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sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Editorial - Aprendendo resiliência com Jacob





Rav Jonathan Sacks (z’l) diz que na parashá desta semana - Vaietsé (E Saiu Jacob de Beer Sheva a Haram) nasce o mais antigo ódio do mundo, embora o relato bíblico não mostre a violência que o ódio geralmente provoca, e isto apenas pela interferência de uma mensagem clara e ameaçadora de Deus. Sacks diz que a parashá talvez tenha apresentado o paradigma do antissemitismo através dos tempos. Laban “acolhe” Jacob em suas terras quando este foge de Canaã sob ameaça de morte por seu irmão Esaú. Mas ao longo de muitos anos Laban se comporta menos com generosidade do que com interesse próprio e premeditação, tanto em relação à permissão a Jacob de casar-se com quem ele realmente amava - Raquel, sua filha caçula - como em relação aos inestimáveis serviços que Jacob vai lhe prestando. Ao final deste longo tempo a única opção viável para Jacob é fugir com a grande família que gerou, com os bens que esforçadamente produziu. Não há mais lugar para eles lá, ele precisa voltar para “sua casa”. 

“Jacob”, diz Sacks, “é quem tem as mais profundas experiências espirituais sozinho, à noite, cercado de perigos e longe de casa, e vive de perigo em perigo. E é ele que nos ensina que precisamente quando estamos mais sozinhos que (“a presença de Deus”) nos dá a coragem de ter esperança e a força para sonhar”.

Esta semana em 9/novembro tivemos a lembrança do dia, ou melhor, da Noite dos Cristais -Kristallnacht, quando, há 83 anos, espalharam-se ataques a sinagogas e lojas na Alemanha e na Áustria tragicamente sinalizando o horror que se abateu sobre a Europa nos anos seguintes, majoritariamente sobre os judeus , que se consideravam cidadãos europeus. 

Novamente olhamos para esse continente que imaginávamos nunca mais evocar esses ódios e intolerância, mas percebemos que não é bem assim. 

"A pandemia de covid-19 'ressuscitou' a retórica antissemita e deu origem a 'novos mitos e teorias conspiratórias, culpando os judeus' pela atual crise sanitária, de acordo com um relatório da União Europeia (UE), divulgado hoje… sobretudo na internet", estampa jornal português, no mesmo dia 9. 

E continua: "Na Alemanha, segundo a rede de associações RIAS, 44% dos incidentes antissemitas registrados nos primeiros meses da pandemia foram 'associados ao coronavírus'. Na República Checa, a Federação das Comunidades Judaicas registrou 'um aumento do discurso de ódio' na internet, alimentado pelo movimento conspiratório contra as vacinas para combater a covid-19 e as restrições impostas para travar a pandemia." E por aí segue… muitos incidentes nem reportados são, o que dificulta o monitoramento.   https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/pandemia-agravou-antissemitismo-na-europa-revela-relatorio-da-uniao-europeia 

Bode expiatório! Sério? Até quando?

Uma pesquisa divulgada nesta quarta mostrou que metade das pessoas no Reino Unido não sabia que 6 milhões de judeus foram assassinados pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. 22% dos pesquisados pensavam que no máximo 2 milhões teriam sido mortos. Mas animadores 88% deles acham que é muito importante que se continue a ensinar sobre o Holocausto, para que isso não se repita, e a maioria diz que o governo deve promover e bancar esta educação.

Apesar dos recuos e da desinformação, há boas notícias esta semana que nos permitem sonhar com tempos melhores: o partido comunista da Áustria rejeita o BDS (movimento de boicote, desinvestimento e sanções a Israel) e lembra boicotes nazistas contra os judeus; é um dos partidos comunistas mais antigos e resistiu à tendência da extrema esquerda pró-boicote a Israel, declarou o direito de Israel de existir como inviolável e o BDS como antissemita. 

Também na Austria foi inaugurado no centro de Viena um memorial com 64000 nomes de vítimas do regime nazista.

E continuam se ampliando as parcerias de Israel com países muçulmanos no âmbito dos recentes acordos de Abraão: foi firmado em Ramat Gan acordo de Cooperação entre centros de pesquisa do Marrocos e de Israel. Disse Dr Shimon Ohayon, diretor do centro Dahan que com isso se espera que a Biblioteca Real do Marrocos abra uma janela para promoção de pesquisa e cooperação, de estudos da Lei Judaica e da Lei Muçulmana "ressaltando a herança legal Judaico-Islâmica no Marrocos".  

Parcerias para inovação foram ampliadas esta semana entre Startups de Israel e dos Emirados Árabes Unidos. E esta semana, na COP-26 em Glasgow, o primeiro-ministro Naftali Bennet teve seu primeiro amistoso encontro com o governante Modi na Índia, país com o qual em 2022 Israel celebra 30 anos de relações diplomáticas plenas. 

São luzes em meio a novos tempos de escuridão. A campanha da Marcha da Vida Internacional para marcar a memória da Kristallnacht diz “Que haja luz” . Temos muito a aprender com a resiliência de Jacob.

Shabat Shalom!

Juliana Rehfeld

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