Zubin Mehta, um
cidadão do mundo - e seu sonho de paz: repetir, em algum lugar simbólico do
mundo, um concerto como o encontro de orquestras de Israel e Baviera em
Buchenwald (um dos maiores campos de concentração dos nazistas, criado em 1937
nas encostas da floresta de Ettersberg, a noroeste de Weimar).
Por Itanira Heineberg
Você sabia
que o lendário maestro de orquestra e diretor musical indiano Zubin Mehta,
famoso por sua expressividade no palco e por sua interpretação do repertório
operístico, pacifista dedicado às grandes causas humanitárias de nosso planeta,
ansiava pelo dia em que músicos palestinos e israelenses tocariam lado a lado, num
concerto de paz e amizade entre as duas nações?
Zubin
Mehta, de origem parsi*, nasceu em 1936 em Bombaim, na Índia, filho de Mehli
Mehta, violinista e fundador da Orquestra Sinfônica de Bombaim.
Em seu
livro “Zubin Mehta -The Score of my Life”, o autor conta que aprendeu a tocar
violino sozinho e mais tarde estudou este instrumento e também o piano com seu
pai.
Desde a
infância teve acesso aos inúmeros discos de Mehli, conhecendo a fundo todas as
grandes peças musicais da preferência paterna, uma discoteca invejável e única
no país.
Aos 18 anos, cursando medicina em sua terra natal, abandonou os estudos e rumou para Áustria a fim de estudar música sob os auspícios do pai, e sua primeira opção de instrumento foi o contrabaixo.
Em uma
ocasião, ao passar pelo famoso auditório Musikverein, aventurou-se a entrar e
ouviu então o som maravilhoso da Quarta Sinfonia de Tchaikovsky. Esta peça ele
conhecia muito bem pelos discos da família, mas logo constatou que aquela
sinfonia ao vivo era outra realidade! Entrou disfarçadamente na sala do ensaio
e deparou-se com o ilustre maestro Herbert Von Karajan à frente da orquestra.
“À medida
em que a música evoluía, Zubin percebia que aquele, sim, era o som que ele
imaginava alcançar desde a infância. Era como se um novo mundo estivesse se
abrindo. "Eu me sentia o próprio Cristóvão Colombo liderando uma expedição
musical. Ali estavam os fundamentos de tudo que eu queria atingir na
vida".
E isso ele
atingiu!
Sua
carreira na música erudita evoluiu vertiginosamente: estudou regência com Hans
Swarowsky em Viena e aos 22 anos de idade venceu o Concurso Internacional de
Regência em Liverpool, na Inglaterra. Ainda com pouca idade regeu as orquestras
de Viena, Berlim e Israel.
Em 1961, aos 25 anos, regeu pela primeira vez em Israel e ali nasceu seu grande amor pelo país. Para Zubin, a Filarmônica de Israel era sua própria família. Ao longo das muitas décadas em que a regeu ele escolheu seus músicos, estabelecendo com eles uma perfeita comunicação que lhes permitiam entender cada gesto de seu regente. Estes companheiros de jornada tornaram-se assim seus grandes amigos, percebendo também outras possibilidades em seu maestro, que atuava às vezes como confessor, psicólogo ou orientador profissional.
Ao
identificar-se com Israel, Zubin emociona-se com seu hino nacional e, quando na
Alemanha, para várias e repetidas apresentações, sempre que o público pedia
bis, ele executava a Hatikva, o hino israelense.
Ao falar
sobre este homem fascinante, muitas são as histórias que poderíamos contar,
muitas foram as orquestras por ele regidas, muitos foram os países onde ele se
apresentou, e muito amor aos desafortunados ele dedicou, tanto em palavras como
em ações.
Muito jovem ele se envolveu com as injustiças sociais e uma de suas primeiras apresentações, aos 20 anos, foi em um campo de refugiados na Áustria.
Outro
evento marcante em sua vida aconteceu no início da guerra de 1967 em Israel:
“Tel
Aviv, 5 de junho de 1967, o maestro Mitropolus ia ensaiar a filarmônica de
Israel quando soaram as sirenes que anunciavam o início da guerra, ele então guardou
sua batuta, correu para o aeroporto e pegou o primeiro avião.
Naquela
mesma hora, Mehta aboletava-se em Viena em um avião de carga da El Al. No dia
seguinte, ensaiou a filarmônica no subsolo do auditório Mann e, à noite, ali
regeu um concerto inesquecível.”
Não podemos esquecer os shows em Belém, Israel, durante a Guerra dos Seis Dias e as apresentações em Buenos Aires após a derrota nas Malvinas.
Outra imagem inesquecível foi vê-lo com uma máscara de gás pendurada ao pescoço, ao visitar Tel Aviv durante a Guerra do Golfo.
E assim,
de canto em canto, por Israel, Saravejo, Buenos Aires e Brasil, Zubin ia
mostrando ao mundo sua coragem e sugerindo que a música seria um meio de
conquistar seu sonho de paz entre as nações.
Foi
ovacionado em vida, homenageado e recebedor de muitos prêmios e medalhas.
Foi também
hostilizado ao tentar tocar Wagner em Israel para uma plateia onde havia
sobreviventes do Holocausto, muitos com seus números de prisioneiros tatuados
em seus braços.
Zubin entendeu a reação dos insatisfeitos e após algumas cadeiras voarem pelos ares o concerto foi suspenso e ele se desculpou.
Muito
ainda poderia ser escrito, mais atos de bravura, generosidade e talento
poderiam ser acrescentados, sua vida de cidadão do mundo aparece nas mais
diversas páginas de história da música e basta clicar seu nome e teremos
momentos de alegria, descoberta e revelações.
Ao fim de
uma carreira brilhante, em outubro de 2019 Zubin Mehta, aos 83 anos, dirigiu já
com saudades seu último concerto em Tel Aviv.
Assistamos
agora a este emocionante vídeo de despedida do maestro após 50 anos como
diretor artístico da Orquestra Filarmônica de Israel:
(*)
Pársi
Os pársis
são de origem persa, seguidores do Profeta Zoroastro, e abandonaram seu país
entre os séculos VIII e X, trabalhando como lavradores na província de Gujarat.
Mais tarde
radicaram-se em Bombaim, Índia, e ali assimilaram os costumes e tradições do
país.
Zubin tem orgulho de sua ancestralidade pársi
e hoje, mesmo depois de ter-se tornado um aclamado cidadão do mundo,
considera-se basicamente um indiano e conserva seu passaporte hindu, o que lhe
tem ocasionado desagradáveis problemas para obter vistos quando se desloca para
dezenas de países dos cinco continentes. Mesmo assim, não abdica do passaporte
original.
FONTES:
http://pt.infobiografias.com/biografia/25885/Zubin-Mehta.html
http://www.morasha.com.br/biografias/zubin-mehta-cidadao-do-mundo.html
https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/buchenwald
https://www.britannica.com/biography/Zubin-Mehta
http://www.zubinmehta.net/5.0.html
https://youtu.be/ZBzIGNHNm4k?t=119
Especial esta matéria. Este é um maestro que rege corações e muda o mundo! Ita, ficou show!
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