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Entre Rosh Hashana e Iom Kipur - nos chamados dias de temíveis, dias de expiação, dias de cuidado. Há várias interpretações para esta espera, entre o dia que lembra a criação do mundo e a entrega das Tábuas da Lei. Entre o início da vida e o início da fase de responsabilidade.
Um período em que o dia a dia continua, mas de uma forma diferente, com momentos de introspecção e com tempo para conversar com amigos e inimigos, um tempo para atravessar pontes e planejar o futuro. Um tempo para pedir e dar perdão, desculpas ou mesmo reatar laços rompidos ou interrompidos.
Um tempo dedicado ao ser humano e sua relação com outros seres humanos. Todos os inúmeros costumes gerados ao longo de milênios pelos diferentes grupos de judeus espalhados pelo mundo focam no dia de Iom Kipur, quando há a oportunidade de olhar para dentro. Olhar este que é sempre feito em sinagogas repletas. Este é o dia em que judeus de qualquer nominação e muitos dos que se consideram ateus se encontram.
Dia especial que começa com uma das rezas mais solenes do judaísmo. Quando publicamente, solenemente, a comunidade com todos os cantores declara três vezes que todas as promessas, juramentos e compromissos assumidos deste Iom Kipur até o próximo sejam declarados nulos.
Que estranho! Precisamos andar um parágrafo atrás no livro de rezas. Quando, antes de cantar o Kol Nidre o "chazan" (lê-se razan) declara:
AL DAAT - Com a permissão de D'us e com o consentimento desta congregação; com a autoridade do Tribunal Celeste e com a aprovação do tribunal terrestre, que nos seja permitido orar junto com os transgressores.
E é com esta permissão que se inicia o dia de Kipur.
É neste contexto que me permito este ano não falar dos milhões de judeus ao longo dos milênios que tiveram que jurar falso para manter a vida e que tiveram que transgredir para que os outros também sobrevivessem.
Hoje, falo do que estaria sentado ao meu lado e que está acompanhando o serviço pela mesma tela de computador. Este é o momento que sabemos que todos transgrediram e que o continuarão fazendo e que ter consciência deste fato aumenta a responsabilidade pelas decisões que forem tomadas no ano que acabou de entrar.
E neste momento solene é admitido o maior bem do povo judeu: a diversidade. Um povo que não é caracterizado nem pela riqueza, nem pela igualdade de cor ou mesmo idioma. O idioma comum não é necessariamente conhecido por todos. Mas é caracterizado por se permitir sentar junto e ser um responsável pelo outro, independente das transgressões.
Um responsável pelo outro e responsável por guardar a vida.
Cada um responsável não apenas por seu vizinho ou país, mas também por toda a humanidade. É quando sabemos que podemos fazer a diferença.
Gmar Hatimá Tova
Um ano de vida plena. Uma boa assinatura - é o que deseja toda a equipe ESH TÁ NA MÍDIA
Regina P. Markus