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segunda-feira, 29 de novembro de 2021

VOCÊ SABIA? - Salvador Dalí ou Shalom Dalí?

 

Dalí, o judaísmo e o sionismo

Por Itanira Heineberg



Você sabia que na segunda metade do século passado, Salvador Dalí inspirou-se apaixonadamente pela História dos judeus, seu Livro, suas perseguições e resiliências e criou uma série de telas, reunidas mais tarde numa exposição denominada “Shalom Dalí”?

Salvador Dalí, “Eu sou o Surrealismo”, como ele próprio se intitulava, nem sempre foi um sionista. Porém, a partir dos anos 60, passou a perceber a conexão do povo judeu com a Terra de Israel observando a concretização de certas profecias bíblicas tal como o renascimento do Estado de Israel.

Seus trabalhos de arte totalmente voltados para este povo e sua longa trajetória levaram-no a ser chamado de judeu.

Houve até quem especulasse a possibilidade de o pintor ter um sangue marrano, talvez uma secreta descendência judaica, mas na realidade Dalí sempre se declarou árabe - como ele mesmo explicava, um “Mudejar”, isto é, um muçulmano coagido a se converter ao catolicismo.

Conforme Gibson, biógrafo do artista, “Dalí” é um nome comum nos países árabes ao longo do litoral norte do Mediterrâneo e tem o significado de "líder".

Pois estes trabalhos instigantes e notadamente Dalinianos foram reunidos por Jean Paul Delcourt em 2002 em uma exposição denominada “Shalom Dali”, no Centro de Artes Performáticas, na residência do presidente em Jerusalém, Israel em junho de 2002. Depois a exposição seguiu para Rishon Le-Zion, também em Israel, de setembro a outubro de 2002.

Naquelas telas encontramos toda a saga, sonhos e anseios dos judeus por mais de dois mil anos.

Cada tela recebeu um verso bíblico escolhido pelo artista.



Muitos se perguntam qual o significado deste trabalho para o pintor.

Uma súbita admiração pelos judeus e sua perseverança aos princípios religiosos e tradição?

Um exercício puramente comercial?


Aliyah, o renascimento de Israel


"Tu que dominas sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre o gado, e sobre todos os répteis" (Gênesis 1:26)

A terra do leite e do mel



Nas margens da liberdade: O navio Eliahu Golomb traz imigrantes "ilegais"



Enquanto fica a dúvida quanto ao objetivo de Dalí ao inspirar-se no povo do livro, nossa ideia, assim como a do site Eterna Sefarad, é apreciar estes quadros fascinantes que representam, por meio da arte surrealista, uma história de erros, acertos, lutas, conquistas e muito desvelo, dedicação e garra.

Temos no link abaixo a oportunidade de conhecer a exposição Shalom Dalí.

Boa visita!

http://zivabdavid.blogspot.com/2012/10/dali-os-judeus-o-judaismo-e-o-sionismo.html

 

 

FONTES:

http://www.js.emory.edu/BLUMENTHAL/Salvador%20Dali%20Aliyah.htm#one

http://zivabdavid.blogspot.com/2012/10/dali-os-judeus-o-judaismo-e-o-sionismo.html

https://www.publico.pt/2020/06/18/culturaipsilon/noticia/investigacao-revela-50-artistas-salvos-nazismo-aristides-sousa-mendes-1921010

http://davidblumenthal.org/Salvador%20Dali%20Aliyah.htm

https://fozmuseum.com/explore-foz/salvador-dali-depicted-connection-jewish-people-land-israel/

https://jewishjournal.com/mobile_20111212/115206/no-place-like-home-salvador-dali-victor-hugo-paris-and-the-jews/

https://www.algemeiner.com/2016/04/11/little-known-zionist-series-by-salvador-dali-goes-on-private-display-in-nyc/


quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Editorial: Os sonhos que sonhamos




Parte fundamental da Parasha Vaieshev desta semana são os sonhos de José, sonhos que ele, ingenuamente, conta a seus nada amigáveis irmãos… eles já tinham muitos ciúmes dele por ser o preferido do pai, e ainda por cima a imagem trazida pelos sonhos não lhes é particularmente agradável já que aparecem neles como submissos ao irmãozinho…

Compartilhar sonhos pode ser perigoso de acordo com o relato bíblico, mesmo quando quem ouve são seus irmãos e mesmo que você consiga “dar a volta por cima” como fez José. 

Algumas profecias compartilhadas são ousadias que implicam em alto risco. Aconteceu com Martin Luther King que ao dizer em público “eu tenho um sonho” estimulou americanos negros a se opor fortemente à sociedade branca e passar novas leis, mas despertou ódios que levaram a seu assassinato cinco anos depois.

Quem se debruçou já na Idade Média sobre a diferença entre sonho e profecia - esta “emanada do divino” - foi o filósofo Moisés ben Maimon - também conhecido como Maimonides ou Rambam - em seu impressionante Guia dos Perplexos. Na Torá, ele lembra, Deus diz “Se houver um profeta entre vós, Eu, o Eterno, Me faço conhecer a ele numa visão ou falo com ele num sonho” (Números 12:6). Mas ele, Rambam, prefere estudar pelos Sábios. Escreveu ele: “os sábios afirmam que o sonho é o sexagésimo (0,01666!) de uma profecia ou ainda que o sonho é o fruto imaturo da profecia”. Desviando da leitura de que o sonho é um meio de proteção de um perigo antecipado, ele desenvolve a ideia de que se trata de uma visão na qual a “faculdade imaginativa” se torna tão perfeita que você consegue ver algo como se estivesse fora de você, e aquilo que é produzido no sonho parece ser uma sensação externa. Ou seja, o sonho pode aparecer tão real que você acordado acredita que ele exista em algum lugar, o que pode explicar que você o busque fora de você ou que foi tão claro que será possível construí-lo, concretizá-lo, torná-lo real.

Sonhos muitas vezes trazem soluções mas podem também nos mostrar o que censuramos, evitamos ver acordados e com isso nos colocam em maus lençóis, como já discutiu amplamente Freud.

Sonhamos dormindo e precisamos nos dedicar a entender a mensagem que esses sonhos trazem. O Talmud nos diz que “um sonho que não é interpretado é como uma carta que não é lida”.

A interpretação - e bastante trabalho - podem render importantes frutos. Veja o caso de Einstein: quando jovem ele sonhou que estava em um trenó descendo uma montanha íngreme e acelerou tanto que teria alcançado a velocidade da luz. Neste momento as estrelas em seu sonho passaram a ter outra aparência em relação à ele. Acordado passou a meditar sobre isso e logo formulou sua teoria que viria a ser uma das mais notáveis da história da humanidade.

Mas sonhamos muito também acordados. E compartilhamos sonhos para obter ajuda ao construir novos empreendimentos, para mudar o mundo para o que acreditamos ser melhor; mas sempre estaremos sujeitos a que outros não gostem dessa visão de mundo que anunciamos, que se sintam incomodados com o que sonhamos e com o fato de perseguirmos com empenho esses sonhos. 

Theodor Herzl escreveu em seu diário em 1897: “Na Basiléia eu fundei o Estado Judeu. Se eu falasse isso em voz alta hoje eu seria objeto de risada universal…mas daqui a cinco, ou talvez cinquenta anos, todos o conhecerão". Era seu sonho sionista e nem precisamos dizer o que este sonho até hoje sofre. 

Outro sonhador eloquente foi Ben Gurion desde que fundou em Plonsk, na Polônia, o Ezra - movimento para promover o hebraico, a sua aliá em 1906 quando começou a trabalhar em pomares até a realização de sua visão de união de todos os trabalhadores e a criação da “Histadrut” em 1920. Mais que isso, a Universidade Ben Gurion em Beer Sheva fundada em 1969 é conhecida como a realização de seu sonho porque ele achava que Israel deveria ser o pequeno estado judaico da educação e da ciência e que deveria equilibrar a população do Mediterrâneo com a do Negev.

Amos Oz uma vez perguntou a Golda Meir sobre o que ela sonhava e ela respondeu: “Não tenho tempo para sonhar, quase não durmo porque o telefone toca à noite para me informar sobre Israelenses feridos.” Anos depois de sua morte um líder do partido Mapam revelou que ela, sim, disse a ele que sonhava mas era sempre um recorrente pesadelo no qual havia um telefone em cada canto da casa e todos tocavam ao mesmo tempo, e ela acordava e sabia o que isso queria dizer e tinha medo de atender. E assim foi, às 4 da manhã do Yom Kipur de 1973, quando a informaram dos ataques de Egito e Síria. 

Quando Itzhak Rabin foi assassinado há exatos 26 anos ele estava em um comício pela paz e seu legado de intrépido militar no front e grande líder democrático na política ficou conhecido como o sonho de dois Estados pela paz de ambos os povos. 

Dois anos antes deste comício era lançado o livro “Um lugar entre as Nações”, contendo o sonho do até então embaixador e chanceler Benjamin Netanyahu de expor o que ele considerava os dez mitos sobre a questão Israel/ Palestina e as “amarras estatizantes“ estabelecidas pelos fundadores, sendo que ele queria “liberar as enormes energias criativas do povo”. Ele foi o governo mais longevo do país, conseguiu mudanças profundas em Israel para o bem e para o mal - isto é, para o desenvolvimento e evolução bem como para os enormes problemas sociais que o atual governo herdou.

A principal novidade assinada no governo de Bibi, mas gestada antes e lentamente construída por muitos líderes, foram os acordos abraâmicos que vêm dando frutos em todas as direções e compõem hoje os sonhos comuns de muitos cidadãos da região, árabes e judeus. 

O novo governo de coalizão herdou e está fortalecendo este sonho; além disso, o maior líder desta coalizão, Yair Lapid, expressou sua visão de que “para criar estabilidade de ambos os lados da fronteira (com Gaza) é preciso iniciar um grande e longo processo de economia para a segurança, ou seja: a melhoria da economia em Gaza vai trazer maior segurança a Israel.”

Sonhos anunciados em voz alta, sabemos desde José, podem ser objeto de ataques e restrições alheias: o acordo anunciado semana passada entre Israel e Jordânia, mediado pelos Emirados Árabes Unidos, foi criticado pela Arábia Saudita que pressionou os EAU propondo-se a substituir Israel no acordo. 

Ainda esta semana tivemos novos ataques terroristas que mostraram claramente que o Hamas não pretende aliviar o seu lado da pressão.

Ainda estamos longe de materializar tão desejadas visões…

O analista político David Suissa lembra a famosa frase de David Ben Gurion “Em Israel, para ser realista, você deve acreditar em milagres” e retomando o plano de Lapid diz que “substituir líderes terroristas por visionários que construam a ‘Riviera de Gaza’ pode não parecer realista no momento mas é, definitivamente, um milagre com o qual vale a pena sonhar!

Shabat Shalom


Juliana Rehfeld

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Editorial - Pilares e Altares

 





Assim como no caso da Índia, os laços diplomáticos de Israel com a China completam 30 anos em 2022. No entanto, só nesta semana aconteceu o primeiro telefonema entre os presidentes dos países - Herzog e Xi Jinping - no qual trocaram efusivos convites para que visitassem cada um o país do outro. Xi Jinping reconheceu que o pai de Herzog, Chaim Herzog, também fez história pela relação entre as duas nações: foi o primeiro presidente de Israel a visitar a China. Xi Jinping se aliou à preocupação com o avanço nuclear do Irã. E na quinta interação no âmbito do Comitê Conjunto China-Israel para Inovação, que começa em Janeiro do ano que vem, são esperadas muitas iniciativas de cooperação.

Outra notícia fresca é que conforme a prioridade definida por Naftali Bennet quando assumiu como primeiro ministro, Israel se prepara para assinar na próxima semana um acordo de cooperação com a Jordânia sobre água e energia mediado pelos Emirados Árabes Unidos. Por esse acordo será criada uma usina de energia solar no deserto jordaniano para gerar eletricidade para Israel e uma planta de dessalinização em Israel para servir a Jordânia. 

No campo da ciência, o informativo AlefNews publicou que a startup médica israelense Salignostics vai começar a disponibilizar o SaliStick, o primeiro kit de teste rápido de gravidez baseado em saliva. O método é econômico, rápido e não invasivo. O resultado é informado em apenas 10 minutos. AlefNews informa também que a região da Alta Galiléia de Israel está se posicionando para se tornar um líder global em tecnologia de alimentos: vários aceleradores e empresas de tecnologia de alimentos e agrotecnologia se estabeleceram na “periferia” do norte de Israel, onde o governo israelense oferece incentivos para que indivíduos e empresas se instalem.

Todos os dias temos notícias interessantes e alvissareiras sobre Israel, um jovem polo de desenvolvimento que vem trabalhando também para incluir e acolher cada vez mais todos os segmentos de sua população diversa. 

Esta semana lemos em Vayislach (e mandou Jacob mensageiros a Esau…) o retorno de Jacob a Canaã, relato sobre as muitas ameaças à sua vida e suas vitórias até ser divinamente renomeado como Israel. Há inúmeras interações entre os universos humano e divino e para celebrá-las e demonstrar sua gratidão, Jacob constrói pilares e altares. São ambos monumentos mas, diz Rabbi Abraham Isaac Kook, Rav Kook, que há uma diferença fundamental entre eles: o pilar é ereto na vertical enquanto o altar se estende na horizontal. O pilar é monolítico (Matzevá) e se projeta para alcançar o céu. Assim, diz Rav Kook,  ele comemora um encontro de apenas um indivíduo com o Divino. Já o altar não é monolítico, é composto de muitas pedras (Mitzbeach), e representa o reconhecimento de que “para construir uma sociedade funcional, sob um compromisso de aliança mútua, são necessárias as contribuições de muitos.” 

A orientação do rabino propõe que reflitamos, em nossa vida pessoal, em que momentos somos como o pilar, enfatizando orgulho e posse, e quando somos altar, aportando humildade e concessão. E em quando todos os nossos atributos trabalham em conjunto para produzir o melhor de nós mesmos. 

Faz-me pensar em Israel que se faz pilar e ergue domos nas ocasiões em que precisa se defender estoica e potentemente em momentos de conflito, mas que vem buscando construir altares e pontes, a muitas mãos e pedras de cooperação, para obter alianças cada vez mais sólidas e sustentáveis a caminho da paz e prosperidade de inúmeros cidadãos da região. 

Façamos nossa reflexão pessoal sugerida por Rav Kook e fiquemos torcendo por muito mais altares do que pilares na vida de Israel.

Shabat Shalom


Juliana Rehfeld

terça-feira, 16 de novembro de 2021

VOCÊ SABIA? - Fomentando a vida judaica em Portugal

 

Em tempos preocupantes de hediondo antissemitismo ao nosso redor, é edificante vislumbrar uma luz de esperança nos céus do Velho Mundo.

Por Itanira Heineberg

 

“Queremos ver a vida judaica prosperando novamente no coração de nossas comunidades”, disse a presidente da Comunidade Europeia, Ursula von der Leyen. "Assim é como deve ser”.


Você sabia que Portugal pode ser o modelo da Europa para fomentar a vida judaica?


Cidade do Porto


Salas de oração, restaurantes kosher, um Museu Judaico, um Museu do Holocausto e uma biblioteca foram construídos pela Comunidade Judaica do Porto assim como centros judaicos foram ali desenvolvidos.

Esta entidade também é responsável por oferecer conferências e concertos, além da criação de um jornal.

 

No início de outubro de 2021 a Comissão Europeia anunciou que a vida judaica será promovida em uma Europa que abrigava 9,5 milhões de judeus antes da Segunda Guerra Mundial e cujos 1,5 milhão restantes estão abandonando o Velho Continente.

 

Em contrapartida a este êxodo, Portugal tem acolhido milhares de judeus nos últimos anos e este acontecimento extraordinário é exatamente o objetivo a que a C.E. se propõe.

 

Portugal agora faz parte do mapa judaico.

Aos poucos, grupos compostos na maioria de sefarditas recém-chegados estão evoluindo e se fortificando em todo o país, até mesmo em áreas menores e fora da capital.

 

Cascais, uma vila do distrito e área metropolitana de Lisboa, é o lar do maior centro Chabad da Europa, e duas famílias da organização trabalham juntas para ajudar todo o país. Seu entusiasmo é inconfundível. Elas acreditam que o Judaísmo português será um assunto sério no futuro. O casal chabad mais recente é sefardita, não ashkenazi, o que é incomum naquela organização com sede em Nova York.

 

Apresentamos aqui um pequeno vídeo de 3 minutos contando a inauguração do Centro de Estudos Judaicos Avner Cohen, em Cascais: um sonho de 7 anos que se realizou trazendo luz para a região.

 


 

Porém o melhor modelo de renovação da experiência judaica no país nas palavras de Gabriela Cantergi, funcionária da CJP, é encontrado na Comunidade Judaica de Porto (CJP):


Nossa Comunidade não existe para agradar a todos, mas sim para homenagear a comunidade judaica que foi expulsa desta cidade no final do século XV, e para ser um forte religioso, cultural e organização social em Portugal e no estrangeiro”.


Centro de Educação Judaica no Porto.

Crédito: Cortesia da CIP/CJP.


A Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, em imagem abaixo, a principal da cidade, é liderada por rabinos de Israel.

Possui setecentos congregantes vindos de mais de 30 países.

Esses membros oficiais são ativos nas artes, ciências, medicina, música, direito, bancos e esportes.

Estes empresários, na sua grande maioria profissionais financeiros, investiram milhares de milhões de euros em Portugal nos últimos anos.


          Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, principal centro religioso da cidade, porém não o único.



A comunidade cria centros de encontros convidando estudantes judeus estrangeiros que frequentam as universidades do Porto para atividades sociais e culturais.


"Nosso objetivo é promover a amizade e possivelmente futuros casamentos entre estudantes que vêm por conta própria para este país, principalmente da França", disse Noemie Amar, do departamento de religião da CIP/CJP.



Importantes conquistas aconteceram na cidade: em 2012 a sinagoga foi totalmente reformada para cerimônias religiosas agora constantes, um hotel kosher foi inaugurado trazendo uma grande leva de turistas, e em 2015 a lei que oferece nacionalidade portuguesa a judeus sefarditas acolheu muitas e muitas famílias.

Outra atração será a abertura, para breve, de uma galeria de arte com a história milenar dos judeus no Porto.

A cidade está efervescente com tantos acontecimentos em prol dos judeus.

 

“O Museu Judaico do Porto, criado pela CIP/CJP em parceria com a B'nai B'rith International, relata a história milenar da comunidade judaica da cidade, sua expulsão, o retorno de judeus marroquinos, gibraltarianos e venezianos no século XIX, a tentativa fracassada de converter o Bnei Anousim ao judaísmo nas décadas de 1920 e 1930 e judeus ashkenazi alemães, russos e poloneses no século XX, bem como o "maior afluxo sefardita do século 21", basicamente motivado — disse Rose Mousovich, do departamento de cultura da CIP/CJP — "pela nacionalidade que Portugal concede aos judeus de origem portuguesa".

 

A Comunidade Judaica do Porto está muito ativa apoiando os judeus sefarditas que voltam ao solo de seus antepassados, auxiliando hospitais e necessitados em Portugal, proporcionando condições ao Arquivo Nacional da Torre para salvar e digitalizar processos da Inquisição em perigo de deterioração.



O Museu do Holocausto do Porto, imagem acima, criado em parceria com os museus do Holocausto de Washington, Moscou e Hong Kong, é dirigido por membros da Comunidade Judaica do Porto que perderam membros da família no Shoah.

 

"Desde sua inauguração, em maio de 2021, esse espaço musicológico é o de Portugal que teve mais visitantes. Como não há cobrança de admissão, o museu é visitado principalmente por jovens e também recebeu importantes políticos portugueses e estrangeiros, bem como os embaixadores dos Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, Bélgica e outros."

 

Na esteira de atividades, relatamos também o protocolo assinado com a Diocese do Porto, com a inclusão de projetos de caridade e educacionais envolvendo o Museu do Palácio Episcopal e o Museu Judaico do Porto.

Quatro filmes sobre a história dos judeus na cidade já foram produzidos e "1618", sobre a Inquisição, conquistou o maior número de prêmios que um filme português já ganhou em festivais internacionais.

Outro filme "O Kaddish da Freira", foi louvado pelo Papa Francisco, que aplaudiu a amizade e a cooperação entre as duas comunidades religiosas como um bom exemplo para o mundo.


”1618” um filme de Luís Ismael sobre a Inquisição.


Vivendo atuais notícias tristes de antissemitismo, como o fato que se passou em Londres durante a comemoração do 83º aniversário da Noite dos Cristais quando a embaixadora de Israel, Tzipi Hotovely foi perseguida por uma multidão violenta, é sempre reconfortante descobrir os esforços de Portugal em fomentar a vida judaica no país através de apoio e reconhecimento dos erros históricos do passado.

A atual Comunidade Judaica do Porto apoia projetos de auxílio aos judeus de vários países e as palavras hebraicas que a comunidade mais promove são:

achdut ("união")

simcha ("alegria") e

kadima ("para frente"), enfatizando os ensinamentos da história judaica.

 

Missão do site oficial:


"A história dos judeus na Europa nos ensina que onde há muitos judeus hoje pode não haver nenhum amanhã.

Assim, as leis da comunidade estabeleceram que, se um dia for preciso, todas as suas propriedades e bens reverterão para a Agência Judaica de Israel."

 

Pesquisa de Miriam Assor, escritora e jornalista, membro da comunidade judaica de Lisboa.


FONTES:

 

https://www.jns.org/opinion/can-portugal-be-europes-model-for-fostering-jewish-life/?fbclid=IwAR0De4tXJ1c4q2zIiOS-RuaNXRdAoziLXOr-St4sQABPdQjDTni0ZrqpRvY

 

https://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-41616253

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Editorial - Aprendendo resiliência com Jacob





Rav Jonathan Sacks (z’l) diz que na parashá desta semana - Vaietsé (E Saiu Jacob de Beer Sheva a Haram) nasce o mais antigo ódio do mundo, embora o relato bíblico não mostre a violência que o ódio geralmente provoca, e isto apenas pela interferência de uma mensagem clara e ameaçadora de Deus. Sacks diz que a parashá talvez tenha apresentado o paradigma do antissemitismo através dos tempos. Laban “acolhe” Jacob em suas terras quando este foge de Canaã sob ameaça de morte por seu irmão Esaú. Mas ao longo de muitos anos Laban se comporta menos com generosidade do que com interesse próprio e premeditação, tanto em relação à permissão a Jacob de casar-se com quem ele realmente amava - Raquel, sua filha caçula - como em relação aos inestimáveis serviços que Jacob vai lhe prestando. Ao final deste longo tempo a única opção viável para Jacob é fugir com a grande família que gerou, com os bens que esforçadamente produziu. Não há mais lugar para eles lá, ele precisa voltar para “sua casa”. 

“Jacob”, diz Sacks, “é quem tem as mais profundas experiências espirituais sozinho, à noite, cercado de perigos e longe de casa, e vive de perigo em perigo. E é ele que nos ensina que precisamente quando estamos mais sozinhos que (“a presença de Deus”) nos dá a coragem de ter esperança e a força para sonhar”.

Esta semana em 9/novembro tivemos a lembrança do dia, ou melhor, da Noite dos Cristais -Kristallnacht, quando, há 83 anos, espalharam-se ataques a sinagogas e lojas na Alemanha e na Áustria tragicamente sinalizando o horror que se abateu sobre a Europa nos anos seguintes, majoritariamente sobre os judeus , que se consideravam cidadãos europeus. 

Novamente olhamos para esse continente que imaginávamos nunca mais evocar esses ódios e intolerância, mas percebemos que não é bem assim. 

"A pandemia de covid-19 'ressuscitou' a retórica antissemita e deu origem a 'novos mitos e teorias conspiratórias, culpando os judeus' pela atual crise sanitária, de acordo com um relatório da União Europeia (UE), divulgado hoje… sobretudo na internet", estampa jornal português, no mesmo dia 9. 

E continua: "Na Alemanha, segundo a rede de associações RIAS, 44% dos incidentes antissemitas registrados nos primeiros meses da pandemia foram 'associados ao coronavírus'. Na República Checa, a Federação das Comunidades Judaicas registrou 'um aumento do discurso de ódio' na internet, alimentado pelo movimento conspiratório contra as vacinas para combater a covid-19 e as restrições impostas para travar a pandemia." E por aí segue… muitos incidentes nem reportados são, o que dificulta o monitoramento.   https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/pandemia-agravou-antissemitismo-na-europa-revela-relatorio-da-uniao-europeia 

Bode expiatório! Sério? Até quando?

Uma pesquisa divulgada nesta quarta mostrou que metade das pessoas no Reino Unido não sabia que 6 milhões de judeus foram assassinados pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. 22% dos pesquisados pensavam que no máximo 2 milhões teriam sido mortos. Mas animadores 88% deles acham que é muito importante que se continue a ensinar sobre o Holocausto, para que isso não se repita, e a maioria diz que o governo deve promover e bancar esta educação.

Apesar dos recuos e da desinformação, há boas notícias esta semana que nos permitem sonhar com tempos melhores: o partido comunista da Áustria rejeita o BDS (movimento de boicote, desinvestimento e sanções a Israel) e lembra boicotes nazistas contra os judeus; é um dos partidos comunistas mais antigos e resistiu à tendência da extrema esquerda pró-boicote a Israel, declarou o direito de Israel de existir como inviolável e o BDS como antissemita. 

Também na Austria foi inaugurado no centro de Viena um memorial com 64000 nomes de vítimas do regime nazista.

E continuam se ampliando as parcerias de Israel com países muçulmanos no âmbito dos recentes acordos de Abraão: foi firmado em Ramat Gan acordo de Cooperação entre centros de pesquisa do Marrocos e de Israel. Disse Dr Shimon Ohayon, diretor do centro Dahan que com isso se espera que a Biblioteca Real do Marrocos abra uma janela para promoção de pesquisa e cooperação, de estudos da Lei Judaica e da Lei Muçulmana "ressaltando a herança legal Judaico-Islâmica no Marrocos".  

Parcerias para inovação foram ampliadas esta semana entre Startups de Israel e dos Emirados Árabes Unidos. E esta semana, na COP-26 em Glasgow, o primeiro-ministro Naftali Bennet teve seu primeiro amistoso encontro com o governante Modi na Índia, país com o qual em 2022 Israel celebra 30 anos de relações diplomáticas plenas. 

São luzes em meio a novos tempos de escuridão. A campanha da Marcha da Vida Internacional para marcar a memória da Kristallnacht diz “Que haja luz” . Temos muito a aprender com a resiliência de Jacob.

Shabat Shalom!

Juliana Rehfeld

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

VOCÊ SABIA? - Inglaterra: propriedades judaicas contam histórias de realeza e tragédia.

 

 

A Associação Europeia para a Preservação e Promoção da Cultura e Patrimônio Judaico apresentou recentemente mais de uma dúzia de palácios, vilas e casas de campo com tema judaico apresentados em uma nova rota de turismo online.

Por Itanira Heineberg



Waddesdon Manor - sala de jantar

(Chris Lacey - National Trust Waddesdon Manor)



Você sabia que um tour online, que funciona como uma rota de turismo virtual testemunha as conquistas e calamidades do passado judaico na Inglaterra dos séculos XIX e XX?

Waddesdon Manor, acima, uma propriedade rural que pertenceu ao Barão Ferdinand de Rothschild, é mais uma entre numerosos palácios, residências e casas de campo com raízes judaicas que conheceremos neste passeio através da história de um povo milenar em terras europeias.

Os judeus, expulsos da Inglaterra em 1290, voltaram ao país nos anos 60 do século XVII com o favorecimento de Oliver Cromwell.

Os séculos XIX e XX foram um período de mudanças sociais e econômicas no mundo, um fenômeno que permitiu o nascimento de potentes dinastias financeiras na Inglaterra, como os Goldsmids, Rothschilds e Samuels.

Os chefes destas famílias, suficientemente enriquecidos, passaram a adquirir terras e nelas levantar grandes casas de campo numa ascensão à elegante vida social do país e tentativa de afirmação entre os nobres e quem sabe, aceitação.

Conforme o site da rota, estas casas eram como uma ponte entre a sociedade judaica e a não judaica, situando "famílias judias urbanas no coração das comunidades rurais".

Estas propriedades mostram até que ponto chegou a emancipação judaica naquela época na política, cultura e estirpes europeias, acentuando o esforço e a luta destas famílias para serem bem-vindas e reconhecidas. Apesar do antissemitismo vigente, vários judeus se destacaram no cenário político e monetário, atingindo altos cargos e conquistando a amizade e admiração da família real inglesa.

 

“Muitas têm coleções de arte e jardins extraordinários. Algumas foram palcos de entretenimento extravagante, outras serviram de inspiração para a vanguarda europeia. Todas foram lares amados que testemunham os triunfos - e tragédias - do passado judaico”.


Hughenden Manor, propriedade de Benamin Disraeli



Este foi o primeiro Primeiro-Ministro judeu na Inglaterra, Disraeli, o favorito da rainha Vitória - que lhe conferiu o título de Cavaleiro da Jarreteira, a mais antiga e prestigiosa ordem da cavalaria britânica.


The Nymans, propriedade da família Messel

 Ludwig Messel, seguindo seu amor por jardinagem, comprou esta residência em 1890 para ali cultivar seu hobby favorito.

Um de seus herdeiros foi Lord Snowdon, marido da Princesa Margarete, irmã mais jovem da rainha Elizabeth II.

 

Anthony Armstrong-Jones - Lord Snowdon e Princesa Margarete em 1960


Mas não são só estas pessoas notórias que se destacaram naqueles séculos.

Embarquemos agora neste passeio turístico para visitar mais palácios e vilas elegantes, conquistados por judeus trabalhadores, sérios e responsáveis em suas trajetórias por uma vida de paz, sucesso e consideração.

Ao entrar no site abaixo sugerido, coloque o cursor sobre o texto, clique com o botão direito do mouse e escolha a opção “ traduzir para o português”.

 

Boa viagem!!! God Speed!

 

https://jewisheritage.org/palaces-villas-and-country-houses

 

FONTES:

 

https://www.timesofisrael.com/medieval-manors-to-german-villas-jewish-homes-tell-stories-of-royalty-tragedy/?utm_source=The+Daily+Edition&utm_campaign=daily-edition-2021-09-18&utm_medium=email

https://www.nationaltrust.org.uk/features/jewish-stories-at-our-country-houses

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/traicoes-e-violencia-psicologica-o-tragico-casamento-entre-princesa-margaret-e-antony-armstrong-jones.phtml

https://veja.abril.com.br/blog/e-tudo-historia/the-crown-margaret-e-o-casamento-que-agitou-a-realeza/

http://www.morasha.com.br/historia-judaica-na-antiguidade/retorno-a-inglaterra.html

 

https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/a-trajetoria-oliver-cromwell.htm

terça-feira, 2 de novembro de 2021

EDITORIAL: INCLUSÃO 😔😈; EXCLUSÃO ++; SOMAÇÃO 😁😁😁😁


E lá se vai outubro de 2021. Nossas rotinas vão novamente se alterando e o mundo segue em busca de novos rumos. Reverenciar a história e criar fatos novos que possam facilitar o futuro é o objetivo de muitos e deveria, certamente, ser o objetivo da Organização das Nações Unidas, criada após o tsunami gerado pela Segunda Guerra Mundial.

Muito já falamos neste blog sobre os desmandos e as mazelas causadas por esta organização, e principalmente pelo uso inadequado do sistema democrático, que deixa de considerar a ética e a justiça. Mas hoje voltamos ao tema, porque a ONU conseguiu superar as expectativas de todos que duvidam de sua capacidade de desvalorizar com atos os seus discursos ou metas.


Este ano a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-21) está sendo realizada em Glasgow, na Escócia. O Brasil é um país que tem grande interesse na COP e participa de forma ativa desde que começamos a discutir atitudes para o bem estar do planeta. Temos algumas das maiores reservas florestais do planeta: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Pantanal, Serrado... apenas para ficar com nomes que todos conhecemos. Entre os povos nativos, uma indígena brasileira de Roraima teve a oportunidade de se dirigir aos membros da Conferência! Uma mulher, uma indígena, falando de um tema que requer atenção técnica e política, como bem colocou Joaquim Levy em sua entrevista a "O Estado de São Paulo" de 1 de novembro de 2021. Joaquim Levy já foi Presidente do BNDES (2019), diretor geral e financeiro do Banco Mundial (2018-2019) e Ministro da Fazenda do Brasil (2015). Nosso olhar externo aplaude a oportunidade e gostaria de dar um crédito positivo à ONU, que tanto tem contribuído para desentendimentos e injustiças no Oriente Médio.

MAS - e este é um grande MAS - a Ministra de Estado de ISRAEL para Infraestrutuda Nacional, Energia e Recursos Hídricos foi IMPEDIDA de entrar na conferência. Longe de ser mais um ato anti-Israel, este fato apenas ilustra de forma cristalina a importância que a ONU dá para suas recomendações. Em 1975 foi aprovado pela Assembleia Geral a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/deficiente/lex61.htm), que previa o livre trânsito de cadeirantes.

Karine Elharrar nasceu em Kiryat Ono, Israel há 44 anos. É membro do Parlamento de Israel desde 2013 e uma importante voz para os deficientes (será politicamente correto? será que a ONU aprova o termo?). Mãe, esposa, advogada e cadeirante. E foi este último motivo que impediu sua entrada no COP26 em Glasgow. Não havia entrada que permitisse a passagem de uma cadeira de rodas. Israel, um país que aumentou a sua área verde no século XX e que tem buscado soluções para problemas de demografia ligados ao meio ambiente, está fora de Conferência. Água - um grave problema no mundo e que Israel conseguiu com ciência, tecnologia e capacidade de transferência produzir a partir do ar, ou dessalinizando a água do mar.

Excluindo a Ministra Karine Elharrar da 26a Conferência sobre Mudanças Climáticas, a ONU prova que suas resoluções têm servido apenas para gerar polêmicas ou serem esquecidas pela própria organização. Neste contexto, lembro do cuidado com que autoridades e cientistas brasileiros têm ao montar reuniões, dando oportunidade não apenas aos cadeirantes mas também a outros que têm dificuldade de visão e audição. 

E nada como um dia após o outro. O primeiro ministro de Israel Yair Lapid conseguiu hoje, dia 2 de novembro, providenciar condições para o transporte da Ministra Elharrar e pudemos acompanhar no noticiário a reunião que teve com o primeiro ministro da Inglaterra, Boris Johnson.





A mensagem que fica com este infeliz acontecimento é que queremos mais do que incluir; queremos somar. Em Israel, jordanianos estão entrando no país para colher azeitonas - somar na força de trabalho - e o mundo todo tem que dar oportunidade para que crianças convivam desde a mais tenra idade.


Somar: a forma mais correta de unir. 
SOMAR: cada número continua tendo o seu próprio valor, e este valor pode ser conceituado de muitas formas. 
Notas de zero a dez, intuitivamente almejamos um DEZ. 
Classificações, o objetivo é estar no primeiro lugar. 
E poderia seguir dando exemplos que mostram que cada número, mantendo a sua identidade é valorizado de forma diferente, na dependência da questão analisada!

Individualizar é preciso, ser diferente é desejável e somar pode levar a resultados importantes. Não mais queremos ser todos iguais! Ser diferente é que dá à natureza a possibilidade de evoluir e seguir em frente!

Boa Semana!

Regina P. Markus
 

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Você Sabia? - A Princesa que desafiou Hitler

 

Princesa de Portugal, uma desconhecida heroína da história, que fez frente a Hitler!

Por Itanira Heineberg





Você sabia que a longeva princesa Adelaide (1912-2012), infanta de Portugal, que viveu uma longa vida de dedicação e respeito por seus semelhantes, foi condenada à morte duas vezes pelos nazistas mas conseguiu escapar, sobreviver e comemorar 100 anos de existência em companhia de sua família?

A última filha de D. Miguel II e neta de D. Miguel I, irmão de nosso Imperador Pedro I do Brasil, viveu e atuou em um mundo em transformação.

Seu avô D. Miguel I havia sido exilado na Europa em 1834 após ter sido Príncipe Regente de Portugal e tentado usurpar o título monárquico de sua sobrinha D. Maria da Glória, filha de D. Pedro I que então regia do Brasil.

Assim, a infanta nasceu na França e trabalhou na Áustria como enfermeira - uma jovem corajosa que, durante a segunda guerra, ao escutar as sirenes de aviso de bombardeamento, corria ao sótão da casa para acompanhar a queda das bombas e depois apressava-se a ajudar os feridos nas ruas e casas abatidas.

 

“Numa dessas incursões pós-bombas por Viena incendiada, a infanta acabou a noite auxiliando um jovem estudante de Medicina numa tenda da Cruz Vermelha. Chamava-se Nicolaas van Uden e foi amor à primeira vista.

Casaram-se, tiveram dois filhos, antes de se mudarem para Portugal, e mais quatro, já em território nacional onde o nome van Uden tem mais descendência do que em qualquer outro país da Europa.” 




Esta jovem destemida acompanhou a queda de impérios, viveu duas grandes guerras e foi ativa colaboradora da resistência contra os nazistas.

Em duas ocasiões esteve presa e condenada à morte.

 

“A primeira condenação foi quando chefiava uma rede que tinha por missão ajudar pessoas procuradas, perseguidas ou condenadas pelos Nazis a fugirem do país, desde paraquedistas aliados, espiões, judeus e outros. Foi apanhada pelas SS e condenada à morte. O governo de Salazar ao saber da notícia interveio imediatamente, afirmando que era cidadã portuguesa e após muita luta diplomática, conseguiu salvá-la.

A segunda condenação foi ainda mais "heróica".


Novamente agente da resistência, tendo por nome de código "Mafalda", fazia a ligação entre os Ingleses e o Conde Claus von Stauffenberg, líder do atentado fracassado contra a vida de Hitler, a chamada operação Valquíria. 


O atentado realizado pela Operação Valquíria aconteceu na Toca do Lobo, quartel-general dos nazistas na Prússia Oriental.


“É apanhada, condenada à morte pela segunda vez mas desta feita é salva pelos soviéticos, após a vitória destes em Viena.

Voltou a Portugal em 1949 e por lá ficou até falecer em 2012.”

 

Chegando em solo português em companhia de seu esposo, suas atitudes benevolentes e seu estilo autêntico e determinado a auxiliar os mais necessitados passaram a desagradar a sociedade chique e arrogante que não via com bons olhos seu interesse por uma classe destoante de sua condição.

 

“O livro de Raquel Ochoa, A Infanta Rebelde, mostra-nos a vida de uma figura absolutamente ímpar na História Contemporânea de Portugal, mas, acima de tudo, o retrato de uma mulher que teve a coragem de ultrapassar todos os obstáculos e lutar pelo ideal que dava sentido à sua vida - tornar a sociedade, tal como a sua natureza, mais justa e benévola.”




“Longe das fugazes ribaltas e feiras de vaidades, a senhora Dona Maria Adelaide celebra hoje 100 anos. Celebra-os com uma missa de Ação de Graças pelo dom da vida, na Igreja do Bom Sucesso, e um jantar simples organizado por amigos e família no Centro Cultural de Belém. A Senhora Infanta, como é tratada pelos mais próximos, além de constituir um precioso testemunho vivo, direto e indireto, da história dos últimos duzentos anos, constitui um verdadeiro exemplo de profunda nobreza, aliada a uma invulgar coragem e irreverência, que tanta falta faz nos dias de hoje.

Jornal i, 31 de Janeiro de 2012”



Adelaide de Bragança voltou a Portugal em 1949 e criou a Fundação Nun’Alvares Pereira em apoio aos desprivilegiados, prestando assistência aos pobres da margem sul do Tejo.

Por ocasião de seu 100º aniversário recebeu a Medalha da Ordem do Mérito.

Faleceu apenas algumas semanas depois.


FONTES:

https://www.fnac.pt/D-Maria-Adelaide-Braganca-A-Infanta-Rebelde-Raquel-Ochoa/a361015

http://realfamiliaportuguesa.blogspot.com/2012/01/

https://www.dn.pt/pessoas/a-historia-incrivel-dos-braganca-van-uden-1256550.html

http://realfamiliaportuguesa.blogspot.com/2012/01/

https://expresso.pt/sociedade/morreu-adelaide-de-braganca-1912-2012=f706870