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quinta-feira, 6 de maio de 2021

EDITORIAL: PARA ONDE VAMOS?

 PARA ONDE VAMOS?





Olhem a figura: hoje ilustramos esta matéria com imagens separadas por uma grossa linha. Imagens divulgadas nas últimas duas semanas e que remetem a dois, ou talvez três mundos diferentes. Imagens que temos que saber ler. Costumam dizer que uma imagem vale mais do que mil palavras. Mas, se ficarmos na superficialidade da imagem vamos ter dificuldade de acompanhar os processos em andamento.

Estas figuras podem ser lidas da esquerda para a direita, como fazemos em português, ou da direita para a esquerda como acontece em hebraico e árabe. Vou tomar a liberdade de começar pelo lado mais fácil, e portanto da direita para a esquerda!

A figura superior mostra o sonho do momento! Zero morte por COVID-19. Em Israel isto é uma realidade. Em algumas cidades, as pessoas comentam com orgulho que não há mais novos doentes; e no último domingo, conversando com uma garota que mora em Israel, ela comentava com orgulho que na sua cidade não havia mais nenhuma pessoa com COVID-19. Ao mesmo tempo, o terror voltou. As sirenes voltaram a tocar de madrugada e muitos têm segundos para chegar ao abrigo mais próximo.

Por quê? Terrorismo declarado pelo Hamas - volta a práticas que estavam apenas silentes. Mais do mesmo.

MAS, ainda olhando o lado direito da figura, podemos ver uma charge publicada em árabe encontrada na internet. Uma reunião ao redor de uma mesa. Uma conversa envolvendo diferentes países. Um retrato do momento. Sentados conversando e chegando a tratados de paz que envolvem não apenas a troca de embaixadores mas também abertura de turismo, comércio e colaboração nas mais diversas áreas. No mesmo dia em que as bombas caíram em áreas vazias ou foram interceptadas no ar pelo sistema de proteção, aviões desciam no aeroporto de Tel Aviv vindos dos países do Golfo após terem cruzado os céus da Arábia Saudita, agora liberados para aviões da El Al, companhia aérea israelense. Uma nova era está chegando. Países árabes no Oriente Médio e países mulçumanos na África iniciam um novo relacionamento com Israel. Pessoas comuns interessadas nas mais diferentes áreas de comércio e turistas interessados por conhecerem novas paradas aguardam a possibilidade de fazer viagens internacionais. 

Continuando a leitura da figura, vamos agora olhar a parte esquerda. Esta seria a primeira a ser avaliada quando usamos a escrita latina, a que conhecemos e estamos acostumados. 

Oooooops... Será que estamos vendo corretamente? Infelizmente sim. Esta semana ocorreram protestos de rua em Paris, Nova York, Los Angeles e algumas outras cidades, todas tratando de um tema que gostaríamos ver no passado, mas que vêm se ampliando sob diferentes formas: o antigo e sempre presente antissemitismo. Em 2017 em um edifício comum, em um lugar comum, na cidade de Paris um jovem entrou no apartamento de uma vizinha de mais de 60 anos: Sarah Halimi Z'L, médica, foi violentada, espancada e atirada pela janela. No dia 20 de abril de 2021, um tribunal francês declara o imigrante malinês Kobili Traoré incapacitado de ser julgando porque estava sob efeito de maconha. 

Outras sessões especiais de justiça já ocorreram ao longo dos anos na França. O famoso filme "Sessão Especial de Justiça", de Costa Gravas (hoje disponível na rede), retrata de forma atemporal a justiça sendo usada para satisfazer razões de Estado. Esta era a França de Vichy. Indo um pouco mais para trás chegamos ao julgamento do capitão do exército francês André Dreyfus. Doze anos que mostraram ser a França refém de um antissemitismo atávico. Ao mesmo tempo, mostraram ser a França berço de grandes protestos. J'Acuse - eu acuso - foi o texto de Emile Zola que pautou a revisão do caso de Dreyfus. E na paralela, um outro jornalista, o austríaco Theodor Herzl, que cobria o julgamento de Dreyfus, escreve um pequeno livro "O Estado Judeu" publicado em 1895.

A forma como a justiça francesa tratou o assassinato de Sarah Halimi Z'L é a mais clara expressão do antissemitismo que mostra a sua face mais sombria em pleno século XXI. 

O que o futuro trará? Será algo já traçado e inexorável? Certamente não. Cada um de nós que acredita estar construindo o mundo nas salas de aula, nas bancadas de laboratório, nos hospitais e nos negócios; nos bancos, nos mercados, nas indústrias, nos ateliers; nas ruas e nos cafés, cada um de nós pode individualmente, no dia a dia, impedir que o preconceito e razões que impedem aceitarmos a humanodiversidade possam superar nossas ações. Assim, esta semana foi muito especial porque temos os dois extremos acontecendo ao mesmo tempo, e ao reconhecer o fato exercemos o direito de escolha.

ENTRE o BEM e o MAL - escolhemos a VIDA.

Boa Semana!

Regina P. Markus



 





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