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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

VOCÊ SABIA? - Zubin Mehta e seu sonho de paz

 

Zubin Mehta, um cidadão do mundo - e seu sonho de paz: repetir, em algum lugar simbólico do mundo, um concerto como o encontro de orquestras de Israel e Baviera em Buchenwald (um dos maiores campos de concentração dos nazistas, criado em 1937 nas encostas da floresta de Ettersberg, a noroeste de Weimar).

Por Itanira Heineberg



Você sabia que o lendário maestro de orquestra e diretor musical indiano Zubin Mehta, famoso por sua expressividade no palco e por sua interpretação do repertório operístico, pacifista dedicado às grandes causas humanitárias de nosso planeta, ansiava pelo dia em que músicos palestinos e israelenses tocariam lado a lado, num concerto de paz e amizade entre as duas nações?


Zubin Mehta, de origem parsi*, nasceu em 1936 em Bombaim, na Índia, filho de Mehli Mehta, violinista e fundador da Orquestra Sinfônica de Bombaim.

Em seu livro “Zubin Mehta -The Score of my Life”, o autor conta que aprendeu a tocar violino sozinho e mais tarde estudou este instrumento e também o piano com seu pai.

Desde a infância teve acesso aos inúmeros discos de Mehli, conhecendo a fundo todas as grandes peças musicais da preferência paterna, uma discoteca invejável e única no país.

Aos 18 anos, cursando medicina em sua terra natal, abandonou os estudos e rumou para Áustria a fim de estudar música sob os auspícios do pai, e sua primeira opção de instrumento foi o contrabaixo.

Em uma ocasião, ao passar pelo famoso auditório Musikverein, aventurou-se a entrar e ouviu então o som maravilhoso da Quarta Sinfonia de Tchaikovsky. Esta peça ele conhecia muito bem pelos discos da família, mas logo constatou que aquela sinfonia ao vivo era outra realidade! Entrou disfarçadamente na sala do ensaio e deparou-se com o ilustre maestro Herbert Von Karajan à frente da orquestra.

 

“À medida em que a música evoluía, Zubin percebia que aquele, sim, era o som que ele imaginava alcançar desde a infância. Era como se um novo mundo estivesse se abrindo. "Eu me sentia o próprio Cristóvão Colombo liderando uma expedição musical. Ali estavam os fundamentos de tudo que eu queria atingir na vida".



E isso ele atingiu!

Sua carreira na música erudita evoluiu vertiginosamente: estudou regência com Hans Swarowsky em Viena e aos 22 anos de idade venceu o Concurso Internacional de Regência em Liverpool, na Inglaterra. Ainda com pouca idade regeu as orquestras de Viena, Berlim e Israel.

Em 1961, aos 25 anos, regeu pela primeira vez em Israel e ali nasceu seu grande amor pelo país. Para Zubin, a Filarmônica de Israel era sua própria família. Ao longo das muitas décadas em que a regeu ele escolheu seus músicos, estabelecendo com eles uma perfeita comunicação que lhes permitiam entender cada gesto de seu regente. Estes companheiros de jornada tornaram-se assim seus grandes amigos, percebendo também outras possibilidades em seu maestro, que atuava às vezes como confessor, psicólogo ou orientador profissional.

Ao identificar-se com Israel, Zubin emociona-se com seu hino nacional e, quando na Alemanha, para várias e repetidas apresentações, sempre que o público pedia bis, ele executava a Hatikva, o hino israelense.

Ao falar sobre este homem fascinante, muitas são as histórias que poderíamos contar, muitas foram as orquestras por ele regidas, muitos foram os países onde ele se apresentou, e muito amor aos desafortunados ele dedicou, tanto em palavras como em ações.

Muito jovem ele se envolveu com as injustiças sociais e uma de suas primeiras apresentações, aos 20 anos, foi em um campo de refugiados na Áustria.

Outro evento marcante em sua vida aconteceu no início da guerra de 1967 em Israel:

 

Tel Aviv, 5 de junho de 1967, o maestro Mitropolus ia ensaiar a filarmônica de Israel quando soaram as sirenes que anunciavam o início da guerra, ele então guardou sua batuta, correu para o aeroporto e pegou o primeiro avião.

Naquela mesma hora, Mehta aboletava-se em Viena em um avião de carga da El Al. No dia seguinte, ensaiou a filarmônica no subsolo do auditório Mann e, à noite, ali regeu um concerto inesquecível.”

 

Não podemos esquecer os shows em Belém, Israel, durante a Guerra dos Seis Dias e as apresentações em Buenos Aires após a derrota nas Malvinas.

Outra imagem inesquecível foi vê-lo com uma máscara de gás pendurada ao pescoço, ao visitar Tel Aviv durante a Guerra do Golfo.

E assim, de canto em canto, por Israel, Saravejo, Buenos Aires e Brasil, Zubin ia mostrando ao mundo sua coragem e sugerindo que a música seria um meio de conquistar seu sonho de paz entre as nações.

Foi ovacionado em vida, homenageado e recebedor de muitos prêmios e medalhas.

Foi também hostilizado ao tentar tocar Wagner em Israel para uma plateia onde havia sobreviventes do Holocausto, muitos com seus números de prisioneiros tatuados em seus braços.

Zubin entendeu a reação dos insatisfeitos e após algumas cadeiras voarem pelos ares o concerto foi suspenso e ele se desculpou.

Muito ainda poderia ser escrito, mais atos de bravura, generosidade e talento poderiam ser acrescentados, sua vida de cidadão do mundo aparece nas mais diversas páginas de história da música e basta clicar seu nome e teremos momentos de alegria, descoberta e revelações.  



Ao fim de uma carreira brilhante, em outubro de 2019 Zubin Mehta, aos 83 anos, dirigiu já com saudades seu último concerto em Tel Aviv.



Assistamos agora a este emocionante vídeo de despedida do maestro após 50 anos como diretor artístico da Orquestra Filarmônica de Israel:

 



(*)

Pársi

Os pársis são de origem persa, seguidores do Profeta Zoroastro, e abandonaram seu país entre os séculos VIII e X, trabalhando como lavradores na província de Gujarat.

Mais tarde radicaram-se em Bombaim, Índia, e ali assimilaram os costumes e tradições do país.

 

 Zubin tem orgulho de sua ancestralidade pársi e hoje, mesmo depois de ter-se tornado um aclamado cidadão do mundo, considera-se basicamente um indiano e conserva seu passaporte hindu, o que lhe tem ocasionado desagradáveis problemas para obter vistos quando se desloca para dezenas de países dos cinco continentes. Mesmo assim, não abdica do passaporte original.

 


FONTES:

http://pt.infobiografias.com/biografia/25885/Zubin-Mehta.html

https://www.conjur.com.br/2013-set-06/ideias-milenio-zubin-mehta-maestro-indiano-diretor-filarmonica-israel

http://www.morasha.com.br/biografias/zubin-mehta-cidadao-do-mundo.html

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/buchenwald

https://www.britannica.com/biography/Zubin-Mehta

http://www.zubinmehta.net/5.0.html

https://www.em.com.br/app/noticia/cultura/2019/10/22/interna_cultura,1094632/maestro-zubin-mehta-se-despede-da-filarmonica-de-israel-com-concerto.shtml

https://youtu.be/ZBzIGNHNm4k

https://youtu.be/ZBzIGNHNm4k?t=119

 

Um comentário:

  1. Especial esta matéria. Este é um maestro que rege corações e muda o mundo! Ita, ficou show!

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