Em tempos preocupantes
de hediondo antissemitismo ao nosso redor, é edificante vislumbrar uma luz de
esperança nos céus do Velho Mundo.
Por Itanira Heineberg
“Queremos
ver a vida judaica prosperando novamente no coração de nossas comunidades”,
disse a presidente da Comunidade Europeia, Ursula von der Leyen. "Assim é
como deve ser”.
Você sabia
que Portugal pode ser o modelo da Europa para fomentar a vida judaica?
Cidade do Porto |
Salas de
oração, restaurantes kosher, um Museu Judaico, um Museu do Holocausto e uma
biblioteca foram construídos pela Comunidade Judaica do Porto assim como
centros judaicos foram ali desenvolvidos.
Esta entidade também é responsável por oferecer conferências e concertos, além da criação de um jornal.
No
início de outubro de 2021 a Comissão Europeia anunciou que a vida judaica será
promovida em uma Europa que abrigava 9,5 milhões de judeus antes da Segunda
Guerra Mundial e cujos 1,5 milhão restantes estão abandonando o Velho
Continente.
Em
contrapartida a este êxodo, Portugal tem acolhido milhares de judeus nos
últimos anos e este acontecimento extraordinário é exatamente o objetivo a que
a C.E. se propõe.
Portugal
agora faz parte do mapa judaico.
Aos poucos,
grupos compostos na maioria de sefarditas recém-chegados estão evoluindo e se
fortificando em todo o país, até mesmo em áreas menores e fora da capital.
Cascais,
uma vila do distrito e área metropolitana de Lisboa, é o lar do maior centro
Chabad da Europa, e duas famílias da organização trabalham juntas para ajudar
todo o país. Seu entusiasmo é inconfundível. Elas acreditam que o Judaísmo
português será um assunto sério no futuro. O casal chabad mais recente é
sefardita, não ashkenazi, o que é incomum naquela organização com sede em Nova
York.
Apresentamos
aqui um pequeno vídeo de 3 minutos contando a inauguração do Centro de Estudos
Judaicos Avner Cohen, em Cascais: um sonho de 7 anos que se realizou trazendo
luz para a região.
Porém o melhor modelo de renovação da experiência judaica no país nas palavras de Gabriela Cantergi, funcionária da CJP, é encontrado na Comunidade Judaica de Porto (CJP):
“Nossa
Comunidade não existe para agradar a todos, mas sim para homenagear a
comunidade judaica que foi expulsa desta cidade no final do século XV, e para
ser um forte religioso, cultural e organização social em Portugal e no
estrangeiro”.
Centro
de Educação Judaica no Porto.
Crédito: Cortesia da CIP/CJP. |
A Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, em imagem abaixo, a
principal da cidade, é liderada por rabinos de Israel.
Possui
setecentos congregantes vindos de mais de 30 países.
Esses
membros oficiais são ativos nas artes, ciências, medicina, música, direito,
bancos e esportes.
Estes
empresários, na sua grande maioria profissionais financeiros, investiram
milhares de milhões de euros em Portugal nos últimos anos.
Sinagoga Kadoorie Mekor Haim,
principal centro religioso da cidade, porém não o único. |
A comunidade cria centros de encontros convidando estudantes judeus estrangeiros que frequentam as universidades do Porto para atividades sociais e culturais.
"Nosso
objetivo é promover a amizade e possivelmente futuros casamentos entre
estudantes que vêm por conta própria para este país, principalmente da
França", disse Noemie Amar, do departamento de religião da CIP/CJP.
Importantes conquistas aconteceram na cidade: em 2012 a sinagoga foi totalmente reformada para cerimônias religiosas agora constantes, um hotel kosher foi inaugurado trazendo uma grande leva de turistas, e em 2015 a lei que oferece nacionalidade portuguesa a judeus sefarditas acolheu muitas e muitas famílias.
Outra
atração será a abertura, para breve, de uma galeria de arte com a história
milenar dos judeus no Porto.
A cidade
está efervescente com tantos acontecimentos em prol dos judeus.
“O
Museu Judaico do Porto, criado pela CIP/CJP em parceria com a B'nai B'rith
International, relata a história milenar da comunidade judaica da cidade, sua
expulsão, o retorno de judeus marroquinos, gibraltarianos e venezianos no
século XIX, a tentativa fracassada de converter o Bnei Anousim ao judaísmo nas
décadas de 1920 e 1930 e judeus ashkenazi alemães, russos e poloneses no século
XX, bem como o "maior afluxo sefardita do século 21", basicamente
motivado — disse Rose Mousovich, do departamento de cultura da CIP/CJP —
"pela nacionalidade que Portugal concede aos judeus de origem
portuguesa".
A
Comunidade Judaica do Porto está muito ativa apoiando os judeus sefarditas que
voltam ao solo de seus antepassados, auxiliando hospitais e necessitados em
Portugal, proporcionando condições ao Arquivo Nacional da Torre para salvar e
digitalizar processos da Inquisição em perigo de deterioração.
O Museu do Holocausto do Porto, imagem acima, criado em parceria com os museus do Holocausto de Washington, Moscou e Hong Kong, é dirigido por membros da Comunidade Judaica do Porto que perderam membros da família no Shoah.
"Desde
sua inauguração, em maio de 2021, esse espaço musicológico é o de Portugal que
teve mais visitantes. Como não há cobrança de admissão, o museu é visitado
principalmente por jovens e também recebeu importantes políticos portugueses e
estrangeiros, bem como os embaixadores dos Estados Unidos, Rússia, Reino Unido,
França, Bélgica e outros."
Na esteira
de atividades, relatamos também o protocolo assinado com a Diocese do Porto,
com a inclusão de projetos de caridade e educacionais envolvendo o Museu do
Palácio Episcopal e o Museu Judaico do Porto.
Quatro filmes sobre a história dos judeus na cidade já foram produzidos e "1618", sobre a Inquisição, conquistou o maior número de prêmios que um filme português já ganhou em festivais internacionais.
Outro filme
"O Kaddish da Freira", foi louvado pelo Papa Francisco, que aplaudiu
a amizade e a cooperação entre as duas comunidades religiosas como um bom
exemplo para o mundo.
”1618” um filme de Luís Ismael sobre a Inquisição. |
Vivendo atuais notícias tristes de antissemitismo, como o fato que se passou em Londres durante a comemoração do 83º aniversário da Noite dos Cristais quando a embaixadora de Israel, Tzipi Hotovely foi perseguida por uma multidão violenta, é sempre reconfortante descobrir os esforços de Portugal em fomentar a vida judaica no país através de apoio e reconhecimento dos erros históricos do passado.
A atual
Comunidade Judaica do Porto apoia projetos de auxílio aos judeus de vários
países e as palavras hebraicas que a comunidade mais promove são:
achdut
("união")
simcha
("alegria") e
kadima
("para frente"), enfatizando os ensinamentos da história judaica.
Missão do
site oficial:
"A
história dos judeus na Europa nos ensina que onde há muitos judeus hoje pode
não haver nenhum amanhã.
Assim,
as leis da comunidade estabeleceram que, se um dia for preciso, todas as suas
propriedades e bens reverterão para a Agência Judaica de Israel."
Pesquisa
de Miriam Assor, escritora e jornalista, membro da comunidade judaica de
Lisboa.
FONTES:
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