arts, Houston, Texas


“Em 1631, o pintor radicou-se em Amsterdã, logo se tornando conhecido e próspero. Em pouco tempo se alçou à posição de principal retratista da Holanda. Em 1639, já casado, comprou uma ampla casa no número 4 da rua Breestraaat, na ilhota de Vlooienburg, entre os vários canais da cidade. Na época, o bairro era o centro do mercado de arte e da vida judaica, pois grande parte de seus habitantes, elementos cultos e de posses, pertenciam à "Nação Portuguesa".

                         

Judeus na Sinagoga – 1648 – Comunidade Asquenazi


“Todas as casas vizinhas à mansão de Rembrandt eram ocupadas ou de propriedade de ricos comerciantes sefaraditas, como Daniel Pinto, os irmãos Rodrigues, Isaac de Pinto, Baruch Osorio, entre outros. A poucas quadras da residência do artista vivia o rabino Menasseh ben Israel, a mais importante personalidade judaica da cidade e, provavelmente, uma das mais famosas na Europa da época. Rembrandt manteve, durante anos, profunda amizade com o rabino, inclusive tendo ilustrado, com quatro de suas gravuras, um de seus tratados, Piedra Gloriosa.

É famoso em todo o mundo o portrait do rabino executado por Rembrandt.


Rabino Menasseh ben Israel - 1636


“O fato de viver, durante quase duas décadas, no coração da vida judaica foi, sem sombra de dúvida, fundamental para moldar sua visão sobre os judeus. Vale lembrar que em nenhum outro país da Europa, Rembrandt teria tido permissão de viver no bairro judaico. Segundo alguns teóricos, ao conviver tão de perto com o judaísmo, o pintor, protestante que estudara a Bíblia a fundo, identificou-se com a cultura e religião judaica. Para outros, essa convivência próxima e diária mudou a percepção do artista quanto aos judeus, permitindo-lhe construir uma imagem calcada em sua experiência pessoal e não nos estereótipos carregados dos preconceitos vigentes na Europa do século 17.”


Retrato de um Velho Judeu – 1654 - Museu Hermitage - São Petersburgo


“Ele não apenas morava em Vlooienburg - interagia com os vizinhos, construindo laços de amizade e profissionais. E, graças a isso, o mundo pode vislumbrar através dos seus olhos a crônica da vida judaica na Holanda. Conta-se, por exemplo, que o comerciante de diamantes, Alphonso Lopez, costumava receber o artista em sua casa, para que ele pudesse apreciar e estudar sua coleção de obras de arte, que incluía quadros de Rafael e Tintoretto, entre outros.

Suas obras são mais do que um documento histórico do período - permitem-nos perceber, a partir da temática dos seus quadros, a cultura holandesa e as relações entre as duas comunidades. Ao retratar os Homens da Nação, Rembrandt não se presta tão somente a captá-los como em um instantâneo fotográfico; o seu olhar adiciona e soma a riqueza resultante do seu convívio entre esse povo.”

Quando retratava cenas inspiradas nos textos bíblicos, Rembrandt tinha sempre a preocupação de reproduzir de maneira correta a simbologia judaica. A inclusão do alfabeto hebraico, por exemplo, em qualquer um de seus trabalhos, era sempre acompanhada por minuciosos estudos, visando a perfeita reprodução das letras. Rembrandt não era o único artista holandês do século 17 a tratar temas judaicos, mas o que o diferenciava era o cuidado que tinha ao retratar fatos, situações e personagens ligados ao povo dos "Homens da Nação". Em sua tela "Moisés quebrando as Tábuas da Lei", diferentemente do que se costumava ver em outras reproduções artísticas, Rembrandt mostra Moisés carregando duas Tábuas e não um pedaço de rocha simulando a divisão em duas estelas.”


Moisés quebrando as Tábuas da Lei -  1659 - Galeria de Arte - Berlim


A coleção de obras com temática judaica inclui vários óleos, entre os quais os mais famosos são dois com o mesmo nome: "A noiva judia".

Outros quadros famosos são: "O médico judeu Ephraim Bueno", de 1647; "Retrato de um judeu" e "Velho com gorro vermelho de pele, em uma poltrona", ambos de 1654. O Livro de Esther inspirou obras como "O Triunfo de Mordechai", de 1641, e "Haman e o rei Achashverosh no banquete de Esther", de 1660. Entre as gravuras e desenhos podemos destacar os retratos de Menasseh ben Israel (1636) e de Ephraim Bueno (1647), "Abraham e Isaac", 1645, "Uma sílfide ou A grande noiva judia", de 1635. Este último retrata uma noiva que tem nas mãos a ketubá, contrato judaico de casamento. Vemos ainda a famosa gravura "Judeus na sinagoga", de 1648, em que retrata membros da comunidade asquenazi de Amsterdã.”


O Médico Judeu Ephraim Bueno – 1647 - Museu Hermitage - São Petersburgo



“Suas obras são mais do que um documento histórico do período - permitem-nos perceber, a partir da temática dos seus quadros, a cultura holandesa e as relações entre as duas comunidades. Ao retratar os Homens da Nação, Rembrandt não se presta tão somente a captá-los como em um instantâneo fotográfico; o seu olhar adiciona e soma a riqueza resultante do seu convívio entre esse povo.”

Ao praticar em suas obras uma sincera empatia pela condição humana, Rembrandt é considerado um dos grandes profetas da civilização.

 

 

FONTES:

https://www.myjewishlearning.com/article/jews-in-amsterdam/

https://www.todamateria.com.br/tratado-de-utrecht/

http://www.morasha.com.br/arte-e-cultura/rembrandt-e-os-judeus-de-amsterda.html

http://www.catedra-alberto-benveniste.org/_fich/15/artigo_Patricia_Correia.pdf

https://pt.wahooart.com/@@/8EWQU7-Rembrandt-Van-Rijn-busto-de-um-homem-velho-em-um-gorro-de-pele

https://dasartes.com.br/materias/rembrandt-van-rijn/

https://abrancoalmeida.com/artes/musica/a-heranca-de-atena-rembrandt/

http://www.revista.art.br/site-numero-03/trabalhos/04.htm

https://www.portaldearte.com.br/product-page/rembrandt-mois%C3%A9s-com-os-dez-mandamentos

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