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quinta-feira, 28 de maio de 2020

EDITORIAL: NOSSOS TEMPOS - NOSSOS SABERES

NOSSOS TEMPOS - NOSSOS SABERES





Hoje é dia 28 de maio de 2020 (5 Sivan de 5780). Ontem foi anunciado pelo Governador do Estado de São Paulo que no mês de junho, de forma gradual e planejada, será iniciada a volta às atividades econômicas e sociais. Hoje à noite inicia-se a celebração da festa de Shavuot (semanas) que lembra a entrega das Tábuas da Lei e da Torah (Pentateuco) a Moisés no Monte Sinai.

Os tempos presentes mostram que as situações de exceção podem levar a várias atitudes negativas, à dificuldade em entender os acontecimentos que escapam da racionalidade e a busca, muitas vezes, de soluções pouco produtivas, ou mesmo apenas intempestivas. Mas em paralelo há um grande progresso e cooperação pouco usuais na busca do entendimento e das soluções. Uma colaboração entre cientistas de todo o mundo e um aproveitamento pouco visto das bases de conhecimento que foram abertas para cooperações entre pequenos e grandes grupos. Colaboração entre diferentes grupos da sociedade, com especial atenção aos menos favorecidos, tem sido uma constante em todo o planeta, e há exemplos edificantes neste enorme Brasil.

Os tempos passados mostram que desde que o mundo é mundo os padrões de comportamento se repetem, mas neste caso a perspectiva histórica cria cenários intrigantes. Vamos olhar um pouco esta perspectiva do ponto de vista do calendário judaico, que usa a base lunar e que tem suas várias comemorações ligadas ao calendário agrícola e ao calendário histórico.

Após a celebração da liberdade (Pessach, Páscoa) inicia-se uma contagem de 49 dias (sete semanas) que termina hoje ao iniciar a festa de Shavuot (Semanas). Neste dia se comemora a primeira entrega da Torah e das Tábuas da Lei, que serão quebradas por Moisés ao encontrar uma parte do povo adorando um bezerro de ouro. Há um ponto muito interessante nesta comemoração, é que além de lembrar a história do Monte Sinai, também é lida a História de Ruth, a moabita, que acompanha sua sogra (Naomi) de volta a Belém, após terem perdido seus maridos. Ruth casa-se novamente e seu filho, nascido em Belém, será o avô do Rei David. O Livro de Ruth exalta Brit (aliança) e Chessed ("ch" com som de "r"; amor incondicional), responsabilidade e compaixão, conhecimento e paixão. Saber e conhecer são importantes se unidos ao cuidar e ser.

Nestes tempos de pandemia observamos que também nos tempos modernos o conhecimento e a sabedoria podem servir de base para entendermos e, muito provavelmente, solucionarmos este desafio biológico. Mas necessitamos de saber Cuidar e de passar a Ser mais do que ter, para podermos transformar esta vivência em um ponto de inflexão que altere para melhor o futuro da humanidade.

Ainda podemos lembrar que, mesmo que nem tudo dê certo da primeira vez, é possível ir atrás de outras chances, se nossas bússolas além de manterem alianças (brit) estiverem voltadas para o cuidar e amar (chessed).

Boa Semana!

Regina P. Markus

segunda-feira, 25 de maio de 2020

VOCÊ SABIA? - Prece para a felicidade




Considerações e preces em tempos de pandemia
Por Itanira Heineberg


Viktor Frankl, pai da Logoterapia e Análise Existencial







Você sabia que interceder pela felicidade dos outros torna as pessoas mais felizes?

Esta afirmação judaica que nos parece mais como um paradoxo encontra-se na oração da felicidade que se inicia com as palavras “Eilu Devarim” - “Estas são as Palavras”.

A palavra hebraica “devarim” também significa ações ou atos.
Assim a oração pela felicidade, rezada ao início de cada dia, invoca uma série de ações que promovem felicidade. Aqui estão as frases que com certeza produzem muitos benefícios:

“Honrar os progenitores.”
“Praticar a bondade.”
“Estudar e aprender sempre.”
“Abrir nosso lar aos outros.”
“Estar presente quando outros precisarem de nós”.
“Celebrar os momentos sagrados da vida.”
“Consolar o próximo em momentos de perda.”
“Rezar com intenção.”
“Perdoar os que nos ferem e procurar o perdão sempre que possível.”
“Comprometimento com nosso crescimento constante.”

Voltemos ao paradoxo da oração Eilu Devarim: focar mais nos outros do que em nós próprios aumenta nossa felicidade?
Não confundamos aqui felicidade com prazer. Ambos, felicidade e prazer, são diferentes.
Não nos referimos aqui a situações passageiras de prazer tais como comprar uma jóia, ir ao cinema, conhecer um restaurante famoso. Felicidade é mais durável, perene. Falamos aqui da felicidade existencial.
Segundo o Professor Martin Seligman, fundador do estudo científico da Felicidade, ele a define como “florescente”!
Sim, esta é a palavra escolhida por Seligman. A Felicidade é Florescente e contém cinco componentes:

- emoção positiva;
- engajamento;
- relacionamento;
-significado;
- realização.

Também a oração judaica pela felicidade promove florescimento. É a felicidade vivida através de significado e propósitos.
Esta invocação pela felicidade consiste em uma série de versos da Mishnah e aparece em vários livros de oração como parte das tradicionais bênçãos da manhã.







A disciplina acadêmica Psicologia Positiva, ensinada pelo Dr. Felicidade na Universidade da Pensilvânia, vem de encontro às mensagens da prece da felicidade.

É claro que os rabinos que escreveram esta reza nada sabiam sobre a Psicologia Positiva, porém a intuíram. As ações que ela recomenda casam muito bem com as ideias desta nova disciplina.

Por exemplo, celebrar os momentos sagrados da vida incorpora emoções positivas, relacionamentos e significado.

Rezar com intenção é um ato de engajamento e orar por si já abrange a visão de um mundo em que a vida tem sentido. Saber rezar, uma reflexão íntima e interior, absorver palavras, ritmo, melodias, são ações que nos levam a um sentimento de realização.

“Assim, ao examinarmos a oração Eilu Devarim, uma invocação à felicidade, encontramos os cinco aspectos da Felicidade Florescente do Dr. Seligman”, conclui Rabino Evan Moffic, líder espiritual da Congregação Solel em Highland Park, Illinois, autor de “A Oração da Felicidade: Antiga Sabedoria Judaica para a Melhor Maneira de Viver Hoje”.

Ao pronunciar esta prece estimulamos a felicidade de modos diferentes, pois ela nos foca para fora de nós mesmos, a maioria de suas práticas envolve outras pessoas. Exemplos concretos são abrir nossa casa ao próximo, praticar a bondade e a caridade, consolar os enlutados.
Os rabinos entenderam com sabedoria profunda o que aos nossos olhos parece ser um paradoxo: atentar nos outros nos torna mais felizes.

Quem nunca sentiu o coração bater mais forte e com alegria, ao estender a mão a alguém desamparado? Ou com fome? Ou sem esperança?
E citando Viktor Frankl, psiquiatra e neurologista austríaco, sobrevivente do Holocausto nos campos de Theresienstadt, Auschwitz, Kaufering e Türkheim:






"A porta para a felicidade abre para fora."



A prece Eilu Devarim é como um mapa, nas palavras do Rabino Moffic.
Que este mapa nos guie nestes atuais e difíceis momentos vividos pela população global, momentos que podem se apresentar como tomada de atitudes caridosas em prol de nossos semelhantes assim como desconfianças, acusações e até mesmo uma inaceitável e sórdida corrupção.
Interessemo-nos pelas histórias dos outros, ajudemos os necessitados, apoiemos os que sofrem, antecipando-nos às suas agruras e decepções.
Possa a oração Eilu Devarim ser o mapa que nos guiará nesta jornada imprevisível.





FONTES:


quinta-feira, 21 de maio de 2020

EDITORIAL - DIA DE JERUSALÉM - IOM IERUSHALAIM


JERUSALÉM - A CIDADE DE OURO
22 de maio de 2020







Jerusalém, a Cidade Eterna. Uma cidade que segue a história da humanidade no planeta Terra. Arqueólogos descrevem a presença de assentamentos humanos desde a era do cobre (4500 - 3500 aEC, antes da era comum),  mas o início de uma cidade, denominada Rusalimum em textos egípcios, acontece na era do bronze (2000-1330 aEC). Nesta era é descrita na Torah o sacrifício de Isaac. De acordo com o relato de Genesis, ocorreu no Monte do Templo. 
Continuando nossa viagem através do tempo terrestre chegamos a 1100 aEC, quando o Rei David conquista a Cidade de Jerusalém dos Jabuseus e a transforma na capital do Reino de Israel. Segue-se a construção do Primeiro Templo, conhecido como Templo de Salomão, que foi destruído em 587 aEC pelos babilônios, povo que habitava uma cidade localizada no atual Iraque.
Os judeus seguem para o primeiro exílio. Em 539 a.EC o Império Persa conquista a Babilônia e em 516 Ciro autoriza a volta do judeus para Jerusalém. Em 516 a.EC é construído o Segundo Templo. Lembramos que muitos judeus ficaram na Pérsia e só deixaram seus lares, mais de um milênio depois, quando o Império Persa foi transformado na República do Irã (1979). 

Vários impérios tentaram tomar a terra de Israel e Jerusalém dos Judeus, entre eles os gregos (332 - 63 aEC). A ocupação helenista foi repleta de práticas antissemitas, e a revolta dos Macabeus (167 – 164 aEC) libera Jerusalém e a Terra de Israel dos gregos. Israel volta a ser a nação dos judeus pela terceira vez.

A seguir entra o período Romano (63 aEC -313). É na era dos romanos que a construção do Segundo Templo foi finalizada, para então ser destruído no dia 9 do mês de Av do ano 70. Nos anos de 132-135 ocorre a revolta de Bar-Kochba. Três anos de luta por um sonho que é interrompido na Fortaleza de Betar. Os romanos conquistam a região e mudam seu nome para Palestina, bem como o nome Jerusalém para Aelia Capitolina. Inicia-se o Exílio de 2000 anos!

Nestes 2000 anos Jerusalém passa pelo período bizantino (324-629), muçulmano (636 – 1098), cruzadas (1099 – 1260), mameluco (1260-1516), turco-otomano (1516-1917) e britânico (1917-1948). 
Durante todos estes anos há registro da presença judaica em Jerusalém. As lutas entre cristãos e judeus que se iniciam na época do Império Bizantino e resultam na morte do governador judeu Nehemiah ben Hushiel seguem por séculos, incluindo o período das cruzadas. O período mulçumano foi pluralista e garantia a prática de outras religiões e outras culturas. No domínio dos reinos dos cruzados, judeus e mulçumanos foram massacrados. Os mulçumanos recuperam Jerusalém durante o período dos cruzados e finalmente deixam a cidade quando esta é conquistada pelos mongóis. 

Os judeus espalhados pelos quatro cantos do mundo continuam olhando para Jerusalém. E esta afirmação é literal – e vale tanto para os judeus que professam a religião judaica (as rezas são dirigidas para Jerusalém) quanto para aqueles que fazem parte do povo judeu, ligados à sua cultura e ética. Ao longo de toda a história judeus voltam para Jerusalém, e durante o Império Otomano a necessidade de criar um Lar Nacional Judaico foi aumentada. 

É no ano de 1967 – no dia 28 do mês de Yar – que Jerusalém é unificada. Pulamos muito da história – e ao escrever este texto, fica claro que este é um tema importante para entender uma das fontes de discussão sobre a soberania do Estado Judeu do século XX -XXI. Fica a vontade de descrever de forma pormenorizada os 2000 anos de exílio e a importância de Jerusalém no imaginário do povo judeu e dos muitos fatos, que ao longo de uma história de 3000 anos, une os sonhos e a realidade.

Jerusalém, a cidade dourada, com o sol batendo nas pedras de Jerusalém ao final do dia, refletem uma luz muito especial. Jerusalém, a cidade eterna. E para terminar, não podemos deixar de mencionar: Jerusalém, a cidade do futuro. É lá que se localiza um dos principais centros de inovação do mundo, e é de lá que vêm Waze, Moovit, WhatsApp e muitas outras inovações que tornam a nossa vida muito melhor nestes dias de Corona!

Boa semana!
Regina P. Markus

segunda-feira, 18 de maio de 2020

VOCÊ SABIA? - Festa das aves migratórias em Jerusalém




Mudanças migratórias em tempos diferentes – há mais de 2000 anos pássaros afluem à cidade de Jerusalém na primavera. Este ano, o espaço era só deles.    
Por Itanira Heineberg







Você sabia que a “Oitava Maravilha do Mundo” - os 500 milhões de pássaros de Israel - tiveram uma agradável surpresa em Jerusalém em razão do COVID-19 nesta temporada de primavera?

Com o Muro Ocidental esvaziado da presença humana, pássaros migratórios, em seus movimentos ágeis e graciosos, realizam um antiquíssimo show aéreo junto ao monumento sagrado, espetáculo dos mais antigos do mundo já executado em tempos de reis imemoriais.

A cada ano, ao chegar a primavera, revoadas de aves migratórias oriundas da África chegam a Jerusalém, acomodando-se nos vãos do Muro sagrado.

Porém desta feita, devido à pandemia do coronavírus, a praça vazia transformou-se em um palco onde os pássaros, em liberdade, ofereceram uma coreografia de ballet voando sobre o espaço oferecido.




Sabe-se que o outono está chegando quando os pássaros do hemisfério norte migram para a África e às vésperas da primavera concluem sua costumeira rota por Jerusalém.


Amir Balaban, chefe da divisão municipal da Sociedade Israelense de Proteção à Natureza, ensina que a colônia de Jerusalém é provavelmente uma das mais antigas do mundo.

Balaban, naturalista e fundador da Sociedade acima referida, afirma no Zman Yisrael, o site irmão de Israel em hebraico, ”Estes pássaros, sem dúvida, já faziam seus ninhos aqui há 2000 anos, na era do rei Herodes. Em geral, nesta época do ano, quando os fiéis chegam com o sol nascente, podemos ouvir as vozes dos adoradores sob os sons e chilros do bando em revoada. Sempre me dá arrepios.”

Noventa pares de aves se acomodam no Muro, várias centenas de casais escolhem o complexo do Monte do Templo e dezenas de milhares se espalham pela cidade.

Balaban continua, “Este é um dos pontos turísticos mais incríveis do mundo, uma combinação de um local de patrimônio histórico e um ponto de observação de aves. Na China, eles fazem ninhos nas telhas de templos antigos e aqui nas fendas da Muralha Ocidental e nas antigas estruturas da Cidade Velha.

Aves migratórias são monogâmicas. Desde o momento em que atingem a maturidade sexual aos 3 anos até suas mortes, por volta dos 20 anos, permanecem em pares.




Pares de pássaros que estabeleceram sua casa na Muralha Ocidental têm uma fenda designada nas pedras que eles usam para a temporada de aninhamento.

As chuvas fora de época deste ano são uma benção para os migratórios, causando uma abundância de vegetação e insetos, levando à competição sobre espaços de ninho no muro lotado.

Os migratórios passam a maior parte do tempo no ar quando não estão nos ninhos.

Eles dormem durante o voo enquanto deslizam sobre as correntes de ar. Um migratório é capaz de dormir em Jerusalém e acordar na Jordânia.”

E assim, sendo Israel uma passagem natural ligando Europa, Ásia e África, um corredor espontâneo e fértil, o país propicia às aves opções de repouso e nutrição antes do voo final para o clima convidativo e cálido do continente africano.

“As aves percorrem milhares de quilômetros e, sem erro, optam por descansar e buscar comida em pontos específicos de Israel, como o Monte Carmelo (Norte), as montanhas no entorno de Jerusalém (Centro) e o deserto do Negev (Sul). Os pássaros voam em bandos, levados apenas pelo instinto que guia gerações anteriores há centenas de milhares de anos. A migração acontece em geral à noite. As aves voam usando o reservatório de gordura que acumularam nos corpos nos meses que antecedem o outono. Justamente por isso é que, antes de chegarem ao destino final, sempre param para se "reabastecer".

Israel oferece uma dezena de centros de observação de aves abertos aos turistas e pesquisadores sobre o assunto. Também as crianças se beneficiam com estes espaços, aumentando suas experiências e o contato com a natureza.



Jerusalem Bird Observatory - crianças curtindo a natureza em visita escolar.


FONTES:

quinta-feira, 14 de maio de 2020

EDITORIAL: Coexistência




E o SarsCov2, vulgo coronavírus, continua passeando entre a pessoas deste Brasil. Poupando muitas, mas causando um número crescente de mortes. Nós, judeus, costumamos dizer aos enlutados: Baruch Dayan haEmet. Abençoado o Juiz Verdadeiro. 

Há um rito que foi sendo refinado ao longo dos séculos e que tem uma grande preocupação com o acolhimento da família. É um momento de coexistir entre dois mundos, é o momento da mudança de estado. Tanto os que têm crença religiosa quanto os que têm crença na humanidade encontram ritos para passar este momento. São muito diferentes do ponto de vista das rezas, mas a maioria conserva o hábito ancestral de visitar os enlutados e com eles relembrar momentos marcantes na vida de todos. 

Posso utilizar as últimas frases do parágrafo para qualquer grupamento de humanos, quer seja regido por religião ou por outro tipo de convivência. Assim, como a figura que ilustra este texto, há momentos que são estruturantes. Assim como temos cinco sons bem definidos, conjunto a que nos referimos como vogais. As vogais são estruturantes. Aqui vamos dar um salto em nossa imaginação, e entender que o mesmo ocorre quando grupos de pessoas diferentes coexistem em uma mesma nação. 

Há um motivo estruturante, mas este só será completo e poderá ser entendido se cada um dos blocos formadores deste conjunto tiver sua própria identidade. Coexistir não é converter. Coexistir não é ser melhor ou pior. Coexistir é ser diferente e ter a capacidade de entender no que o outro é melhor e no que é pior, de forma a melhorar o conjunto.

O Estado de Israel nos seus 72 anos de vida reconhecida pelas outras nações vem buscando tanto no âmbito interno quanto no externo processos de coexistência. A população, de maioria judaica, é formada por grupos de diferentes religiões, etnias, orientações sexuais, etc. Existe uma obrigatoriedade inconteste de educar os jovens, e a recusa dos pais em enviarem os filhos à escola é punida pela lei. Mas as escolas têm diferentes orientações e, apesar de todas serem públicas, o currículo pode ser de responsabilidade de cada comunidade. Já a educação superior é eletiva e todas as principais Universidades aceitam a todos. 

Ainda comentando sobre o ensino, nestes tempos de corona, o "Davidson Education Institute", que é o braço educacional do Instituto Weizmann, produziu materiais e programas para que crianças de diferentes grupos sociais pudessem participar dos cursos à distância. 

Coexistir além das fronteiras: este tem sido um grande objetivo. Se é um problema para o judeu cidadão de outros países, no caso do Estado de Israel também não tem sido muito fácil. Mas a segunda década do século XXI e estes tempos de corona vêm trazendo novos horizontes. Esta semana, publicamos fatos novos e muito promissores que vêm acontecendo no países árabes, que passam a buscar laços com a cultura judaica e com o Estado de Israel. 

Nestes tempos de corona, foi da Arábia Saudita que vieram máscaras e luvas necessárias para Israel. As brechas começam a ser abertas - e fiquem atentos que nas próximas semanas, em pequenas doses, vamos oferecer muitos exemplos destes olhos que se encontram, sem a necessidade de um abraço, ou mesmo um aperto de mão, como manda a etiqueta social dos países do oriente.

Coexistir é manter a identidade de cada um. O povo judeu, que tem mantido a sua identidade ao longo dos séculos sem infringir leis locais, agora tem soberania em um país onde a manutenção da identidade é um desejo coletivo.

Boa Semana!

Regina P. Markus

segunda-feira, 11 de maio de 2020

VOCÊ SABIA? - As consequências para as artes em tempos de pandemia


Por Itanira Heineberg





VOCÊ SABIA que enquanto a Galeria dos Antigos Mestres da Pintura, em Dresden, na Alemanha, reabriu pedindo aos visitantes o máximo cuidado em relação ao distanciamento pessoal de 2 metros, o Museu Anne Frank em Amsterdã, na Holanda, solicita assistência pública após o surto do novo coronavírus?



Museu Casa de Anne Frank



A Primeira Ministra da Alemanha, Sra. Angela Merkel, afirmou: “Atingimos o objetivo de retardar a propagação do vírus”.
Acrescentou que os números de infecção por coronavírus no país, além de estarem estáveis, também se apresentam inferiores aos reportados duas semanas atrás. E assim concluiu em uma coletiva à imprensa: “Podemos ter um pouco de audácia! Mas teremos que lidar com o vírus por muito tempo ainda”.
Sim, estas são boas notícias para a Alemanha!

Mas o Museu Anne Frank pede assistência pública após o surto do coronavírus.



Interior do escritório com acesso ao anexo onde a família se refugiou durante a Segunda Guerra Mundial.


Anne Frank (1929-1945) foi uma jovem judia vítima do nazismo. Morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, deixando escrito um diário que foi publicado por seu pai, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz (Polônia), intitulado "O Diário de Anne Frank".


Sim, o Museu Anne Frank, construído em torno do anexo secreto onde a jovem judia, sua família e alguns amigos se esconderam dos nazistas, está fechado desde o início do surto do vírus letal.




Sessenta anos após sua inauguração em 3 de maio de 1960, esta casa pede ajuda ao público para se manter durante a pandemia que afeta a todos no mundo.

Em épocas mais saudáveis, o museu atraía 1,3 milhão de visitantes por ano.
Ronald Leopold, o diretor executivo do museu, disse ao “Dutch News”:
“O mundo está passando por uma crise sem precedentes, com um enorme impacto nas pessoas em todos os lugares e na Casa Anne Frank também... Somos um museu independente que não é subsidiado pelo Estado ou pela cidade. Se quisermos continuar a espalhar a memória de Anne Frank e da missão de seu pai, precisamos desesperadamente de apoio financeiro".

O museu com o pequeno apartamento onde Anne escreveu seu diário, o mais lido documento fruto do Holocausto, recebe sempre muitas visitas e mesmo em 2018 quando foi renovado arrecadou 11.2 milhões de Euros em entradas, obtendo um lucro de 174,000 Euros no ano.  





Galerias, museus e atrações públicas como a Casa de Anne Frank devem permanecer fechados até o primeiro de junho, em princípio. Como 90% dos visitantes vêm de fora e o turismo internacional está sendo enormemente atingido, fica difícil para o museu se recuperar do rombo financeiro causado pelo coronavírus.

Annemarie Bekker, porta-voz da Casa Anne Frank, assim expressou sua dúvida sobre o tempo pós pandemia:
“Quando pudermos reabrir, não sabemos a quantidade de visitantes que poderemos ter, mas prevemos que será 20% da quantidade normal. Noventa por cento dos nossos visitantes também vêm do exterior. Nunca levantamos ativamente fundos antes, mas somos um museu independente, e temos que carregar nosso próprio peso: é por isso que estamos lançando mão desta solicitação."

Vivendo este momento de quarentena e afastamento social, temos tido tempo adicional para pensar e repensar nossas vidas. Com certeza temos feitos boas descobertas e tentado mudanças para atitudes que não nos representam.

Anne também, na ingenuidade de seus poucos anos, deslindou segredos humanos.






Margot Frank, irmã mais velha de Anne, tal como a caçula escreveu um diário que infelizmente se perdeu no tumulto do campo de concentração onde pereceram.



Anne e Margot (à direita)

Infelizmente nunca teremos a chance de conhecer suas experiências durante o confinamento no anexo.

Porém fotos e lembranças de quem a conheceu estão agora presentes no acervo do Museu Anne Frank.


Opiniões de professores e treinadores associadas às muitas cartas que as irmãs trocaram naqueles dois trazem ao nosso conhecimento a história de uma menina boa aluna, que além de apreciar os livros e os esportes, era feliz entre suas amigas e companheiras de desportos, amava a família e guardava grandes esperanças para o futuro.





Margot Frank no barco da frente, blusa preta, de frente para a remadora de branco, no rio Amstel.

A foto foi tomada por Roos van Gelder, coach de ginástica e remo de Margot. O time incluía meninas judias e não judias e quando os judeus foram banidos dos esportes aquáticos, van Gelder teve de parar seu trabalho por ser judia e a parte da equipe não judia desistiu do esporte em solidariedade à sua treinadora.


FONTES:


The New York Times nytdirect@nytimes.com



sexta-feira, 8 de maio de 2020

EDITORIAL: Múltiplas Faces dos Nossos Dias

Múltiplas Faces dos Nossos Dias 
Por Regina P. Markus





Na mitologia romana, JANUS é a figura do deus que olha ao mesmo tempo o passado e o futuro. Os romanos davam a essa figura o valor da transformação. Ele conseguia ver, simultaneamente, o passado e o futuro - e com isto gerar as transformações necessárias. Não havia neste caso o conceito da dicotomia. O mesmo podemos dizer da figura chinesa do Yin/Yang - um círculo dividido em duas partes por uma curva que lembra uma senoide. De um lado estão todas as cores somadas (preto) versus nenhuma cor (branco), e de outro a continuidade entre um monte e um vale, que aparentemente podem parecer opostos, mas que somados são as mais maravilhosas paisagens de nosso planeta. Os registros mais antigos de yin-yang são encontrados no "Livro das Mudanças", também conhecido por I Ching ou Ahouyi, escrito por King Wen no século IX antes da era comum  durante a dinastia de Zhou ocidental. (https://www.thoughtco.com/yin-and-yang-629214)


Poderia buscar exemplos semelhantes em muitas culturas, mas quero trazer estas imagens pictóricas para os dias de hoje e uma questão central para a EshTánaMídia: o antissemitismo, quer dirigido aos judeus em geral ou ao Estado de Israel, que neste caso ganha o nome de anti-sionismo. Por outro lado, também são estes os tempos em que vemos uma forma muito importante de aceitação tanto do Judaísmo quanto do Estado de Israel por governos de países que se recusavam a aceitar a existência do Estado de Israel e que viram as populações judaicas serem reduzidas a nada, populações estas que habitavam estas regiões desde tempos bíblicos, muito antes da construção do Segundo Templo de Jerusalém. 

As relações entre os Estados Árabes e o Estado de Israel começam a mostrar diferentes faces. Por muitos anos estas relações poderiam ser representadas por Janus - um olhar para o passado, que parecia apontar para o futuro e, o presente apenas um hiato que pouco importa. Mas, no meio desta pandemia, e ainda com fatos de diferentes matizes, podemos enxergar mudanças de posições tanto apontando para um futuro de convivência harmoniosa, em que diferenças tão marcantes como branco e preto são harmonizadas por um contínuo transformar de visões, como o andar por vales e montes e, todas estas singularidades se harmonizam para formar um círculo perfeito - a unidade comportando todas as diferenças.

Nas matérias publicadas esta semana pela EshTáNaMídia encontramos exemplos em que uma das principais conquistas de Israel acaba sendo considerada um fator negativo, pelos que usam este tipo de "óculos". As redes de notícia BBC, Vox e Financial Times destacam que a "segregação" feita aos cidadãos árabes de Israel faz com que muitos escolham profissões da área da saúde. O "Honest Reporting" destaca que todas as populações do mundo que têm a oportunidade de alcançar educação superior e de exercer em todos os principais Hospitais e Institutos de Pesquisa suas atividades, sem deixar de serem quem são, cristãos ou mulçumanos, ou apenas pessoas de origem A ou B que não professam nenhuma religião é uma forma de formar um todo sem acabar com a individualidade.

Um outro ponto que merece destaque é a relação com os países árabes, em especial os países do Golfo Pérsico, incluindo Arábia Saudita e Emirados Árabes. No momento, em pleno Ramadã, está sendo veiculada uma novela que conta a história de uma mãe judia iraquiana, que emigrou do Iraque para os Países do Golfo na década de 1930, e depois para Israel. "Um Haroum" destaca uma harmonia religiosa no Oriente Médio, comentada de diferentes ângulos pelas mídias e imprensa árabe e israelense. Uma atriz muito popular, Hayat Al Fahad, inicia o seriado falando em hebraico: "Antes que nossos passos desapareçam e nossas vidas caiam na memória, estaremos perdidos ao tempo. ... Nós somos os judeus do Golfo [pérsico] que nasceram nas terras do Golfo (pérsico).” A série, dirigida por Ahmed Gamal el-Adl, do Egito, e produzida nos Emirados Árabes Unidos, mostra uma parteira judia de origem turca no Kuwait antes de se mudar para Israel.

Hoje, não podemos deixar de comentar os fatos no Brasil. As relações Brasil-Israel e Brasil-judeus existem desde o nascimento do Brasil. Seguem os picos e vales da história e vão se harmonizando a cada virada dos tempos. Em alguns momentos completamente encriptados, como vem sendo revelado pela história dos cristãos novos, outros com muitas tonalidades de relações positivas e neutras. A partir do século XIX muitos judeus encontraram no Brasil uma terra acolhedora e fincaram raízes, contribuindo de forma marcante para o seu desenvolvimento. Ainda tiveram os que encontraram dificuldades para entrar e foram auxiliados por pessoas que sabiam que seus critérios éticos deveriam estar acima de leis de exclusão. Novamente histórias de individualismo somando ao todo e buscando a harmonia dos diferentes. Nesta semana, os judeus brasileiros foram surpreendidos por uma cena muito incômoda: viram a bandeira de Israel hasteada em Brasília em ato político brasileiro. A CONIB, Confederação Nacional Israelita do Brasil, fez uma manifestação, que publicamos em nossos canais e que ressalta a pluralidade da comunidade judaica no Brasil. A CONIB reúne todas as Sociedades Israelitas do Brasil, incluindo Federações Estaduais, Escolas e Hospitais. A manifestação deixa claro que a pluralidade deve ser aceita e respeitada.

Mantendo a certeza que o isolamento social, agora com força redobrada, como nos últimos metros de uma corrida importante - a corrida pela VIDA, desejamos a todos vocês uma semana segura.

Regina, Marcela e Juliana.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

VOCÊ SABIA? - Flores em homenagem a heróis



Flores silvestres 'Blood of Maccabees' atingem popularidade às vésperas do Memorial Day em Israel.
Por Itanira Heineberg






Você sabia que a partir de 2019 os israelenses passaram a usar, para o Memorial Day - o Dia da Lembrança, alfinetes com uma flor selvagem vermelha em homenagem aos seus heróis Macabeus e aos soldados mortos e vítimas de terrorismo?




Um projeto familiar passou a cultivar plantas com o fim de produzir alfinetes memoráveis, unindo a antiga lenda de heroísmo dos Macabeus aos mártires do novo país. Este projeto associa a flor vermelha ao sangue dos soldados derramado nas terras de Israel.


O alfinete - Projeto Dam Hamaccabim - (Efrat Cohen)

É uma incógnita até o momento quando esta espécie, a sempre-viva vermelha, foi selecionada para lembrar os heróis aniquilados do país. Cogita-se que originalmente tenha sido usada outra flor local, também silvestre e vermelha, um botão de ouro conhecido por olho-de-faisão.



Flor de Adonis, olho-de-faisão, floresce no verão e necessita de muitas horas de sol por dia.


De acordo com um artigo publicado recentemente pela Biblioteca Nacional, em 1954 uma flor vermelha apareceu em um selo emitido para o Dia da Independência. No ano seguinte as crianças da escola primária foram convidadas a usar a flor no Memorial Day, passando assim o botão vermelho a ser um símbolo oficial daquela data.

Foi criado um adesivo com imagem da flor que apesar de bastante usado pela população, nunca atingiu o efeito desejado nem transmitiu a devida mensagem.
E foi assim que surgiu o Projeto Dam Hamaccabin, usando o nome hebraico da planta, “Sangue dos Macabeus”, nome botânico Helichrysum Sanguineum, um projeto familiar para cultivar e fazer com que os israelenses usem uma flor sempre-viva vermelha como sangue, associada aos antigos Macabeus, no Memorial Day de Israel para soldados mortos e vítimas de terrorismo.
Vejamos a história dos criadores do plano:

Shabi Spero, um guia turístico do assentamento de Nokdim, na Cisjordânia, e seu irmão Natan Spero e primo Ariyel Maresky, ambos de Jerusalém, perderam tio e primo no atentado suicida no Café Hillel, no bairro da Colônia Alemã em 2003.
Entre as vítimas dessa bomba encontravam-se o Dr. David Applebaum, chefe da sala de emergência do Centro Médico Shaare Zedek, em Jerusalém, e sua filha Nava, então com 20 anos, que se casaria no dia seguinte.

Assim falou Shabi Spero, "Embora nosso tio e primo estejam sempre em nossos corações, sempre foi a importância nacional da lenda e símbolo que procuramos resgatar".


Recordemos então a antiga lenda:  “uma flor vermelha sempre florescerá em qualquer lugar onde o sangue de um Macabeu cair no chão”.
E assim surgiram os estudos sobre a planta perene, um herbáceo selvagem que desponta nas colinas de Israel nos meses de abril e maio, a Red Everlasting, ou Sangue dos Macabeus.

Possui hastes e folhas acinzentadas e peludas e o que parece ser uma flor vermelho-sangue (tecnicamente semelhante a palha, folhas vermelhas modificadas e pequenas flores que na verdade são amarelas).”


Red Everlasting - Sangue dos Macabeus

“O fato de sua cor não desaparecer após a secagem não só a tornou popular entre os catadores, como recebeu o status de protegida, e lhe conferiu uma qualidade imortal que, para os primeiros sionistas, tornou-se o símbolo perfeito dos Macabeus e de suas batalhas heroicas contra os gregos para libertar a terra há pouco menos de 2.000 anos e, portanto, uma ferramenta de motivação ideal.”

E assim, com a decisão tomada de trocar o adesivo de flor vermelha pela planta verdadeira, os homens da família Spero partiram à procura do cultivo de uma espécie selvagem até então não cultivada.


Adesivo - Sticker


Eles se uniram a Zion Simantov, proprietário da Seeds of Zion, com sede em Moshav Kerem Maharal, no norte de Israel. Ele cultiva plantas selvagens de Israel para a reabilitação de terras danificadas por projetos de infraestrutura, bem como para a venda de sementes.

Foram necessários "dois anos de dois passos adiante, um passo atrás, sem a ajuda de nenhuma literatura acadêmica", segundo Spero, enquanto Simantov conduzia experimentos, finalmente alcançando o sucesso dois meses antes do Memorial Day do ano passado (2019). Desde então, Simantov descobriu como fazer a planta florescer a partir do final de janeiro, para que haja tempo para secar, preservar e despachar os pinos do memorial a tempo do Memorial Day.”





“Este ano, com o descarrilamento do coronavírus para produzir 100.000 pinos para Israel e os EUA, o projeto sem fins lucrativos, assistido por centenas de voluntários, distribuiu 50.000 apenas localmente, tanto para grandes organizações como o Bank Hapoalim, Porto de Ashdod, e Yad Labanim, e a indivíduos. O preço por pino varia de NIS 5 a NIS 8 (US $ 1,40 a US $ 2,30), dependendo do número solicitado. As famílias enlutadas não pagam e as organizações que as atendem são solicitadas a fazer uma doação.”




“No ano passado, o agrônomo-chefe do Ministério da Defesa entrou em contato com o projeto para perguntar se a flor poderia ser cultivada em todos os cemitérios militares de Israel.

"É algo que gostaríamos de fazer", respondeu Spero.”


A partir da esquerda Ariyel, Shabi e Natan, Dam Hamaccabim Project. (Yonit Schiller)


FONTES: