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sexta-feira, 8 de maio de 2020

EDITORIAL: Múltiplas Faces dos Nossos Dias

Múltiplas Faces dos Nossos Dias 
Por Regina P. Markus





Na mitologia romana, JANUS é a figura do deus que olha ao mesmo tempo o passado e o futuro. Os romanos davam a essa figura o valor da transformação. Ele conseguia ver, simultaneamente, o passado e o futuro - e com isto gerar as transformações necessárias. Não havia neste caso o conceito da dicotomia. O mesmo podemos dizer da figura chinesa do Yin/Yang - um círculo dividido em duas partes por uma curva que lembra uma senoide. De um lado estão todas as cores somadas (preto) versus nenhuma cor (branco), e de outro a continuidade entre um monte e um vale, que aparentemente podem parecer opostos, mas que somados são as mais maravilhosas paisagens de nosso planeta. Os registros mais antigos de yin-yang são encontrados no "Livro das Mudanças", também conhecido por I Ching ou Ahouyi, escrito por King Wen no século IX antes da era comum  durante a dinastia de Zhou ocidental. (https://www.thoughtco.com/yin-and-yang-629214)


Poderia buscar exemplos semelhantes em muitas culturas, mas quero trazer estas imagens pictóricas para os dias de hoje e uma questão central para a EshTánaMídia: o antissemitismo, quer dirigido aos judeus em geral ou ao Estado de Israel, que neste caso ganha o nome de anti-sionismo. Por outro lado, também são estes os tempos em que vemos uma forma muito importante de aceitação tanto do Judaísmo quanto do Estado de Israel por governos de países que se recusavam a aceitar a existência do Estado de Israel e que viram as populações judaicas serem reduzidas a nada, populações estas que habitavam estas regiões desde tempos bíblicos, muito antes da construção do Segundo Templo de Jerusalém. 

As relações entre os Estados Árabes e o Estado de Israel começam a mostrar diferentes faces. Por muitos anos estas relações poderiam ser representadas por Janus - um olhar para o passado, que parecia apontar para o futuro e, o presente apenas um hiato que pouco importa. Mas, no meio desta pandemia, e ainda com fatos de diferentes matizes, podemos enxergar mudanças de posições tanto apontando para um futuro de convivência harmoniosa, em que diferenças tão marcantes como branco e preto são harmonizadas por um contínuo transformar de visões, como o andar por vales e montes e, todas estas singularidades se harmonizam para formar um círculo perfeito - a unidade comportando todas as diferenças.

Nas matérias publicadas esta semana pela EshTáNaMídia encontramos exemplos em que uma das principais conquistas de Israel acaba sendo considerada um fator negativo, pelos que usam este tipo de "óculos". As redes de notícia BBC, Vox e Financial Times destacam que a "segregação" feita aos cidadãos árabes de Israel faz com que muitos escolham profissões da área da saúde. O "Honest Reporting" destaca que todas as populações do mundo que têm a oportunidade de alcançar educação superior e de exercer em todos os principais Hospitais e Institutos de Pesquisa suas atividades, sem deixar de serem quem são, cristãos ou mulçumanos, ou apenas pessoas de origem A ou B que não professam nenhuma religião é uma forma de formar um todo sem acabar com a individualidade.

Um outro ponto que merece destaque é a relação com os países árabes, em especial os países do Golfo Pérsico, incluindo Arábia Saudita e Emirados Árabes. No momento, em pleno Ramadã, está sendo veiculada uma novela que conta a história de uma mãe judia iraquiana, que emigrou do Iraque para os Países do Golfo na década de 1930, e depois para Israel. "Um Haroum" destaca uma harmonia religiosa no Oriente Médio, comentada de diferentes ângulos pelas mídias e imprensa árabe e israelense. Uma atriz muito popular, Hayat Al Fahad, inicia o seriado falando em hebraico: "Antes que nossos passos desapareçam e nossas vidas caiam na memória, estaremos perdidos ao tempo. ... Nós somos os judeus do Golfo [pérsico] que nasceram nas terras do Golfo (pérsico).” A série, dirigida por Ahmed Gamal el-Adl, do Egito, e produzida nos Emirados Árabes Unidos, mostra uma parteira judia de origem turca no Kuwait antes de se mudar para Israel.

Hoje, não podemos deixar de comentar os fatos no Brasil. As relações Brasil-Israel e Brasil-judeus existem desde o nascimento do Brasil. Seguem os picos e vales da história e vão se harmonizando a cada virada dos tempos. Em alguns momentos completamente encriptados, como vem sendo revelado pela história dos cristãos novos, outros com muitas tonalidades de relações positivas e neutras. A partir do século XIX muitos judeus encontraram no Brasil uma terra acolhedora e fincaram raízes, contribuindo de forma marcante para o seu desenvolvimento. Ainda tiveram os que encontraram dificuldades para entrar e foram auxiliados por pessoas que sabiam que seus critérios éticos deveriam estar acima de leis de exclusão. Novamente histórias de individualismo somando ao todo e buscando a harmonia dos diferentes. Nesta semana, os judeus brasileiros foram surpreendidos por uma cena muito incômoda: viram a bandeira de Israel hasteada em Brasília em ato político brasileiro. A CONIB, Confederação Nacional Israelita do Brasil, fez uma manifestação, que publicamos em nossos canais e que ressalta a pluralidade da comunidade judaica no Brasil. A CONIB reúne todas as Sociedades Israelitas do Brasil, incluindo Federações Estaduais, Escolas e Hospitais. A manifestação deixa claro que a pluralidade deve ser aceita e respeitada.

Mantendo a certeza que o isolamento social, agora com força redobrada, como nos últimos metros de uma corrida importante - a corrida pela VIDA, desejamos a todos vocês uma semana segura.

Regina, Marcela e Juliana.

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